12 de setembro de 2020

Sunweb com mais uma reinvenção de sucesso

© Team Sunweb
De apostar nos sprints, a lutar pela geral e agora como caça etapas. A Sunweb, ex-Giant-Alpecin e ex-Argos-Shimano, não tem parado de se reinventar ao longo dos anos. Adapta-se aos ciclistas que tem, nunca perdendo a linha de investimento em jovens que vê tornarem-se em vencedores. A equipa alemã vive mais uma fase da sua vida que tem sido de sucesso, mas que também tem sido de saber dar o passo atrás, para depois dar um salto em frente.

A Sunweb vive precisamente uma fase de dar o passo atrás. Com a surpreendente saída de Tom Dumoulin para a Jumbo-Visma - o holandês quebrou contrato para mudar de equipa -, a Sunweb viu-se privada do seu líder, aquele que lhe deu uma Volta a Itália e esteve perto de conquistar a Volta a França. A equipa havia quebrado quase por completo com o passado ganhador em sprints com Marcel Kittel e John Degenkolb, com este último a conquistar ainda dois monumentos (Milano-Sanremo e Paris-Roubaix).

Quase, porque tem Michael Matthews, que parecia ser o inevitável líder num regresso às origens, ficou de fora das escolhas do Tour. Sam Oomen começou o ano a regressar de uma longa paragem devido a um problema numa perna, que o obrigou a terminar a época após o Giro em 2019 e foi escalado para... o Giro. E ainda há um Wilco Kelderman que depois de muito prometer, pouco ou nada cumpriu. Também vai à Volta a Itália.

Tal como aconteceu com Kittel, Degenkolb e Dumoulin, os três ciclistas mencionados também estão de saída, mas sem que a Sunweb fique muito preocupada. O caminho da equipa é outro e está a demonstrar na Volta a França que tem tudo para ser novamente de sucesso. Oomen vai para a Jumbo-Visma, Kelderman assinou pela Bora-Hansgrohe.

Matthews ficou de fora das escolhas do Tour. Uma surpresa visto a equipa não ter qualquer pretensão à geral. O australiano não escondeu a desilusão e já assinou contrato com a sua antiga formação, a Mitchelton-Scott, com regresso marcado em 2021. À 14ª etapa do Tour percebe-se melhor as escolhas feitas. A Sunweb optou por uma equipa jovem, com ciclistas com ambição de singrar e com oportunidade para o fazer, sem terem de estar "presos" a um ciclista. Algo que teria acontecido se Matthews estivesse na corrida.

A média de idades é de 26,3, com três estreantes no Tour: Joris Nieuwenhuis, Casper Pedersen e Marc Hirschi. Cees Bol está só na segunda presença. Tiesj Benoot foi um dos principais reforços e apesar do segundo lugar no Paris-Nice, não veio ao Tour com pensamento na geral. Nikias Ardnt e Soren Kragh Andersen são dois ciclistas muito fiáveis e Nicolas Roche é, aos 36 anos, a voz da experiência, sempre necessária quando há uma equipa tão nova numa competição tão importante como o Tour. Ardnt já venceu etapas no Giro, Vuelta e Critérium du Dauphiné. Andersen tem agora uma no Tour.

Sem Dumoulin, Oomen, Kelderman e Matthews, as expectativas para a Sunweb eram baixas. Pelo menos para o "mundo exterior". "Repetir coisas não é o que queremos fazer. Gostamos de inovar, tentar coisas novas e pensar em novas possibilidades", explicou o director desportivo Rudi Kemna, ao Cycling Weekly.

De uma equipa que se esperava que passasse relativamente despercebida, eis que a Sunweb se tornou numa das mais entusiasmantes. Nos sprints aposta num Cees Bol de grande talento e que venceu uma etapa na Volta ao Algarve. Anda a ameaçar uma no Tour, mas a concorrência é muito forte. Nas etapas de média montanha tem sido o espectáculo Sunweb.

© ASO/Alex Broadway
A equipa coloca três/quatro ciclistas na frente e começa a atacar à vez. Chega a ter mais do que um na frente, como quando Marc Hirschi ganhou na 12ª etapa. O suíço já tinha ficado perto em duas ocasiões, em mais duas tiradas bem trabalhadas pela Sunweb. Foi um daqueles triunfos que foi consensual em ser considerado mais do que merecido. Na 14ª, foi o dinamarquês Soren Kragh Andersen o autor do ataque vencedor, depois de Benoot ter lançado o primeiro. Ninguém o apanhou.

A Sunweb já sairá do Tour com uma corrida muito positiva e com a certeza que deu espectáculo, algo que, aliás, era também pretendido. Porém, estes jovens ciclistas, mais o veterano Nicolas Roche, não querem ficar por aqui. Têm andado constantemente em fuga e vão continuar a tentar bater aqueles que tentam controlar uma corrida e têm de lidar com ciclistas da Sunweb a atacar de todos os lados.

Esta Volta a França acaba por marcar esta reinvenção da estrutura alemã, que quer continuar a formar jovens - alguns saem da sua equipa de desenvolvimento -, mas pretende aos poucos construir novamente uma equipa para a geral. Romain Bardet (AG2R) vai chegar para dar os primeiros passos nesse trabalho, cujo objectivo é daqui a cerca de seis anos a Sunweb vencer o Tour, segundo afirmou há umas semanas Marc Reef, um dos responsáveis por equipa que tem uma capacidade impressionante de se reinventar com sucesso.

15ª etapa: Lyon - Grand Colombier, 174,5 quilómetros


Para a grande etapa que se espera este domingo, já não se contará com Romain Bardet. O francês caiu na sexta-feira e exames detectaram uma pequena hemorragia cerebral. O ciclista nem sequer partiu para a tirada deste sábado. Uma despedida inglória da AG2R no Tour, onde está há nove temporadas. A AG2R também já não conta com Pierre Latour, que abandonou.

As atenções vão estar todas nos homens da geral, ainda que a luta pela camisola verde continue animada entre Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) e o líder da classificação dos pontos, Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep).

É o momento de Egan Bernal (Ineos Grenadiers) mostrar a Primoz Roglic (Jumbo-Visma) que tem de contar com ele para a luta pela amarela. A subida é mais ao seu género, longa, com 17,4 quilómetros, isto depois de se ultrapassar duas primeiras categorias. O Grand Colombier tem uma pendente média de 7,1%, mas antes, os ciclistas enfrentarão o Montée de la Selle de Fromentel (11,1 quilómetros, com 8,1% de média) e o Col de la Biche (6,9 quilómetros, a 8,9% de média).

Dia muito complicado em expectativa, recordando-se que Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) está a 44 segundos, Bernal a 59, com Rigoberto Uran (EF Pro Cycling) a ser quarto a 1:10 minutos. Luta pela amarela, pelo pódio e pelo top dez em jogo, antes do dia de folga para preparar a última semana do Tour.

»»Aliança eslovena? Nem pensar!««

»»Hirschi finalmente ganhou e ao estilo de Cancellara««

Sem comentários:

Enviar um comentário