15 de março de 2017

Nibali e os erros da Bahrain-Merida

(Fotografia: Facebook Bahrain-Merida)
A expectativa era grande. O projecto de uma equipa do Bahrain no World Tour era uma ambição do príncipe Nasser Bin Hamad Al Khalifa, que convenceu Vincenzo Nibali a liderá-lo quando a sua situação na Astana já não era a mais confortável. A relação com o director desportivo, Alexander Vinokourov, deteriorava-se a cada corrida que passava e cedo se percebeu que Nibali não renovaria pela formação cazaque. A Merida juntou-se à estrutura, Brent Copeland deixou a Lampre para se juntar à nova equipa de ciclismo. Dinheiro não foi problema, com o príncipe a abrir os cordões à bolsa para garantir ciclistas como Ion Izagirre e Giovanni Visconti, dois homens importantes na Movistar. Outros bons ciclistas assinaram pela Bahrain-Merida e com a recomendação de Nibali alguns mais experientes receberam uma nova oportunidade para estar no principal escalão. Porém, a mês e meio da Volta a Itália, o grande objectivo para 2017 de Nibali e da equipa, a Bahrain-Merida tem demonstrado grandes debilidades e quando pretendia mostrar alguma força, falhou de tal maneira que roçou a humilhação. Vincenzo Nibali, que liderou esse falhanço, é o primeiro a admitir que há muito trabalho a fazer, mas promete que há tempo para que a formação do Médio Oriente esteja forte no Giro.

O ciclista italiano, de 32 anos, vencedor das três grandes voltas, tem sido uma espécie de mal amado da modalidade. Não no seu país, onde tem muitos seguidores. Porém, mesmo perante tudo o que já alcançou, vive sempre com o estigma de ganhar quando os melhores não estão. Nem sempre aconteceu  assim, mas a verdade é que Nibali vê as suas vitórias serem por vezes colocadas em causa por falta de concorrência e não ajudou aquele momento que lhe manchou a carreira, quando na Vuelta de 2015 foi "rebocado" por um carro da sua equipa para recuperar tempo perdido. Foi expulso da corrida. Nesse ano venceu depois na Lombardia e em 2016 foi o autor de um pequeno milagre ao conquistar uma Volta a Itália que parecia mais do que perdida. Mas lá está, há-de sempre se falar da queda de Steven Kruijswijk que muito provavelmente lhe custou a vitória que parecia ser difícil não se concretizar.

Relegado para segundo plano na Astana, com Vinokourov a não esconder a preferência por Fabio Aru, Nibali não resistiu a ser um líder completamente indiscutível numa equipa. Mais do que isso, não resistiu a estar numa equipa na qual tem uma palavra a dizer nas decisões mais importantes. Isso e certamente um salário bem interessante fê-lo recusar a proposta da Trek-Segafredo, que muito queria o italiano para satisfazer o desejo de um dos seus patrocinadores (a Segafredo é uma marca italiana). Além de levar o seu irmão, Nibali quis Enrico Gasparotto (34 anos) e Franco Pellizotti  (39), ciclistas que já não pensavam regressar ao World Tour, principalmente Pellizotti. Valerio Agnoli (32), Manuele Boaro (30), Niccolo Bonifazio (23) e Sonny Colbrelli (26) completaram o contingente transalpino na Bahrain-Merida.

Com apenas duas vitórias - Ramunas Navardauskas numa etapa da Volta a San Juan e Colbrelli num sprint do Paris-Nice - e pouco mais para mostrar de resultados, junta-se uma preocupante falta de coesão da equipa e de forma física por parte de alguns dos ciclistas, a começar por Vincenzo Nibali. O próprio admitiu que o primeiro grande teste como equipa seria no Tirreno-Adriatico e quando chegou a etapa rainha, que terminava no Terminillo, a Bahrain-Merida tentou fazer um papel de equipa controladora. O trabalho não convenceu e não resultou. Também não ajudou Nibali cedo mostrar que não tinha capacidade para seguir com os favoritos.

"Nunca tínhamos trabalhado assim. Foi a primeira vez. Se calhar fomos para a frente demasiado cedo. Talvez tenha sido esse o erro. Precisamos de perceber os mecanismos e talvez nos falte alguma condição [física]", explicou Nibali. São muitos "talvez". Ir demasiado cedo para frente não foi certamente o principal problema, se é que foi um sequer. A falta de condição física é óbvia, mas acaba por ser preocupante que o ciclista fale em "perceber os mecanismos". Sendo uma equipa nova é normal que seja preciso tempo para se construir um bom entendimento entre os ciclistas. Porém, os que estiveram no Tirreno-Adriatico têm todos muita experiência, pelo que não se compreende que os mecanismos sejam quase inexistentes.

A corrida italiana fez certamente soar bem alto os alarmes na Bahrain-Merida. É que a equipa não chegou ao World Tour com intenções de aprender para depois começar a vencer. Não, a formação do Médio Oriente tem sempre tido um discurso de querer rapidamente se colocar entre as melhores. Porém, um dos erros poderá mesmo ser estar demasiado dependente da qualidade individual de alguns dos seus ciclistas. Poderá ser o suficiente para ganhar uma outra corrida, mas aumenta muito a dificuldade de conquistar grandes vitórias.

O príncipe Nasser fez as vontades todas a Nibali e o ciclista italiano tenta afastar qualquer pressão, dizendo que a época é longa e que há tempo para a equipa crescer. O seu treinador, Paolo Slongo, tenta reforçar o espírito de confiança e garante que a Bahrain-Merida estará a 100% no Giro: "É o nosso principal objectivo." Muitas promessas. O que acontecerá se não forem minimamente cumpridas?

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