19 de abril de 2017

Muro de Huy? Não. Muro de Valverde. Espanhol ameaça recorde de Eddy Merckx

(Fotografia: Facebook Movistar Team)
Como se bate Alejandro Valverde na Flèche Wallonne? Para já a resposta é: não se bate. O ciclista espanhol tem as medidas certas do muro de Huy, uma das subidas mais famosas da modalidade. Sabe perfeitamente quando atacar, conhecendo todos os centímetros daquela ascensão e claro, aliando esse conhecimento à sua experiência e à forma como sabe ler a corrida, a organização da Flèche Wallonne bem pode começar a pensar numa forma de homenagear esta ciclista fora de série. No ano passado tornou-se recordista de vitórias e em 2017 estendeu essa marca para a manita, ou seja, já são cinco triunfos, quatro consecutivos (2006, 2014, 2015, 2016 e 2017).

No dia 25 de Abril Valverde vai celebrar o 37º aniversário. E tem mesmo razões para festejar. Está a realizar um ano sensacional, somando já 13 vitórias, entre etapas e classificações gerais e por pontos. Um pouco frustrado por não ter conseguido lutar pela conquista da Amstel Gold Race, a única corrida das Ardenas que ainda não venceu, Valverde queria ainda mais (se tal fosse possível) continuar a sua história na Flèche Wallonne. Numa corrida algo desinteressante, com praticamente todos a esperar pela última passagem no Muro de Huy para jogar o tudo ou nada - valeu Bob Jungels (Quick-Step) que atacou mais cedo e ainda provocou alguma incerteza nos quilómetros finais -, Valverde controlou, controlou e controlou, até que atacou. E nada havia a fazer. Simplesmente aquele muro de Huy é perfeito para Valverde. Ninguém conseguiu acompanhá-lo. Não fossem tantos ciclistas a não conseguirem esconder o esforço que é concluir aquela subida, numa corrida com 200,5 quilómetros, e Valverde passaria a ideia que até parece fácil.

O "Bala", como é conhecido, admitiu que queria aproveitar o grande momento de forma que está a atravessar para vencer nesta semana das Ardenas. Falhou na Amstel, acertou na Flèche Wallonne e agora vai atacar a Liège-Bastogne-Liège, que já venceu três vezes, a última das quais em 2015. Valverde persegue também a marca de Eddy Merckx, pois está a apenas duas vitórias de igualar o antigo ciclista belga, que soma 10 vitórias nas Ardenas: duas Amstel, três Flèche e cinco Liège. Tendo em conta que retirar-se não está nos planos mais próximos de Valverde, será de esperar que consiga apanhar e até mesmo ultrapassar Merckx. De recordar que a Movistar renovou com a sua estrela no final do ano passado até 2019.

A superioridade de Valverde na Flèche Wallonne é tal, que já se vai discutindo se não seria benéfico para a corrida ver o seu percurso ser um pouco alterado, principalmente para evitar que a decisão seja guardada para aqueles metros finais do muro de Huy. Não se está a tentar evitar que Valverde ganhe, mas sim a pensar em aumentar a incerteza e o espectáculo, tal como aconteceu na Amstel Gold Race, cuja mudança do Cauberg fez muita gente "torcer o nariz" e afinal resultou muito bem, com a corrida a ter muito mais interesse.

Daniel Martin (Quick-Step Floors) disse no final da corrida que não gostaria de ver a Flèche Wallonne ser alterada. Quanto a bater Valverde, afirmou que se calhar terá de esperar que o espanhol se retire. O irlandês ficou em segundo, seguido por uma surpresa: o belga de 25 anos Dylan Teuns (BMC) tirou o pódio a Sergio Henao (Sky).

Mas o dia foi de Valverde. Um sensacional Valverde que vai escrevendo não uma página, mas já um autêntico livro na história do ciclismo, demonstrando como a longevidade na modalidade com grande sucesso é absolutamente possível. Depois da Liège-Bastogne-Liège, no domingo, Valverde fará uma paragem competitiva e será altura de começar a pensar na Volta a França, onde terá a função de ajudar Nairo Quintana, Porém, com o colombiano a apostar primeiro no Giro, a Movistar quererá aproveitar este momento de Valverde e mantê-lo como um plano B muito viável. E claro, o espanhol poderá não admitir, mas é difícil não pensar que terá uma enorme ambição em conquistar a sua segunda Vuelta, chegar ao título mundial que lhe falta e a Lombardia também entra nos seus planos. Contudo, até lá, haverá muito Valverde para se ver e provavelmente mais vitórias para assistir.

Rui Costa (UAE Team Emirates) foi o melhor dos portugueses em prova, tendo cedido na última subida ao muro de Huy, terminando a 37 segundos do ciclista da Movistar, na 31ª posição. O jovem Ruben Guerreiro esteve em bom nível, demonstrando que está a recuperar a boa forma depois da paragem forçada devido a uma infecção nos dentes. O corredor da Trek-Segafredo, que está a fazer a sua estreia numa equipa World Tour, foi 43º, a 54 segundos do vencedor. O colega André Cardoso terminou na 74ª posição, a 2:09 minutos.

Veja aqui os resultados da 81ª Flèche Wallonne.

Na corrida feminina, a holandesa Anna van der Breggen continua a somar vitórias. A campeã olímpica e da Europa foi novamente superior à concorrência, num pódio que foi exactamente o mesmo da Amstel Gold Race. Em segundo ficou a colega da Boels-Dolmans, Lizzie Deignan, e em terceiro a polaca da WM3 Energie, Katarzyna Niewiadoma. A portuguesa Daniela Reis (Lares-Waowdeals) terminou na 79ª posição, a 9:23 minutos. Veja aqui os resultados completos.



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