30 de novembro de 2020

Vozes da experiência mudam de equipa mas continuam a competir


2020 não foi o melhor dos anos para concretizar muitos dos planos! No que diz respeito ao ciclismo, um dos exemplos está a ser o adiamento do final de carreira de alguns atletas. Por cá, Gustavo Veloso já havia dito que queria competir mais um ano (vai para a equipa Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), depois de ficar novamente muito perto de conquistar a sua terceira Volta a Portugal. Entretanto, juntou-se mais um veterano, este com uma carreira internacional de muito respeito: Sérgio Paulinho ainda não vai dizer adeus ao ciclismo. E depois há Tiago Machado. No seu caso, nem se ouve falar de terminar carreira. O que mais quer é continuar a correr, sempre com o seu estilo muito próprio e que o tornam num dos ciclistas mais populares do pelotão nacional.

Em comum, Paulinho e Machado têm o terem optado por regressar às origens. O primeiro vai mudar-se para a LA Alumínios-LA Sport, enquanto o segundo vai novamente trabalhar com José Santos na Rádio Popular-Boavista. Os papéis serão diferentes, mas igual será o prestígio que continuam a trazer ao ciclismo nacional, sendo dois ciclistas com uma longa carreira no estrangeiro.

A Efapel vê sair dois experientes corredores e esta experiência é um ponto muito importante para a LA Alumínios-LA Sport. Esta época, praticamente todos os ciclistas tinham menos de 25 anos, excepção feita a Bruno Silva (32), ciclista contratado precisamente para ser uma voz de comando entre tanta juventude. Sérgio Paulinho já entrou nos 40, tornando-se em mais um exemplo de longevidade na modalidade.

O director desportivo Hernâni Brôco é o primeiro a admitir a relevância de contar com um ciclista com o currículo de Sérgio Paulinho. Mas claro, não significa que não esteja aberta a porta a lutar por vitórias. O ciclista regressou a Portugal em 2017, depois de 12 épocas ao mais alto nível. Deu o salto no ano seguinte a conquistar a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, tendo nessa temporada representado a então LA-Pecol.

No World Tour tornou-se num dos melhores gregários, sendo um elemento de confiança para Alberto Contador, por exemplo. Venceu uma etapa no Tour e na Vuelta, mas foi como homem de trabalho que mais se destacou. Quando a Tinkoff acabou, Paulinho regressou a Portugal. Na Efapel procurou assumir um papel de líder, para lutar pela Volta a Portugal (e não só). Não foi uma transformação bem sucedida e acabou por ser novamente gregário, a função em que se sente tão bem. Em 2018, conseguiu um triunfo, numa etapa do Grande Prémio Abimota.

Sempre foi um ciclista de "low profile". O seu trabalho até pode passar despercebido à primeira vista, mas se o seu líder ganhar, sempre sentiu que a missão estava cumprida. Agora, entre a juventude da LA Alumínios-LA Sport, o seu trabalho volta a ser imperceptível à primeira vista.

Contudo, no papel de quem tem muito a ensinar, Brôco espera que Paulinho possa dar uma ajuda na evolução de ciclistas que nesta nova era da equipa tiveram um 2019 muito positivo e um 2020 longe do esperado, ainda que seja um ano que pouco se possa dizer sobre a prestação das equipas nacionais, devido às escassas corridas disputadas. A continuidade de Sérgio Paulinho, mesmo que seja apenas por mais um ano, é uma excelente notícia.

Quanto a Tiago Machado, é um regresso já esperado à estrutura de José Santos. Esteve cinco épocas no Boavista quando passou a profissional, antes de ir para o estrangeiro, com oito anos no World Tour e um no segundo escalão. Nunca escondeu a possibilidade de um dia voltar à agora Rádio Popular-Boavista, mas quando decidiu prosseguir a sua carreira em Portugal em 2019, escolheu o então Sporting-Tavira e depois a Efapel.

Na formação algarvia não foi o líder que o próprio queria ser, principalmente na Volta a Portugal. É um desejo ganhar esta corrida, mas têm estado longe de sequer lutar por um pódio. Na Efapel, sabia que não teria, em circunstâncias normais, esse papel e teve de ajudar Joni Brandão.

Na Rádio Popular-Boavista, Machado (35 anos) poderá ser mais aquele ciclista que bem se conhece. Irreverente, sempre pronto a animar corridas e para quem não há impossíveis. Em representação da Selecção Nacional, venceu em 2018 a Prova de Abertura Região de Aveiro (estava na Katusha-Alpecin), tendo pedalado sozinho durante 80 quilómetros! Um bom exemplo de como para Machado há que arriscar para ganhar.

Na equipa de José Santos corre-se muito assim. Os ciclistas têm muitas vezes mais liberdade, mesmo que haja um líder. Machado encaixa na perfeição na mentalidade da Rádio Popular-Boavista e será um corredor com caminho livre para ir à procura de vitórias. 

Um regresso em 2021

Na próxima época irá regressar a Portugal mais um experiente ciclista. Ricardo Vilela, depois de seis anos no estrangeiro, sempre no nível Profissional Continental (Caja Rural, Manzana Postobón e Burgos-BH) estará de volta à última equipa que representou antes de sair do país: a W52-FC Porto (então a OFM-Quinta da Lixa).

Aos 32 anos será mais um reforço de luxo para a formação que domina o pelotão nacional, podendo ser uma opção tanto para liderança, como para ajudar companheiros, visto esta ser uma equipa com mais chefes-de-fila. Não esquecer que Joni Brandão trocará a Efapel pela formação azul e branca para se juntar a Amaro Antunes e João Rodrigues.

26 de novembro de 2020

Daniela Reis, o nome que marcará a história do ciclismo feminino português

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Um nome a não esquecer: Daniela Reis. Aos 27 anos coloca um ponto final numa carreira que ficará para a história do ciclismo português feminino. Daniela quebrou todas as barreiras, ultrapassou todos os obstáculos para chegar onde parecia ser impossível. Daniela esteve ao mais alto nível mundial. Foi pioneira. Além fronteiras perseguiu um sonho que continua a ser tão difícil de concretizar para as raparigas que desejam alcançar o sucesso mundial. Mas se hoje o desejam cada vez mais, muito se deve a Daniela Reis, que, ao chegar tão longe, mostrou o caminho que está a ser seguido por mais jovens ciclistas.

