18 de abril de 2017

"O melhor na minha carreira ainda está certamente para vir"

Viveu momentos de total descrença, mas João Benta tem hoje um discurso de um ciclista motivado e que acredita que pode ainda a conquistar grandes feitos numa carreira marcada por um acto que quase o atirou para fora do ciclismo. Este ano regressou à estrutura do Boavista, depois de ter recuperado o prestígio no Louletano-Hospital de Loulé. Não esquece e agradece a oportunidade dada pela equipa algarvia, mas agora é sob as ordens de José Santos que sonha concretizar tudo o que ambicionava até à dura sanção de que foi alvo. Se agora acredita que tudo pode acontecer, já passou por uma fase da vida bem negativa, mas o apoio de amigos e família foi essencial para que João Benta seja, aos 30 anos, um dos ciclistas mais importantes do pelotão nacional.

"A certa altura pensava sempre no aspecto negativo e agora começo a acreditar cada vez mais na parte positiva, a acreditar que as coisas vão acontecer. Tive um apoio muito grande de amigos e família e isso ajudou-me bastante a acreditar mais no meu valor", salientou João Benta ao Volta ao Ciclismo. O corredor admitiu que após ter cumprido três anos de suspensão devido a doping, que terminou quase no final de 2013, chegou a pensar que nunca regressaria ao ciclismo, apesar de ser esse o seu objectivo. Quando conseguiu voltar em 2015, pensou então que nunca voltaria a ganhar, mas logo naquele ano venceu duas etapas e a geral do Troféu Joaquim Agostinho.

"Fui vendedor, fui cantor... mas o bichinho do ciclismo esteve sempre presente. No entanto, quando regressei, se me perguntassem se iria ganhar alguma corrida, diria que não porque achava que isso não seria fácil. No entanto, fui surpreendido com as minhas capacidades e ganhei", recordou, acrescentando que neste momento sente que "as coisas estão a desenrolar-se bem". "O melhor na minha carreira ainda está certamente para vir", assegurou.


"Vi nesta formação mais do que uma equipa. Consideramos que somos uma família. Temos uma união de grupo muito boa e os resultados vão também reflectir isso"

No Louletano-Hospital de Loulé mostrou que ainda tinha muito para dar depois da longa suspensão. Porém, dois anos depois optou por regressar a uma casa que bem conhecia, pois foi precisamente na actual Rádio Popular-Boavista que Benta despontou como profissional. "Considerei que era uma boa altura para mudar um pouco o meu rumo e tentar algo mais ambicioso. Vi nesta formação mais do que uma equipa. Consideramos que somos uma família. Temos uma união de grupo muito boa e os resultados vão também reflectir isso. Esse factor também teve um grande peso na decisão em aceitar o convite", referiu.

Sendo um ciclista de ataque, as características assentaram perfeitamente neste novo perfil da equipa de José Santos. "Eu gosto muito de atacar! Não sou um corredor de me limitar a ver o que se está a desenrolar." E como gosta de procurar a vitória, João Benta refere que não pensará apenas na Volta a Portugal, até porque sabe como concentrar-se apenas num objectivo pode acabar em frustração: "Tive uma má experiência em 2015. Tinha ganho o Troféu Joaquim Agostinho e isso deu-me uma maior ambição. Mas acabei por sofrer uma queda na chegada a Castelo Branco. Foi uma queda muito feia e que limitou tudo. Uma queda e às vezes todo o trabalho de um ano é deitado fora. E como sou um atleta de ataque, não vou apontar só à Volta a Portugal."

E está a chegar a altura do ano em que se poderá ver mais de João Benta. No final de Abril e início de Maio, a Rádio Popular-Boavista andará por Espanha. O ciclista frisou que quer estar bem na Volta às Astúrias e na Volta Internacional à Comunidade de Madrid. Em Portugal, o Grande Prémio Jornal de Notícias "é uma corrida que se enquadra bem" nas características de João Benta, mas há um objectivo mais sentimental: "Gostava muito de fazer um bocadinho de história e ganhar, pelo menos, a etapa do Montejunto, no Troféu Joaquim Agostinho. Acho que nenhum atleta venceu na chegada ao Montejunto três vezes seguidas." Claro que depois, irá concentrar-se em preparar bem a Volta a Portugal e tentar melhorar o top 20 alcançado nos últimos dois anos, além de estar ao lado de Rui Sousa, que está na sua época de despedida.


"Gostava muito de fazer um bocadinho de história e ganhar, pelo menos, a etapa do Montejunto, no Troféu Joaquim Agostinho"

João Benta reforça como a equipa está forte, ainda mais com a chegada do russo Egor Silin. Apesar das características atacantes de vários ciclistas da Rádio Popular-Boavista, fica a garantia que se for preciso defender uma liderança, seja de quem for, todos estão preparados para assumir essa responsabilidade e abdicar de atacar.

A longa suspensão por doping interrompeu uma carreira que parecia ser promissora. Naquela altura, João Benta assumiu de imediato o erro e nem pediu uma contra-análise. Agora faz parte do passado e o ciclista está concentrado no presente e em construir um bom futuro, mostrando-se como alguém confiante, que sabe o que quer e que aprendeu com os erros. Representar uma equipa estrangeira é uma ambição muito habitual e João Benta realçou que "ainda não se paga para sonhar". Contudo, está concentrado em aproveitar a oportunidade que José Santos lhe está a dar, tal como aproveitou quando o Louletano-Hospital de Loulé lhe reabriu as portas da modalidade: "Em Portugal o ciclismo está a crescer bastante e eu sei analisar que as coisas não são fáceis [ir para o estrangeiro]. Mas isso não vai impedir que eu mantenha a minha mentalidade de trabalhar diariamente e mostrar o meu valor em todas as corridas. Nunca sabemos o dia de amanhã..."

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