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Sagan procura a segunda vitória e Boonen terá a última oportunidade para tentar ser o ciclista com mais triunfos na Volta a Flandres (Fotografia: © Bora-Hansgrohe/Stiehl Photography) |
Peter Sagan, Greg van Avermaet, uma super Quick-Step Floors, Alexander Kristoff... os actores principais não vão faltar à chamada de um dos monumentos mais icónicos do ciclismo: a Volta a Flandres. Este ano regressa o Kapelmuur, cinco anos depois, mas um dos muros mais famosos do ciclismo não terá a influência de outrora, pois aparece muito longe da fase decisiva da corrida. A organização optou por manter os últimos 75 quilómetros praticamente intactos, comparativamente com 2016, quando Peter Sagan venceu o seu primeiro monumento e único, até agora. Corridas aborrecidas não são hábito na Volta a Flandres e este domingo promete novamente muito espectáculo, tendo em conta a ambição dos candidatos.
Com Tom Boonen a uma semana de se retirar, o belga tem novamente o objectivo de se tornar o rei da Volta a Flandres. Em 2016, ele e Fabian Cancellara procuraram essa distinção, ou seja, queriam somar a quarta vitória no monumento, marca que nunca ninguém alcançou. O belga ficou a um minuto de Sagan, que ao arrancar deixou para trás o suíço, que viu depois Sep Vanmarcke ter um acto de enorme respeito, ao não disputar o sprint, oferecendo o segundo lugar ao Spartacus que estava no seu último ano como profissional.
Desta feita é Boonen que está a despedir-se e há muitas dúvidas como o ciclista de 36 anos irá apresentar-se. Até começou bem a temporada com uma vitória numa etapa na Volta a San Juan (tornou-se no primeiro ciclista a ganhar numa bicicleta com travões de disco). Porém, a temporada de clássicas não está a ser nem de perto nem de longe como o esperado, com Boonen a nem conseguir entrar na discussão pelas corridas. É uma ambição assumida acabar com um triunfo no Paris-Roubaix, que a concretizar-se será o quinto. Mas também a Volta a Flandres é um objectivo e Boonen já prometeu que irá dar tudo para se apresentar melhor do que nas clássicas até ao momento.
A Quick-Step Floors oferece ao belga uma equipa fortíssima para ajudar Tom Boonen. Julien Vermote, Iljo Keisse, Niki Terpstra, Zdenek Stybar, Yves Lampaert e Mateo Trentin estarão ao lado do belga, assim como Philippe Gilberto. No entanto, o campeão da Bélgica chega à Volta a Flandres numa forma que há muito que não se via. Venceu os Três Dias de Panne, depois de um segundo lugar na corrida Através da Flandres e na E3 Harelbeke. Sendo um homem que gosta mais da semana das Ardenas, o próprio já admitiu que redescobriu o gosto pelo pavé e se não terá problemas em trabalhar para Boonen, Gilbert será certamente uma segunda opção para a equipa, caso o líder não esteja à altura dos acontecimentos.
Sendo Tom Boonen um senhor nas clássicas, a verdade é que nesta altura as principais estrelas são Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) e Greg van Avermaet (BMC). Inevitavelmente as atenções vão estar centradas nos dois. Sagan venceu em 2016, mas este ano ainda só conquistou uma clássica enquanto o rival está imparável e conquistou a Omloop Het Nieuwsblad, a E3 Harelbeke e a Gent-Wevelgem. Mais do que nunca a confiança está em alta para Avermaet, que sente que chegou o momento de finalmente ter o seu monumento.
Sagan tem andado a tentar passar a mensagem aos adversários que não irá mais andar a "puxar" outros ciclistas, para depois ser batido ao sprint. Praticamente abdicou de lutar em duas clássicas, mas certamente que na Volta a Flandres dará o tudo por tudo para confirmar as expectativas criadas, nomeadamente de se vir a tornar num dos ciclistas com mais vitórias em monumentos. Escapou-lhe a Milano-Sanremo para um fenomenal Michal Kwiatkowski (Sky), mas o bicampeão do mundo quer demonstrar todo o seu poderio na Bélgica e, naturalmente, no Paris-Roubaix. a 9 de Abril.