É uma referência e não deixará de o ser só porque agora termina a carreira. No entanto, não era assim que se gostava de ver. "Ser referência... de certa forma é um bocado de pressão. Eu não quero ser diferente. Eu vou para as corridas para dar o meu melhor, em tudo o que faço. Em cima de tudo fico contente por haver mais portuguesas a acreditar que podem lá chegar e aos poucos sermos mais a correr lá fora. Acreditámos e conseguimos", disse numa entrevista há dois anos ao Volta ao Ciclismo (pode ler aqui).

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Ser ciclista significou muito sacrifício para Daniela Reis. Não o fazia pelo dinheiro, pois até trabalhava na padaria durante o Inverno para "ganhar uns trocos", como dizia. O ciclismo era a sua paixão. Sempre pareceu que estar preparada para continuar a vencer os desafios que lhe surgiam (e não eram poucos), mesmo quando esses foram recuperar de quedas graves. E teve algumas! Aquando da entrevista referida, Daniela estava de regresso depois de um problema de saúde. Nesse fim-de-semana, em Belmonte (2018), foi grande a emoção quando se sagrou campeã nacional de contra-relógio e depois de fundo. Mais uma vez! Foram cinco e quatro, respectivamente, os últimos em 2019.

A Lares-Waowdeals (mudou depois de nome para Doltcini-Van Eyck Sport) foi a equipa que levou Daniela Reis a outro patamar. Esteve presente em algumas das principais corridas internacionais, como a Volta a Flandres, uma das suas preferidas, Giro, La Course by Le Tour de France, Madrid Challenge by Vuelta... A lista é grande. Ser líder? Não. Considerava que o seu maior potencial estava em ser uma gregária de qualidade. Era a função em que se sentia mais à vontade.

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Este ano representou a Ciclotel, mas, pouco depois de competir no Le Samyn, Daniela Reis teve um acidente durante um treino. Um carro atravessou-se à sua frente e a ciclista ficou com vários ferimentos, o que implicou mais uma estadia no hospital. 2020 acabaria por ser o ano que se sabe, com uma pandemia a complicar e muito a realização de corridas. Daniela Reis nem nos Nacionais surgiu. Merecia uma última corrida... Uma despedida diferente.

Com a selecção esteve em Mundiais e Europeus e tornou-se assim num modelo a seguir para ciclistas como Maria Martins, também ela também já numa equipa estrangeira (Drops). Raquel Queirós, Daniela Campos são mais dois nomes que se espera que alcancem um patamar elevado. Com os anos, espera-se que mais e mais mulheres cheguem longe, sigam o exemplo de Daniela Reis e possam ir ainda mais além, ajudando o ciclismo feminino português a crescer.

Daniela Reis sai de campo, mas deixa uma influência profunda no ciclismo nacional feminino, contribuindo para uma mudança de mentalidade na construção de uma carreira ao mais alto nível. Contribuiu para mudar a aposta na modalidade, mesmo sabendo que no feminino ainda faltam dar muitos passos rumo à consolidação do ciclismo em Portugal. Mas Daniela mostrou o caminho. Agora é segui-lo.

»»Finalmente a medalha de ouro para Ivo Oliveira««

»»Iuri Leitão é campeão europeu de scratch«««

14 de novembro de 2020

Finalmente a medalha de ouro para Ivo Oliveira

© Bettini Photo

Era a medalha que faltava a Ivo Oliveira. Depois de conquistar duas de prata em Europeus e uma em Mundiais, na categoria de elite, o ciclista português conquistou finalmente a de ouro na perseguição individual. É uma referência na pista em Portugal desde os seus tempos de formação e agora tem o título que lhe dá ainda mais destaque neste crescimento da modalidade no país, para o qual muito contribuíram as vitórias de Ivo e, claro do seu irmão gémeo, Rui.

© Bettini Photo
"Estava farto de segundos lugares. Quando passei à final meti na cabeça que tinha de ser hoje o dia de ganhar a medalha de ouro. Sabia que tinha de gerir bem o esforço e foi o que fiz. Ia olhando pelo canto do olho para controlar o adversário. Também estava a sentir-me bem e a conseguir manter o andamento. Quando ouvi gritar que o italiano estava a quebrar, senti que podia ser o meu dia", contou Ivo Oliveira.

Nos Europeus que estão a decorrer em Plovdiv, na Bulgária, Ivo Oliveira começou por bater a melhor marca nacional, que já lhe pertencia. Completou os quatro quilómetros em 4:07.528 minutos, melhorando em 3,301 segundos o anterior recorde, estabelecido a 28 de Fevereiro. No entanto, na qualificação, foi batido pelo italiano Jonathan Milan (4:06.890). Ficaram assim encontrados os finalistas.

© Bettini Photo
Na decisão, Milan foi mais rápido nos dois primeiros quilómetros. Contudo, Ivo conseguiu manter quase sempre a mesma velocidade e esta consistência acabou por ser muito importante para garantir a vitória. O ciclista de Gaia completou a distância em 4:08.116, menos 656 milésimos do que o seu adversário. A medalha de bronze ficou para o russo Lev Gonov, com Iuri Leitão a ser 10º (4:21.852).

"Foi um dia em que tudo saiu bem ao Ivo, melhorando a marca pessoal e vencendo a final. O Ivo Oliveira fez uma excelente gestão da corrida, adaptando-se às características do adversário e guardando energias para a parte final. Estou extremamente satisfeito com este desempenho que quebra o ‘enguiço’ dos segundos lugares", referiu Gabriel Mendes, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

(Texto continua por baixo do vídeo das declarações de Ivo Oliveira.)

Gabriel Mendes tem muitas razões para estar feliz com a prestação da Equipa Portugal em Plovdiv. A vitória deste sábado foi o segundo título conquistado, depois de Iuri Leitão vencer no scratch. O vianense já soma também a medalha de prata na eliminação e o bronze no omnium.

Maria Martins também tem a sua medalha, a de bronze em eliminação e este sábado ficou à porta de mais uma, ao ser quarta na corrida por pontos, numa prova ganha pela britânica Katie Archibald.

Rui Oliveira não competia em pista desde o início do ano e não teve as melhores sensações na corrida por pontos masculina, tendo abandonado. O espanhol Sebastián Mora sagrou-se campeão europeu. A questão física do ciclista português - que tal como o irmão fez a sua primeira grande volta na recente Vuelta - poderá levar a uma alteração para este domingo.

