25 de abril de 2021

Joni Brandão mostra-se na W52-FC Porto e época ameaça ser animada

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Chuva, frio e paisagens bonitas. A Clássica Aldeias do Xisto é uma das corridas que proporciona um espectáculo além competição dos mais cativantes, passando por regiões de Portugal que bem vale a pena visitar. De bicicleta ou não! Para o pelotão nacional foi mais uma oportunidade de estar na estrada, ficando a sensação que cada prova vale ouro, depois de tanta incerteza, cancelamentos e adiamentos. A vontade de competir é muita e depois da Efapel abrir a época com uma vitória, a W52-FC Porto respondeu.

A rivalidade entre as duas equipas promete e nenhuma esperou para "aquecer" esta temporada. Começaram a ganhar e a mostrar o quanto o querem fazer. Mas nas Aldeias do Xisto a Tavfer-Measindot-Mortágua (antiga Miranda-Mortágua) mostrou que juntar Tiago Antunes a Joaquim Silva foi uma boa opção. Apesar deste destaque, foi Joni Brandão que este domingo demonstrou que quer ter o seu lugar numa equipa em que muitos dos seus ciclistas podem ser líderes.

E basta ver dois dos corredores que ajudaram Brandão. José Neves e Ricardo Vilela estão de regresso a Portugal. O primeiro venceu o Troféu Joaquim Agostinho em 2018, precisamente pela equipa azul e branca, enquanto Vilela acumulou uma enorme experiência internacional e mesmo sendo muitas vezes gregário, é ciclista com qualidade para almejar mais agora que está de volta ao seu país.

Mas o dia era mesmo para Brandão. Apesar de ter falhado inicialmente a presença no grupo de dez ciclistas que se isolou na frente, juntamente com o companheiro José Neves e Tiago Antunes, Joaquim Silva e ainda Frederico Figueiredo (Efapel), a contratação mais sonante do pelotão nacional em 2021, chegou à frente ao atacar no Cêpos. Depois beneficiou do trabalho dos colegas para no final ser mais forte que Antunes (segundo, a quatro segundos) e Figueiredo (terceiro, a seis).

"Tive uma pequena distracção, quando se deram as movimentações decisivas e quase que pagava caro por isso, mas consegui chegar à frente, embora um pouco 'justo'. Mas os meus companheiros trabalharam para eu me poupar para a parte final. Só tive de rematar", salientou o ciclista.

Para Joni Brandão é muito importante começar a ganhar e a Clássica Aldeias do Xisto é uma corrida que aprecia. Em 2019 venceu ao serviço da Efapel (no ano passado a prova não se realizou). Ao mudar-se precisamente da Efapel para a grande rival, o ciclista perdeu o estatuto de líder indiscutível, pois na W52-FC Porto terá de lutar por esse posto com ciclistas como Amaro Antunes e João Rodrigues, os dois últimos vencedores da Volta a Portugal.

"É sempre marcante quando ganhas pela primeira vez pela nova equipa. A vitória é da W52-FC Porto que me ajudou a vencer. Foi um dia muito duro, com condições climatéricas muito difíceis. A isso juntou-se o terreno, sempre de sobe e desce. Acabámos por salvar bem o dia e ganhar, que era o mais importante", afirmou.

A época ameaça ser animada, faltando perceber se alguma equipa vai conseguir intrometer-se entre a W52-FC Porto e a Efapel - venceu a Prova de Abertura Região de Aveiro, com Luís Mendonça -, com a Tavfer-Measindot-Mortágua a mostrar valor nos 142,1 quilómetros entre as aldeias da Benfeira, Arganil, e do Fajão, Pampilhosa da Serra, na procura por uma vitória na temporada de 2021.

De referir que a W52-FC Porto foi ainda a melhor equipa, com Vilela a ser o rei da montanha. Pedro Andrade (Hagens Berman Axeon) foi o melhor jovem. A Clássica Aldeias do Xisto foi a segunda prova pontuável para a Taça de Portugal.

E para a semana há mais. O calendário nacional prossegue com a Clássica da Arrábida, no domingo, mais uma corrida que não se realizou no ano passado devido à pandemia e que esta época sofreu um adiamento. De 5 a 9 de Maio teremos a Volta ao Algarve.

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18 de abril de 2021

Pidcock afirma-se ao lado de um Van Aert a vencer por milímetros

© Amstel Gold Race
Esta semana pode dizer-se que ficou completo o trio do ciclocrosse que chegou para conquistar a estrada. Wout van Aert e Mathieu van der Poel em pouco tempo tornaram-se grandes figuras do ciclismo mundial. Thomas Pidcock estreou-se este ano ao mais alto nível, depois de já ter feito algumas corridas com a extinta Team Wiggins, e após algumas boas exibições, incluindo um pódio na Kuurne-Bruxelles-Kuurne, na quarta-feira bateu Van Aert De Brabantse Pijl-La Flèche Brabançonne e este domingo ficou a milímetros de repetir o feito na Amstel Gold Race.

