7 de abril de 2017

Temos os candidatos, mas este Paris-Roubaix será de Tom Boonen, quer ganhe ou não

Tom Boonen tirá toda uma equipa a apoiá-lo para que consiga despedir-se
com o sonhado quinto triunfo no Paris-Roubaix
(Fotografia: Facebook Tom Boonen)
Na Scheldeprijs Marcel Kittel venceu pela quinta vez, mas as atenções centraram-se em Tom Boonen. Foi ele o ciclista rodeado pelos jornalistas, foi ele o mais aplaudido, foi ele que gerou maior emoção, inclusivamente em Kittel. Afinal foi a sua última corrida na Bélgica, o seu país. A derradeira na carreira será este domingo e é de Boonen que muito se fala e será de Boonen que muito se falará quando terminar o Paris-Roubaix, quer ganhe ou não. Quando há um ano Fabian Cancellara fazia pela última vez as duas clássicas do pavé que tanto gostava - Volta a Flandres e Paris-Roubaix - houve muita emoção, mas como o suíço competiu até aos Jogos Olímpicos (e até depois, mas já sem o objectivo de somar vitórias) como que houve tempo para que todos se fossem despedindo aos poucos do Spartacus. Boonen decidiu que o Inferno do Norte seria o local perfeito para o adeus e é inevitável que as emoções do ponto final de um dos ciclistas que marcou uma era superem as emoções de uma corrida sempre...emocionante.

Isto para dizer que se escreverá sobre Boonen no domingo, talvez como o ciclista que conseguiu a despedida perfeita com uma inédita quinta vitória no Paris-Roubaix, talvez como o ciclista que não conseguiu a inédita vitória, mas que teve uma carreira que o colocam como um dos melhores que a modalidade teve. Se o belga diz que está a tentar não se deixar emocionar pelo que irá viver na sua corrida de eleição, então vamos também guardá-la para o final em Roubaix. Por isso, hoje falar-se-á dos outros. Os "outros" não é de todo uma forma pejorativa de tratar os candidatos, mas é que este Paris-Roubaix será uma edição em que as atenções se centram num ciclista que nem é o principal favorito. Boonen tem quatro vitórias e uma Quick-Step Floors 100% concentrada em levar o belga ao triunfo. Até Philippe Gilbert ficou de fora, admitindo que não seria a ajuda ideal, dado não ter muita experiência no Inferno do Norte. Mas os principais favoritos são, e repetindo a expressão utilizada no texto sobre a Volta a Flandres, os suspeitos do costume.

Boonen é sempre um candidato, mas, mais uma vez, é em Peter Sagan e Greg van Avermaet que se centram as apostas. Nenhum venceu em Roubaix e enquanto o primeiro já tem um monumento - a Volta a Flandres, em 2016 - o outro continua a busca pelo monumento que tanto lhe foge. A pressão é naturalmente grande para os dois, mas enquanto o belga da BMC realizou uma excelente fase das clássicas do pavé, com a tripla Omloop Het Nieuwsblad, E3 Harelbeke e Gent-Wevelgem, Sagan (Bora-Hansgrohe) só venceu a Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Apesar de normalmente estar na luta - excepto quando abdicou para passar a mensagem que não irá trabalhar mais para outros depois lhe ganharem ao sprint -, a verdade é que só um triunfo nesta fase de clássicas sabe a pouco.

Peter Sagan caiu na Volta a Flandres e a ver vamos como estará fisicamente. O bicampeão do mundo não esconde algum desconforto, mas não é uma situação inédita para o eslovaco, que só não vai com tudo para uma corrida se realmente não conseguir, como aconteceu na Strade Bianche.

Sagan e Avermaet dispensam apresentações prolongadas, tal como John Degenkolb e Alexander Kristoff. Mas quando se fala de pressão, então estes dois ciclistas carregam muita. O alemão venceu o Paris-Roubaix e a Milano-Sanremo em 2015, teve um 2016 para esquecer depois do atropelamento na pré-época, mudou-se para a Trek-Segafredo e apesar de ser notório que até está numa boa forma, está a falhar corrida após corrida nos momentos chaves. Nem chega a estar na discussão. A equipa americana contratou-o a pensar que seria o substituto ideal para Fabian Cancellara. Não se pode dizer que estaria à espera que tivesse o sucesso do suíço, mas na equipa já não se esconde a desilusão e chegou a última oportunidade para salvar esta fase das clássicas.

