8 de julho de 2016

A ameaça da postura conservadora

Irá Chris Froome voltar a atacar cedo no Tour? Conseguirá Contador manter-se na luta?
(Fotografia: Team Sky)
Existem razões para este receio e os últimos anos são a prova disso. Quando chegam à Volta a França os ciclistas assumem uma postura conservadora que faz com que se esteja boa parte da etapa a tentar adivinhar quando vai haver um ataque e muitas vezes lá se fica desiludido. Uma postura bem diferente da verificada no Giro ou na Vuelta, provas que tem proporcionado maior espectáculo em edições recentes, precisamente devido à desinibição de alguns dos protagonistas (e às vezes também por terem percursos mais interessantes). É por isso que tanto se fala do melhor Tour de sempre no início e depois fica sempre adiado para o ano seguinte.

Esta sexta-feira começa a primeira fase de alta montanha no Tour, com a entrada nos Pirenéus. Muito antecipada, naturalmente, mas os discursos começam a ameaçar o pior, na perspectiva de quem vai assistir. Entre directores desportivos e ciclistas, ouve-se muito o "vamos ver". O "vamos ver" é normalmente sinónimo de querer esperar para perceber como estão os adversários. Ataques, nem vê-los ou aparecem já muito perto do final das etapas.

Nem é preciso recuar muito para se ter um exemplo disso mesmo. Há um ano Chris Froome atacou na primeira verdadeira montanha, que surgiu logo após o dia de descanso. Ganhou tempo e quem mais se aproximou foi Richie Porte, então seu colega na Sky. Nairo Quintana (que já tinha perdido tempo numa etapa plana devido a um corte provocado pelo vento) foi esperando, esperando, esperando, até ver quando o britânico poderia fracassar nas etapas seguintes. Esperou tanto, que quando finalmente percebeu que Froome não estava tão forte, já era tarde e faltaram-lhe alguns quilómetros para recuperar tempo 1:12 que acabou por separar o colombiano do primeiro lugar. À entrada para a última etapa de montanha, eram 2:38 minutos a diferença. Basicamente o Tour ficou resolvido com um solitário ataque logo na segunda semana.

Quintana e a Movistar aprenderam a lição. Não há dúvidas. Assim como Chris Froome, que se preparou de forma a estar mais forte na terceira semana. Porém, significará isso que vão marcar-se mutuamente nestas primeiras etapas de alta montanha tentando esperar por alguma quebra? É mais do que possível que a Movistar e a Sky optem por nos Pirenéus impor um ritmo duro, tentando fazer um jogo de eliminação com alguns dos candidatos que eventualmente não esteja bem.

Se Froome e Quintana poderão resguardar-se nas suas equipas (para bem do espectáculo espera-se que não), então quem quererá abrir as hostilidades? A julgar pelo que aconteceu na etapa cinco, a primeira com alguma montanha, Romain Bardet (AG2R) está com uma postura mais atacante e se assim for poderá forçar outros a terem de reagir. Este francês esteve bem no Critérium du Dauphiné e está com ideias para este Tour. Já Thibaut Pinot (FDJ) perdeu alguns segundos e talvez possa poupar-se para a segunda semana, ele que agora é um especialista no contra-relógio.

Fabio Aru (Astana) não será, pelo menos para já, o Aru que tanto entusiasma com aquele estilo atacante. Também ele está com um discurso do "vamos ver". Que bom seria que fosse bluff. Tejay Van Garderen (BMC) de atacante nada tem e nunca teve, mas Richie Porte tem quase dois minutos para recuperar e talvez os Pirenéus lhe agradem, até porque o australiano já admitiu que se sente bem fisicamente.

O tom conservador do Tour leva ao desespero qualquer um que queira ver os melhores do mundo em acção e se esta sexta-feira até se admite que seja para uma fuga a triunfar, já sábado e principalmente no domingo em Andorra, quase que se exige que os favoritos se mostrem. Não nos deixem ter de esperar mais tempo por finalmente ver o espectáculo nas montanhas!

Alberto Contador até poderia ser um dos homens a animar a corrida, mas o ciclista da Tinkoff estará mais dedicado a tentar não arruinar por completo as suas hipóteses de lutar pelo Tour. Já não lhe chegava a queda na primeira etapa e agora também o ambiente na equipa não é o melhor, com o espanhol a criticar abertamente Roman Kreuziger, por este não ter esperado por ele na quinta etapa. Kreuziger era suposto ser o braço-direito de Contador...

NOTA: É um facto merecedor de ser destacado. Depois de anos em que as primeiras etapas ficaram marcadas por quedas, algumas muito graves, e até desistências importantes, o Tour entra este ano nas montanhas com todos os 198 ciclistas que partiram do Mont-Saint-Michel.

Etapa 7: L'Isle-Jourdain - Lac de Payolle (162,5 quilómetros)



O Col d'Aspin marca a chegada aos Pirenéus. Não é a subida que mais assusta, nem vista como das mais espectaculares, mas poderá servir para testar alguns candidatos, ainda que seja provável que os favoritos tentem apenas cumprir o dia, com outros bons trepadores a jogarem uma cartada para vencer a etapa. Serão 12 quilómetros até aos 1490 metros de altitude, com uma pendente média de 6,5%. Depois ainda há uma descida, num final de etapa que será muito atraente para um Vincenzo Nibali, por exemplo. Alguma expectativa para perceber se é desta que vamos ver Rui Costa. Thomas de Gendt (Lotto Soudal) também deverá mostrar-se para tentar somar mais pontos para a classificação da montanha que lidera.

E aí vão três para Mark Cavendish e já se fala novamente do recorde

Outsider? Eis a resposta do sprinter britânico quando se pensava que estaria em fase descendente da carreira: três vitórias em quatro etapas com chegada ao sprint. Já é o segundo ciclista na história do Tour com mais vitórias (29) e aponta novamente ao recorde de Eddy Merckx: 34. Ainda há mais três possibilidades neste Tour de se aproximar do ciclista belga. Com 31 anos coloca-se a questão da idade, mas Cavendish ainda terá mais dois ou três anos a bom nível. Neste momento estamos mesmo perante um dos melhores Cavendish que já se viu, que até bate Marcel Kittel no ombro a ombro (ver vídeo). Chegou a atingir os 68 quilómetros/hora!


Flamme rouge - Étape 6 (Arpajon-sur-Cère... por tourdefrance

Com esta vitória na quinta-feira, o ciclista da Dimension Data volta a liderar a classificação por pontos. Greg Van Avermaet continua a viver o sonho de andar de amarelo, pelo menos mais um dia e até é possível que ainda se aguente este sexta-feira. No fim-de-semana será altura de começar a revolução na classificação geral.


Résumé - Étape 6 (Arpajon-sur-Cère / Montauban... por tourdefrance

Confira as classificações após a sexta etapa.

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