Nos últimos dias Mark Cavendish (Deceuninck-QuickStep) até foi notícia por ter regressado às vitórias quase três anos depois e logo com quatro etapas na Volta à Turquia. Porém, é na nova geração que está o foco na Grã-Bretanha, com os resultados de Pidcock a animarem os adeptos daquele país. Tal como já havia acontecido com Van Aert e Van der Poel, Pidcock há muito que ganhou destaque, com as suas performances no ciclocrosse. Nos escalões jovens somou vitórias e ficou conhecido por celebrar ao estilo Super-Homem.

Outro ponto idêntico com os rivais foi a forma como encarou a passagem para a estrada. Era inevitável, mas não teve pressa, pois sempre sublinhou o quanto queria fazer o que mais gostava. E apesar de ter assinado pela toda poderosa Ineos Grenadiers, esta forma de estar não mudou e Pidcock, depois do ciclocrosse e desta auspiciosa estreia na estrada, irá ter o seu momento no BTT.

Aos 21 anos, teve o condão de definitivamente levar a Ineos Grenadiers a apostar ainda mais nas clássicas, principalmente nas do pavé, mas também mostra como podem contar com ele em corridas como a Amstel e vai à Flèche Wallonne experimentar o Muro de Huy. Por pouco, não ganhou a prova de abertura, por assim dizer, da semana das Ardenas, mas a sua exibição já eleva as expectativas para o que possa vir nas próximas temporadas, quando evoluir.

É o primeiro a admitir o quanto está a aprender a cada corrida que passa. Por exemplo, nesta Amstel, salientou como tentar seguir Primoz Roglic, quando o esloveno impôs ritmo, não foi a melhor ideia. Terminada a prova, considera que o melhor teria sido resguardar-se um pouco mais. 

Perder num photo finish no qual não foi fácil determinar que Wout van Aert (Jumbo-Visma) era o vencedor, "belisca". A vitória só foi decidida já com os ciclistas preparados a ir para o pódio... Só não sabiam em que lugar se colocariam. Contudo, Pidcock é mais um ciclista que não fica a moer no que falhou. Pensa, isso sim, em fazer mais e melhor na próxima corrida.

Ao pé dos dois ciclistas que também vieram do ciclocrosse para serem reis na estrada, Pidcock pode perder em tamanho e peso, mas o talento que demonstrou ao conquistar o Paris-Roubaix espoirs, o Giro de sub-23 na época passada e um título mundial de contra-relógio em juniores, está agora a ser confirmado na elite, tal como fizeram o belga e o holandês.

Até já consegue perder uma corrida para um Wout van Aert, mas ser ele o foco no final da Amstel Gold Race! Mais um jovem ciclista que não perde tempo a afirmar-se e apesar de, por agora, serem as clássicas a aposta inicial, quando chegou à Ineos Grenadiers deixou o aviso que quer ser um ciclista completo, com possibilidade de se mostrar também em provas por etapas. Está na lista da equipa como hipótese para ir à Volta à Espanha.

Quanto a Van Aert, numa altura em que se prepara para uma pausa competitiva depois de uma intensa fase de clássicas, despede-se com uma vitória que estava a precisar. Apesar do pior resultado ter sido um 11º lugar na E3 Saxo Bank, só ter ganho a Gent-Wevelgem não lhe estava a cair muito bem. É um ciclista habituado a vencer, pelo que conquistar a Amstel Gold Race era quase uma questão de honra. Até Roglic trabalhou para o belga, pelo menos até um problema mecânico o tirar da frente da corrida.

Van Aert vai agora preparar a próxima fase da época. E é uma fase em que tem sido irresistível nas temporadas passadas: Critérium du Dauphiné e Volta a França.

Van der Poel anda pelo BTT e nem foi à Amstel Gold Race, corrida que teve uma edição para história em 2019, com a vitória do holandês. Vamos ter de esperar para ver este trio a disputar corridas. No ciclocrosse, Pidcock andou, nas semanas antes de vestir o equipamento da Ineos Grenadiers, a assistir às vitórias dos rivais, apesar de também ele somar bons resultados. Como irá ser na estrada? Van Aert já percebeu que não pode dar um centímetro (ou mesmo milímetro) a este irreverente britânico.

Classificação completa, via ProCyclingStats. De referir que a Jumbo-Visma teve um domingo perfeito, pois também ganhou a Amstel Gold Race feminina, com Marianne Vos.

Rui Costa em acção

Numa Amstel Gold Race em que o circuito final tirou algum do interesse durante uma parte da corrida, a movimentação de Max Schachmann (Bora-Hansgrohe) a cerca de 15 quilómetros do final, acabou por ser decisiva. Pidcock e Van Aert juntaram-se ao alemão, que ao não conseguir distanciar num ataque a dois mil metros da meta, ficou a ver o sprint de perto, mas sem capacidade para entrar na discussão.

Porém, houve várias movimentações até esse momento, uma delas de Rui Costa. O português da UAE Team Emirates tem a Liège-Bastogne-Liège como a sua prova preferida nas Ardenas - já fez pódio -, mas com Tadej Pogacar a juntar-se à equipa para essa corrida e, antes, para a Flèche Wallonne, Rui Costa aproveitou para tentar a sua sorte.

