13 de setembro de 2020

Egan Bernal, o homem

© ASO/Pauline Ballet
Ciclistas como Egan Bernal, Tadej Pogacar e Remco Evenepoel tomaram de assalto o ciclismo mundial. Jovens, talentosos, mas com capacidade de desde que chegaram ao World Tour de rapidamente começar a ganhar aos grandes nomes, com currículos de meter muito respeito. Em pouco tempo, este trio conquistou também ele o respeito, com vitórias impressionantes e que estão a marcar esta mudança de geração que o ciclismo vive. Habituámo-nos de tal maneira a vê-los vencer, que quase olhamos para eles como autênticas máquinas de bom ciclismo. E são, ninguém tem dúvidas, apesar da idade. Porém, este domingo Bernal recordou a todos que é humano.

Em comum, estes três ciclistas têm que chegaram ao World Tour muito jovens, aos 20 anos ou nem isso, e não demoram a vencer. No segundo ano ao mais alto nível, Bernal colocou uma Volta a França no seu palmarés. Ao terceiro conhece a sensação de ser derrotado. O próprio admite que foi o seu pior dia numa bicicleta. Até foi difícil acreditar que com 13 quilómetros para a meta no Grand Colombier, Bernal ficasse para trás. Perdeu 7:20 minutos para Primoz Roglic (Jumbo-Visma) e Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), este último o vencedor do dia.

A máquina deu lugar ao homem. Bernal nem capacidade teve de sequer minimizar perdas. Michal Kwiatkowski e Jonathan Castroviejo limitaram-se a estar ao lado do seu líder na subida mais difícil da sua carreira. O Tour está perdido. O top dez pouco ficou a mais de três minutos. Caiu de terceiro, a 59 segundos, para 13º, a 8:25 minutos. É tempo de Egan Bernal e a Ineos Grenadiers analisar o que levou a tal descalabro e de decidir o que ainda querem fazer nesta Volta a França. Tornou-se muito penosa para um ciclista habituado a vencer. Habituado a ser o melhor.

2020 foi tudo menos normal. Confinamento, dificuldades em poder treinar, incerteza de como iria viajar para a Europa, poucas corridas... Egan Bernal foi dando nas vistas por fazer treinos com números assustadores de quilómetros e de acumulado. Fez as delícias de todos numa altura em que não havia ciclismo. Quando regressou, até venceu a Route d'Occitanie, mas os sinais de alarme dispararam no Tour de l'Ain e no Critérium du Dauphiné, que abandonou com dores nas costas. A Jumbo-Visma deu uma lição à Ineos Grenadiers e Roglic avisou Bernal que tinha rival.

Durante estas duas semanas de Tour viu-se um Bernal em dificuldades, mas sempre se esperou que acabasse por melhorar. Hoje, no Grand Colombier, deveria ter sido o dia em que aparecia. Afinal...

Até chegar ao Tour, Bernal não teve vida fácil. Há que perceber o que falhou na preparação, mas também o ambiente da Ineos Grenadiers não foi o melhor, com Chris Froome e Geraint Thomas a dizerem que iam ao Tour para ganhar. As últimas duas corridas antes do Tour colocaram todos no seu lugar. O de Froome é na Vuelta e de Thomas no Giro.

A equipa esperava ter resolvido a questão da união. Talvez o tenha feito, mas este bloco não tem a força dos tempos da Sky. Não ajudou Pavel Sivakov cair na primeira etapa e ficar muito limitado, tal como Andrey Amador. Richard Carapaz também não está a ser particularmente feliz. A equipa teve muitas quebras. Já tinha acontecido o mesmo no Tour de l'Ain e Dauphiné.

Bernal viu-se na posição de ser um líder indiscutível da equipa que nos últimos anos foi rainha do Tour. Mas aos 23 anos, ainda não tem a voz de comando de um Froome. Vivem-se novos tempos na estrutura britânica, que para piorar perdeu um dos directores desportivos que tanto marcou a equipa: Nicolas Portal faleceu em março e deixou um vazio na liderança. A era Bernal sem os britânicos a fazerem-lhe sombra no Tour, não começou bem.

