16 de setembro de 2020

Valeu López... Já Landa valeu pouco

© ASO/Pauline Ballet
Quando se fala de Volta a França já não pode ser uma completa surpresa as expectativas serem altas e depois saírem goradas. Vai-se esperando que, depois de uma etapa ter desiludido, que a próxima seja melhor. Ainda falta uma na montanha, mais o contra-relógio que acaba em estilo crono-escalada no sábado (além de duas para sprinters).  Bom, talvez, estando tão perto do fim, se mantenha alguma esperança.

Miguel Ángel López (Astana) merece o reconhecimento por ter feito jus à alcunha e tal como Superman (Super-Homem) voou Col de la Loze acima, mesmo quando a pendente ultrapassou os 20%. O colombiano animou e poderá ajudar a animar a etapa desta quinta-feira, mas de resto... soube a pouco. Tadej Pogacar tem direito a ter um dia menos bom, mas o espectáculo ressente-se logo.

Com duas categorias especiais, o conhecido Col de la Madeleine e com a nova subida a terminar o dia (nunca havia sido feita até tão ao topo) e com o Tour a aproximar-se do seu epílogo, a expectativa era precisamente que Primoz Roglic e a Jumbo-Visma fossem testados. E luta pelo terceiro lugar e pelo top dez poderem ser outros pontos de interesse. No entanto, saiu a Sky/Ineos/Ineos Grenadiers de cena enquanto a equipa dominante, entra a Jumbo-Visma e o Tour cai na toada de todos mostrarem tanto respeito muito misturado com receio pela equipa holandesa, que preferem mais esperar para ver se à uma falha de Roglic, do que forçar essa falha.

López tentou, com o objectivo de ganhar a etapa e de entrar no pódio e aproximar-se do líder. Conseguiu e numa etapa em que se sentiu em casa (subidas que acabem acima dos dois mil metros de altitude é o terreno favorito dos colombianos). Recuperou 15 segundos na estrada, mas quatro de bonificação (somou dez e Roglic seis, ao ser segundo). 1:26 minutos não é uma montanha para recuperar, mas não é nada fácil, dado que López e o contra-relógio não têm a relação que Roglic tem com esta especialidade. Porém, o colombiano animou o dia.

Se Pogacar estiver melhor na etapa desta quinta-feira, então talvez ainda se venha a confirmar algumas expectativas mais emocionantes para este final de Tour. O jovem esloveno da UAE Team Emirates perdeu tempo, 17 segundos (entre estrada e bonificações) e está agora a 57. Mas se não desmoralizou com a etapa do vento, não irá desmoralizar agora. Contudo, também se percebeu o quanto este Tour está dependente da irreverência de Pogacar para que as etapas sejam mais atacadas.

Egan Bernal (Ineos Grenadiers) nem partiu em Grenoble e a Colômbia olha agora para López, já que Rigoberto Uran (EF Pro Cycling) também não foi feliz. Nem foi Adam Yates (Mitchelton-Scott), nem Richie Porte (Trek-Segafredo), ainda que no caso do australiano, subir ao quarto lugar seja um resultado bem positivo. Mas Porte queria e quer mais. Apesar de estar longe de lutar por vitórias, há que referir que Enric Mas (Movistar) lá vai fazendo a sua corrida rumo ao top dez. Discreto, mas eficaz, dentro do possível, numa equipa espanhola que está uma sombra do que foi em anos recentes.

© Bahrain-McLaren
Golpe para o "Landismo"

Mas o pior foi outro espanhol. O "Landismo" sofreu um rude golpe e na Bahrain-McLaren não se deve estar particularmente feliz pelo trabalho do seu líder. Mikel Landa não se pode queixar da equipa, apenas dele mesmo. Quando teve todos a cumprirem com a sua função, só Landa falhou. Que bom foi ver Wout Poels em acção, ele que continua no Tour depois de partir costelas partidas logo no primeiro dia. Pello Bilbao esteve em grande nível, Damiano Caruso um pouco abaixo, mas esteve lá para Landa, assim como Matej Mohoric e Sonny Colbrelli. O italiano subiu como se calhar nunca o fez uma categoria especial ao liderar a Bahrain-McLaren no Col de la Madeleine.

Nessa subida, com o trabalho da equipa que acabou por dizer à Jumbo-Visma "hoje mando eu" (sem que a equipa holandesa se chateasse, até poupou algum esforço), o grupo de candidatos começou a ser seleccionado. A tendência manteve-se no Col de la Loze (já sem Colbrelli). A Bahrain-McLaren merecia muito mais do que um Landa a ficar imediatamente para trás quando chegou o momento de assumir a responsabilidade de atacar. Mas viu os outros fazê-lo, sem responder. Tem a sua oportunidade de ser um líder único numa equipa, mas não está a corresponder ao que durante tanto tempo apregoou.

A vitória de López -  a primeira no Tour, em ano de estreia - e o desaire de Landa são os dois pontos que se destacam da 17ª etapa (Grenoble - Méribel Col de la Loze, 170 quilómetros). Afinal, ver Roglic atacar e escapar aos adversários quase não é notícia. Está fortíssimo, não há dúvidas e ate conseguiu finalmente bater Pogacar sem ajuda do vento. Tem mais dois dias de montanha para aguentar e conquistar uma Volta a França histórica para a Eslovénia, no ano seguinte a ter ganho a Vuelta.

A Jumbo-Visma ainda não pode celebrar. Pogacar não desiste e López poderá ter ideias... O esloveno até teve um dia menos exuberante, mas, ainda assim, juntou a liderança da montanha à da juventude. E o foco continua a ser tentar a amarela.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

18ª etapa: Méribel - La Roche-sur-Foron, 175 quilómetros


Na recta final do Tour, não há tempo para descansar entre duas tiradas muito exigentes nos Alpes. Vai ser um daqueles dias infernais para os sprinters que vão estar constantemente a subir e descer. Mas sexta-feira será dia para eles. Também não será um dia mais fácil para os trepadores. Não há margem de erro, independentemente dos objectivos.

Depois desta etapa só sobra o contra-relógio para a geral, que terminará em La Planches des Belles Filles. Roglic terá, teoricamente, vantagem. López demonstrou querer deixar de parte conservadorismos, Pogacar já se sabe, é para ganhar. Mas mais alguém assume o risco?

De salientar o Col des Glières, de categoria especial. Seis quilómetros com pendente média de 11,2%. A máxima é de 15% e nunca baixa muito dos 10%.



»»Chegou o momento de atacar Roglic e a Jumbo-Visma««

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