Não esteve sozinho, mas a companhia acabou por não ser a ideal para que a tentativa de fuga triunfasse. Ficou o teste, na esperança que possa surgir a oportunidade para, mesmo com Pogacar na equipa, Rui Costa seja uma carta a jogar por parte da UAE Team Emirates nas próximas duas corridas, quarta-feira e domingo.

Rui Costa terminou a Amstel Gold Race na 54ª posição, a 2:12 do vencedor. O companheiro de equipa Ivo Oliveira abandonou.

11 de abril de 2021

Efapel controla, Luís Mendonça finaliza com ataque certeiro

© Federação Portuguesa de Ciclismo
A Efapel chegou à Prova de Abertura Região de Aveiro como a equipa portuguesa de elite a já ter competido em 2021. Há uma semana esteve no Grande Prémio Miguel Indurain, juntamente com algumas formações World Tour e algumas das melhores ProTeam. O resultado final pode não ter sido o melhor, mas a viagem até Espanha trouxe benefícios que compensaram este domingo em Anadia. Luís Mendonça venceu a prova que finalmente deu início à temporada de ciclismo profissional em Portugal.

"Apesar de não ter estado nas melhores condições no Grande Prémio Miguel Indurain, a prova deu-me ritmo suficiente para me sentir mais à vontade na corrida e estou certo de que fez a diferença", referiu o ciclista. E o triunfo teve uma dedicatória muito especial: "Esta vitória significa muito para mim, depois do ano difícil pelo qual passei, devido ao falecimento do meu pai. Dedico-a a ele porque sei que está a dar-me força e realmente é uma inspiração para mim."

Trabalho colectivo, uma boa leitura de corrida e um ataque no momento certo, foram decisivos para a Efapel arrancar o ano com uma vitória desejada por muitos, após uma paragem tão longa e de toda a incerteza que o segundo confinamento e restantes restrições voltaram a gerar. A equipa assumiu desde cedo que estava na região de Aveiro para vencer, controlando a corrida e Luís Mendonça finalizou todo o esforço dos colegas da melhor forma.

Alberto Gallego (Rádio Popular-Boavista) - vencedor da corrida em 2020 - e Pedro Miguel Lopes (Kelly-Simoldes-UDO) partiram desde cedo para a fuga e chegaram a ter dez minutos de vantagem, dividindo entre eles as metas intermédias. A acção começou em Aveiro, com 173,1 quilómetros para percorrer até à meta em Anadia. A Efapel controlou as operações e terminou com a aventura do duo a 13 quilómetros do fim, ainda que no prémio de montanha de Talhadas, a 40 quilómetros da meta, o pelotão já se tivesse começado a partir.

Foi a 1500 metros da decisão que Luís Mendonça arriscou um ataque. Apesar dos últimos 200 não serem planos e da perseguição feroz que se gerou, o ciclista aguentou na frente e cortou a meta com uma escassa vantagem.

"A aproximação à meta foi a toda a velocidade e a minha equipa já estava bastante desgastada por ter controlado a etapa do início ao fim. Nos últimos 1500 metros havia uma subida que fazia doer bastante as pernas e percebi que ali ainda tinha gás suficiente para tentar disputar", explicou Luís Mendonça.

E acrescentou: "O meu colega Maurício Moreira fez a antecipação do arranque, notei dificuldade nos adversários para responder e percebi que era ali que tinha de dar a machadada certa para a vitória. Admito que a um quilómetro ainda duvidei que pudesse chegar, mas insisti e consegui finalizar da melhor maneira."

A Efapel entra em 2021 com uma equipa renovada e com António Carvalho como o líder para quando as corridas começarem a ter outras dificuldades e, claro, para a Volta a Portugal. Luís Mendonça também já estava na formação - agora com sede em Águeda - na época passada e mostrou que continua a ser aposta para os sprints. Desta feita, optou por um ataque ainda distante... e resultou!

Além destes dois corredores, foi a oportunidade de ver os reforços: Maurício Moreira, Frederico Figueiredo, Javier Moreno, Rafael Reis, Fábio Costa, Fábio Fernandes. André Domingues estava inscrito, mas não partiu para a corrida.

César Fonte (Kelly-Simoldes-UDO) e por Rafael Silva (Antarte-Feirense) - curiosamente dois ex-Efapel - fecharam o pódio. Gallego ficou com o prémio da montanha, enquanto António Ferreira (Antarte-Feirense) foi o melhor sub-23 e a formação algarvia Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel venceu por equipas.

Com este resultado, Luís Mendonça lidera a Taça de Portugal, que terá mais duas corridas: Clássica Aldeias do Xisto (25 de Abril) e Volta a Albergaria (30 de Maio). Mendonça conquistou esta competição em 2019, então ao serviço da Rádio Popular-Boavista.

A próxima corrida do calendário nacional será precisamente a Clássica Aldeias do Xisto.

De recordar que a época de estrada arrancou no sábado com o Circuito CAR Anadia, prova em que participaram as equipas de clube e que foi ganha por Francisco Marques, da Sicasal/Miticar/Torres Vedras.