O colombiano há-de voltar a mostrar a máquina que é. Há-de ser um grande líder. Contudo, por agora, mostrou ser humano. Mostrou ser um jovem que ainda tem muito para aprender. O Tour de 2020 servi-lhe-á de lição, sendo que agora é testado mentalmente. Terá de saber reagir. Também nos maus momentos se definem os grandes campeões.

© ASO/PresseSports/Bernard Papon
É mesmo uma luta eslovena

Com Bernal a ceder tão cedo, a Jumbo-Visma teve um dia quase perfeito. Unida em redor de Roglic, tudo correu bem. Ou, lá está, quase. Tadej Pogacar vai ser a pedra no sapato da equipa holandesa. O líder da UAE Team Emirates não foi tão activo como noutras etapas porque mais uma vez destaca-se a inteligência táctica deste ciclista.

Com a Jumbo-Visma a impor um ritmo tão elevado durante toda a corrida (duas primeiras categorias antecederam a de categoria especial), a estar forte no Grand Colombier, com seis ciclistas a iniciarem a subida... Pogacar percebeu que era dia para esperar. Ainda há Tour para recuperar o restante tempo.

Deixou os rivais trabalharem e até viu Roglic tentar atacar para a vitória. Mas o jovem esloveno foi lá ganhar e recuperar quatro segundos nas bonificações (ficou com 10 segundos e Roglic com seis, do segundo lugar). São 40 a separá-los, não se podendo esquecer que perdeu mais de um minuto na etapa do vento. Segunda etapa para Pogacar no Tour. Está a uma de repetir o feito na Vuelta, onde venceu três. Reforçou ainda a classificação da juventude, que em condições normais não perderá. Mas quer mais, naturalmente! Mesmo sem equipa para o ajudar, está de olhos postos na amarela.

A finalizar a segunda semana, o Tour tem definido quem lutará pela vitória na geral, mas ficou em aberto um lugar no pódio. Rigoberto Uran (EF Pro Cycling) ocupa a posição a 1:34 minutos, mas até ao oitavo lugar de Enric Mas, todos são candidatos, tendo em conta a montanha que ainda há pela frente. De repente, ganha-se nova motivação entre os restantes líderes das equipas.

A saber, além de Uran: Miguel Ángel López (Astana), a 1:45 minutos; Adam Yates (Mitchelton-Scott), a 2:03; Richie Porte (Trek-Segafredo), a 2:13; Mikel Landa (Bahrain-McLaren), a 2:16 e Enric Mas (Movistar), a 3:15. Um pouco mais difícil para este espanhol, mas não impossível.

Nairo Quintana (Arkéa Samsic) e as quedas não combinam e um limitado fisicamente colombiano desceu para o nono lugar, a 5:08. Tom Dumoulin (Jumbo-Visma) reentrou no top dez, a 5:12. Guillaume Martin (Cofidis) teve uma segunda semana abaixo do desejado. Voltou a perder tempo para Roglic, mas o top dez ainda é possível. Está a 6:45 da amarela.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

16ª etapa (15 de Setembro): La Tour-du-Pin - Villard-de-Lans, 164 quilómetros


Dia de folga esta segunda-feira. Dia de testes à covid-19. Alguma ansiedade, como aconteceu há uma semana, quando o director da prova, Christian Prudhomme, e um elemento da Ineos Grenadiers, Mitchelton-Scott, Cofidis e AG2R deram positivo. A última versão do regulamento apontava para que esta segunda-feira estivesse tudo a zero. Ou seja, com dois positivos uma equipa é excluída do Tour, mas como passou uma semana, os casos da última segunda-feira não contam.

No regresso à corrida, serão três dias de montanha consecutivos. Na terça-feira talvez seja um bom dia para os que queiram entrar numa fuga, já que não será de afastar que as atenções na geral estejam mais focadas para os dois dias seguintes, antes do contra-relógio no sábado.

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