12 de julho de 2016

Volta a França: o (pouco) que aconteceu e o que aí vem

(Fotografia: Team Sky)
Um pouco mais de uma semana cumprida no Tour e não se pode dizer que se viveram emoções fortes, a não ser que se fale de sprints ou da descida de Chris Froome. Entre os candidatos à geral, o grande momento foi aquela fenomenal forma de descer do britânico da Sky, que lhe valeu a vitória na oitava etapa e a camisola amarela. Mas a subir os ataques aconteceram sem grande convicção para fazer diferenças, apenas pequenos testes, com Nairo Quintana a continuar na expectativa, andando quase sempre colado à roda de Froome. Mas uma distracção é lá foi o britânico sozinho rumo à liderança.

Os principais pontos de nota acabam por ser o abandono de Alberto Contador e o renascer de Mark Cavendish. O espanhol continua a ser perseguido pelo azar no Tour e também teve de lidar com a falta de coesão da Tinkoff. Cenário completamente inverso na Dimension Data, uma equipa unida que levou Mark Cavendish a restabelecer-se como um dos grandes sprinters da actualidade, somando três vitórias em quatro etapas ao sprint e liderando a classificação por pontos. A equipa sul-africana ainda viu Stephen Cummings vencer outra tirada, num Tour dominado pelos britânicos: nove etapas, cinco vitórias.

Cavendish vestiu pela primeira vez na carreira a camisola amarela, assim como Peter Sagan e Greg Van Avermaet. Um pouco de história também quanto às desistências. Ao fim de uma semana todos os ciclistas continuavam em prova, feito inédito no Tour. Entretanto, Michael Morkov não aguentou mais após a aparatosa queda da primeira etapa e no sábado abandonou, seguindo-se mais ciclistas no domingo.

Além de Contador, também Thibaut Pinot desiludiu, mas neste caso por falta de forma. Depois de um ano sensacional e com uma FDJ a abdicar de Arnaud Démare para se dedicar exclusivamente a Pinot, o francês falhou por completo quando o terreno começou a ter subidas com maior grau de dificuldade. Mudou os planos para tentar ganhar uma etapa e a classificação na montanha, mas independentemente do que venha a conseguir, já é uma das desilusões do Tour.

As guerras internas nas equipas também estão na ordem do dia e não apenas devido à situação Contador/Kreuziger na Tinkoff. Na Astana parece estar tudo resolvido. Vincenzo Nibali já perdeu tempo e aposta na vitória de uma etapa. No domingo até ajudou Fabio Aru, que não teve um dia nada auspicioso na chegada a Andorra Arcalis. Mas o jovem italiano é o líder indiscutível da equipa. Já na BMC, Richie Porte e Tejay Van Garderen estão numa batalha por essa liderança. O australiano teve um furo na segunda etapa e ninguém esperou para o ajudar. Perdeu tempo, no entanto, nos Pirenéus mostrou que está muito melhor que o norte-americano. Como é que a BMC vai gerir esta situação? Ao que parece cada um terá liberdade para perseguir os seus objectivos... que por acaso é o mesmo: bom resultado na geral, talvez um pódio e com o sonho da vitória.

O que podemos esperar nesta segunda semana?

A etapa do Mont Ventoux, na quinta-feira, dia 14 de Julho, será um momento especial. No dia de França, será a chegada a um dos locais históricos da Volta a França. Haverá ainda um contra-relógio que deverá ajudar a começar a perceber quem realmente irá fazer frente a Froome e se Quintana melhorou o suficiente para continuar "colado" ao britânico. Mas é a etapa de domingo que cria maior expectativa: seis subidas, duas de primeira categoria e uma de categoria especial. Infelizmente, mais uma vez a organização optou por não ter uma chegada em alto. Ainda assim poderá ser um momento para quem quiser decidir antes da terceira semana, ou garantir que tudo se irá decidir nos Alpes.

E esta última hipótese até será a mais provável dado o modo conservador como se tem pedalado, com poucos ataques. No Mont Ventoux, Romain Bardet, claramente o melhor francês e que terá ambição de chegar pelo menos ao pódio, será o homem a ter em atenção, até porque se mexer na corrida, vai obrigar os restantes candidatos a reagir. O ciclista da AG2R até já se mostrou um pouco neste Tour - só para dizer que está presente e podem contar com ele para a luta -, como no Critérium du Dauphiné deixou excelentes indicações.

Ciclistas a ter em atenção, além dos inevitáveis Froome, Quintana e Bardet: Joaquim Rodríguez (anunciou que vai acabar a carreira no final do ano e tem estado a um nível interessante no Tour), Sergio Henao (nunca terá a liberdade para procurar alguma glória, mas o colombiano tem estado exímio no apoio a Froome), Adam Yates (o jovem da Orica-BikeExchange está muito bem e ameaça dar mais um bom resultado à equipa australiana depois do segundo lugar de Johan Esteban Chaves no Giro), Rui Costa (o português já perdeu muito tempo, mas foi segundo em Andorra e está com a ambição de conquistar uma etapa) e Daniel Martin (atenção ao ciclista da Etixx-QuickStep, ele próprio diz que não está para discutir a vitória, mas que bem que tem estado o irlandês até ao momento).

Espera-se algum espectáculo nesta segunda semana, mas que ninguém se surpreenda se tivermos de esperar pela última para os candidatos atacarem a sério.

Etapa 10: Escaldes-Engordany - Revel (197 quilómetros)


Depois de três dias nos Pirenéus e de um de descanso em Andorra, a organização brindou o pelotão com um recomeço de Volta a França muito duro. A etapa começa logo a subir numa primeira categoria, que irá testar muitas pernas, sabendo que nem todos os ciclistas se dão muito bem com o regresso à competição após um dia de descanso. Ultrapassada a primeira categoria, o pelotão deixará Andorra e regressa a terras francesas para um dia que será mais calmo até final, se não houver problemas na subida inicial. As características da etapa poderão permitir uma fuga triunfar.

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