A prestação da Equipa Portugal nos Europeus fecha com o madison, disciplina para a qual estão escalados os gémeos Oliveira. Porém, é possível fazer uma alteração até às 12:00, uma hora e 45 minutos antes do início da prova, caso Rui não esteja nas melhores condições.

»»Iuri Leitão é campeão europeu de scratch««

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12 de novembro de 2020

Iuri Leitão é campeão europeu de scratch

Dario Belingheri/BettiniPhoto©2020

Depois da prata, o ouro. Um dia depois de ter conquistado a medalha de prata em eliminação. Iuri Leitão foi campeão europeu de scratch, numa grande corrida do ciclista português. Mas o segundo dia dos Europeus em Plovdiv, na Bulgária, renderam ainda uma medalha de bronze pela inevitável Maria Martins, em eliminação.

"Não vou mentir. Vim para esta corrida com o objetivo de discutir os primeiros lugares, mas sem colocar as expectativas muito elevadas, porque na pista tão depressa se está a lutar pelas medalhas como no décimo lugar. Felizmente venci, mas acho que só comecei a perceber a dimensão do que tinha conseguido quando vesti a camisola de campeão da Europa", admitiu Iuri Leitão, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

Dario Belingheri/BettiniPhoto©2020
O seleccionador nacional, Gabriel Mendes “o orgulho muito grande” no título europeu de Iuri Leitão. "Sabíamos que o nível era muito elevado na prova de scratch e que existia uma probabilidade grande de incerteza quanto ao resultado. Esperávamos movimentações e elas aconteceram. Foi após outros ataques, que não resultaram, que o Iuri se isolou. Fez uma excelente gestão do esforço e uma fantástica leitura de corrida, controlando aqueles que poderiam ser os adversários mais perigosos nos momentos certos para o fazer. Foi uma prestação de excelência. Fez-se história", salientou.

A prova de 15 quilómetros, traduz-se em 60 voltas ao velódromo de Plovdiv. As primeiras vinte foram marcadas por várias tentativas de fuga, às quais o pelotão respondeu de pronto. A única iniciativa que vingou foi precisamente do ciclista português. Leitão atacou a 40 voltas do fim, pedalou em solitário e, a 26 voltas de acabar a prova, consumou a volta de avanço sobre o grupo. "Não estava planeado atacar tão cedo, mas vi uma janela de oportunidade e aproveitei. Depois de alguns ataques, houve um momento de tensão. Achei que era o momento certo para tentar", explicou.

Dario Belingheri/BettiniPhoto©2020
Depois de ganhar a volta de avanço e de recuperar o fôlego, o português respondeu ao ataque dos adversários. Ninguém conseguiu escapar. Percebendo que não teriam qualquer hipótese de bater o português, os fugitivos abdicaram da iniciativa, mas corredor de Viana do Castelo prosseguiu o esforço para ser o primeiro a cortar a meta, o que nem precisava para vencer. O ucraniano Roman Gladysh ficou com a medalha de prata e o britânico Oliver Wood com o bronze.

Em baixo, as declarações do ciclista depois de vestir a camisola de campeão europeu.

Maria Martins já tem a sua medalha

No primeiro dia dos Europeus, Maria Martins ficou-se pelo 10º lugar na prova de scratch. Agora já tem a sua medalha, uma de bronze em eliminação.

Dario Belingheri/BettiniPhoto©2020
A primeira portuguesa a apurar-se para os Jogos Olímpicos no ciclismo de pista também já tem a sua medalha nestes Europeus. Na eliminação Maria Martins aplicou uma táctica semelhante à que ontem valera a prata a Iuri Leitão na mesma disciplina, correndo na parte de trás, mas quase sempre por fora do pelotão, com espaço para ir eliminando a concorrência e para ocupar posições mais adiantadas, quando isso se exigia.

A portuguesa ainda sofreu alguns sustos, mas conseguiu não só salvar a eliminação, como teve energia para discutir os lugares do pódio. A italiana Rachele Barbieri sagrou-se campeã da Europa, com a britânica Elinor Barker a ficar com a medalha de prata.

"A condição física não é máxima, mas temos de otimizar o desempenho com os recursos de que dispomos. Considero que a Maria fez uma corrida muito boa, conseguindo movimentos, na parte de trás, que eliminaram adversárias de forma muito competente, e reposicionando-se mais adiante. Está de parabéns pelo resultado e pela performance", referiu Gabriel Mendes.

Recorde-se que Maria Martins sofreu uma queda os Europeus de sub-23, o que a obrigou a parar durante uma semana, prejudicando a sua preparação para o Campeonato da Europa de Elite.

Calendário dos portugueses na sexta-feira

Esta sexta-feira, os gémeos Oliveira vão entrar em acção em Plovdiv, depois de no domingo terem terminado a primeira grande volta das suas carreiras, em Espanha. Agora dedicados a numa vertente na qual somam também eles medalhas desde os anos de formação, vão à procura de mais como atletas de elite elite.

Às 11:35 arranca a qualificação da perseguição individual, que contará com os portugueses Ivo Oliveira e Iuri Leitão. A final será às 16:20. Às 16:35 Maria Martins disputa a corrida por pontos, disciplina em que Rui Oliveira participa às 17:25.

»»Volta a Portugal com impacto mediático de 80,1 milhões de euros««

11 de novembro de 2020

Groenewegen aceita suspensão de nove meses e fala em "página negra" da sua carreira

© Team Jumbo-Visma
Dylan Groenewegen foi suspenso nove meses devido ao incidente no sprint da primeira etapa da Volta à Polónia. O holandês e a Jumbo-Visma receberam a notícia com um sentimento de alívio, pois agora, dizem, podem começar a olhar para o futuro e preparar o regresso do ciclista às corridas. No entanto, Groenewegen não esconde como segue as novidades sobre a recuperação de Fabio Jakobsen de perto e espera que o que aconteceu possa servir de lição para outros ciclistas. Pela frente destaca como tem de trabalhar tanto o aspecto mental, como o físico, antes de competir novamente.

A 5 de Agosto, Groenewegen desviou-se da sua linha de sprint, atirando Fabio Jakobsen (Deceuninck-QuickStep) contra as barreiras. Porém, estas não serviram de protecção, pois saltaram para a estrada provocando a queda de outros corredores e Jakobsen passou por cima delas, caindo desamparado do lado contrário. Foi colocado em coma induzido, mas três meses depois já fala em andar novamente de bicicleta em breve. Parte do seu rosto teve de ser reconstruído, tendo levado 130 pontos. Ainda tem mais intervenções cirúrgicas pela frente, até para receber implantes dentários, pois perdeu praticamente todos os dentes.

