5 de setembro de 2020

Etapa de emoções: Pinot está fora da luta, Jumbo-Visma mostrou que não é perfeita, Pogacar deixou aviso

© ASO/Alex Broadway
A luta pela geral na Volta a França começou a mexer ao oitavo dia. Porém, pouco se decidiu quanto à amarela, mas eliminou-se candidatos, com Thibaut Pinot em destaque. Na rivalidade Egan Bernal/Primoz Roglic perdeu... a Jumbo-Visma. O vencedor do dia acabou por ser Tadej Pogacar. Começa a ser impossível não gostar deste talentoso ciclista, que tem aquela característica que tanto anima corridas: gosta de atacar e quando faz, fá-lo bem.

No entanto, esta oitava etapa - entre Cazères-Sur-Garonne e Loudenvielle (141 quilómetros) - ficará aquela em que mais um ano passa e Pinot não consegue sequer estar na luta pelo Tour. Sem chegada em alto na entrada nos Pirenéus, mas com duas primeira categorias e uma especial pelo meio, no Port de Balès, foi precisamente nessa que tudo se desmoronou para o ciclista, para a Groupama-FDJ e para os franceses que tanto sonhavam com uma vitória de Pinot.

Afinal, o francês tinha razão em estar zangado naquela primeira etapa, quando caiu a três quilómetros na meta. A pancada nas costas deixou marcas e nem as três horas de tratamento a que se submeteu todos os dias desde então o salvaram. Parecia estar a melhorar, mas o Tour acabou a nível de geral. A ver vamos se animicamente o ciclista resiste.

Aos 30 anos, o trabalho que realizou para se libertar da pressão da imprensa francesa, dos adeptos, para se libertar da pressão que colocava em si próprio, deu uma nova vida a Pinot. Afastou-se de maior responsabilidade do Tour em 2017 e 2018 (nesse ano nem foi devido a doença) para depois a abraçar mais forte mentalmente. Sobre a edição de 2019 irá ficar sempre aquela dúvida se Pinot não se tivesse lesionado (que bem estava)... Sobre a de 2020 a frustração será ainda maior. Tudo se desmoronou afinal logo na primeira etapa.

É um momento importante na carreira de Pinot. A ver vamos como irá reagir. Se não for possível já no Tour, dado o problema nas costas, talvez na Vuelta. Tem boas memórias da corrida espanhola. Foi lá que completou a sua "transformação" do Pinot que se intimidava com o ambiente do Tour, para o Pinot que não teme nada nem ninguém na grande corrida do seu país.

O bom e o mau para a França

Thibaut Pinot ficou a 18:56 minutos do líder Adam Yates, mas os franceses viram também Julian Alaphilippe sair de uma posição que o poderiam levar a vestir mais uma vez a amarela, mesmo que fosse apenas por mais uns dias. O ciclista da Deceuninck-QuickStep atacou, mas pouco depois quebrou por completo. A liderança ficou a 11:42 minutos.

Os franceses vão virar a atenção para uma improvável figura e uma confirmação. Ou seja, Romain Bardet, que tão mal tem estado nos últimos dois anos e que nem era suposto ir ao Tour se a época tivesse decorrido normalmente, está a 11 segundos da liderança. Até caiu, mas atacou Adam Yates nos últimos metros. Serviu pelo menos para ganhar confiança.


Nans Peters ganhou a oitava etapa do Tour
© ASO/PresseSports/Franck Faugere
Está de saída da AG2R, mas ninguém o pode acusar de estar a pensar na Sunweb. Bardet disse que ia ao Tour sem a responsabilidade da luta pela geral e queria lutar por vitórias de etapas. Neste momento as possibilidades têm de estar todas em aberto. Mais um francês que precisa de se libertar da intensa pressão.

A confirmação chama-se Guillaume Martin. O líder da Cofidis até chegou a ser líder virtual, mas não conseguiu finalizar o ataque com sucesso. Contudo, se há ciclista que está a ser muito consistente é o filósofo do pelotão. Está a nove segundos de Yates.

E para terminar, um francês ganhou a etapa. Nans Peters venceu uma no Giro, em 2019, e agora aproveitou a fuga e o facto de Ilnur Zakarin (CCC) ser um dos piores ciclistas a descer no pelotão, para dar uma vitória à AG2R.

