1 de julho de 2016

A luta a três mais esperada do ano

Froome, Quintana e Contador, os três principais candidatos à vitória no Tour
(Fotografias: Facebook Team Sky; Facebook Movistar Team; Twitter @albertocontador)
Praticamente desde o início do ano que se vai falando deste momento. O momento que começa este sábado e que durante três semanas colocará lado a lado três dos melhores ciclistas da actualidade: Christopher Froome, Alberto Contador e Nairo Quintana.

É certo que há um ano já se encontraram, com igual favoritismo. Mas há desde logo uma diferença: Oleg Tinkov meteu na cabeça que Contador tinha de ganhar o Giro e o Tour no mesmo ano, algo que não acontece desde 1998, quando Marco Pantani alcançou o feito. O espanhol cumpriu em Itália, mas não recuperou fisicamente para se apresentar no seu melhor em França. Em 2016, os três ciclistas prepararam a temporada a pensar exclusivamente no Tour.

Froome (31 anos) ambiciona tornar-se no primeiro ciclista desde Miguel Indurain a ganhar dois anos consecutivos o Tour. De recordar que oficialmente Lance Armstrong ficou sem as sete vitórias e Alberto Contador perdeu o triunfo de 2010 - tinha vencido em 2009 -, também devido a doping. Indurain venceu entre 1991 e 1995 e são esses os resultados que contam.

Alberto Contador (33) não ganha o Tour desde 2009. Depois do episódio do "bife à Contador", o espanhol venceu o Giro e a Vuelta, mas em França não tem conseguido chegar ao terceiro triunfo (o primeiro foi em 2007). Nem ao pódio voltou.

Nairo Quintana é o mais novo (26 anos) do trio, mas alimenta o "sueño amarillo", o slogan que tem acompanhado toda a preparação do colombiano. Já tem dois segundos lugares, em 2013 e 2015, com uma vitória no Giro pelo meio. Mas é o Tour que ambiciona acima de tudo.

As preparações

Apesar dos três terem um número de dias idênticos de competição, foi Alberto Contador quem se apresentou mais activo no início do ano, com consecutivos bons resultados. Froome e Quintana também competiram, mas andaram mais pela Austrália e Argentina, antes de se resguardarem em treinos de altitude, o primeiro na África do Sul - regressou a terra africanas, pois, recorde-se, nasceu no Quénia e competiu por este país até 2008 - e o segundo na sua Colômbia.

Mas colocando 2016 em números. Chris Froome tem 27 dias de competição, que correspondem a 3804 quilómetros, quatro provas por etapas e a clássica Liège-Bastogne-Liège. Soma três vitórias de etapas e conquistou a geral no Herald Tour (e também a classificação da montanha) e o Critérium du Dauphiné, prova que também venceu em 2013 e 2015, anos em que venceu o Tour.

Alberto Contador contabiliza 33 dias em corridas, que se traduzem em 5093 quilómetros. Fez cinco competições por etapas, foi terceiro na Volta ao Algarve, segundo no Paris-Nice e na Volta a Catalunha, até que se fartou de não vencer e conquistou a Volta ao País Basco. Tem ainda três vitórias em etapas, incluindo no Alto do Malhão.

Nairo Quintana tem 32 dias em competição, 4645 quilómetros e cinco provas por etapas com resultados de uma regularidade impressionante. Quando participa não é só para rodar. Começou com um terceiro lugar no Tour de San Luis - prova ganha pelo irmão Dayer Quintana - venceu depois a Volta a Catalunha, novo terceiro posto na Volta ao País Basco e conquistou a Volta à Romandia e a Route du Sud. Ou seja, só sabe terminar no pódio. Curiosamente só soma duas vitórias de etapas. É o único dos três candidatos que desistiu numa corrida, no Grande Prémio Miguel Indurain, uma das duas provas de um dia em que esteve (a outra foi nos Nacionais da Colômbia).

O trio só se encontrou na Volta à Catalunha, ganha por Quintana, com Contador em segundo e Froome a ficar em oitavo.

Antes do Tour, o britânico e o espanhol estiveram no Critérium du Dauphiné, com Froome a estar claramente melhor na sua forma. Quintana preferiu uma mais recatada Route du Sud onde não encontrou concorrência, mas ainda assim deu para perceber que o colombiano deverá estar no ponto certo para atacar o "sueño amarillo".

Confira aqui as equipas e as etapas da 103ª edição do Tour

Os três têm o mesmo discurso: o Tour é o que mais interessa e é para ganhar. Isto promete uma luta de titãs. Quintana deverá aparecer este ano com predisposição mais atacante e não tão conservador. Afinal foi essa a atitude que pode muito bem lhe ter custado a Volta a França em 2015. O colombiano perdeu tempo num corte do pelotão e depois no dia seguinte à folga quando Froome atacou sem que ninguém o acompanhasse. Porém, o britânico teve uma terceira semana difícil e Quintana percebeu tarde de mais que poderia ter atacado mais cedo e talvez surpreendido o homem da Sky.

