15 de setembro de 2020

Chegou o momento de atacar Roglic e a Jumbo-Visma

© ASO/Alex Broadway
No dia em que finalmente a Bora-Hansgrohe conseguiu a etapa que tanto perseguia, fê-lo com mais um dos ciclistas da nova geração, que pode não ter o mediatismo de um Egan Bernal ou Tadej Pogacar (para falar de dois que estão no Tour), mas tem muita qualidade e potencial: Lennard Kämna (24 anos).

Apesar de na Alemanha até ser sido dado como candidato a um bom resultado na geral, a missão tem sido outra e tem cumprido muito bem, principalmente desde que Emanuel Buchmann saiu da luta pela geral e os restantes ciclistas ou ajudam Peter Sagan na luta pela camisola verde, ou entram em fugas para ganhar etapas. O seu caso.


© ASO/Alex Broadway
É mais um jovem a comprovar que o ciclismo tem novos protagonistas, depois de Marc Hirschi (Sunweb) já ter deixado a sua marca neste Tour. Porém, a partir desta quarta-feira, Kämna e todos os outros jovens sabem que há um que vai ser o centro de todas as atenções. Chegou o momento de Tadej Pogacar mostrar se pode ou não provocar uma pequena surpresa e destronar o super favorito Primoz Roglic.

Quarta, quinta e sábado. 40 segundos a separar os dois eslovenos. Já se percebeu que Pogacar não se intimida com nada. Não se intimida por ser o seu primeiro Tour e apenas a sua segunda grande volta, não se intimida por ter de enfrentar não só Roglic, mas toda uma Jumbo-Visma, não se intimida por o fazer sem ter praticamente qualquer ajuda da sua equipa.

Perder tempo na etapa do vento não o preocupou e tem mostrado não só ser audaz, como inteligente nos momentos de colocar em prática essa audácia. Se resulta, ganha tempo. Se não resulta, não perde tempo, como aconteceu esta terça-feira, na 16ª etapa (La Tour-du-Pin - Villard-de-Lans, 164 quilómetros). Mas arrisca.

O adversário é alguém completamente oposto. Mais calculista, ataca nos momentos programados, controla muito bem as movimentações dos adversários. Faz mais um jogo do espera, para tentar dar uma machada final. Tem resultado. E tem uma equipa a ajudá-lo, ainda que quando fica sozinho, também não tem problemas.

Estas formas de estar no ciclismo completamente diferentes têm sido sinónimo de espectáculo, no ano em que Egan Bernal (Ineos Grendiers) falhou por completo. O colombiano perdeu ainda mais tempo na etapa de hoje, queixando-se de dores nas costas (razão que o levou a abandonar o Critérium du Dauphiné) e no joelho. Já são 19:04 minutos para Roglic. Algo inimaginável quando o Tour começou.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

A etapa que inicia as decisões finais

As lições para a 17ª etapa têm de estar muito bem estudadas. Roglic pode potencialmente ter o dia mais difícil no Tour. A organização colocou o bem conhecido Col de la Madeleine. Porém, o final é no desconhecido Col de la Loze, na estância de Méribel. Se na primeira subida os ciclistas subirão aos dois mil metros de altitude, em Méribel chegarão aos 2304. Tudo em cerca de 81 quilómetros, dos 170 quilómetros totais. São duas subidas de categoria especial.



Duas subidas longas, mais ao estilo de Bernal, mas esse já não conta. Para Roglic serão dois testes para alguém que dá-se muito bem em ascensões mais curtas, mas com finais a pedir capacidade de "explosão". Vai ter um final destes, mas muitos quilómetros antes... E 24% de máxima para enfrentar!



O Col de la Madeleine tem 17,1 quilómetros, a 8,4% de média (ver gráfico em cima), mas em Méribel serão 21,5 quilómetros a 7,8%. O final é de uma dureza extrema (ver gráfico em baixo), com a pendente a chegar então aos 24%!




Para quando um ataque? E mais alguém arrisca?

A questão não se impõe apenas a Pogacar. Se mais alguém estiver interessado em colocar em causa a liderança de Roglic, esta é a etapa para mostrar. Com um contra-relógio no sábado, que acaba em estilo crono-escalada na La Planche des Belles Filles, as diferenças podem não ser tão grandes como se fosse um contra-relógio, digamos, "normal". Porém, Roglic terá vantagem, na teoria.

Richie Porte (Trek-Segafredo) - está a 2:13 minutos - tem sido dos mais activos dos restantes candidatos. Será que Mikel Landa (Bahrain-Merida) vai decidir aparecer? Está a 2:16 minutos e para quem tanto reclamou ser líder único de uma equipa, para quem sempre assumiu que queria lutar pelo Tour, o espanhol tem estado demasiado discreto.

Porém, pode haver quem irá antes à procura do terceiro lugar, pois com Bernal fora da luta, o lugar vago no pódio poderá ser o mais almejado por ciclistas como Rigoberto Uran (EF Pro Cycling) - que ocupa o terceiro posto a 1:34 minutos - e mesmo Miguel Ángel López (Astana), a 1:45. Adam Yates (Mitchelton-Scott) também já abandonou a ideia de perseguir etapas. Afinal, estando o pódio a 29 segundos e o britânico tem-se apresentado bem (algum sofrimento em certos momentos, mas recuperou sempre), estar no pódio tem de ser o objectivo.

Haverá muitos interesses em jogo, incluindo pelo top dez. A Jumbo-Visma e Primoz Roglic terão de escolher as suas batalhas, incluindo sacrificar o top dez de Tom Dumoulin. A expectativa é que esta quarta-feira seja um dia de ataques. Só falta saber se, perante tanta dureza, quando é que alguém irá arriscar. Quem quiser recuperar mais tempo, poderá atacar logo no Col de Madeleine, mas Méribel tem extensão e dificuldade suficiente para se fazer diferenças interessantes.

E não esquecer, quinta-feira há mais montanha, com duas primeiras categorias, uma segunda e uma terceira, com uma especial a fechar as contagens, ainda que a chegada não seja em alto.

»»Egan Bernal, o homem««

»»Sunweb com mais uma reinvenção de sucesso««

Sem comentários:

Enviar um comentário