Groenewegen foi afastado da competição pela própria equipa, sendo que também acabou por cair naquele dia, fracturando a clavícula. Numa entrevista dada pouco tempo depois do sucedido, admitiu que nem pensava em andar de bicicleta, lamentando em lágrimas o que tinha acontecido a Jakobsen. Em reacção à suspensão decretada pela UCI, o holandês admite que lhe dá "a oportunidade para olhar em frente"

"Estou satisfeito com isto, apesar de 7 de Maio ainda estar longe. Estou feliz pelo apoio que tenho da Jumbo-Visma, da minha família e amigos", salientou o ciclista de 27 anos. Está assim marcada a data a partir da qual Gronewegen pode regressar às corridas e retomar uma carreira já com várias vitórias importantes, como as quatro em etapas na Volta a França.

Porém, o holandês admite que o que aconteceu será uma "página negra" na sua carreira. "Peço desculpa, porque quero ser um sprinter justo. As consequências foram infelizmente muito sérias. Tenho a consciência disso e espero que isto tenha sido uma lição para todos os sprinters", afirmou Groenewegen, que espera que Jakobsen possa regressar também ele à competição.

A Jumbo-Visma mantém o apoio ao seu ciclista, que tem contrato até 2023. O director, Roger Plugge salientou como as notícias sobre a recuperação de Jakobsen são animadoras e que referiu como o anúncio da suspensão dá "perspectiva e clareza", para que a equipa possa começar a preparar Groenewegen e recolocá-lo ao nível que tinha antes do incidente na Volta a Polónia.

Além de aceitar a suspensão, a UCI explicou que Groenewegen colaborou com a investigação e aceitou participar "em eventos para beneficiar a comunidade do ciclismo".

De recordar que além da gesto de Groenewegen que provocou a aparatosa queda, também foi levantada a questão sobre as barreiras, que não ficaram no sítio ao sofrer o impacto. A Associação de Ciclistas Profissionais levantou de imediato a dúvida sobre a segurança das barreiras colocadas pela organização da Volta à Polónia, além de realçar como um sprint a descer só aumentou o perigo de uma queda grave. Aliás, vários corredores já haviam referido como aquela chegada a Katowice era muito perigosa.

»»Um último susto, uma ajuda da Movistar e uma vitória com todo o mérito para Roglic««

8 de novembro de 2020

As equipas da Vuelta uma a uma

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Fim da Volta a Espanha e ponto final na temporada de ciclismo de estrada. Não foi fácil, mas as três grandes voltas realizaram-se, mesmo com a Vuelta a ser três dias mais curta e a coincidir numa semana com o Giro. Primoz Roglic ultrapassou a desilusão de ter perdido de forma tão dramática o Tour e conquistou a sua segunda grande volta em Espanha. Duas presenças, duas vitórias. A Jumbo-Visma foi dos conjuntos mais fortes na montanha, a Movistar das equipas que mais trabalhou. As ProTeam desiludiram, mas não foram as únicas. A EF Pro Cycling sai de Espanha bem feliz e a UAE Team Emirates dos três portugueses - Rui Costa e os gémeos Oliveira - também ficou satisfeita.

Aqui fica como se comportaram as 22 equipas, pela ordem da classificação colectiva. Agora é esperar por 2021 para vermos de novo o melhor do ciclismo na estrada.

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Movistar: Trabalhou muito para Enric Mas, mas o seu líder não concluiu da melhor forma o esforço dos companheiros. Não foi uma má volta para a Movistar, que lutou, que controlou, mas no final falhou no mais importante. Enric Mas não esteve à altura do que tinha prometido antes da corrida e Alejandro Valverde tem, merecidamente, estatuto, mas faltou ser mais um elemento para o colectivo e não tanto para pensar só no seu top dez. Afinal a Movistar queria ganhar a Vuelta com Mas. Marc Soler salvou a honra com uma vitória de etapa, mas também baralhou a táctica em certos dias. É um ciclista que continua a dar mostras que não quer ser gregário em praticamente qualquer circunstância. Nelson Oliveira foi uma das figuras da equipa. É um luxo ter um ciclista que trabalha como o português. Ele sim, é a definição do que é um corredor que pensa na equipa, seja quem for o líder. E ainda foi terceiro na etapa da sua especialidade: o contra-relógio. A Movistar venceu por equipas, algo que não surpreende! É já uma tradição. E claro, a situação na La Covatilla em que pareceu ter dado uma ajuda a Roglic para Carapaz não ganhar a Vuelta, acaba por marcar muito a prestação da equipa.

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Jumbo-Visma: No que diz respeito à montanha, foi o bloco mais forte. Não dominou como na Volta a França, mas foi a equipa com mais capacidade de apoio ao líder nas subidas, com natural destaque para Sepp Kuss. É um escudeiro do melhor que há no pelotão e parte da vitória de Roglic tem Kuss como responsável. Só claudicou na La Covatilla, mas não manchou a sua exibição. Jonas Vingegaard também merece ser referenciado. Primeira grande volta aos 23 anos e mostrou que está pronto para fazer parte do bloco das grandes voltas. E avisou, está a ser preparado para uma futura liderança. Toda a equipa esteve bem, com Roglic a finalizar desta feita com sucesso o trabalho, tendo ganho quatro etapas. O Tour não será esquecido, mas a vitória na Vuelta ajudará a superar a desilusão e a dar nova motivação para 2021.

Astana: É uma equipa partida. Aleksandr Vlasov e Ion Izagirre destacaram-se. O primeiro porque ficou à porta do top dez na sua estreia em grandes voltas - atenção a este jovem russo para 2021 -, o segundo venceu uma etapa. Porém, os ciclistas da Astana parecem correr muito por si e não em prol de um líder. Ficou a sensação que talvez a Astana pudesse ter conseguido algo melhor se Vlasov não estivesse tão só. É um problema que não se viu só na Vuelta. A equipa cazaque tem muito a repensar na sua forma de correr nas grandes voltas.

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
UAE Team Emirates: Manteve a alta rodagem da temporada, conseguindo uma vitória com Jasper Philipsen e o top dez com David de la Cruz. Faltou Rui Costa conseguir um triunfo numa etapa. Foi dos ciclistas mais combativos da Vuelta, mas sai sem um merecido prémio e ainda com uma desclassificação algo polémica na antepenúltima etapa. Fica o aspecto positivo: Rui Costa mostrou-se forte em Espanha. Os gémeos Oliveira, Ivo e Rui, estrearam-se nas três semanas e demonstraram que estão prontos para mais. Ivo terminou muito forte a corrida. Ambos vão destacando-se na preparação dos sprints, mas podem assumir um papel de maior relevância no trabalho em protecção dos líderes. Boa corrida para os três portugueses e para a equipa em geral.

