Sem arrependimentos, sem saudades e com uma enorme vontade de abraçar o presente a ajudar jovens ciclistas e também em trabalhar na sua clínica de fisioterapia. Hernâni Brôco é um nome incontornável dos últimos anos no ciclismo português. Pode não ter sido dos mais ganhadores, mas numa década de carreira tornou-se num dos ciclistas mais respeitados. Esteve na luta pela Volta a Portugal, foi uma aposta regular na selecção nacional e a sua passagem pela Caja Rural levou-o à Volta a Espanha. Em 2013 anunciou o final da carreira, mas em Fevereiro do ano seguinte regressou, representando o Louletano. Seguiram-se dois anos na LA Alumínios-Antarte. Desta vez diz ter sido o momento certo para colocar um ponto final.
"Eu sempre tive a ideia de sair pela porta grande e não com alguém a abrir e dizer 'está aqui a porta de saída, vai andando'. Foi essa a minha opção. Fiz tudo e era o momento de dar a oportunidade aos mais jovens. Foi o momento certo para sair", salientou o antigo ciclista ao Volta ao Ciclismo. E nem foi tão difícil como pensou deixar as corridas. "Gosto da competição, mas na prova de Abertura [na região de Aveiro] pensava que ia sentir um nervoso miudinho, mas não... Sinto a paixão pelas bicicletas, mas não aquela vontade de competir. Saí de consciência tranquila e isso ajuda", explicou.
Em Junho de 2016 Hernâni Brôco já tinha definido o seu futuro. Além da clínica de fisioterapia, iria integrar a Sicasal–Constantinos-Delta Cafés, equipa de sub-23, com sede na sua terra: Torres Vedras. A formação assume o nome dos patrocinadores, contudo, tem como base a Academia Joaquim Agostinho, algo que orgulha ainda mais o agora treinador. "Está a ser bastante produtivo trabalhar com estes jovens. Já os conhecia uma vez que corri lado a lado com eles e também fui presidente do clube de Matos-Cheirinhos e sete destes atletas passaram por lá. Estou feliz com o grupo que tenho", contou.
"Tento dar um acompanhamento mais pessoal, explicando a minha experiência e tentando que eles a aproveitem"
Hernâni Brôco revela o satisfação por ver que em dois anos o projecto já colocou cinco ciclistas nas selecções nacionais, considerando que em 2017 a equipa "é mais coesa e estão todos a trabalhar bem e com muita ambição". O seu trabalho passou de ser em tentar ganhar corridas para preparar os jovens ciclistas para evoluírem e terem condições para estar na posição de potenciais vencedores. "A função de treinador é fazer o programa da época em termos de corrida, fazer a planificação a nível dos treinos e ter uma abordagem diária com eles, avaliar como estão a evoluir", contou. No entanto, Brôco quer igualmente transmitir a sua experiência aos ciclistas: "Tento dar um acompanhamento mais pessoal, explicando a minha experiência e tentando que eles a aproveitem."
O antigo ciclista, de 36 anos, quer que os jovens da equipa vivam uma fase que diz ser muito especial. "Ainda hoje recordo os tempos de formação... São os melhores que temos. Os verdadeiros amigos para a vida são os que fazemos até ao escalão de sub-23." Mas a carreira de Hernâni Brôco teve outros bons momentos e o agora treinador deixa imediatamente fugir um sorriso quando faz uma passeio pelo passado. "Houve coisas que gostaria de ter alcançado. Mas quando olho para trás... Fiz coisas muito bonitas e é isso que recordo. Tenho orgulho no que fiz", recordou. E quais foram essas "coisas muito bonitas"? "A vitória de uma etapa na Volta a Portugal [Senhora da Graça, em 2011], andar de amarelo na Volta, representar a selecção ao longo de mais de 15 anos, tendo estado em Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos... Conheci o mundo com a camisola da selecção. Em termos de equipa, disputei a Volta a Portugal em três anos consecutivos, não ganhei porque os outros foram melhores. Fiz uma Volta a Espanha que foi um momento marcante." Destacou como gostaria de ter feito um Tour, mas não sente tristeza ou frustração por não ter realizado esse sonho.
"Penso que ainda hoje [a formação] é feita por muita carolice de pessoas que estão há muitos anos a trabalhar em prol destes projectos"
A carreira de ciclista ficou para trás. Agora está concentrado em ajudar na formação de futuros corredores, ainda que seja uma missão nada fácil em Portugal. "A saúde da formação está um pouco complicada. Penso que ainda hoje é feita por muita carolice de pessoas que estão há muitos anos a trabalhar em prol destes projectos. Só assim se conseguem fazer bons profissionais. A nossa estrutura [da Sicasal–Constantinos-Delta Cafés] é bastante jovem. São pessoas que gostam de ciclismo e estão a tentar fazer por estes jovens o que foi feito por eles. Passa por aí e não por haver um grande retorno na formação", referiu.
Apesar das dificuldades, Hernâni Brôco destacou como têm surgido muitos talentos no país, considerando que tal se deve também à capacidade dos portugueses em adaptar-se às adversidades. "Temos uma formação com muito potencial", realçou, acrescentando a importância da Federação Portuguesa de Ciclismo estar "a apostar novamente nas corridas no estrangeiro".
Hernâni Brôco está feliz e motivado por continuar ligado ao ciclismo nesta nova fase da sua vida: "Desde os seis anos que ando de bicicleta. Estou a dar continuidade à minha paixão."
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