20 de maio de 2016

A camisola que ninguém quer

A saída de André Greipel está a reavivar a eterna discussão sobre os objectivos de alguns sprinters em ganhar etapas e ir embora antes das maiores dificuldades aparecerem. As conversas começaram com o abandono precoce de Marcel Kittel, mas com o de Greipel ganhou outros contornos porque o alemão é o líder da classificação por pontos.

Esta camisola, vermelha no Giro, foi criada para dar uma classificação aos sprinters. Porém, ao contrário do que acontece no Tour, não tem sido objectivo para os principais nomes. A saída de Kittel e Greipel, os dois sprinters que "limparam" as etapas para este tipo de ciclistas este ano até ao momento, comprova que o Giro é visto como uma preparação para a Volta a França, onde, aí assim, terão mais ambição em chegar ao fim, tanto pela camisola, como pela mítica última etapa nos Campos Elísios.

A Volta a Itália carece desse momento final marcante e claro que o Tour, mesmo não tendo sido nos últimos anos a competição mais interessante, continua a ser hoje e sempre... o Tour. E todos querem lá ganhar algo. Pura e simplesmente, as dificuldades que aí vêm no Giro não compensa o esforço para ganhar a camisola vermelha, que na ideia de Kittel e Greipel não tem o prestígio da verde no Tour.

Mas são só os dois. Caleb Ewan (Orica-GreenEDGE) também deverá estar a fazer as malas, ainda que o australiano tenha justificado que sendo ainda um jovem ciclista, não quer forçar a sua evolução. Compreensível, tal como é compreensível a decisão dos alemães. Mas, ainda assim, acaba por ser uma desilusão para quem acompanha a prova e para quem a organiza.

"O que é que eu posso dizer? Não estou satisfeito", desabafou Mauro Vegni, organizador do Giro, ao Cycling News. Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo) irá herdar a camisola e ele já disse que a quer ganhar, assim como Arnaud Démare (FDJ). Porém, ficará sempre a sensação que quem a ganhar só o fez porque os dois que se mostraram mais fortes não lutaram até ao fim.

E talvez isso seja bastante injusto. Greipel não esconde que não só já tinha planeado desde o início o abandono após a 12ª etapa, como não hesita dizer que "o Giro é o Giro e o Tour é o Tour". A decisão deve ser respeitada, mas ainda assim, não lhe ficou bem dizer tal coisa que, de certa forma, desprestigia uma das mais importantes corridas do ano. Mas uma coisa é certa: há que respeitar quem fica e quem quer continuar a lutar por vitórias e pela classificação, pois no final será sempre vencedor justo porque pelo menos quis a camisola e não tem culpa se outros minimizam a sua importância.

Claro que a polémica actual não se compara ao que Mario Cipollini costumava fazer nos anos 90. O italiano chegava a mostrar fotografias a descansar enquanto o pelotão sofria nas subidas (e estavamos numa era longe de imaginar a existência de redes sociais...). 

Este tipo de situações vão continuar a existir e dificilmente haverá forma de as combater. A única regra que existe é que o ciclista não pode participar noutra competição enquanto a que abandonou não terminar. E certamente que as organizações não se podem dar ao luxo de arranjar forma de afastar grandes nomes só porque estes não vão terminar as provas.

Agora no Giro será a vez de outros aparecerem. Podem não se livrar da conotação de "só ganhou porque não estavam lá os melhores", mas o espectáculo dos sprints pertence agora a eles.

André Greipel sai com vitória

Sem grande surpresa André Greipel voltou a dominar. É o terceiro triunfo no Giro este ano, sendo agora o mais vitorioso (Kittel e Ulissi somam duas cada). A etapa foi o que se esperava, tendo em conta que era direita, direita, direita (182 quilómetros entre Noale-Bibione). Houve uma fuga, a Lotto Soudal tratou de a controlar e neutralizar e depois preparou o sprint. Ainda houve um esboço de protesto por parte de Caleb Ewan que sentiu que foi "tapado" por Greipel, mas nada de irregular foi sancionado (porque foi tudo legal, Ewan apenas lhe faltou a experiência que Greipel tem) e o alemão somou a 20 vitória numa grande volta.
Poderá nunca ter a fama de sprinters como Mark Cavendish e Marcel Kittel, para citar apenas dois do seu tempo, mas Greipel continua aos 33 anos a consagrar-se como um sprinter que inevitavelmente será recordado no futuro como um dos melhores.

A etapa desta quinta-feira ficou marcada pelo mau tempo e pelo medo do perigo que poderia conferir ao final. O receio foi tal forma que os tempos foram contabilizados à entrada para a última volta do circuito e não houve bonificações. Desta forma evitou-se um sprint mais caótico, num circuito sinuoso, permitindo a quem tem outros objectivos desligar-se da frente da corrida. No entanto, a ameaça de chuva não se concretizou. Na geral ficou tudo na mesma.


Giro d'Italia 2016 - Stage 12 - Highlights por giroditalia


Confira os resultados e a classificação.

Etapa 13: Palmanova - Cividale del Friuli (170 km)

É o início de três dias importantes para os homens da geral. A partir de agora é subir, subir, subir. Duas primeiras categorias e duas segundas, que vêm aos pares, com pouco tempo para descansar. Cuidado com as descidas muito técnicas.

Primeiro grande teste à liderança de Bob Jungels (Etixx-QuickStep) e também ao estatuto de Andrey Amador na Movistar. Se passar bem, o costa-riquenho poderá conquistar o direito de lutar pelo Giro em igual circunstâncias na equipa com Alejandro Valverde.



É altura também para Vincenzo Nibali (Astana) começar a mostrar porque é considerado um dos favoritos - e se realmente o é -, juntamente com Valverde. Quem precisa de recuperar tempo poderá apostar nesta etapa, casos, por exemplo, de Ilnur Zakarin (Katusha), Johan Esteban Chavez (Orica), Rafal Majka (Tinkoff) e também, ainda que provavelmente já demasiado distantes para lutar pela camisola rosa, Rigoberto Uran (Cannondale) e Domenico Pozzovivo (AG2R).

Damiano Cunego (Nippo-Vini Fantini), líder da montanha, confessou que irá tentar entrar na fuga de forma a tentar segurar uma camisola que quer mesmo ganhar.


Giro d'Italia 2016 - Stage 13 por giroditalia

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