E este é outro pormenor importante. Froome não esquece como tudo poderia ter ficado perdido no Alpe d'Huez e o britânico já admitiu que este ano preparou-se a pensar estar mais forte na última semana.

Já se sabe que Contador não é de jogar à defesa se se sentir bem e que Froome não perde uma oportunidade para impor aquele estilo tão único e desconcertante de pedalar e que tantas dificuldades coloca aos adversários quando resolve tentar fugir. Ou seja, três ciclistas de ataque, com um Contador de sangue quente, um Froome mais frio na análise de corrida e um Quintana mais calculista.

A importância das equipas

Quando chegar os momentos das decisões, serão os três que terão de demonstrar quem é o melhor. Porém, as equipas podem ter um papel de extrema importância no apoio aos seus líderes. A Sky apresenta-se, na teoria, com o conjunto de luxo, seguido de perto pela Movistar. Já a Tinkoff levanta algumas interrogações.

Geraint Thomas vai assumir o papel desempenhado até 2015 por Richie Porte. Será o braço-direito de Froome. Thomas tem tido liberdade para se mostrar e aproveitou a oportunidade para conquistar a Volta ao Algarve e o Paris-Nice. Agora volta ao papel de apoio e muito se espera dele para ajudar o seu líder. Mas quando chegarem as montanhas será uma questão de perceber qual será a ordem de trabalho. Vasil Kiryenka é um dos gregários que mais tempo costuma manter-se no controlo da corridas, mas a Sky tem ainda a dupla espanhola Mikel Nieve e Landa. E que qualidade ela tem. Sergio Henao era quase uma presença obrigatória. Teve um sensacional início de temporada, até no apoio a Thomas. Depois houve novamente questões com o seu passaporte biológico que foram ultrapassadas. Wout Poels, o homem que deu o primeiro monumento à Sky, juntar-se-á neste trabalho nas subidas, enquanto Ian Stannard e Luke Rowe têm o seu papel de protecção a Froome reservado para as etapas mais planas.

Na Movistar, Alejandro Valverde já garantiu que não haverá dúvidas: Quintana é o líder e ele abdicará, se for preciso, de vencer etapas para ajudar o colombiano. Fala a voz da experiência e que estará à disposição de Quintana. Dos oito que o irão apoiar, o português Nelson Oliveira será aquele que aparecerá mais em etapas menos montanhosas, juntamente com Imanol Erviti que também terá o seu papel nas subidas. Todos os outros são trepadores por excelência. Se é para fazer frente a uma super Sky, então há que lutar com armas idênticas: além de Valverde, Daniel Moreno, Winner Anacona, Jesús Herrada e Ion e Gorka Izagirre têm a responsabilidade de fazer frente ao poderio da equipa britânica.

Resta a Tinkoff. O patrão da equipa russa manteve o suspense até terça-feira e numa apresentação bem ao seu estilo apelidou a Tinkoff de melhor equipa do mundo, com umas farpas pelo meio à Sky (farpas com direito a umas asneiras...). No entanto, desde logo se coloca a questão de como ajudará Peter Sagan. Juntamente com Oscar Gatto poderão ser importantes em etapas mais planas, mas o eslovaco - que já afirmou que o líder é Contador e apenas o Contador - tem os seus próprios objectivos, nomeadamente vencer etapas e conquistar a quinta camisola verde, para assim igualar o recorde de Erik Zabel. Gatto estará lá para o ajudar. Resta a Contador um Rafal Majka cuja forma ainda está por se perceber, depois de ter participado no Giro, tendo terminado no quinto lugar. Roman Kreuziger é quase uma presença obrigatória, seguindo-se Michael Valgren, Robert Kiserlovski e Maciej Bodnar. Bons ciclistas, sem dúvidas, mas estarão ao nível dos homens da Sky e da Movistar? E Tinkov ainda escolheu Matteo Tosatto, que aos 42 anos esteve no Giro, que terminou, mas a restante temporada está marcada por desistências: três, nas cinco competições por etapas que participou. São muitas as dúvidas sobre esta Tinkoff, num ano em que Sérgio Paulinho, um dos homens de confiança de Contador, não estará presente.

Outros nomes

Pode parecer redutor reduzir o Tour a três nomes. Mas é inevitável. No entanto, haverá outros nomes para se falar em breve, começando pelos franceses Thibaut Pinot e Romain Bardet de quem tanto se espera. Na Ettix-QuickStep aposta-se em Julian Alaphilippe e Daniel Martin para vitórias de etapas e talvez um pouco mais, como um top dez. Richie Porte e Tejay Van Garderen são a esperança da BMC em regressar aos bons tempos de Cadel Evans. E claro, Fabio Aru, o irreverente italiano que faz a sua estreia no Tour na Astana e que terá um companheiro de luxo: Vincenzo Nibali. Mas irá Nibali querer assumir apenas um papel secundário?

E, claro, ainda temos Rui Costa. O português desistiu da ideia de finalizar um top dez e volta a apostar na conquista de etapas.

Já chega de esperar. Que comece a Volta a França.

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