Top 20 no quadro em baixo. Classificação completa neste link, via Federação Portuguesa de Ciclismo (documento PDF).


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10 de abril de 2021

Jakobsen e o sentimento de neo-pro no regresso à competição

© Deceuninck-QuickStep
Oito meses depois Fabio Jakobsen está de volta a uma corrida. Foram semanas e semanas de incerteza, mas com o ciclista e quem o apoiou a acreditar que era possível regressar e retomar o seu lugar de destaque no pelotão internacional. Talvez este último ponto ainda não seja para já, afinal o próprio admite que se sente como um neo-pro, acabadinho de chegar a este nível de ciclismo!

"Para alguém que esteve fora da competição durante vários meses é sempre algo um pouco excitante e assustador e estás um pouco nervoso. Penso que será bom regressar ao pelotão e habituar-me ao ritmo", realçou Jakobsen, em declarações que antecederam o seu regresso às corridas, este domingo, na Volta à Turquia.

"Penso que tentarei ser um ciclista normal na equipa. Sinto-me um pouco como um neo-pro", confessou, reiterando aquele que será o seu objectivo para esta primeira prova após a violenta queda no início de Agosto de 2020, na Volta à Polónia: "O meu objectivo é ajudar a equipa, terminar os oito dias [serão agora sete] e habituar-me novamente à vida de profissional. Correr, recuperar, comer, pôr todo o sistema a acostumar-se a corridas de bicicletas, que é algo que não é o mesmo que uma vida normal. Estou aqui para me habituar à vida de um ciclista profissional outra vez."

Com o trabalho de casa feito, entenda-se treino e recuperação, Jakobsen salientou como precisa de corridas para melhorar a sua forma e, claro, para se testar. O holandês está curioso para saber como irá o seu corpo reagir quando se vir na confusão e no perigo de um sprint. "Vou estar no pelotão, no quilómetro final, pela primeira vez [desde a queda]. No passado consegui fazê-lo e espero que o possa fazer outra vez. No início não vai ser tão fácil como antes, mas penso que com o tempo irá melhorar", referiu.

Apesar de confessar o quanto gostaria de alcançar uma vitória esta temporada, ainda que não saiba ao certo que outras corridas irá disputar, não hesita em dizer como o que agora mais quer é ajudar Mark Cavendish na Volta à Turquia. O britânico também anda numa senda por conquistar um triunfo, mas por razões bem diferentes. 

Além destes dois sprinters, a Deceuninck-QuickStep chamou ainda outro, Álvaro Hodeg e ainda Shane Archbold, Iljo Keisse e Stijn Steels.

Jakobsen garantiu que não se importa de ajudar Cavendish. O holandês disse que só irá ao sprint se for para ganhar e não acredita que tal possa acontecer na Turquia, onde até já ganhou uma tirada.

"O meu corpo ainda tem de se habituar às corridas, por isso, pode acontecer que nos últimos 10 quilómetros as minhas pernas estejam um pouco vazias ou a minha concentração não esteja lá porque tenho de construir tudo de novo. Acho que no início é com os outros ciclistas [companheiros de equipa]." E perante estas dúvidas de como irá o corpo reagir, Jakobsen só pensa em chegar ao fim das etapas, pois realçou como só assim poderá de facto ajudar a Deceuninck-QuickStep.

Aos 24 anos, Jakobsen dá mais um passo na retoma de uma carreira que ficou em pausa depois de na disputa de um sprint com Dylan Groenewegen, o ciclista da Jumbo-Visma ter-se desviado da sua trajectória, atirando o compatriota contra as barreiras. Estas não suportaram o choque e foi o caos.

Jakobsen passou por cima delas, caiu desamparado junto ao pórtico da meta, atingido uma pessoa que se encontrava no local. Contusão cerebral, fractura no crânio, perdeu vários dentes, cortes no rosto, lesões nas cordas vocais e contusão pulmonar... a lista de lesões assustou e o ciclista esteve alguns dias em coma induzido.

2020 prometia, com o ciclista a somar três vitórias em quatro corridas - incluindo uma etapa na Volta ao Algarve, conquistando também a camisola dos pontos -, antes e depois do confinamento. Acabaria por ficar com um quarto triunfo, pois com Groenewegen a ser desqualificado, Jakobsen ficou com o primeiro lugar naquela primeira etapa na Polónia. No meio da confusão e aparato, o ciclista cortou meta.

Groenewegen foi suspenso por nove meses, podendo regressar a 7 de Maio. O ciclista sempre lamentou o sucedido, chegando mesmo a admitir o quanto ia ser difícil regressar, numa entrevista em que não evitou as lágrimas. Mais tarde, ao conhecer a sanção, aceitou-a e considerou que o que tinha acontecido era uma "página negra" na sua carreira: "Peço desculpa, porque quero ser um sprinter justo. As consequências foram infelizmente muito sérias. Tenho a consciência disso e espero que isto tenha sido uma lição para todos os sprinters."

