7 de julho de 2016

Como a Tinkoff vê a corrida pelo lado positivo... quando não o há

A queda no primeiro dia pode estragar o Tour a Contador (Fotografia: Team Sky)
Alberto Contador voltou a perder tempo, Peter Sagan ficou sem a camisola amarela, Rafal Majka não ganhou a etapa, Roman Kreuziger não ajudou Contador para assim se manter como um plano B, mas também ele não acompanhou os melhores. Um dia mau? Não! A Tinkoff vê o lado positivo: em cinco etapas foi a única equipa que teve sempre alguém no top cinco...

É ao estilo "à la Tinkov", ainda que tenha sido escrito no Twitter da equipa e não do magnata russo. É uma forma sem sentido de reagir a um dia negativo - e até um pouco de mau gosto -, não tanto pela perda da camisola amarela de Sagan - algo expectável - mas porque provavelmente a equipa ficou fora da luta pela vitória do Tour e um eventual plano B com Kreuziger para... qualquer coisa, também não é claramente uma opção.
Uma queda logo na primeira etapa poderá deixar um orgulho muito ferido em Oleg Tinkov. Ele que quando anunciou a equipa para a Volta a França, não só a apelidou como a melhor do mundo como ainda se atirou à Sky, com umas asneiras pelo meio. Não enganou ninguém, claro. Era óbvio então que o conjunto britânico era mais forte, ficou mais do que comprovado nesta quinta etapa, de quarta-feira, que é o mais forte e que só a Movistar lhe pode fazer frente.

Mas Tinkov tinha uma arma para jogar e manter o seu ego bem inchado: Alberto Contador. Sabe-se que o espanhol mesmo com pouca ajuda é capaz do impossível. Só não contavam com uma queda tão grave logo na primeira etapa. E que não existam dúvidas: ganhar a Volta a França é o objectivo da Tinkoff. Se Sagan ganhar a camisola verde, melhor, mas não é prioritário.

A conquista da camisola amarela deixou um sorriso também ele bastante amarelo na equipa russa. Peter Sagan foi contratado para ganhar clássicas e uma ou outra prova em que fosse ele o líder. Ou seja, onde não estivesse Alberto Contador. O eslovaco sabia muito bem que na Volta a França estaria sempre por conta própria. A ajuda da equipa seria mínima. Portanto, ver Contador perder tempo e ficar debilitado fisicamente não foi compensado pela feito de Sagan.

E muito menos o é por em cinco etapas a Tinkoff ter tido sempre um homem nos cinco primeiros. A Tinkoff arrisca ficar à deriva já nos Pirenéus. Contador já está a 1:21 minutos de Chris Froome e dos restantes candidatos e se aquele ombro não recuperar rapidamente, entre sexta e domingo o espanhol poderá ficar irremediavelmente fora da luta, tendo em conta que logo nas primeiras subidas, longe das dificuldades que aí vêm, Contador não aguentou. Ainda assim, disse que até estava à espera de perder mais tempo e não, o espanhol não sabe atirar a toalha ao chão.

Quando Contador ficou para trás, Roman Kreuziger bem olhou, mas foi continuando sem esperar pelo seu líder. É o checo uma espécie de plano B? Se assim for também não mostrou ser a opção mais viável. Perdeu muito menos tempo - só está a sete segundos dos favoritos -, mas não mostrou estar ao nível de um Froome, Quintana, ou mesmo Romain Bardet e Fabio Aru.

E depois houve Rafal Majka. Andou a perder tempo nas primeiras etapas e percebeu-se porquê. Meteu-se na fuga inicial, mas quando Greg Van Avermaet, Thomas de Gendt e Andriy Grivko escaparam ao grupo de nove, o polaco não se mexeu. Poderia ter conquistado uma etapa ou tentado a camisola da montanha. Nada. Resta-lhe o "consolo" de quase ter sido apanhado pelo grupo de favoritos, o que significa que continua longe na classificação (22:43 minutos para Avermaet), podendo pensar em tentar repetir a graça, mas com a pressão de ter de alcançar outro resultado. É provável que possa ainda ser muito importante para a Tinkoff pensar em vitórias de etapas na montanha, além do que Sagan possa ainda fazer.

A tudo isto junta-se um facto preocupante: ainda nem se passou por primeiras categorias e Alberto Contador só pôde contar Roman Kreuziger na montanha.

Peter Sagan lá continuará na sua luta individual pela camisola verde, ficando feliz se Oscar Gatto lhe for dando uma ou outra ajuda. Esta quinta-feira até deverá estar na contenda para vencer pela segunda vez neste Tour. Porém, para a Tinkoff o interesse estará no fim-de-semana. Não haverá top cincos em etapas que possam compensar um descalabro de Contador.

Rui Costa quer mesmo uma etapa e Nibali... não se sabe bem o que quer

Numa etapa em que o pelotão não se chateou nada com a fuga de nove homens e onde do grupo de favoritos apenas Romain Bardet (AG2R) resolveu mexer um bocadinho com o grupo, os destaques acabaram por ir para quem perdeu tempo. O perfil da tirada até poderia ser aproveitado por Rui Costa para tentar vencer. No entanto, o ciclista da Lampre-Merida acabou por perder muito tempo. Até se poderia pensar que foi propositado - um pouco como Majka andou a fazer -, mas Rui Costa garante que não. Que teve um dia mau. 

Tendo em conta que o pelotão não iria perseguir os fugitivos, que o top dez já não é o principal objectivo de Rui Costa, esta perda de tempo pode beneficiar e muito o português. Foi o que aconteceu em 2013 quando foi forçado a perder tempo para ajudar Alejandro Valverde após um corte no pelotão devido ao vento. Portanto, não foi a etapa do Rui Costa, mas pode muito bem ter sido o primeiro passo para que seja mesmo a Volta a França do ciclista. Tem 13:55 de desvantagem que podem muito bem valer-lhe liberdade para atacar.

Para a Lampre-Merida também não é motivo de preocupação. A equipa italiana quer uma vitória de etapa e aposta em Louis Meintjes para a classificação, principalmente da juventude.

Quanto a Vincenzo Nibali não se percebe se veio para vencer etapas, para preparar os Jogos Olímpicos... Ainda ninguém acredita que irá mesmo ajudar Fabio Aru, que é mais um rival do que um colega de equipa, e perante a perda de tempo de hoje - chegou com Rui Costa - não estará certamente na luta pelo Tour. Talvez ainda se venha a ver algo do italiano. Ou talvez se tenha de esperar pelo Rio de Janeiro.


Résumé - Étape 5 - Tour de France 2016 por tourdefrance

Etapa 6: Arpajon-sur-Cère - Montauban (190,5 quilómetros)


Não é o dia perfeito para os sprinters, mas ainda assim as suas equipas irão trabalhar para que a etapa possa ser decidida pelos homens mais rápidos. Porém, com algumas subidas e descidas com algum grau de dificuldade - na perspectiva dos sprinters - será quase certo ver uma forte aposta de ciclistas em fazer vingar mais uma fuga. Para os homens da geral será uma etapa feita com muita atenção para evitar percalços, pois vêm aí três dias muito importantes.

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