14 de julho de 2016

O vento Quintana! Atenção ao vento!

(Fotografia: Twitter @Movistar_Team)
Em qualquer profissão cometer erros é algo que acontece. Muitas vezes o importante é saber o que se pode aprende com ele e assim melhorar e crescer como profissional. Seria então de prever que depois de em 2013 Alejandro Valverde ter ficado de fora da luta pelo Tour por causa de um corte provocado por causa do vento e de em 2015 ter sido Nairo Quintana o prejudicado, tanto a Movistar como o colombiano tivessem aprendido uma valiosa lição: cuidado com as etapas onde o vento pode provocar estragos. Mas não. A história repetiu-se, com consequência para já menores, mas se no final Quintana perder o Tour por seis segundos, então a consequência voltará a ser enorme.

A etapa com chegada a Montpellier tinha uma dificuldade: a possibilidade de vento, que algumas equipas poderiam aproveitar para fazer cortes no pelotão. Era com isso que os homens da geral tinham de estar mais preocupados, ainda mais quando num passado recente houve exemplos do que uma tirada deste tipo pode fazer às aspirações de um ciclista. Era com isso que a Movistar se tinha de preocupar e voltou a falhar. Completamente! Mais uma vez quando se aperceberam, já a Sky e a Tinkoff tinham partido o pelotão e pior, Chris Froome aliou-se a Peter Sagan (por esta ninguém esperava) e com cada um a ter um companheiro consigo, formaram um quarteto e aí foram eles. Nem as equipas dos sprinters conseguiram recolar.

Nairo Quintana, que tem passado grande parte da Volta a França colado a roda de Froome, por duas vezes se distraiu, por duas vezes perdeu tempo. Primeiro foi quando deixou o britânico fugir numa descida e agora nesta etapa plana. Foram mais segundos que perdeu, ao que se juntam os outros seis de bonificação de Froome pelo segundo lugar - Sagan ficou naturalmente com a vitória, servindo assim o interesse dos dois ciclistas. São 35 segundos que separam o britânico do colombiano, que podem ser rapidamente anulados nas muitas dificuldades que ainda faltam no Tour, ou que podem começar a dar uma vantagem, principalmente psicológica, a Froome, numa altura em que se aproxima o contra-relógio (sexta-feira).

Se já não bastava a Movistar cometer novamente o mesmo erro, as declarações que se seguiram são de quem sabe que fez disparate e agora quer desculpar-se. Tanto Quintana como o director desportivo, Eusebio Unzué, queixaram-se do perigo em algumas zonas da etapa. Unzué referiu mesmo as muitas passagens por localidades - que sim, pode ser significado de estreitamento de estradas, por exemplo, mas é tão vulgar no ciclismo... - e da exposição a vento por vezes forte, enquanto Quintana disse mesmo que a organização não se preocupava com a segurança dos ciclistas. No entanto, não especificou bem a que se referia.

O perigo foi igual para todos e tirando as rotundas e ilhas de tráfego que obrigavam a uma maior atenção, foi uma etapa como tantas outras, excepto para a Movistar que mais uma vez desuniu-se e não soube estar na frente, onde deveria ter estado, tal como sempre faz a Sky. Sim, porque Chris Froome e a sua equipa aprenderam com o erro que cometeram em 2013 quando também foram apanhados num corte deste tipo. Eis a diferença que pode fazer de alguém um vencedor.

A má colocação da Movistar durante parte da etapa foi constante - e houve várias tentativas de cortar o pelotão, ou seja, vários avisos - e, após o corte, Quintana chegou a estar sem a ajuda de companheiros. É desesperante ver isto por parte de uma equipa com a qualidade da espanhola. É bom que o colombiano esteja mesmo convencido que pode fazer a diferença nas subidas, porque para já foi surpreendido por um Froome que atacou em terrenos inesperados e ainda não se mostrou naquele que costuma dominar.