Aos suspeitos do costume juntam-se... mais suspeitos do costume! Sep Vanmarcke (Cannondale-Drapac) está a viver a fase que Avermaet passou até há dois anos. O belga consegue estar na luta pelas vitórias, tem alguns pódios, mas só um triunfo: na Omloop Het Nieuwsblad em 2012. Já Alexander Kristoff (Katusha-Alpecin) sabe o que é ganhar a Volta a Flandres (2015), mas no ano passado e neste tem passado ao lado das principais corridas. A vitória numa etapa nos Três Dias de Panne foi como um murro na mesa para libertar alguma frustração que estava a acumular, mas não retira pressão ao norueguês que está a ver esta fase das clássicas do pavé acabar e não tem conseguido comprovar sequer o seu estatuto de candidato.
A par da Quick-Step Floors, a Trek-Segafredo leva também ela uma equipa muito forte e com mais do que uma opção para tentar ganhar. A desilusão perante os recentes resultados foi tornada pública pelo director desportivo Dirk Demol. É o tudo por tudo na Volta a Flandres e Paris-Roubaix. John Degenkolb é o líder indiscutível, mas tal como a equipa belga, a Trek-Segafredo tem um plano B, neste caso chamado Jasper Stuyven. Edward Theuns e Fabio Felline também podem fazer mais do que só trabalhar para Degenkolb se for necessário. Gregory Rast, Kiel Reijnen, Boy van Poppel e um dos principais homens de confiança de Degenkolb, Koen de Kort, completam os eleitos da formação americana.
Oliver Naesen (AG2R) é a mais recente estrela belga para as clássicas e há uma grande curiosidade para ver o que poderá fazer depois dos bons resultados nas corridas do pavé que se realizaram até agora. A outra equipa francesa, a FDJ, aposta em Arnaud Démare, enquanto a Sky irá a jogo a pensar em Ian Stannard e Luke Rowe. A Dimension Data terá um Edvald Boasson Hagen em muito boa forma como principal referência. A Lotto Soudal repete a aposta em Tiesj Bennot e Jurgen Roelandts. Já a Lotto-Jumbo espera que Lars Boom reapareça, pois os anos estão a passar e começa a parecer que aos 31 anos o melhor do ciclista já foi visto.
Estarão dois portugueses em prova, ambos da Movistar. Nelson Oliveira está de regresso às clássicas para apostar nos dois monumentos do pavé, enquanto Nuno Bico continua a ser chamado pela formação espanhola, sendo cada vez mais claro que os responsáveis da Movistar acreditam no português e estão a preparar o ciclista para o futuro dando-lhe experiência em algumas das principais competições do calendário.
Serão 260 quilómetros (mais cinco que em 2016), com 18 muros, uma nova partida - em Antuérpia - e a meta em Oudenaarde. Além do Kapelmuur (chega a ter 20% de inclinação), esta ano teremos ainda o Ten Bosse e o Pottelberg, com Molenberg, Valkenberg e Kaperij a saírem do percurso.
Aviso: ciclista que evitar o pavé será desqualificado
Tem sido uma das questões das últimas semanas no pelotão internacional. Os ciclistas aproveitam qualquer oportunidade para não ter de passar pelo pavé. Bermas menos acidentadas, ciclovias e até passeios têm servido para evitar o empedrado. Mas quando se está a falar de clássicas do pavé, a ideia é que os corredores mostrem as suas qualidades num terreno tão complicado e não as qualidades em tentar evitá-lo. Nos Três Dias de Panne 15 ciclistas foram multados em 200 francos suíços (cerca de 187 euros), entre eles o eventual vencedor Philippe Gilbert.
Logo na primeira clássica, a Omloop Het Nieuwsblad, pediu-se a desqualificação dos três primeiros classificados, pois Greg van Avermaet, Peter Sagan e Sep Vanmarcke aproveitaram os passeios para evitar o pavé. A organização não cedeu ao pedido e manteve o resultado da corrida.
O regulamento da UCI prevê a multa e/ou a desqualificação e, por isso mesmo, o comissário Didier Simon afirmou ao jornal belga Het Laatste Nieuws que se vir algum ciclista a evitar o pavé na Volta a Flandres, irá exclui-lo da corrida, independentemente da importância ou do currículo que tenha. Alguns directores desportivos estão a defender que sejam colocadas barreiras físicas para evitar que os ciclistas tentam "fugir" ao pavé, oferecendo também uma maior segurança a quem estiver a assistir à prova.
»»Resultados da Trek-Segafredo nas clássicas estão a desiludir e já se sente a falta de Cancellara««