Momento de grande emoção para Rui Vinhas (Fotografia: Volta a Portugal) |
Rui Vinhas (29 anos) poderia ter pensado muita coisa quando subiu para a bicicleta em Montalegre, mas vestir a camisola amarela não foi uma delas. Aliás, durante boa parte da etapa, o ciclista da W52-FC Porto, juntamente com o colega Joaquim Silva, trabalharam muito na fuga na perspectiva de desgastar a Efapel. Afinal este domingo espera-os a Senhora da Graça. Os restantes companheiros da fuga deram uma ajuda menor deixando o trabalho para os homens da W52-FC Porto, que estiveram muito bem.
Depois veio aquela espécie de birra entre directores desportivos. Primeiro foi Américo Silva (Efapel), que depois de ter a sua equipa a "caçar" Gustavo Veloso, "fartou-se" de a ter a perseguir sozinha a fuga que chegou a ter cerca de 10 minutos de avanço. A Rádio Popular-Boavista tomou as rédeas, mas José Santos aproveitou a entrevista na RTP para atirar farpas à Efapel. Acusou a equipa que tem um candidato de não trabalhar. "Mas tem o Rui Sousa?", atirou o jornalista. "Oh!", foi a resposta de José Santos. Rui Sousa pode ser um veterano e as hipóteses de ganhar são poucas, mas ainda assim... esta resposta...
Enfim, era um momento de tensão. Da LA Alumínios-Antarte só se viu quando Alejandro Marque resolveu a poucos quilómetros do fim, minimizar estragos (só serviu para gastar energias que lhe podem fazer falta), o Sporting-Tavira não tem capacidade para estas andanças, enquanto a W52-FC Porto de Nuno Ribeiro tinha a melhor desculpa: Gustavo Veloso é o líder, mas se está um ciclista em posição de vestir a amarela, então a restante equipa vai ficar sossegada. Bom... quase, no final resolveu acelerar, mostrando que Veloso continua a ser cabeça de fila, independentemente dos 3:19 minutos que Rui Vinhas tem de vantagem sobre Daniel Meste (Efapel)
Das equipas portuguesas falta falar do Louletano-Hospital de Loulé, que tinha Micael Isidoro na frente, portanto ficou sossegada no pelotão. Já as equipas estrangeiras, a Drapac e a Androni lideravam, as restantes ficaram a ver o que ia acontecer. Já agora o vencedor da terceira etapa em Macedo de Cavaleiros foi o australiano William Clarke, da Drapac.
Entre as birras de directores desportivos iam-se fazendo contas. Rui Vinhas ia para a amarela e a única questão era com que vantagem iam deixá-lo ficar. Iam permitir que a Volta ficasse praticamente decidida? A Efapel lá regressou à frente do pelotão, com a Rádio Popular-Boavista a dar uma ajuda e o tempo desceu um pouco.
Ainda assim, esta Volta a Portugal acabou por sofrer uma reviravolta inesperada. Rui Vinhas é de repente o homem que todos falam e até Gustavo Veloso diz que o vai ajudar. Uma cortesia de um líder respeitado, pois Rui Vinhas sabe o seu lugar e desde logo afirmou que o galego é o número 1, tal como Nuno Ribeiro assegurou que a hierarquia mantém-se.
A dor de cabeça está toda do lado das outras equipas, principalmente da Efapel, claramente o conjunto que até ao momento demonstrou conseguir medir forças com a W52-FC Porto. Nuno Ribeiro pode dar-se ao luxo de jogar com dois trunfos. É altura de ver o melhor que o ciclismo tem tacticamente e saber como fisicamente se vão comportar os restantes candidatos, agora que o cenário ganhou contornos inesperados e os planos terão forçosamente de ser alterados. Lá emoção vamos ter, pois tudo aconteceu logo antes da mítica Senhora da Graça.
Para juntar aos muitos momentos desta etapa, a organização resolveu juntar-se à festa e anulou os cortes de tempo que tinha decidido na segunda etapa... 24 horas depois!
4ª etapa: Bragança - Mondim de Basto/Senhora da Graça (191,9 quilómetros)
É um dos dias mais aguardados do ano no ciclismo nacional. A subida à Nossa Senhora da Graça é um dos momentos com mais história em Portugal e Mondim de Basto veste-se de gala para receber o pelotão, que é como a quem diz, espera os ciclistas o habitual ambiente de milhares de pessoas que se espalham pelos cerca de 11 quilómetros da subida, mas a enchente até começa antes. A nível competitivo, o dia conta ainda com outra primeira categoria, no Alvão, sendo uma etapa que poderá ser muito importante, inicialmente para os ciclistas que precisavam de ganhar tempo para não ficarem à mercê dos melhores contra-relogistas, agora para resolverem a questão chamada Rui Vinhas.