4 de setembro de 2020

Bora-Hansgrohe e Ineos Grenadiers em trabalho de alta velocidade. Mas no final ganhou a Jumbo-Visma

© BettiniPhoto/Bora-Hansgrohe
Qual montanha, qual quê. Um pouco de vento e finalmente a Volta a França animou. Primeiro foi a Bora-Hansgrohe a partir do pelotão, para deixar para trás os sprinters - e principalmente Sam Bennett - de forma a garantir que Peter Sagan voltasse a vestir a camisola verde e talvez ganhar a etapa sem uma concorrência tão forte. Depois foi a Ineos Grenadiers que repetiu a dose de liderar o grupo, como na sexta etapa, mas desta vez, "estilhaçou" com a ajuda do vento o grupo, com alguns candidatos a ficarem para trás. Porém, a Jumbo-Visma não quebra. E até ganha!

Tem sido algo comum em anos recentes. Uma etapa relativamente plana com vento e vários ciclistas que ambicionam à geral vêem as contas complicarem-se. Costuma ter o condão de animar as tiradas de montanha que se seguem. E há que dizer que o Tour estava mesmo a precisar de um abanão destes. O pensamento de todos parecia estar mais nas dificuldades que estão mais adiante, do que arriscar já no início. Claro que não ajudou aquela primeira etapa recheada de quedas, mas mesmo assim, tem sido muito controlo e pouco ataque.

Se em dias anteriores o ritmo nem sempre entusiasmou, nos 168 quilómetros da sétima etapa - entre Millau e Lavaur - foi registada uma média de 47,5 quilómetros/hora, ao que se juntou então um vento com rajadas a rondar os 30 a 40 quilómetros/hora. Percebe-se desde logo porque foi irresistível alguém tentar um "abanico", utilizando a expressão espanhola. Para a animação, contribuiu ainda a luta pela camisola verde juntar-se à luta pela amarela.

A Bora-Hansgrohe começou por acelerar de tal forma na primeira subida que deixou a maioria dos sprinters para trás. Já se sabe que Peter Sagan tem capacidade para ultrapassar melhor estas dificuldades e o eslovaco tem nos últimos anos mostrado como se ganha a classificação dos pontos, sem ser preciso dominar nos sprints finais. Foi segundo no intermédio, já no final, saltou a corrente da bicicleta e foi apenas 13º. Mas recuperou a camisola verde, com nove pontos de vantagem sobre Sam Bennett. Por enquanto parece que há luta por esta classificação.

Depois do trabalho inicial da Bora-Hansgrohe - foi ainda recompensada com o prémio da combatividade para Daniel Oss -, o trabalho a alta velocidade continuou, com a Ineos Grenadiers a entrar em acção no último terço da etapa. Rapidamente começaram ciclistas a perder o contacto com o grupo da frente.

Mikel Landa (Bahrain-McLaren) continua a escrever a sua habitual história. Arranja sempre maneira de perder tempo na primeira semana. Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) teve azar. Furou pouco antes da Ineos Grenadiers iniciar a aceleração e acabou por ceder a liderança da juventude a Egan Bernal. Richie Porte é outro que não se dá bem com abanicos, com o companheiro da Trek-Segafredo, Bauke Mollema também a ficar para trás.

Com a táctica da equipa britânica a resultar, Jumbo-Visma e Groupama-FDJ saltaram também elas para a frente. A Ineos Grenadiers acabou por falhar na sua maior pretensão: Primoz Roglic e Tom Dumoulin permaneceram intocáveis na frente, assim como o líder da formação francesa, Thibaut Pinot. Os principais adversários de Egan Bernal não perderam tempo, nem mostraram fraqueza.

A Ineos Grenadiers queria um dia para recordar, mas viu Richard Carapaz ser um dos prejudicados. Mais um furo a estragar os planos de um ciclista. A equipa deu ordem a Jonathan Castroviejo para ajudar o equatoriano, mas não havia nada a fazer. O facto de não ter ficado sozinho demonstra que esta Ineos Grenadiers não queria ver Carapaz a já 2:02 minutos na geral. Se precisar de um plano B, a opção estará mais complicada, ao contrário do que acontece com a Jumbo-Visma, que continua a ter Primoz Roglic e Tom Dumoulin na luta pela geral.

Tal é a discrição, que quase dá para esquecer que o camisola amarela é Adam Yates. Com outras equipas a assumirem as rédeas das etapas, a Mitchelton-Scott "só" teve nestes últimos dois dias de se preocupar em proteger Yates. O que não foi nada fácil hoje, mas o britânico sobreviveu a uma etapa louca, emotiva e muito interessante a nível táctico.

© ASO/Alex Broadway
No final ganhou a Jumbo-Visma

Não deixará de ser algo frustrante para quem tanta trabalhou ver a equipa rival não só não quebrar, como ainda a ganhar a etapa. Esta Jumbo-Visma dá para tudo e ainda nem foi forçada a intenso trabalho na montanha. Esse talvez surja este fim-de-semana.

Com o esforço na primeira fase da etapa, a Bora-Hansgrohe esperava que fosse desta que Peter Sagan ganhasse. Parte da missão está cumprida ao recuperar a camisola verde, mas começa a ser difícil perceber como irá este eslovaco quebrar um longo jejum de triunfos. Que coisa estranha em dez anos como profissional!

Bryan Coquard (B&B Hotels-Vital Concept) e Christophe Laporte (Cofidis) conseguiram ficar na frente e com razão sonharam à ambicionada vitória no Tour, com Edvald Boasson Hagen (NTT) a mostrar que a idade passa, mas não é um ciclista que se deva menosprezado.

Mas não foi nenhum destes ciclistas a aproveitar a falta de sprinters na discussão. No grupo estava Wout van Aert. Que mais dizer sobre este belga? Mais uma vez trabalhou na frente depois da Ineos Grenadiers forçar o andamento. Expôs-se, mas nem assim perdeu forças para bater a concorrência nos metros finais. Lá foi ele ganhar e até com relativa tranquilidade. Segunda vitória para o belga, terceira para a Jumbo-Visma - venceu com Primoz Roglic na primeira chegada em alto no Tour - em sete etapas.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

8ª etapa: Cazères-Sur-Garonne - Loudenvielle, 141 quilómetros


Perante a perda de tempo na sétima etapa, o fim-de-semana pode ter ganho outro interesse. Com cerca de minuto e meio para recuperar, ciclistas como Mikel Landa, Tadej Pogacar e os líderes da Trek-Segafredo, vão ter de começar a procurar forma de recuperar tempo. Com um dia de descanso à espera na segunda-feira, principalmente a etapa deste sábado tem um percurso interessante para estes atletas, mesmo sem ter chegada em alto. O pelotão chega à fase dos Pirenéus.

Haverá a primeira categoria especial deste Tour, no Port de Balès. São 11,7 quilómetros, com uma pendente média de 7,7%. Atenção aos segundos de bónus no Col de Peyresourde (oito, cinco e dois). Chegou a altura de este Tour começar a mexer mais na geral, com a expectativa de ver se Roglic ou Bernal vão continuar na expectativa, ou se a Jumbo-Visma e a Ineos Grenadiers vão finalmente medir forças. A vontade de ver este frente-a-frente cresce...

»»Ineos Grenadiers mostrou-se. Jumbo-Visma esteve atenta mas sem razões para se preocupar««

»»Alaphilippe perdeu a camisola amarela (afinal aconteceu algo na quinta etapa)««

Sem comentários:

Enviar um comentário