Mitchelton-Scott: Esteban Chaves ainda prometeu nos primeiros dias, mas depois foi mais do mesmo. O colombiano não consegue regressar à sua melhor forma e a equipa ressente-se disso quando aposta mais nele. Mikel Nieve foi top 15, mas acabou por ser uma formação que passou despercebida na Vuelta.

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Cofidis: Guillaume Martin esteve bem melhor do que num Tour em que começou forte, mas foi baixando de forma. Faltou a vitória de etapa que a equipa tanto precisava, num primeiro ano de regresso ao World Tour parco em triunfos (duas). Porém, as exibições de Martin colocam-no como um dos mais combativos da corrida e conquistou merecidamente a camisola das bolas azuis da montanha. Não foi um objectivo inicial, mas ao proporcionar-se a hipótese de ganhar, Martin mostrou parte da sua qualidade. Sim, este ciclista pode valer muito mais. A Cofidis acabou a proteger o seu líder nesta luta da montanha e sai da Vuelta minimamente satisfeita.

Ineos Grenadiers: Foi à Vuelta com a intenção de a ganhar. Mas mais uma vez ficou bem claro que a equipa britânica não tem a força de outros tempos e Richard Carapaz também sofreu com isso. O equatoriano surgiu bem na corrida, foi líder por duas vezes, mas ficou muito rapidamente sozinho sempre que as principais subidas surgiram. Chris Froome ainda chegou a ver-se a certa altura, mas não chegou. Andrey Amador foi de longe o melhor gregário, mas acabava por se desgastar em demasia por entrar muito cedo ao trabalho. Carapaz sai da Vuelta com nota positiva, a equipa sai a saber que ganhou um Giro de forma inesperada com Tao Geoghegan Hart, mas se quer ser novamente competitiva frente a uma Jumbo-Visma cada vez mais forte, vai ter de melhorar o funcionamento do seu colectivo.

Groupama-FDJ: Andou discreta, mas teve David Gaudu a bom nível. Thibaut Pinot cedo abandonou, no que se tornou numa oportunidade para o jovem francês de se mostrar. Duas etapas, top dez... Gaudu não será gregário por muito mais tempo. Já era visto como sucessor de Pinot, agora poderá muito bem partilhar uma liderança nas grandes voltas. A boa notícia para a Groupama-FDJ nesta Vuelta foi mesmo essa: tem mais uma opção para número um.

Sunweb: Com uma média de idades a rondar os 23 anos, normalmente não se esperaria muito de uma equipa com tantos estreantes em grandes voltas. Porém, depois de um Tour e Giro de grande nível, a Sunweb atraiu algumas atenções. Com as expectativas mais altas, acabou por ser uma desilusão não ver os jovens ciclistas mais activos. Mas dentro do possível cumpriram. Entraram em fugas, tentaram ganhar etapas. Não se poderia pedir muito mais dada a inexperiência da maioria dos atletas convocados.

© Photo Gomez Sport/La Vuelta
EF Pro Cycling: Perder cedo Daniel Martínez e ver Michael Woods ficar, também cedo, fora da luta pela geral, fez temer uma Vuelta longe do esperado. Mas eis que surgiu um Hugh Carthy a finalmente confirmar credenciais. Venceu no mítico Angliru, foi terceiro na geral e a equipa ainda conseguiu vencer mais duas tiradas, uma com Woods e outra com Magnus Cort. A EF Pro Cycling, vai aos poucos crescendo, conquistando mais bons resultados e termina a Vuelta como uma das equipas que melhores exibições fez.

CCC: Passou completamente ao lado da corrida. O maior destaque foi para Will Barta que foi segundo no contra-relógio. É uma equipa em fim de vida e os seus ciclistas mal se viram. Entraram numa ou outra fuga, mas foi muito pouco, não ajudando ter Simon Geschke e Francisco Ventoso abandonarem. Prestação muito fraca.

AG2R: Só três ciclistas terminaram a Vuelta! Entrou em fugas, mas foi uma equipa que pouco se viu e que demonstrou que está claramente a precisar de um novo rumo, algo que deverá começar a acontecer em 2021.

NTT: Mais uma formação que passou despercebida. Talvez pese a incerteza se irá ou não continuar no próximo ano. Só Gino Mäder se mostrou e ainda se viu Michael Valgren. Mas foi pouco, muito pouco para uma equipa que bem precisava de se mostrar e com ciclistas ainda sem contrato para a próxima temporada.

Deceuninck-QuickStep: Não foi uma grande volta para recordar. Apenas uma vitória de etapa por Sam Bennett, com o irlandês a ser desclassificado noutra tirada que havia ganho, por sprint irregular. Os seus ciclistas estiveram nas fugas, Rémi Cavagna até foi nomeado o super combativo da Vuelta, mas não foi uma corrida bem conseguida por parte da formação belga, tendo em conta que se espera sempre muito mais.

Bahrain-McLaren: Não houve muita classe da equipa, mas ver Wout Poels fechar na sexta posição foi extremamente positivo. O holandês foi dos que perdeu tempo no arranque frenético da Vuelta, mas foi subindo de forma e praticamente sozinho garantiu um bom lugar na geral, agora que tem a oportunidade de liderar uma equipa, depois de anos como gregário da luxo da Sky/Ineos. Para a Bahrain-McLaren valeu mesmo Wout Poels, os restantes ciclistas, rapidamente desapareciam quando as subidas surgiam no percurso. E foram muitas!

Caja Rural: Entrou nas fugas, mas pouco mais se viu da equipa espanhola do segundo escalão. Há muito que não tem conseguido ser uma formação que consegue estar mais vezes na discussão de etapas. Foi uma performance abaixo do que se esperava, tendo em conta que alguns ciclistas eram vistos como potenciais animadores de etapas.

Trek-Segafredo: Equipa sem história para contar na Vuelta. Uma das grandes apostas era Matteo Moschetti para os sprints, mas o jovem ciclista chegou foram do tempo limite logo na sétima etapa e foi para casa. Ciclistas como Michel Ries e Juan Pedro López tiveram a oportunidade de se estrear numa grande volta. Mal se viram, mas a Trek-Segafredo terá aproveitado para preparar o futuro.