Já quanto à situação das barreiras, que levantaram muitas dúvidas dado a forma como se espelharam pela estrada aquando do embate de Jakobsen, provocando inclusive mais quedas, a organização não sofreu qualquer sanção.

A Deceuninck-QuickStep vê assim regressar um dos ciclistas que mais vitórias vinha conquistando, apesar da sua juventude e agora aguarda-se pela outra notícia: quando veremos Remco Evenepoel em acção? Tem o Giro no seu calendário, mas até 8 de Maio (quando arranca a grande volta), ainda não há notícias em que corrida irá voltar, depois da queda na Lombardia.

Nota: A primeira etapa da Volta a Turquia foi dada como cancelada devido ao mau tempo na partida, mas a organização acabou por alterar o local e começar assim a corrida como previsto este domingo.

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Francisco Marques abre temporada de estrada com vitória num sprint a dois

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Coube às equipas de clube abrir a temporada de estrada em Portugal e Francisco Marques deu a vitória à Sicasal/Miticar/Torres Vedras, no Circuito CAR Anadia. Foi uma longa espera para os jovens destas formações regressarem à competição, que escasseou em 2020. "É fantástico poder dar continuidade nas corridas ao treino que nunca deixámos de fazer. E é uma sensação espectacular vencer logo na primeira prova da época", afirmou o ciclista.

Depois de duas temporadas na Crédito Agrícola-Jorbi-Delta Cafés, o corredor de 21 anos mudou-se para uma formação que tem colocado alguns dos seus atletas em equipas de elite e é uma das mais fortes do escalão de sub-23. E quando, este sábado, a 40 quilómetros da meta no circuito com 129 (seis voltas), nove ciclistas destacaram-se, a Sicasal/Miticar/Torres Vedras contou com Francisco Marques e Diogo Narciso.

Bernardo Jorge (Adega Mor/GDM/CACB), Ivo Pinheiro e Quévin Sequeira (Almodôvar/Delta Cafés/Crédito Agrícola), Pedro Crispim (Bicicletas Rodríguez Extremadura), João Silva (Escribano Sports Team), Rúben Silva (Fortunna/Maia), Tiago Sousa (Porminho Team Sub-23), completaram o grupo que, depois de várias movimentações no pelotão, finalmente conseguiu que houvesse uma fuga que acabaria por singrar. Mas não na totalidade. Seis resistiram até à subida final, quando Ivo Pinheiro arrancou, com Marques a ser o único com capacidade para responder. Foi mais forte no sprint, em Sangalhos.

"Foi uma competição muito disputada, teve sempre um bom ritmo e houve vários ataques. A duas passagens do final consegui entrar na fuga. Foi uma fuga em que nos demos todos bem, conseguimos ganhar vantagem e mantivemos cerca de 40 segundos sempre até ao fim. Depois, na linha de meta, consegui levar a melhor e ganhar", referiu o vencedor daquele que foi o primeiro dia do calendário de estrada em todas as categorias.

Com a pandemia a provocar tantos cancelamentos e adiamentos de corridas, Francisco Marques deixou uma palavra àqueles que tornam possível a equipa continuar o trabalho de formação de jovens ciclistas: "É muito bom poder contar com o apoio dos patrocinadores, do staff da equipa e de todos os meus familiares e amigos. Sem esse apoio nada disto era possível."

O pódio foi fechado por Rúben Silva (Fortunna-Maia), que foi também o vencedor da juventude, visto ser sub-23 de primeiro ano. A Sicasal/Miticar/Torres Vedras conquistou ainda a classificação da montanha com Francisco Guerreiro e também ganhou por equipas.

Top 20 no quadro em baixo. Classificação completa neste link, via Federação Portuguesa de Ciclismo.

Este primeiro fim-de-semana de corridas de estrada fica completo este domingo com a elite a ter finalmente a sua estreia em 2021. A Prova de Abertura Região de Aveiro começa precisamente em Aveiro às 12:00, com a meta instalada em Anadia. 173,1 quilómetros espera ao pelotão, naquela que será a primeira prova da Taça de Portugal.

De referir que o Circuito CAR Anadia também contou para esta competição, no escalão de sub-23. Clássica Aldeias do Xisto (25 de Abril) e Volta a Albergaria (30 de Maio) completam o calendário desta competição.

Em baixo, o perfil da corrida deste domingo.


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9 de abril de 2021

Todos os caminhos vão dar a Anadia no muito esperado arranque de época

© João Fonseca Photographer
Vamos a isto! Termina a espera. O calendário nacional de ciclismo vai começar este fim-de-semana e não só na estrada. Ninguém sequer se atreve em falar de normalidade, mas 10 e 11 de Abril marcam a retoma há muito esperada por atletas, directores desportivos, adeptos e todos aqueles ligados às diferentes vertentes. Cabe às equipas de clube abrirem a época de 2021 na estrada, já que o ciclocrosse foi a única vertente que conseguiu proporcionar alguma competição este ano.

Começando precisamente pelas equipas de clube, tão sacrificadas durante todo o imbróglio competitivo criado com a pandemia. Na temporada passada praticamente não tiveram direito a provas, que em tempos normais já escasseavam, sendo que grande parte da época correm com a elite. Para abrir a temporada, a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) proporcionou a estas formações a sua corrida, o Circuito CAR Anadia.

