29 de junho de 2017

"Estamos contentes com o José Gonçalves e com o Tiago Machado"

José Azevedo prepara-se para fazer a sua primeira Volta a França como director geral de um equipa do World Tour. Fê-lo como ciclista, fê-lo como director desportivo. Agora continua a ir no carro, mas deixa a coordenação desportiva a quem de direito. Diz que é um trabalho diferente aquele que tem, mas que tem sido muito interessante. O desafio é aliciante, ainda mais quando a Katusha-Alpecin está numa fase de mudança, tornando-se mais internacional e rompendo com as raízes russas. Dois portugueses representam a formação e naturalmente que foi por aí que começou a conversa, até porque ambos estão em final de contrato.

"O José Gonçalves está a cumprir e a prova disso foi a vitória no ZLM. Várias corridas são novas para ele. É um nível diferente, uma velocidade diferente... o ritmo competitivo é muito mais elevado. O Zé necessita de fazer essa adaptação. No entanto, ele tem correspondido de uma forma muito positiva. Em provas em que trabalhou para a equipa, fez um excelente trabalho no auxílio aos líderes, como na Volta a Itália. Depois, noutras em que teve liberdade, também teve um desempenho bastante interessante, como na Strade Bianche.. Foi uma corrida em que ele terminou em 11º. Cometeu alguns erros no fim, talvez por não conhecer a corrida, caso contrário teria ficado nos dez primeiros", salientou José Azevedo ao Volta ao Ciclismo.

"O Tiago deixou de ser um corredor que tinha algumas provas como prioridade e passou a ser um ciclista mais de trabalho. Adaptou-se a isso e aceitou de forma positiva essa missão"

O responsável considera que a vitória na Holanda foi a recompensa pelo trabalho que o José Gonçalves tem feito no seu ano de estreia no World Tour: "Agora o próximo objectivo dele será a Volta a Espanha." Já Tiago Machado será aposta para a Volta a França, que começa no sábado. É um ciclista experiente e que tem funções novas na Katusha-Alpecin: "Nos últimos meses, o Tiago deixou de ser um corredor que tinha algumas provas como prioridade e passou a ser um ciclista mais de trabalho. Adaptou-se a isso e aceitou de forma positiva essa missão. Estamos bastante satisfeitos com ele."

Mas será que estamos a falar de uma renovação de contrato para ambos? "Estamos em fase de negociações para começar a construir a equipa do próximo ano. Primeiro há que conversar e depois é que se anuncia. Tudo dependerá das negociações", respondeu. Cauteloso nas palavras quando se fala de contratos, José Azevedo reforçou a ideia já deixada: "Estamos contentes com o José Gonçalves e com o Tiago Machado."

Kristoff, Martin e a Volta a França

Aproxima-se um dos grandes momentos para a temporada da Katusha-Alpecin. Tony Martin, tetra-campeão do mundo de contra-relógio, foi o nome mais sonante das contratações para 2017. Sem surpresa, é dele que se espera a principal conquista, falhado o desejo de ganhar um monumento com Alexander Kristoff. "O contra-relógio de Düsseldorf e Marselha são objectivos para o Tony Martin", destacou José Azevedo. Ambição bem conhecida, pois se ganhar este sábado na "sua" Alemanha, Martin irá também vestir a camisola amarela.

Depois será a vez de Kristoff chegar-se à frente. O norueguês passou ao lado das clássicas, vencendo em Frankfurt, mas não conseguiu o monumento pretendido. Parece existir algum atrito entre o ciclista e a equipa, que criticou as escolhas para a Volta a França, quando soube que Michael Morkov não seria um dos seus lançadores. "O Alex sabe que tem corredores que o vão auxiliar, como o Zabel - que tem feito um excelente trabalho nas últimas provas -, como o Haller - que corre com ele há seis anos -, como o Hollenstein, o Politt, o próprio Tony Martin", afirmou Azevedo. O responsável acredita que tem uma equipa forte para ajudar a controlar as tiradas e para deixar Kristoff bem posicionado para disputar os sprints: "A partir daí... esperemos que ganhe!"

Quando o terreno começar a subir a Katusha-Alpecin mudará a sua estratégia. Sem líder para a geral - Ilnur Zakarin foi ao Giro e irá agora à Vuelta - José Azevedo garante que haverá liberdade para se procurar vitórias de etapas, pois é esse o objectivo da equipa suíça. "Todos terão liberdade. Penso que será interessante para eles. É uma oportunidade que têm."