Israel Start-Up Nation: Valeu Daniel Martin. E valeu muito. Uma vitória de etapa, quarto lugar na classificação... O irlandês teve uma das melhores prestações da sua carreira em grande voltas (talvez a melhor), numa altura em que até se estaria a preparar para ser gregário de Chris Froome. A equipa nem na ajuda ao líder teve capacidade, principalmente na montanha, mas sai de Espanha bem feliz com o resultado final de Martin, que não se esperava nesta fase da carreira ver a este nível.

© Photo Gomez Sport/La Vuelta
Bora-Hansgrohe: Andou um pouco na sombra, mas Felix Grossschartner conseguiu um bom nono lugar e chegou a estar mais acima na tabela. Na luta por etapas, Pascal Ackermann conseguiu cumprir em Madrid, sendo que terminou a Vuelta com duas vitórias, a primeira por desclassificação de Sam Bennett, após sprint perigoso. Pode ter sido uma equipa que pouco se viu, mas fez uma boa Vuelta perante os objectivos que tinha.

Burgos-BH: Muito diferente de 2020. Nem etapas, nem luta pela montanha, a equipa espanhola do segundo escalão esteve muito abaixo do esperado. Tal como a Caja Rural esperava-se que animasse mais a corrida, mas tirando os seus ciclistas irem aparecendo em fugas, acabaram por ser inconsequentes. Ricardo Vilela talvez tenha sido afectado pelo facto de ser chamado à última hora para a corrida. A sua preparação já não terá previsto fazer uma prova de três semanas e pouco se viu do português.

Lotto Soudal: Com Tim Wellens a vencer duas etapas, a chegar a ser líder da classificação da montanha, a Lotto Soudal terminou a Vuelta com a missão cumprida. O belga surgiu forte, entrou em várias fugas e foi o destaque da formação, assim como o jovem estreante em grandes voltas, Gerben Thijssen. O sprinter, de 22 anos, foi segundo numa das etapas. Acabou por abandonar, mas a Lotto Soudal já tem mais um homem rápido a aparecer para discutir mais vitórias no futuro.

Total Direct Energie: Esteve na Vuelta depois de conseguir entrar directamente na corrida por ter vencido o ranking do segundo escalão em 2019, a formação francesa foi mais uma que mal se viu. Mesmo entrar em fugas foi algo complicado. Má Vuelta.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

»»Um último susto, uma ajuda da Movistar e uma vitória com todo o mérito para Roglic««

»»Ineos Grenadiers e Movistar a trabalhar e Roglic a ganhar mais uns preciosos segundos««

7 de novembro de 2020

Um último susto, uma ajuda da Movistar e uma vitória com todo o mérito para Roglic

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Richard Carapaz esperou até ao últimos momentos para dar alguma emoção à última etapa de montanha da Vuelta. Já dentro dos cinco quilómetros final atacou, depois de Hugh Carthy ter aberto as hostilidades. Foi um derradeiro susto para Primoz Roglic, um vencedor pela segunda vez consecutiva da Vuelta, mas que teve uma ajuda preciosa na recta final da tirada que terminou no Alto de la Covatilla. Não, não foi Sepp Kuss, o seu fiel escudeiro da Jumbo-Visma. Foi mesmo uma Movistar que assim ajustou algumas contas com uma saída muito pouco amigável de Carapaz da equipa espanhol em 2019.

Roglic tem todo o mérito nesta vitória. Isso ninguém lhe pode tirar. Veio à Vuelta depois de uma enorme desilusão no Tour. Parecia ter o triunfo garantido e tudo se desmoronou no contra-relógio decisivo em La Planche des Belles Filles. Em Espanha passou todos os testes que enfrentou. Mentalmente foi um ciclista decidido a mostrar que a derrota no Tour frente a Tadej Pogacar não iria definir o resto da sua carreira.

É um vencedor e quando se perde, a melhor forma de reagir é regressar às vitórias. Já tinha conquistado o seu primeiro monumento, a Liège-Bastogne-Liège, mas era uma reacção numa prova de três semanas que precisava. Roglic está bem vivo e contem com ele para lutar pela Volta a França em 2021, agora como um duplo vencedor de duas Vueltas. Curiosamente, dois triunfos em outras quantas presenças. Não compensa o que aconteceu em França, mas foi mais uma vez uma mostra do carácter excepcional deste ciclista.

Só um casaco - justificou a perda da liderança na sexta etapa com problemas em vestir um casaco - e o Angliru fizeram tremer Roglic. As subidas com pendentes muito íngremes não são uma especialidade sua. Onde compensa? Nas bonificações. É um ciclista que faz questão de amealhar o maior número de segundos bónus, para tentar compensar o que possa perder na estrada. Na Vuelta foi uma táctica decisiva.

Em La Covatilla, Roglic tremeu mais um pouco. Um último susto, que fez pensar por alguns minutos que também nesta grande volta poderia haver uma mudança de líder mesmo no fim. Mas eis que surgiu a Movistar. Foi mais uma etapa ao ataque da equipa espanhola e mais uma em que não tirou dividendos de tanto trabalho. Enric Mas ficou na quinta posição que já ocupava e Marc Soler não discutiu a etapa. Restava então um pormenor...

Com Carapaz a ganhar tempo - e chegou a estar a menos de 20 segundos de conquistar a Vuelta -, com Roglic já sem companheiros de equipa e com Carthy (EF Pro Cycling) também a conseguir afastar-se do esloveno, Mas e Soler entraram ao trabalho. Os dois espanhóis deram uma preciosa ajuda a Roglic, minimizando perdas. Depois de cortar a meta, o esloveno apressou-se em agradecer aos dois inesperados parceiros.

O ciclismo não se faz só de companheiros de equipa. Há coisas que não se esquecem e que até levam a dar a mão a rivais. A Movistar não esquece como Carapaz quebrou contrato com a equipa para assinar pela Ineos Grenadiers, em mais um episódio do desentendimento com o empresário Giuseppe Acquadro. E mais. Antes da Vuelta de 2019, Carapaz participou num critérium sem autorização da equipa. Uma queda acabaria por afastá-lo da grande volta espanhola.

Foi um fim de relação que não agradou nada aos responsáveis da Movistar, que perderam assim o ciclista que havia vencido a Volta a Itália e que poderia ser importante no futuro na liderança de uma formação que não iria apostar mais em Nairo Quintana, que também se preparava para perder Mikel Landa e tem Alejandro Valverde quase a terminar a carreira.