Serão 129 quilómetros no circuito que no ano passado recebeu a chamada Prova de Reabertura, quando se verificou o regresso à competição após o primeiro confinamento. Então foi um contra-relógio, agora será uma prova em linha.


As equipas de clube nunca têm vida fácil para se manterem em acção e ao ver a lista de inscritos que está publicada no site da FPC esta sexta-feira, é impossível não dar pela falta do Clube de Ciclismo José Maria Nicolau, que suspendeu a sua actividade este temporada.

A maioria dos ciclistas das equipas de clube são sub-23, pelo que terão em Anadia a oportunidade de celebrar uma vitória, visto que não irão correr com a elite. É sempre diferente ser o melhor sub-23 e ser o primeiro a cortar a meta!

Aqui fica a lista de inscritos provisória (o texto continua por baixo do quadro).


Quanto à elite, a Prova de Reabertura Região de Aveiro vai para a estrada no domingo, com 173,1 quilómetros para enfrentar entre Aveiro e Anadia. O desejo dos ciclistas de regressarem à competição é muito, pois a maioria não compete desde a Volta a Portugal, que terminou a 5 de Outubro. A Efapel participou no fim-de-semana passado no Grande Prémio Miguel Indurain, em Espanha, mas as restantes formações de elite portuguesas já têm muita fome de competição. Ainda não é conhecida a lista de inscritos.



Ambas as corridas deste fim-de-semana contarão para a Taça de Portugal, que terá mais duas provas: Clássica Aldeias do Xisto (25 de Abril) e Volta a Albergaria (30 de Maio).

Agora é esperar que o calendário refeito após o segundo confinamento possa realizar-se, com corridas agendadas até Setembro, além do habitual final de temporada na pista de Tavira, a 5 de Outubro.

Pode conferir todo o calendário de estrada neste link. No entanto, há que destacar que no domingo também haverá BTT e Downhill, com outras categorias além da elite a poderem competir, algo que não era permitido até recentemente.

No domingo disputa-se a primeira prova da Taça de Portugal de Downhill presented by Shimano, também pontuável para o ranking UCI, em São Brás de Alportel. A pista do Arimbo, com 1950 metros de descida, será o palco da prova, que contará com ciclistas de seis nacionalidades e de várias categorias etárias, dos infantis aos masters. A primeira manga corre-se às 11:00, enquanto a final irá desenrolar-se a partir das 14:30.

Nesse mesmo dia, Valezim, no concelho de Seia, recebe a Maratona BTT da Esperança. O nome diz tudo. É um evento que quer passar uma mensagem para os tempos que vivemos, sendo uma corrida de cariz regional.

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Qual a melhor camisola para a Jumbo-Visma no Tour? Pode votar

Excepcionalmente, a Jumbo-Visma irá mudar a sua habitual camisola amarela durante a Volta a França. Não sendo nada de inédito, com outras formações a já o terem feito, a equipa holandesa resolveu tornar esta alteração especial, envolvendo os fãs na escolha. Foram criados três modelos que estão agora a votos. Mas há mais, as camisolas vão incluir os nomes de adeptos da Jumbo-Visma.

A opção por mudar a camisola durante o Tour não tem tanto a ver com marketing, mas mais para evitar que a camisola amarela da liderança da corrida se confunda com a da equipa.

No ano passado, Primoz Roglic vestiu a amarela durante metade da prova, até ao dramático e inesquecível contra-relógio que levou Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) a surpreender e conquistar a Volta a França.

O objectivo da Jumbo-Visma é exactamente o mesmo. Colocar Roglic de amarelo, mas à partida, em Brest, será em tons mais escuros que toda a equipa irá apresentar-se. A votação começou no dia 7 e o modelo Rapid Rebel está em vantagem (modelo do meio na fotografia), segundo os resultados que a equipa vai mostrando na sua conta de Twitter. Há ainda a Black Bee (esquerda) e Transition (direita).

Qual é a sua preferida? Para votar basta ir ao site da Jumbo-Visma (aqui fica o link) até ao dia 15 (quinta-feira). Na sexta será anunciada a camisola preferida dos adeptos, sendo que até 28 de Abril será possível comprar a edição especial.

No que diz respeito a equipas que, para evitar que as suas camisolas tirassem destaque à amarela do líder da corrida, mudaram os equipamentos no Tour, temos exemplos de formações bem conhecidas da história do ciclismo. ONCE de Alex Zülle e Joseba Beloki, Mercatone Uno de Marco Pantani e, recuando um pouco mais no tempo, a KAS.

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8 de abril de 2021

Juventude e ambição totalmente em português

Fotografia: Facebook LA Alumínios-LA Sport
A contagem decrescente está quase a terminar para o arranque da época de 2021 em Portugal, este fim-de-semana. E faltava apresentar uma equipa das nove Continentais lusas: a LA Alumínios-LA Sport. Continua a apostar num plantel 100% português e com muita juventude. Um dos reforços é um jovem de... 41 anos! Sérgio Paulinho será a voz da experiência numa formação que viu sair duas das suas figuras: Emanuel Duarte e David Ribeiro.