O vento também estragou o Mont Ventoux a Quintana

E Nairo Quintana deve estar mesmo pelos cabelos com o vento. É que por causa disso o Mont Ventoux não terá a meta no local habitual. A etapa foi encurtada em cerca de seis quilómetros porque a previsão aponta para rajadas superiores a 100 quilómetros/hora e uma temperatura a rondar os quatro graus no topo da mítica subida. A organização não quer arriscar e a meta será colocada em Chalet Reynard, ou seja, na zona que antecede o fim da vegetação. A justificação foi a segurança dos ciclistas (100 quilómetros/hora poderá resultar em alguém ser atirado para fora da bicicleta - e diz Quintana que a organização não se preocupa...). É um final habitual no Paris-Nice, mas esta Volta a França acaba por perder um dos seus grandes momentos. Não haverá paisagem lunar e principalmente não haverá a fase mais difícil da subida que regressou ao Tour depois de duas edições sem pertencer ao percurso da competição.

Para Chris Froome a decisão é certa, apesar de ser uma subida que lhe agrada e onde venceu em 2013. Já Nairo Quintana não gostou, pois via no Mont Ventoux uma ascensão que assentava bem nas suas características. A verdade é que Quintana está obrigado a fazer algo, pois na sexta-feira, em condições normais, deverá perder mais algum tempo para Froome no contra-relógio.

Mas esta quinta-feira promete espectáculo mesmo com menos seis quilómetros. Hoje é 14 de Julho. Dia de França, dia da tomada da Bastilha na Revolução Francesa. É o dia em que a história se funde com o ciclismo, com os franceses a estarem mais do que nunca em destaque. É neste dia que todos os franceses querem ganhar.

Uma rápida análise aos candidatos: Romain Bardet (AG2R) surge como o maior favorito, tendo em conta o que tem feito até ao momento e nas semanas que antecederam o Tour. Esta poderá ser a etapa em que se assume como um candidato ao pódio. Quieto, certamente não ficará. Segue-se Thibaut Pinot (FDJ). A ambição de lutar pela vitória no Tour caiu há muito por terra e com estrondo. É a grande desilusão do Tour até ao momento - a par, claro, de Alberto Contador - e apesar de já se ter mostrado bem em algumas subidas, ainda não convenceu quanto à capacidade lutar com os melhores.

Warren Barguil (Giant-Alpecin) tem talento, é certo, mas também tem ainda muito a aprender. Já perdeu tempo, mas o jovem francês tem uma oportunidade de ouro de conquistar a sua primeira etapa no Tour num dia perfeito: 14 de Julho com final no Mont Ventoux (mesmo com corte, não deixa de ser um dos símbolos da competição). O quarteto de candidatos franceses é fechado com Pierre Rolland. A Cannondale tentou proteger ao máximo o seu líder, mas ainda assim o ciclista já teve uma queda que coloca algumas questões sobre a sua forma física. Se se sentir bem, é talvez o maior favorito ao lado de Bardet. Já soma duas vitórias na Volta a França, tal como Pinot.

Bom, poderá falar-se de um quinteto, pois nunca se sabe se um Thomas Voeckler (Direct Energie) estiver para ali virado  (peço desculpa pela expressão, mas é mesmo assim) o que poderá o veterano ciclista fazer. Dos franceses "candidatos" é o que mais triunfos tem em etapas: quatro. Não é muito provável, mas com Voeckler nunca se sabe.

O "único" problema à ambição francesa é Froome... e Quintana... e Aru... Nibali... Rodríguez... Mollema... Richie Porte...

Vale a pena espreitar o vídeo dos melhores momentos da 11ª etapa nem que seja só ver a rara imagem de Chris Froome e Peter Sagan colaborarem numa fuga. Quem diria?! Até Sagan ficou surpreendido!


Résumé - Étape 11 (Carcassonne / Montpellier... por tourdefrance


Veja as classificações após a 11ª etapa da Volta a França.

Aqui fica o perfil da etapa, ainda que seja preciso descontar cerca de seis quilómetros na subida do Mont Ventoux. Para "aquecer" haverá uma quarta e uma terceira categoria antes da batalha final.


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