Que Rick Zabel saia ao pai e Zakarin lute pela Vuelta

Com a mudança de "interesses comerciais", como descreve José Azevedo, a Katusha-Alpecin abdicou de grande parte dos seus ciclistas russos. Até 2016 foi uma equipa desse país, mas este ano passou a ser suíça, entrou um patrocinador alemão (Alpecin, marca de champôs) e as contratações passaram a ser alargadas a outros países. Antes tinha como objectivo abrir as portas a muitos ciclistas russos ao World Tour, agora continua a apostar em jovens, mas com nacionalidades diferentes. É o caso de Rick Zabel.

"Se [Zabel] conseguir ser como o pai, já será muito bom. Nem precisa de ser melhor"

O apelido traz consigo uma herança pesada. O pai, Erik Zabel, foi um dos principais sprinters na década de 90 e no início do século. 84 vitórias, 12 em etapas no Tour, oito na Vuelta e ainda conquistou quatro Milano-Sanremo. "Se conseguir ser como o pai, já será muito bom. Nem precisa de ser melhor", afirmou, a sorrir, José Azevedo. O jovem Zabel (23 anos) vai estrear-se na Volta a França e o responsável português confia que será um ciclista a contar para o futuro. "É um ciclista em que nós acreditamos. O Rick sabe o porquê da sua contratação [estava na BMC]. Desde o início da época teve provas em que foi o sprinter da equipa e fez lugares interessantes. Vários top dez. Nos últimos dois meses tem estado mais junto do Alex", disse.

Apesar de ser um dos lançadores de Kristoff, Zabel tem conseguido ainda assim boas classificações, inclusivamente já ficou à frente do seu líder. Esta experiência como gregário é a forma da Katusha-Alpecin promover o desenvolvimento do ciclista. "Para ele crescer tem de ser desta maneira e ele sabe que nós temos um plano para ele para o futuro. Há que dar tempo e não é porque as coisas estão agora a sair bem que vamos alterar os planos ou impor mais responsabilidade. Ele já a tem e o plano é a pensar no futuro", frisou.

Trabalhar com jovens ciclistas e dar-lhes a oportunidade de singrarem ao mais alto nível é algo que José Azevedo admite estar a gostar de fazer. No entanto, um dos seus objectivos passa também por fazer de Ilnur Zakarin um vencedor numa corrida de três semanas. Neste caso, a aposta manteve-se com o russo que tem vindo a evoluir nos últimos anos na formação, com uma passagem pela RusVelo (conjunto russo, mas do escalão Profissional Continental). Com a saída de Joaquim Rodríguez (terminou a carreira), Zakarin ficou com o lugar de líder indiscutível para as grandes voltas. Foi quinto num Giro em que se mostrou forte na montanha, mas alguns azares e um dia mau podem ter-lhe custado o pódio.

"No Blockhaus ele perdeu 1:40 minutos e é difícil de recuperar [tanto tempo]. Se tivesse perdido 40 segundos, teria terminado no pódio. No entanto, demonstrou na última semana que era o ciclista mais forte na montanha e isso dá-lhe a confiança que poderá ganhar uma corrida de três semanas", afirmou José Azevedo. O director geral explicou que a sua ausência do Tour deve-se ao plano de deixar o russo recuperar totalmente do esforço na Volta a Itália e garantir que se apresenta a 100% na Vuelta. "Eu acho que ele tem toda a possibilidade de pensar em ficar no pódio."

"Já ganhei uma vez [a Volta a Espanha] e gostaria de repetir"

E claro, a Volta a Espanha tem um significado especial para José Azevedo. Se como ciclista foi a grande volta em que fez o seu pior resultado - 34º em 2002 e abandonou em 1997, 2003 e 2005), como director desportivo conquistou uma vitória histórica ao levar o veterano de 41 anos Chris Horner a uma surpreendente vitória, então ao serviço da RadioShack-Leopard. Ao recordar desse momento José Azevedo deixa escapar um rasgado sorriso: "Já ganhei uma vez e gostaria de repetir."

Primeiro está o Tour. José Azevedo lá estará no carro da equipa, onde continua a ir apesar de já não ser o director desportivo. "Só não fiz três corridas [este ano]. Faço quase todas sentadas ao lado, mas não interfiro com o trabalho do director desportivo", garantiu. "O meu trabalho agora não é tanto a competição como anteriormente. Tenho outro tipo de responsabilidades. Antes tinha de preparar a parte desportiva da equipa, agora, como director geral, tenho de praticamente coordenar toda a estrutura"; explicou José Azevedo.

Entusiasmo não lhe falta para construir uma Katusha-Alpecin forte e que ganhe ainda mais do que está a fazer em 2017, ano em que soma 14 vitórias.


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