Roglic não esquecerá o gesto da Movistar, tal como a Ineos Grenadiers de Carapaz não irá certamente deixar passar em claro. As rivalidades fazem parte do desporto, mas no caso do ciclismo, nem todas nascem na estrada, mas é lá que ganham expressão. Este dia ainda terá repercussões noutras provas...

Numa etapa (Sequeros - Alto de la Covatilla, 178,2 quilómetros) que chegou a parecer que seria uma desilusão, terminou com muito para contar.

David Gaudu venceu a sua segunda etapa na Vuelta
e subiu ao top 10 (© Photo Gomez Sport/La Vuelta)
Luta no top dez

Roglic terminou com 24 segundos de vantagem sobre Carapaz, com Carthy a fechar o pódio, a 47 do esloveno. Daniel Martin (Israel Start-Up Nation), Enric Mas e Wout Poels (Bahrain-McLaren) seguraram as posições seguintes.

A UAE Team Emirates foi uma das equipas que mais animou a etapa, até ao momento Movistar, claro. Atacou cedo e colocou David de la Cruz na frente, com Ivo Oliveira e Rui Costa a terem um papel muito importante na ajuda ao espanhol que conseguiu subir à sétima posição, a 7:35 de Roglic. Rui Costa muito tentou ganhar uma etapa, mas a fechar a Vuelta, mostrou que continua a ser um ciclista com quem podem contar para trabalhar em prol de um companheiro.

David Gaudu (Groupama-FDJ) foi à procura de ganhar a sua segunda etapa e não só conseguiu, como ainda teve o bónus de entrar no top dez (oitavo, a 7:45). A equipa francesa falhou por completo no Tour com Thibaut Pinot, mas foi ao Giro dominar nos sprints com Arnaud Démare e na Vuelta pode muito bem ter confirmado que tem um futuro líder para as três semanas. Gaudu teve liberdade e mostrou que é um corredor que pode ser mais do que um gregário.

Felix Grossschartner (Bora-Hansgrohe) e Alejandro Valverde (Movistar) conseguira a custo ficar no top dez, com Aleksandr Vlasov (Astana) a ser o sacrificado com a entrada de Gaudu. Ainda assim, uma boa estreia em grandes voltas do jovem russo.

Nas restantes classificações, Guillaume Martin (Cofidis) é o vencedor da montanha - já o havia garantido na quinta-feira -, Roglic acumula a geral com a classificação dos pontos, Enric Mas é o melhor na tabela da juventude e a Movistar vence por equipas, como tem sido habitual.

Classificações completas, via ProcyclingStats.

18ª etapa: Hipódromo de la Zarzuela - Madrid, 139,6 quilómetros

Muito se irá falar do que aconteceu na La Covatilla, mas Roglic terá o seu momento para desfrutar da merecida vitória. Foi uma Vuelta com trocas na liderança, muita montanha, com o mau tempo a fazer-se sentir e a dificultar muito a tarefa de todos, fosse qual fosse o objectivo.

Este domingo irá pedalar-se os últimos 139,6 quilómetros não só da corrida, mas da época. Madrid marcará o fim de um ano atípico, mas no qual se conseguiu concluir as três grandes voltas, por si só uma vitória para o ciclismo mundial, mesmo que a Vuelta tenha sido mais curta (18 etapas em vez de 21).

Ainda assim, foi necessário alterar a tirada de consagração, que ganhou cerca de 12 quilómetros. Nada de grave, já que grande parte será feita a um ritmo calmo. A corrida continuará a terminar no Paseo de la Castellana, mas a organização decidiu não passar por localidades como Móstoles, Alcorcón, Leganés e Getafe. A entrada em Madrid não será feita por Villa de Vallecas, mas sim por Barajas e Feria de Madrid. Os ciclistas farão mais quilómetros de auto-estrada. A fase final mantém-se com um circuito de seis voltas entre Castellana e Paseo Recoletos.

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Volta a Portugal com impacto mediático de 80,1 milhões de euros

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Foi um ano de incerteza para o ciclismo nacional - e que irá prolongar-se para 2021 -, com as equipas a terem de enfrentar a possibilidade da Volta a Portugal não ir para a estrada. Depois de avanços e recuos, a corrida saiu de Fafe a 27 de Setembro e a 5 de Outubro, Amaro Antunes conquistou a sua primeira Volta em Lisboa, continuando o domínio da W52-FC Porto na prova. Um estudo da Cision vem agora confirmar a importância que a corrida tem em termos de exposição mediática e como foi essencial para a sobrevivência da modalidade a Volta ter-se realizado, mesmo que com menos dias.

Segundo a empresa, o impacto mediático foi de 80,1 milhões de euros. "A corrida afirmou-se como um dos maiores eventos do país, confirmando ser uma das mais eficazes plataformas de comunicação das marcas patrocinadoras com o grande público", escreve a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC). A Cision classificou a Volta a Portugal como um acontecimento "Gold", a distinção mediática mais alta atribuída pela empresa. E este valor não incluiu, segundo a FPC, a transmissão em diferido no L’Équipe TV, em França.

A Volta chegou a ser adiada para 2021 pela Podium, empresa que detém os direitos de organização da corrida, cedidos pela FPC. Perante esta decisão, a FPC tomou as rédeas de uma complicada missão de colocar a corrida na estrada em tempo de pandemia. Menos dias, pelotão mais pequeno, mas além das nove equipas Continentais portuguesas, estiveram na Volta cinco formações estrangeiras, todas do segundo escalão mundial (ProTeam): Arkéa Samsic, Nippo Delko One Provence (França), Burgos-BH, Caja Rural (Espanha) e Rally Cycling (EUA).

(Texto continua por baixo da imagem)

"O AVE (valorização equivalente a publicidade) da Volta a Portugal Edição Especial Jogos Santa Casa resulta de 3336 notícias publicadas nos órgãos de comunicação social portugueses entre 1 de Julho e 31 de Outubro, e de 4809 publicações sobre o evento nas redes sociais", lê-se no comunicado.

Foi na internet que foi publicado um maior número de notícias sobre a competição. Contudo, foi a transmissão televisiva da RTP1 que mais contribuiu para o retorno mediático. Foram mais de 51 horas de emissão por parte do canal público.