O director desportivo Hernâni Brôco continua fiel à filosofia deste projecto em ajudar os mais novos na adaptação ao mais alto nível no pelotão nacional, sempre procurando que tal seja feito com a ambição de conquistar vitórias. Foi o que aconteceu em 2019, com a conquista da camisola da juventude da Volta a Portugal e da geral da Volta a Portugal do Futuro.

Claro que estes bons resultados fazem com que seja inevitável que os jovens talentos dêem o salto, como aconteceu com o autor das referidas conquistas. Emanuel Duarte vai prosseguir a sua carreira na Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel.

André Ramalho (25 anos), Marvin Scheulen (24) e Gonçalo Leaça (23) já tinham o seu papel de destaque, mas serão chamados a ainda mais responsabilidade. Da equipa do Tavira chega Marcelo Salvador, à procura de mais oportunidades depois de um 2020 muito difícil dada à falta de competições e que não permitiu ao jovem de 24 anos mostrar-se na sua primeira época na elite, depois de três temporadas na Sicasal-Constantinos.

Na expectativa de uma temporada com mais corridas, Brôco irá querer ver a evolução de ciclistas como Rodrigo Caixas (20 anos), João Macedo (19), Rafael Gouveia (19) e João Medeiros (20). Uma das principais curiosidades será Miguel Salgueiro. No arranque de 2020 este atleta foi aqui apontado como um dos ciclistas a seguir com atenção. Essa avaliação mantém-se.

Aos 21 anos, é um todo o terreno no que diz respeito a competir em várias vertentes e sempre competitivo. Foi terceiro no Nacional de ciclocrosse, com uma queda a prejudicar o objectivo de lutar pelo título. Porém, é na estrada que Salgueiro mais quer afirmar-se. Nas poucas provas de 2020, Brôco contou sempre com este corredor, que não desiludiu.

Ainda estando numa fase de evolução, uma época mais normal em termos de corridas será importante para melhor perceber no que poderá tornar-se este ciclista, sempre pronto a lutar por vitórias, mas também a trabalhar para a equipa. Não sabe correr mal.

Com o mais velho entre os jovens a ter 25 anos, percebe-se a razão por que Sérgio Paulinho é muito bem-vindo, no regresso a uma equipa com o patrocinador que representava quando foi aos Jogos Olímpicos conquistar a medalha de prata (Atenas2004) e que acabaria por ditar o salto para uma grande carreira internacional. Então a equipa era a LA-Pecol.

A sua experiência será essencial durante as corridas, perante companheiros tão jovens e muitos ainda a adaptar-se a competir na elite nacional. Ensinar, aconselhar, guiar será esse o principal papel de Sérgio Paulinho, que depois de na Efapel ter tentado assumir-se como um líder, mas ter preferido ser novamente um gregário importante, será agora um referência na aprendizagem dos ciclistas da LA Alumínios-LA Sport.

Não significa que não se veja Paulinho tentar uma vitória. Afinal este deverá ser o seu último ano na brilhante carreira e certamente que sair com um triunfo, seria bem especial. E desta LA Alumínios-LA Sport espera-se isso mesmo: a procura por bons resultados, sendo uma equipa que muito se vê em fugas, sempre pronta a assumir algum risco para alcançar o sucesso.

2020 não correu de feição, principalmente depois de um 2019 que marcou esta nova era do projecto. Para a nova temporada - que para a elite arranca no domingo, na Prova de Abertura Região de Aveiro -, a vontade é de fazer mais e melhor e continuar o caminho de formar jovens ciclistas.

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4 de abril de 2021

O espectáculo do inesperado

© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Van der Poel, Van Aert, Alaphilippe. Van der Poel, Van Aert, Alaphilippe. Três nomes ditos/escritos até à exaustão nos dias que antecederam a Volta a Flandres. O trio que em 2020 só não disputou a vitória porque o francês chocou com uma das motas, centrava quase toda a atenção. Na época passada houve aquele emocionante sprint entre os rivais do ciclocrosse, agora também na estrada e no pavé e muros da Flandres. Meses depois, novo sprint, mas apenas com Van der Poel do referido trio presente, com um Kasper Asgreen que quase parecia condenado a ver o holandês conquistar pela segunda vez consecutiva este monumento. Como o ciclismo é bonito precisamente porque consegue ser tão imprevisível. Asgreen foi o vencedor contra as expectativas do que parecia que só poderia acontecer naquele último quilómetro.

Quando arranca Van der Poel? Era dúvida. Asgreen, dinamarquês de sangue frio, aguentou, aguentou, aguentou. A 250 metros da meta, Van der Poel arrancou, Mas não foi aquele ciclista que quando acelera deixa todos sufocados. Asgreen, esse, mostrou porque é mais um homem de clássicas de enorme qualidade da Deceuninck-QuickStep (Elegant-QuickStep na Volta a Flandres). Foi frio não só naquele último quilómetro, mas desde que Van der Poel deixou Van Aert para trás no Kwaremont, que soube gerir o seu esforço e teve capacidade para resistir ao ritmo elevado que o holandês tanto gosta de impor.

