2 de junho de 2017

O regresso do desaparecido Chaves e de Aru e a curiosidade de saber como está Froome

(Fotografia: Facebook Critérium du Dauphiné)
O Critérium du Dauphiné é quase uma paragem obrigatória para quem está a preparar a Volta a França, pelo que é sempre uma corrida que ajuda a perceber um pouco em que ponto estão a maioria dos candidatos. Este ano só Nairo Quintana e Rafal Majka "faltam" à chamada. No caso do colombiano da Movistaré fácil de perceber, pois ainda nem há uma semana terminou um frustrante Giro (ficou em segundo e não irá conseguir fazer a famosa e cada vez mais vista como impossível dobradinha Giro/Tour). Já o polaco da Bora-Hansgrohe parece preferir evitar os confrontos directos até ao espectáculo principal e vai antes à Volta à Eslovénia, que começa dia 15 de Junho. Mas como o que importa é quem lá está, as atenções vão centrar-se muito em dois regressos: Johan Esteban Chaves e Fabio Aru. Será a oportunidade para ver se estão recuperados dos problemas físicos. Porém, Chris Froome estará mais sobre um escrutínio maior do que o normal. Com uma temporada muito apagada comparativamente com outros anos, todos querem perceber se o britânico está apenas ser discreto na sua preparação, ou se algo se passa com o líder da Sky e vencedor de três das últimas quatro edições do Tour.

Com a subida ao Alpe d'Huez a marcar a 69ª edição do Critérium du Dauphiné, a corrida está a ser muito aguardada, esperando-se que apesar dos habituais cuidados para não arruinar meses de trabalho quando o Tour está tão perto (começa a 1 de Julho em Dusseldorf, na Alemanha), que os candidatos mostrem um pouco da sua ambição vencedora e que uma das subidas mais míticas do ciclismo seja o palco de um dia fenomenal, como tem por hábito na Volta a França. No Tour é um local que habitualmente faz parte do percurso, tendo recebido o final de uma etapa em 29 ocasiões. Porém, no Dauphiné tal só aconteceu em 2010, tendo Alberto Contador sido o vencedor, ainda que o espanhol tenha sido segundo na geral nesse ano, atrás de um surpreendente Janez Brajkovic.

Mas vamos começar com dois ciclistas que estão a ter um ano algo azarado. Johan Esteban Chaves é um autêntico mistério. Desde 5 de Fevereiro que não compete, dia em que completou a Herald Sun Tour no nono lugar. Desistiu de participar nos Nacionais da Colômbia e a partir daí tem sido uma espera com pouca informação sobre o que realmente se passa com o líder da Orica-Scott. A informação oficial era que tinha um problema no joelho, mas os meses passaram e de Chaves nem sinal. Depois a equipa australiana resolveu mudar os planos e separou os gémeos Yates. Ambos deveriam ter ido ao Giro, mas Simon foi desviado para o Tour, num claro sinal que a Orica-Scott quer ter um plano de contingência caso Chaves não esteja nas melhores condições.

O colombiano, que em 2016 foi segundo no Giro e terceiro na Vuelta, conseguiu cumprir o desejado de estar no Dauphiné. E agora vamos perceber como está este ciclista que tanto entusiasma nas corridas, mas que tantas dúvidas está a lançar sobre a sua condição física.

Já com Fabio Aru a questão é outra. O italiano foi obrigado a enfrentar a enorme desilusão de ficar de fora do Giro, que até começou na sua natal Sardenha. O italiano teve uma queda semanas antes da corrida e foi obrigado a ficar de fora e apostar antes num Tour que não lhe correu nada bem em 2016, quando fez a sua estreia. O problema no joelho tirou-lhe a Volta a Itália, mas logo se percebeu que em condições normais Aru iria reforçar o pelotão sempre de luxo em França.

Claro que o líder da Astana está sob mais pressão do que o habitual. Aru precisa de apagar a pálida imagem deixada há um ano no Tour, quando terminou "apenas" na 13ª posição, sem qualquer etapa ganha. E depois há o factor emocional que pesa na equipa cazaque. A morte de Michele Scarponi marcará sempre a Astana e falhado o objectivo de dedicar uma vitória ao italiano no Giro, é natural que os ciclistas o queiram fazer noutra corrida. E desesperam-se por triunfos na Astana, pois só soma um em 2017 e foi precisamente Scarponi quem o conseguiu na Volta aos Alpes. O Critérium du Dauphiné poderá ser encarado principalmente como um teste para ver como está Aru fisicamente, mas o italiano sabe que no Tour vão ser exigidos bons resultados.