O estudo da Cision refere ainda que a Volta "teve uma presença transversal na comunicação social portuguesa, conseguindo alcançar 51 por cento da população, ou seja, 5,4 milhões de pessoas". "Estima-se que cada um desses indivíduos tenha contactado com 37 mensagens mediáticas sobre o evento", é salientado no comunicado.

Entre os meios de comunicação social e as redes sociais foram feitas mais de 200 milhões de impressões, “gerando 505.100 interacções por parte do público que recebeu mensagens sobre o evento.

Recorde-se que a importância da Volta foi reforçada, não só por ser ano após ano o momento com maior destaque mediático para mostrar os patrocinadores por parte das equipas portuguesas, mas porque em 2020 praticamente não houve competição. Após a corrida, por exemplo, o Grande Prémio O Jogo e o Grande Prémio Jornal de Notícias acabaram cancelados e antes, após o desconfinamento, houveram poucas provas.

Neste link pode recordar como se comportaram as equipas portuguesas de elite, neste 2020 tão atípico.

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6 de novembro de 2020

Ineos Grenadiers e Movistar a trabalhar e Roglic a ganhar mais uns preciosos segundos

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Tanto trabalho da Ineos Grenadiers e da Movistar e no final foi Primoz Roglic, da Jumbo-Visma, quem agradeceu. Um segundo aqui, um segundo ali e o esloveno vai partir para a etapa decisiva da Vuelta com 45 de vantagem sobre Richard Carapaz e 53 sobre Hugh Carthy (EF Pro Cycling). Nem se pode dizer que tenha sido algo planeado pelo camisola vermelha ou pela sua equipa, apenas aproveitou a oportunidade de sprintar no final, depois de ver a fuga ser apanhada e ficar escancarada a porta para conquistar mais uma bonificação.

Nesta Vuelta são 48 segundos ganhos por Roglic na linha da meta, sendo que ajuda e muito ter ganho quatro etapas (10 segundos cada). Carapaz somou 16 e Carthy 10, na vitória no Angliru. Mais do que fazer diferença na estrada, já faz parte do estilo de Roglic em encarar estas corridas sempre à procura de somar bonificações. No Tour acabou por não resultar, mas tem este sábado o Alto de la Covatilla para ultrapassar e assim conquistar uma grande volta em 2020, tentando repetir o triunfo em Espanha, depois de ter ganho em 2019.

Os seis segundos que amealhou em Ciudad Rodrigo podem não garantir uma vitória a Roglic, mas servem de tónico para a derradeira etapa, na qual ninguém poderá ficar à espera do esloveno falhar. É agora ou nunca. A liderança terá de ser atacada, mas o próprio Carapaz demonstrou que aqueles seis segundos não eram nada bem-vindos na perspectiva do líder da Ineos Grenadiers. Quando percebeu que Roglic ia sprintar, também acelerou, mas nada pôde fazer para evitar ter mais tempo para recuperar.

A La Covatilla é uma subida com 11,4 quilómetros, com uma inclinação média de 7,1%. Roglic sofreu no Angliru, mas com a pendente máxima deste sábado a ser de 12% e não mais de 20, o esloveno terá de ter um dia muito mau para ceder tanto tempo só nesta subida.

Por isso mesmo, foi ainda mais estranha a forma como a Ineos Grenadiers se desgastou nos 162 quilómetros desta sexta-feira. Principalmente, Andrey Amador, um ciclista tão importante na ajuda a Carapaz. A boa colocação do equatoriano foi um objectivo, mas, ainda assim, Amador desgastou-se muito quando não houve qualquer intenção de tentar surpreender Roglic. E não demorou muito a perceber-se que o esloveno não ia ceder tempo no sobe e desce desta etapa.

A Jumbo-Visma esteve mais dedicada a proteger o seu líder, pois na parte final foi a Movistar que assumiu a frente do grupo. Mais uma vez não foi para preparar um ataque de Enric Mas, talvez ainda a pensar no pódio. A equipa foi atrás de uma vitória de etapa com Alejandro Valverde. E neste aspecto percebe-se. Ganhar a Vuelta está fora de questão e para uma equipa com apenas duas vitórias em 2020 (!), é importante conquistar algo mais - além da camisola da juventude que Mas não deverá perder - antes da época terminar. E finaliza já em Madrid, no domingo. Não há mais corridas.

17ª etapa: Sequeros - Alto de la Covatilla, 178,2 quilómetros

La Covatilla será a segunda categoria especial depois do Angliru. Não tem as pendentes da mítica subida, como foi descrito em cima, mas a Covatilla além de ser uma subida difícil, vai ser feita com temperaturas abaixo dos 10 graus, havendo a possibilidade de chuva, ainda que seja baixa. O vento deverá rondar os 14 quilómetros/hora.

A grande questão é se Carapaz e Carthy vão deixar tudo para a última subida, ou arriscam um ataque de longe. Esta última escolha poderá ser a opção de um Enric Mas ou mesmo de Daniel Martin (Israel Start-Up Nation), dois ciclistas que poderão dar o tudo por tudo para chegar ao pódio. O espanhol está a 3:29 de Roglic e o irlandês a 1:48.

Também se poderá ver uma luta pelos restantes lugares no top dez, mas esta Vuelta chega ao penúltimo dia com a geral por decidir, sendo que 2020 fica marcado por todas as grandes voltas só terem ficado decididas no derradeiro dia (não contando com o da consagração que o Tour e a Vuelta têm). Nas outras duas houve uma reviravolta...

Classificações completas, via ProCyclingStats.

© Photo Gomez Sport/La Vuelta
Rui Costa penalizado

O ciclista português continua à procura de ganhar uma etapa nesta Vuelta. Desta feita não entrou na fuga, mas ficou muito próximo de vencer. Foi terceiro no sprint ganho pelo Magnus Cort, em mais uma vitória para uma EF Pro Cycling que é das equipas mais ganhadoras após o desconfinamento. Porém, Rui Costa (UAE Team Emirates) acabaria sancionado e relegado para o final do grupo devido a uma manobra que foi considerada perigosa pelos comissários.

"Estou desiludido, mas não tenho outra escolha senão aceitar. Foi um final seguro e penso que o meu sprint foi correcto. Não houve certamente uma má intenção. Vou focar-me na próxima etapa antes de Madrid", afirmou Rui Costa.

Nota: Por lapso escreveu-se que Roglic tinha ganho 58 segundos nas bonificações. São 48, pois no contra-relógio não há bonificações. Fica aqui um pedido de desculpa pelo erro.

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