Sim, Van der Poel (Alpecin-Fenix) falhou ao não guardar um pouco de força para um eventual sprint. Mas todo o mérito está no Asgreen, que dificilmente se poderá dizer que era apenas segunda escolha, atrás do líder assumido, Julian Alaphilippe. Foi um ataque do campeão dinamarquês que tirou o francês da decisão final. Alaphilippe não estava no seu melhor. Asgreen estava.

Seria mais expectável ver Asgreen tentar um ataque de longe, como fez na E3 Saxo Bank Classic, corrida que conquistou há pouco mais de uma semana. Asgreen assumiu o risco de ir a um sprint com a "máquina" Van der Poel. Na Flandres já havia sido segundo em 2019 e no ano passado venceu a Kuurne-Bruxelles-Kuurne, deixando atrás de si Giacomo Nizzolo, Alexander Kristoff e Fabio Jakobsen. Sabe o que é ganhar neste tipo de corridas. Mas nenhuma é uma Volta a Flandres.

Aos 26 anos, já havia demonstrado que era mais um ciclista que a Deceuninck-QuickStep contava para grandes momentos. Não ficou na sombra de Alaphilippe e, conquistando um monumento do pavé - que o seu director, Patrick Levefere, não queria nem pensar ficar novamente em branco em 2021 - sobe o seu estatuto, a sua cotação e, principalmente, fica com um triunfo para a história e para mais tarde recordar. Bateu Van der Poel... ao sprint!

Van der Poel pode estar também ele a construir a sua carreira na estrada. Mas a forma como Chegou e conquistou vitórias, somou exibições impressionantes, já o tornam numa referência. Na Flandres talvez fosse mesmo "a" referência, à frente de Van Aert. Afinal era o vencedor de 2020 e 2021 está a correr-lhe bastante bem. Porém, também esta época já demonstrou que esta opção de correr à base de ataques de longe, com acelerações de uma força que não deixa ninguém indiferente, tem o seu lado negativo.

A forma como acabou por se sentar no sprint e viu Asgreen vencer não é algo novo. Van der Poel dá espectáculo - aquele final da Strade Bianche é um excelente exemplo, ou a forma como ganhou uma etapa no Tirreno-Adriatico -, mas por vezes paga caro o não ter medo de assumir essa responsabilidade. É assim que compete e vai continuar, mas esta é uma derrota que custará digerir, bem mais do que os Mundiais de Yorkshire, quando parecia estar com tanta força e depois, não aguentou até ao fim. Vai digerir a derrota na Flandres como tão bem sabe. Irá à procura de uma vitória na próxima corrida. Sabe "cair de pé", o que também é importante. Não teve problema em dizer que Asgreen foi o mais forte e que assim não custa tanto perder.

Asgreen bateu ao sprint um ciclista que poderá estar a caminho de se tornar num dos grandes da história. Mas o dinamarquês também já conseguiu o seu lugar ao ganhar um monumento, contribuindo para que o seu país esteja a tornar-se em mais um caso sério de sucesso no ciclismo actual.

Que se vejam e revejam as imagens da vitória deste domingo, mas que não se esqueça que o vencedor de uma Volta a Flandres não se decide apenas pelo que faz no último quilómetro, ou neste caso, nos últimos 250 metros. Foram 254 quilómetros e durante muitos, Asgreen demonstrou que podia ser o melhor. E foi.

Wout van Aert (Jumbo-Visma) desiludiu, mas os belgas viram o veterano Greg van Avermaet (AG2R-Citroën) fechar o pódio. Pela quarta vez conseguiu um lugar entre os três primeiros, mas nunca subiu ao lugar mais alto. Aos 35 anos, a Flandres parece ser cada vez mais aquela vitória que lhe escapou na carreira. Contudo, não parece estar disposto a desistir em tentar, mesmo que a geração mais nova esteja a "roubar" toda a ribalta.

Para terminar, os portugueses. Rui Oliveira (UAE Team Emirates) esteve ao serviço de Kristoff e Matteo Trentin. Não foi uma corrida feliz para a equipa. O ciclista de Gaia foi 56º, a quatro minutos de Asgreen. André Carvalho continua a receber a confiança da Cofidis nesta fase das clássicas, no seu ano de estreia ao mais alto nível. Cortou a meta 13 minutos depois do vencedor, na 111ª posição. A aprendizagem continua e nas principais corridas do pavé.

Classificação completa da 105ª Volta a Flandres, via ProCyclingStats.

Entre as senhoras, Annemiek van Vleuten (Movistar) venceu a sua segunda Volta a Flandres, dez anos depois da primeira. E como? Ao seu estilo. Quando arranca faz autênticos contra-relógios e é tão difícil de a apanhar. Aos 38 anos, a holandesa campeã da Europa em título demonstra porque a equipa espanhola apostou nela para liderar a equipa (classificação completa, via ProCyclingStats).

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