Quanto aos restantes candidatos, é para Chris Froome que muito se olhará. Não tem vitórias este ano, tem estado super discreto nas poucas competições em que participou e mesmo que diga que está a ter uma preparação idêntica à de 2016, há um ano somava quatro conquistas: duas etapas, uma geral e uma classificação da montanha. Além disso, tinha outros resultados esperados para um ciclista do seu nível. Os anos passam e é normal que os treinos vão sendo adaptados a esse inevitável factor. Porém, aos 32 anos Froome continua a ser o super favorito para o Tour e mesmo para o Dauphiné, onde se pode tornar no primeiro ciclista a vencer por quatro vezes. A questão é simplesmente, como está Froome? Haverá oportunidade para se ver e é muito provável que não esteja num modo tão discreto, até porque sempre que ganhou o Dauphiné, ganhou o Tour!

Outro dado estatístico é de a Sky dominar esta corrida desde 2011. Só em 2014 Andrew Talansky quebrou uma hegemonia que começou com Bradley Wiggins.

E Richie Porte? O australiano é apontado por Chris Froome como um dos seus principais rivais no Tour. Começou muito bem o ano e recentemente venceu a Volta à Romandia. Ganhar o Dauphiné seria uma afirmação fortíssima sobre as suas pretensões, ainda que no caso do líder da BMC existem dúvidas que só poderão ser respondidas na Volta a França. É que qualidade para três semanas Porte tem, o problema é que tem tendência a ter um ou dois dias maus. E quando são maus, são mesmo maus. Contudo, aos 32 anos Porte parece estar num ponto perfeito de maturidade.

Alberto Contador... Uma incógnita. Tem sido quase uma sombra de si mesmo. É certo que esteve na luta nas corridas em que participou, mas escaparam-lhe as vitórias. O ano do espanhol começa a ficar reduzido ao Tour e a eventualmente uma Vuelta, mas também é verdade que são cada vez mais os cépticos que não acreditam que Contador ganhe novamente uma grande volta e o espanhol vai dando razões para assim se pensar. O líder da Trek-Segafredo tem uma oportunidade no Dauphiné para se impor como um candidato sério e não apenas de mérito pelo currículo que ostenta. E a equipa agradece umas vitórias, pois também não está a ter um 2017 muito feliz, somando apenas cinco. Ao lado de Contador estará André Cardoso, um dos dois portugueses em prova, com Tiago Machado a estar escalado na Katusha-Alpecin.

Romain Bardet completa este quarteto que é visto como o que irá lutar pelo Tour (dos ciclistas que estão presentes no Dauphiné). Com Thibaut Pinot a falhar na confirmaçãodas expectativas criadas sobre ele, os franceses olham agora para Bardet com a esperança que seja ele quem irá quebrar o longo jejum no Tour. De recordar que o último gaulês a conquistar a Volta a França foi Bernard Hinault em 1985. Ao contrário de Pinot, Bardet parece ter aceite essa responsabilidade com naturalidade e sem se ressentir da pressão que ela acarreta.

Aos 26 anos demonstra uma grande maturidade, dando garantias à AG2R que pode contar com ele para estar na luta de pelo menos um lugar no pódio. Sabe que não irá contar com Mikael Chérel (lesionado), um dos seus principais apoios, mas não é nada que desmoralize um Bardet à procura de construir uma grande carreira e certamente que quererá já dar um forte sinal neste Dauphiné, ainda mais quando quer apagar a má imagem deixada no Paris-Nice, onde foi expulso logo na primeira etapa por ter sido puxado pelo seu carro.

Para o fim fica um dos ciclistas que mais está a entusiasmar em 2017: Alejandro Valverde. É certo que Quintana será o líder no Tour, mas até que ponto o espanhol poderá ser mais um plano B da Movistar do que um gregário? A equipa irá certamente nas próximas semanas ver como irá o colombiano recuperar do desgaste no Giro, mas até lá Valverde é um dos favoritos a vencer o Dauphiné. O espanhol venceu em 2008 e 2009, mas este ano está numa forma impressionante aos 37 anos. Velho? Nem pensar! Já são 14 vitórias, entre etapas e classificações, e quase que é impensável não ver Valverde ganhar pelo menos uma etapa no Dauphiné, ainda que este ciclista não costuma fazer por menos: é para ganhar tudo o que for possível. Uma coisa certa: será um dos principais animadores do Dauphiné.

Daniel Martin (Quick-Step Floors) - terceiro em 2016 - Tony Gallopin (Lotto Soudal), Andrew Talansky (Cannondale-Drapac), Leopold König (Bora-Hansgrohe), Simon Yates (Orica-Scott), Warren Barguil (Sunweb) e Louis Meintjes (UAE Team Emirates) são outros nomes a ter em conta para a geral. Pode ver aqui a lista de inscritos.

O Critérium du Dauphiné realiza-se de domingo a domingo, com a etapa do Alpe d'Huez agendada para o penúltimo dia.


Official Teaser - Critérium du Dauphiné 2017 por tourdefrance



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