4 de julho de 2016

Vai um cafezinho?

(Fotografia: Team Sky)
A sugestão partiu de Peter Sagan e o melhor é aproveitar porque mesmo o mais fervoroso adepto de ciclismo tem dificuldades em manter os olhos abertos quando um etapa de mais de 200 quilómetros decorre a uma média abaixo dos 40 por hora. A certa altura estava nos 33 quilómetros/hora. Lá acabou nos 37 porque o pelotão acelerou com o aproximar do final, na preparação do sprint. Seis horas de corrida! Portanto, este sim, foi um dia aborrecido, até para o solitário que resolveu fugir. Mas afinal, qual a razão para tamanha lentidão?

Uma situação destas não é tão anormal como se possa parecer. Extremamente aborrecido para quem vê, também não é praticamente emotivo para quem está na corrida. Porém, a velocidade (ou falta dela) também é necessária. As duas primeiras etapas deixaram as suas marcas no pelotão. Muito nervosismo na primeira que provocou problemas em alguns ciclistas devido a quedas. A segunda testou logo muitas pernas e algumas chumbaram com homens como Alberto Contador, Thibaut Pinot e Vincenzo Nibali, além do furo da desgraça de Richie Porte, a perderem tempo.

Portanto, ao ter pela frente 223,5 quilómetros em terreno plano, sem preocupações de vento e sem ciclistas com que se preocupar na frente, o pelotão aproveitou para ter um dia calmo, dentro do possível, pois é preciso manter a atenção (para evitar quedas), o que nem sempre é fácil neste tipo de dias. É que pela frente tem esta terça-feira a etapa mais longa - 237,5 -, com a montanha a chegar na quarta-feira e de sexta a domingo quem quer ganhar a Volta a França terá mesmo de começar a mostrar-se.

Ou seja, longe vão os tempos de uma primeira semana maioritariamente feita para os sprinters, com ciclistas como Mario Cipollini a aproveitarem para ganharem o máximo de etapas possíveis antes de irem para casa evitando os dias de montanha.

A terceira etapa do Tour tinha tudo para ser tão desinteressante que nem oferecia grande motivação para uma fuga. Apesar do que por vezes possa parecer, grande parte das fugas tem mesmo o objectivo de conseguir uma surpresa e lutar pela vitória longe do pelotão. Mas neste tipo de terreno, sem qualquer tipo de dificuldade, era óbvio que as equipas dos sprinters não deixariam ninguém pensar em ganhar. E se alguém poderia ter a ideia de "vender" o patrocinador, tempo de antena tem, não terá é muitas pessoas particularmente atentas, a não ser que tenha um nome como Armindo Fonseca e a corrida esteja a ser vista em Portugal.


Armindo Fonseca, o luso-descendente do Tour
(Fotografia: Wikimedia Commons)
Que nome tão português é este? É de um ciclista francês, que não é um total desconhecido, já tendo passado pela Volta a Portugal. Tem 27 anos, nasceu em Rennes, a mãe é francesa e o pai é de Fafe. Não fala português, mas percebe um pouco e recorda-se de quando passava férias na Póvoa do Varzim. Compete pela equipa gaulesa Fortuneo-Vital Concept e tem duas vitórias como profissional.

Andou mais de 200 quilómetros em fuga, mas mesmo assim não teve direito ao prémio do mais combativo do dia. Estes prémios atribuídos por júris têm decisões destas. É que a corrida estava tão aborrecida que Thomas Voeckler (Direct Energie) fartou-se e foi ter com Armindo Fonseca já com menos de 100 quilómetros para o final. Parece que foi o suficiente para garantir uma subida ao pódio. Isso e provavelmente algum estatuto. Ambos foram, naturalmente, apanhados pelo pelotão.


O sprint final pelo menos proporcionou bastante emoção. Valeu-nos isso! Mark Cavendish (Dimension Data) e André Greipel (Lotto Soudal) cortaram a meta lado a lado. Passaram alguns minutos até que o photo finish mostrou que o britânico está mesmo de volta ao seu melhor: segunda etapa ao sprint, segunda vitória. Cavendish parece mesmo estar a renascer e está motivado para lutar pela camisola verde. 

Com estes dois triunfos será de esperar que o "Expresso da Ilha de Man", como é conhecido, irá mesmo ficar até aos Champs Elysées - a etapa ex-libris dos sprinters - e não abandonar para assim integrar o estágio da equipa de pista para os Jogos Olímpicos, como chegou a insinuar o seleccionador britânico.

Está igualado o número de vitórias de Bernard Hinault, 28, e agora a marca de Eddie Merckx volta a parecer ser possível de alcançar. "Só" faltam seis para apanhar o mais vitorioso de sempre na Volta a França.

Peter Sagan continua de amarelo, é possível que assim seja até quinta-feira. Na geral todos chegaram sem problemas, Alberto Contador teve um dia perfeito para recuperar um pouco dos ferimentos, assim como Sam Bennet (Bora-Aragon18) e Michael Morkov (Katusha), outros dois ciclistas envolvidos numa queda violenta na primeira etapa, já nos últimos metros. Sim, porque um dia como este também tem esta vantagem: curar ferimentos de combate.

Etapa 4: Saumer - Limoges (237,5 quilómetros)



É a tirada mais longa da Volta a França e poderá ser novamente decidida pelos sprinters. Porém, uma subida de quarta categoria quando os ciclistas já cumpriram cerca de 180 quilómetros tem potencial para provocar algumas surpresas, caso alguém tente fugir. São 1,2 quilómetros a uma média de 5,5% de inclinação. Também poderá acontecer algumas equipas como BMC, Giant-Alpecin e Direct Energie tentarem deixar para trás algum puro sprinter e dar mais hipóteses a Avermaet, Degenkolb e aumentar a possibilidade de Bryan Coquard, que independentemente de quem lá estiver irá à luta, assim como o inevitável Peter Sagan.


Résumé - Étape 3 (Granville / Angers) - Tour de... por tourdefrance

Confira aqui as classificações após a terceira etapa.

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