23 de junho de 2017

"Vou dizer ao Zé: 'Consegui ganhar o contra-relógio como tu'"

(Fotografia: João Fonseca)
Domingos Gonçalves era só sorrisos (não parece na fotografia, mas é verdade) e tinha razões para isso. É o novo campeão nacional de contra-relógio. É o primeiro a dizer que a ausência de Nelson Oliveira não lhe tirou o mérito, tal como é o primeiro a dizer que não tem mais vitórias este ano por culpa própria. Domingos foi a fundo e na segunda passagem pela meta tinha cerca de 20 segundos de vantagem para Rafael Reis. Perdeu um pouco, mas aguentou e por cinco conquistou uma vitória que não tem dúvidas ser muito importante para a sua carreira.

Antes da corrida Domingos Gonçalves foi reconhecer o percurso e fê-lo minuciosamente. Falava de algumas curvas mais apertadas e da gravilha que poderia causar problemas se não tivesse cuidado. Estava focado, mas ao mesmo tempo claramente tranquilo. "Já conhecia este percurso desde 2009 ou 2010 quando estive aqui com a Liberty Seguros. Hoje foi um dia que me correu bem. Fui a fundo", contou ao Volta ao Ciclismo.

Domingos aborda de imediato, sem que seja necessário perguntar-lhe, o insólito caso de Nelson Oliveira, que não competiu depois de ter falhado a partida - não sabia que a hora tinha sido alterada: "Houve uma ausência, mas isso não vai contar. Quem está é que conta. Não me tira o mérito."

Começa a ganhar em 2017 quase ao mesmo tempo que o irmão José Gonçalves (Katusha-Alpecin), que no domingo passado conquistou a Ster ZLM, na Holanda. "Estou orgulhoso dele, mas agora vou dizer ao Zé: 'Consegui ganhar o contra-relógio como tu'", afirmou (José Gonçalves foi campeão em 2012, também ao serviço do Boavista). Naturalmente que a boa disposição predominava, mas Domingos assumiu um tom mais sério ao falar da responsabilidade que a camisola de campeão nacional de contra-relógio traz: "Agora não posso facilitar. É uma camisola que pesa. Tenho de me aplicar mais."

O ciclista tem feito uma boa temporada, mas faltava-lhe uma vitória. "Não tinha conseguido vencer porque corri muito à toa. Devia ir na roda e gastar no momento certo. Mas não faço isso. Gasto tudo e quando é mesmo para gastar, já não tenho nada para o fazer. É asneira. Devia ter mais calma", salientou. Referiu que sempre foi assim, mas está a tentar "ter mais calma". Apesar de no domingo ter a prova em linha dos Nacionais, na qual irá tentar a dobradinha ou ajudar um companheiro se não conseguir estar na luta, Domingos Gonçalves já vai pensando na Volta a Portugal. "Este ano vou mais tranquilo. Nos outros anos aplico-me muito e chego à Volta e não faço nada. Este ano vou fazer um treino mais tranquilo e estar melhor no final da Volta", realçou. Mas não se duvide: tranquilo não significa que não irá atacar para ganhar uma etapa.

"Já lhe disse que é o melhor ciclista português a correr em Portugal"

A frase é de José Santos, director desportivo da Rádio Popular-Boavista. O triunfo de Domingos Gonçalves, uma das sonantes contratações da equipa para 2017, "é muito importante para uma equipa de clube porque são provas que ficam no historial".

O responsável elogia o seu ciclista, mas também fala da forma de correr nem sempre produtiva de Domingos. "É impulsivo, não é sagaz para usar a sua capacidade nos momentos chaves da corrida, senão já teria ganho mais vezes. Está a fazer uma época muito boa, mas falta-lhe aquele discernimento. O valor dele e do irmão gémeo não difere muito. Um ano um está melhor, noutro está o outro. O Domingos está em Portugal, mas são dois ciclistas de referência internacional", frisou ao Volta ao Ciclismo.

Para a corrida em linha José Santos não quer fazer prognósticos, pois disse que se no contra-relógio sabia que poderia ter um ciclista nos três primeiros, já na corrida de domingo há demasiados factores a ter em conta e que podem mexer com o resultado final: "É uma lotaria, mas vamos estar na luta."

Confira aqui o resultado do contra-relógio de elite, que teve ainda no pódio Sérgio Paulinho (Efapel), que cumpriu os 33,9 quilómetros em Santa Maria da Feira com mais 20 segundos do que o vencedor. Domingos Gonçalves fez a distância em 42:19 minutos.

Esta sexta-feira realizou-se ainda o contra-relógio de sub-23. José Neves (Liberty Seguros/Carglass), sagra-se pela segunda vez campeão nacional da categoria, depois de o ter feito em 2015. O ciclista cumpriu os 22,6 quilómetros em 28,01 minutos. O colega de equipa, e que defendia o título, Gaspar Gonçalves ficou em segundo a 15 segundos. João Almeida (Unieuro Trevigiani-Hemus 1896) fechou o pódio com mais 59 segundos.

Este domingo, às 15 horas arranca a prova de estrada dos sub-23 destes Nacionais, agora em Gondomar. No domingo será a vez da elite (11:30).

Outros campeões nacionais de contra-relógio na Europa:

  • Holanda: Tom Dumoulin (Sunweb)
  • Espanha: Jonathan Castroviejo (Movistar)
  • Alemanha: Tony Martin (Katusha-Alpecin)
  • Itália: Gianni Moscon (Sky)
  • Rússia: Ilnur Zakarin (Rússia)
  • Polónia: Michal Kwiatkowski (Sky)
  • França: Pierre Latour (FDJ)
  • República Checa: Jan Bárta (Bora-Hansgrohe)
  • Letónia: Aleksejs Saramotins (Bora-Hansgrohe)
  • Suécia: Tobias Ludvigsson (FDJ)
  • Noruega: Edvald Boasson Hagen (Dimension Data)
  • Suíça: Stefan Küng (BMC)
  • Bélgica: Yves Lampaert (Quick-Step Floors)
  • Grã-Bretanha: Stephen Cummings (Dimension Data)
  • Luxemburgo: Jean-Pierre Drucker (BMC)
  • Áustria: Georg Preidler (Sunweb)
  • Lituânia: Ignatas Konovalovas (FDJ)

Sem comentários:

Enviar um comentário