2 de julho de 2016

Sprinters ao ataque da camisola amarela

Ela está em Utah Beach-Sainte-Marie-Du-Mont à espera daquele que será o primeiro líder da Volta a França. É ano para os sprinters perseguirem o sonho de vestir a camisola amarela e a etapa é feita a pensar neles e só neles. Qualquer outro vencedor será uma surpresa. Vestir este sábado aquela camisola é quase tão significativo para os sprinters como ganhar nos Champs-Elysées, no tradicional último dia do Tour. Candidatos não faltam, mas falta saber se será como no Giro: todos contra Marcel Kittel? O alemão tem dominado, no entanto, a concorrência para estar bem mais à altura do que na Volta a Itália.

Marcel Kittel (28 anos) chega ao Tour com o orgulho um pouco ferido. Perdeu os Nacionais para André Greipel (33), que ameaça ser o seu principal rival. Kittel soma nove vitórias de etapas - incluindo duas na Volta ao Algarve - no ano de estreia pela Ettix-QuickStep. Conquistou ainda a Volta ao Dubai e a classificação por pontos, que também o fez no Algarve. Aquele péssimo 2015 está esquecido - falhou grande parte da temporada devido a doença - e o alemão regressa ao Tour para tentar restabelecer-se como o rei dos sprints.

Apesar da Ettix-QuickStep ter Julian Alaphilippe e Daniel Martin para apostar noutro tipo de etapas, a equipa estará no apoio a Kittel que bem poderá precisar dela se Greipel apresentar-se como há um ano. Venceu quatro etapas e já lá vão dez no Tour, conquistadas ao longo de cinco edições. Kittel soma oito... em apenas duas.

O ano não tem sido fácil para Greipel, que teve uma aparatosa queda no Algarve. Porém, chega ao Tour com oito vitórias e com o moral em alta depois de voltar a sagrar-se campeão alemão e de um Giro onde alcançou três vitórias, mas já todas sem Kittel na corrida (venceu duas etapas antes de abandonar).

Da rivalidade alemã para a rivalidade francesa... que não haverá. Será certamente uma desilusão para os adeptos gauleses que este ano esperavam ver os seus ciclistas em grande no sprint e na luta pela geral. Arnaud Démare já se esperava que ficasse de fora, visto que a FDJ está 100% concentrada em ajudar o líder Thibaut Pinot. Sobrava então Nacer Bouhanni e Bryan Coquard. O ciclista da Cofidis andou ao murro e acabou por ser excluído a três dias do arranque do Tour. Ficou Bryan Coquard. Manteve-se fiel à estrutura Direct Energie - antiga Europcar -, apesar da tentação para subir ao World Tour, mas ninguém tem dúvidas que Coquard (24 anos) tem qualidade para estar ao nível dos melhores.

Coquard soma 11 vitórias em 2016, nenhuma em provas World Tour, mas não lhe retira qualquer mérito. É que o francês conquistou ainda a geral dos 4 Dias de Dunquerque e da Boucles de la Mayenne. Venceu também as respectivas classificação por pontos, camisola também garantida na Etoile de Bessèges.

Alexander Kristoff (28 anos) é uma grande incógnita. O ciclista norueguês da Katusha parecia que ia ter mais um ano vitorioso no arranque da temporada, mas rapidamente perdeu gás. Até tem seis triunfos, mas não tem demonstrado o poderio de 2015 que ainda assim acabou por ter a frustração de não conquistar nenhuma etapa no Tour. Tem duas de 2014. Tal como Kittel, Kristoff também não estará muito satisfeito com o resultado dos Nacionais, com Edvald Boasson Hagen a ser mais uma vez o mais forte.

E depois temos Mark Cavendish. Até recentemente discutia-se se não seria o melhor sprinter de sempre. Como outros foi o melhor até aparecer alguém mais forte. Foi vítima do normal ciclo do ciclismo. Teve o seu momento e agora é Kittel que gera a discussão se é o melhor de todos os tempos... até aparecer alguém que comece a somar muitas vitórias ao sprint.

Aos 31 anos, o britânico teve de deixar a toda poderosa Etixx-QuickStep que piscava o olho a Kittel. Cavendish encontrou refugio na Dimension Data, mas os resultados vão piorando de ano para ano. Três vitórias de etapa e a geral na Volta ao Qatar. É impossível não se sentir que é uma desilusão. Pelo meio regressou à pista e sagrou-se campeão do mundo de Madison ao lado de Bradley Wiggins e garantiu um lugar nos Jogos Olímpicos, como ambicionava. Mas a Dimension Data quer resultados na estrada e não terá gostado de saber que o seleccionador britânico avisou que Cavendish poderia ter de abdicar de chegar ao fim do Tour para participar no estágio para os Jogos do Rio de Janeiro. Na conferência de imprensa de antevisão, o britânico garantiu que está em França para chegar aos Champs-Elysées, mas assume um discurso modesto - algo pouco habitual nele -, sabendo da forte concorrência que tem e deixando muitas dúvidas sobra a sua forma.

Porém, há que não esquecer: Cavendish tem 26 vitórias de etapa no Tour e ainda persegue o recorde de Eddy Merckx: 34. Parece estar ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Há um ano só ganhou uma, em 2014 desistiu na segunda etapa devido a uma queda, em 2013 somou apenas duas. O domínio de outrora desvaneceu-se e mais do que o recorde, Cavendish ficará satisfeito se somar pelo menos um triunfo. Para ele será uma missão cumprida.

Fazem de sprinters, não são bem sprinters, mas estão lá a sprintar

Os ciclistas anteriores são os chamados puros sprinters. Mas há aqueles que sabem sprintar (e bem) e que certamente procuram fazer uma gracinha. Falamos claro de Peter Sagan. É muito forte no sprint, mas quando defronta um Kittel ou um Greipel encontra algumas dificuldades para os superar. Sagan (26 anos) quer mais uma camisola verde (dos pontos), a quinta que lhe permitirá igualar o recorde do alemão Erik Zabel. Mas este ciclista gosta de desafios e porque não tentar chegar a amarela? É que até tem possibilidade para tal, pois se não for ao sprint, até pode conseguir na segunda etapa, que já não agrada aos tais puros sprinters.

E se falamos de Peter Sagan temos de falar de John Degenkolb e de Greg Van Avermaet. O primeiro procura a primeira vitória do ano depois de um acidente na pré-temporada - foi atropelado por uma idosa que circulava em contra-mão -, no qual quase perdeu um dedo, enquanto Avermaet recuperou da queda na Volta a Flandres, tendo este ano vencido três etapas e ainda a geral do Tirreno-Adriático.

Com estes ciclistas nunca se sabe, mas a apostar... esta é uma etapa para os puros sprinters.

Etapa 1: Mont-Saint-Michel - Utah Beach-Sainte-Marie-Du-Mont (188 quilómetros)


Este ano o Tour começa em casa. Numa etapa feita maioritariamente junto à costa (zona oeste). A chegada será feita num local histórico, pois foi uma das praias onde os aliados desembarcaram a 6 de Junho de 1944, no Dia D da II Guerra Mundial.


Présentation - Etape 1 par Thierry GOUVENOU... por tourdefrance

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