O bom e o menos bom da Eslovénia

© ASO/Pauline Ballet
Na sexta-feira, na etapa do vento, Pogacar perdeu 1:21 minutos. No dia seguinte, este sábado, na alta montanha, o esloveno não se coibiu de recuperar tempo. Não é demasiado calculista, mas sabe escolher o momento certo para atacar. Aos 21 anos (faz 22 no dia 21 de Setembro) lê a corrida como poucos com a sua idade.

Aquele primeiro ataque em que Primoz Roglic e Nairo Quintana o seguiram, ao perceber que a ajuda de Roglic não era muita e que a de Quintana era ainda menor (ainda assim, nota positiva para o colombiano nesta tirada), esperou por nova oportunidade. Já está a 48 segundos de Yates. Na Vuelta, onde foi terceiro, este jovem líder da UAE Team Emirates passou três semanas a melhorar fisicamente até Madrid. Depois da exibição deste sábado, deixou mais sobreaviso a dupla de favoritos Roglic/Bernal.

O compatriota, Roglic, não foi o ciclista avassalador de outros dias. Ficou sozinho na última subida, num trabalho mal calculado da Jumbo-Visma. Apesar de ver como Bernal não era capaz de acompanhar sempre que alguém atacava, Roglic pouco vez para tentar fazer maior diferença.

Talvez seja de mais dizer que não está tão em forma como parecia. Afinal há que recordar o que aconteceu quando um super Roglic tentou controlar tudo e todos no início do Giro de 2019.  O esloveno tornou-se um ciclista que gere melhor o seu esforço - assim venceu a Vuelta - e ainda há muito Tour pela frente.

Jumbo-Visma auto-destruiu-se, mas primeiro destruiu a Ineos Grenadiers

Se numa primeira fase da corrida a Mitchelton-Scott não teve outro remédio senão tomar conta das operações, na categoria especial a Jumbo-Visma quis impor-se. Tudo parecia decorrer como esperado até que... Sepp Kuss fica para trás. Foi dos primeiros a ceder da equipa, quando é suposto ser dos últimos a trabalhar para Roglic. A equipa não abrandou. Mais estranho foi ver um Wout van Aert a acelerar nos últimos dos 11 quilómetros do Port de Balès, com Tom Dumoulin e George Bennett a ficarem algo aflitos com o ritmo.

Pelo caminho já a Ineos Grenadiers tinha desaparecido. Sobrava Richard Carapaz com Egan Bernal. Está mais do que confirmado que a equipa britânica nada tem a ver com o tempo da Sky. A esperança é que Pavel Sivakov possa recuperar fisicamente das quedas do primeiro dia e ainda vir a ser útil. Bernal bem precisa.

No entanto, a Jumbo-Visma também mostrou debilidades. Talvez tenha sido entusiasmo a mais tal é a força que tem vindo a demonstrar até este Tour. Tom Dumoulin foi o último a trabalhar para Roglic, mas acabou a descolar tal como os restantes companheiros. Ficou a 2:20 de Yates, com Carapaz a 2:40 depois da etapa do vento. Jumbo-Visma e Ineos Grenadiers têm os planos B comprometidos.

No meio de ataques e contra-ataques, Adam Yates lá sobreviveu de amarelo, mas o número um da Mitchelton-Scott está longe de mostrar que a pode manter por muito mais tempo, o que também não é sua intenção. Quer ganhar uma etapa.

Em condições normais será mesmo uma luta entre Roglic e Bernal, mas com a Ineos Grenadiers a não assustar e a Jumbo-Visma a mostrar que também falha, é o momento de outros ciclistas repensarem tácticas e ambicionar mais do que ficar na expectativa.

Este Tour pode não ser tão linear como se pensaria e pode ir mais além do frente-a-frente Roglic/Bernal.

Classificação completa, via ProCyclingStats.

9ª etapa: Pau - Laruns, 153 quilómetros


Não sendo uma etapa tão difícil como a de sábado, o desgaste de nove dias de Tour já se faz sentir. E depois de um dia tão intenso, os ataques na nona etapa deverão ficar guardados para aquela última subida, principalmente por parte de quem quer recuperar algum tempo perdido. É inevitável pensar em Pogacar, mas também Mikel Landa (Bahrain-McLaren) e Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe), por exemplo. Yates vai estar atento a Bardet ou Martin que podem tentar ir buscar a camisola amarela.

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