A chama de Kristoff vai-se apagando a cada corrida que passa. Onde está aquele super norueguês de 2014 e 2015, que venceu a Milano-Sanremo, Volta a Flandres, duas etapas no Tour?... O homem da Katusha-Alpecin vai vencendo, mas não convence e continua a passar ao lado das grandes competições. Na Volta a Flandres até entrou inicialmente no grupo que deixou para trás Sagan e Avermaet, mas foi enorme o esforço fez para se manter nele, sem sucesso. Tony Martin prometeu que a equipa tem umas surpresas para o Paris-Roubaix. Que venham elas e que sejam boas para um Kristoff, que vai desaparecendo da lista de principais candidatos. É difícil acreditar que aos 29 anos já se viu o melhor do norueguês, mas está de facto difícil recuperar a sua melhor versão.

Oliver Naesen (AG2R), Ian Stannard e Luke Rowe (Sky), Jurgen Roelandts (Lotto Soudal) - e porque não André Greipel -, Dylan Groenewegen (Lotto-Jumbo), Arnaud Démare (FDJ) e Edvald Boasson Hagen (Dimension Data) são, sem grande surpresa, mais alguns nomes a ter em conta. Mas vamos juntar também Mathew Hayman. Recorda-se dele? O veteraníssimo australiano que surpreendeu Tom Boonen, quem seguia a corrida e ele próprio ao vencer o Paris-Roubaix no ano passado.


(Fotografias: Orica-Scott)
Hayman, um homem de trabalho por excelência, que semanas antes do Paris-Roubaix tinha partido um braço, aproveitou a oportunidade que lhe surgiu e conquistou a maior vitória da sua carreira. E só foram duas. Este ano Hayman disse que a preparação foi bastante diferente, até porque tem estado em competição, enquanto no ano passado esteve na sua garagem a fazer treinos de rolos devido ao braço partido. O australiano de 38 anos foi pai de gémeos, situação que também provocou grandes mudanças na sua vida. Mas regressar ao palco do seu grande sucesso é um momento importante e Hayman sentir-se-á orgulhoso quando colocar o dorsal número 1. "No ano passado não coloquei muita pressão sobre mim e talvez isso seja algo que possa transportar para este domingo. Vou tentar apreciar o dia e apreciar quando colocar o dorsal", referiu Hayman, citado pela sua equipa, a Orica-Scott. E para marcar este dia especial, Hayman teve direito a uma bicicleta personalizada (ver fotografias).

Dizer que Mathew Hayman é um candidato, talvez seja ir longe de mais. Mas o australiano é mais um exemplo como no Paris-Roubaix ser candidato nada garante, pois se há corrida que é rica em surpresas, é esta. Niki Terpstra e Johan Vansummeren são mais dois dos casos recentes de como é possível surpreender os favoritos.

Não se poderia deixar de referir os portugueses. Tal como na Volta a Flandres, Nuno Bico e Nelson Oliveira estarão presentes, ambos pela Movistar. O primeiro terá a oportunidade de continuar a sua evolução ao mais alto nível e logo neste icónico monumento. Já Nelson Oliveira tem mais experiência, foi 18ª na Flandres - Bico abandonou - e o quatro vezes campeão nacional de contra-relógio gosta do Paris-Roubaix. Portanto, é de ficar atento ao ciclista.

Veja aqui a lista de inscritos da 115ª edição do Paris-Roubaix.

Quanto ao percurso, serão 257 quilómetros com 55 em pavé, divididos por 29 sectores, três de cinco estrelas: floresta de Arenberg, onde normalmente se começa a fazer as escolha dos melhores, Mons-en-Pévèle e Carrefour de l’Arbre. O primeiro sector surge aos 98,5 quilómetros. Até aí a corrida deverá ser percorrida com o pelotão a preparar-se para enfrentar o Inferno do Norte, certamente com alguém a arriscar uma fuga. Mas as verdadeiras selecções chegarão com o pavé e será em Arenberg que se espera que se comece a perceber quem tem pedalada para aquela que é considerada a clássica mais dura do ciclismo.

Abram as portas do Inferno do Norte... Mas antes é irresistível voltar a Boonen. Fica aqui este vídeo, no qual alguns colegas da Quick-Step Floors falam deste ciclista que deixará saudades.


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