31 de julho de 2018

Ambição e convicção. Adversários querem fazer a W52-FC Porto suar

(Fotografia: © PODIUM/Paulo Maria)
O calor não quis faltar à Volta a Portugal, mas a W52-FC Porto vai suar também pela concorrência que irá enfrentar. Pelo menos é isso que alguns dos adversários pretendem fazer e assim ameaçar um domínio que dura há cinco anos e cujas expectativas até apontam para que continue. Não há dúvidas que Nuno Ribeiro tem um plantel que permite poder substituir alguém sem perder rendimento, mas o Sporting-Tavira surge este ano mais forte, ainda que não esteja só no desafio de tentar acabar com uma hegemonia que parece intocável.

A sensação que seja qual for a acção nas etapas, no final ganha a W52-FC Porto é enorme. Apesar de quase todas as equipas nacionais já terem celebrado vitórias, é a do Sobrado que tem uma lista impressionante de troféus. São dez triunfos, só para referir etapas ou classificações gerais. Se juntarmos os restantes prémios em disputa, então o número sobe para 27 (pode ver aqui as vitórias das equipas Continentais portuguesas). E só para que ninguém tivesse dúvidas do poderio antes da Volta, a W52-FC Porto ganhou em Julho o Troféu Joaquim Agostinho (por José Neves, que não foi chamado para a Volta) e o Grande Prémio de Portugal Nacional 2. Neste último foi Raúl Alarcón a passar uma mensagem importante.

O espanhol vem de um ano complicado, com uma queda em Abril a limitar-lhe uma fase da época na qual esteve muito forte em 2017. Parte como o natural favorito, afinal é o campeão em título. Porém, a grande questão não deixa de ser com quem é que a W52-FC Porto irá atacar a corrida. Gustavo Veloso ainda procura aquele ambicionado terceiro triunfo, enquanto António Carvalho está à espreita de uma oportunidade. Ricardo Mestre e Rui Vinhas podem ser vistos mais como gregários, mas sabem o que é ganhar a Volta e César Fonte está a ter uma época de grande nível. João Rodrigues é o nome que para já não surge como possível ameaça. Mas Rui Vinhas também não o era em 2016!

Um pormenor a ter em conta é que haverá menos um ciclista por equipa. Serão sete e não oito. Viu-se como nas grandes voltas, reduzir de nove para oito pouco ou nada incomodou a Sky. Respeitando as devidas diferenças, a ver vamos se menos um ciclista poderá fazer alguma diferença na Volta a Portugal. Será mais difícil de controlar? É esse um dos aspectos que um Sporting-Tavira ou Aviludo-Louletano-Uli poderão explorar.

Joni Brandão está de regresso depois de um problema de saúde o ter afastado da última edição. Pode-se mesmo dizer que é um reforço de luxo. Na formação de Loulé, a situação de Vicente Garcia de Mateos parece que não fez tremer a confiança. O espanhol esteve suspenso devido a questões com o passaporte biológico, mas o Tribunal Arbitral do Desporto levantou-lhe a sanção. Mateos foi terceiro há um ano e quer agora ganhar. Ao seu lado terá um Luís Mendonça que tem sido uma das sensações de 2018. Venceu a Volta ao Alentejo e chega à "Grandíssima" com uma enorme vontade de se mostrar, depois de há um ano ter sido afastado ao ser agredido por um condutor, durante um treino.

Daniel Silva regressou à Rádio Popular-Boavista para se juntar a João Benta. Ambos olharão para a geral, enquanto o campeão nacional de contra-relógio e estrada, Domingos Gonçalves, vai à caça de etapas. A Efapel também joga com duas cartas: Sérgio Paulinho e Henrique Casimiro, enquanto pode-se esperar muito trabalho para ajudar Daniel Mestre a ganhar uma etapa que lhe escapou em 2017. Quanto à Vito-Feirense-BlackJack, Edgar Pinto espera que os azares o tenham deixado de vez e João Matias quer uma etapa, depois de há um ano ter sido uma revelação. Andou vários dias de camisola azul, ainda que a montanha não seja a sua especialidade.

E irá alguém fazer abanar a W52-FC Porto? A ambição está lá e a qualidade de muitos ciclistas também. Há quem não esconda alguma convicção que tal poderá mesmo acontecer. Ficaremos à espera, pois todo o espectáculo é bem-vindo.

Não vamos esquecer as três equipas Continentais sub-25, que têm muitos jovens estreantes e que vão ter um papel importante na corrida. Será um teste de fogo para todos, pelo que o principal objectivo é que ganhem experiência e, se possível, colocar alguém na luta pela classificação da juventude, Claro que entrar em fugas estará na mira, pois nunca se sabe se uma etapa poderá entrar nos planos. A Liberty Seguros-Carglass, Miranda-Mortágua e LA Alumínios trazem à Volta a Portugal algo que escasseou em 2017: jovens talentos portugueses. Faziam falta mais e aí estão eles, numa corrida que certamente não esquecerão.

O mundo em Portugal

Verificou-se algumas alterações quanto às equipas estrangeiras inicialmente previstas aquando da apresentação do percurso, há um mês. A espanhola Burgos-BH de José Mendes, a australiana St George e a belga Tarteletto Isorex não estarão presentes, mas temos a inclusão de uma formação malaia, a Sapura Cycling. Do escalão Profissional Continental teremos a Caja Rural, com Joaquim Silva (atenção a este antigo ciclista da W52-FC Porto) e Rafael Reis (também ele ex-azul e branco), que irá apostar forte no contra-relógio desta quarta-feira em Setúbal, não estivesse ele praticamente a correr em casa (é de Palmela). Juntam-se ainda a Israel Cycling Academy - que não trouxe o vencedor da juventude de 2017, o letão Krists Neilands -, a belga WB Aqua Protec Veranclassic e a espanhola Euskadi Basque Country Murias.

Do escalão Continental, além da equipa da Sapura Cycling, teremos da Albânia a Amore & Vita-Prodir, a Team Ecuador (não terá certamente problemas com o calor previsto para os próximos dias), a norueguesa Team Coop - que conta com um ciclista que já passou pela então Giant-Alpecin, Fredrik Ludvigsson -, a romena MSTina Focus - que tem Frederico Zurlo, antigo companheiro de Rui Costa na UAE Team Emirates - e a luxemburguesa Differdange Losch.

E para começar...

Para decidir o primeiro camisola amarela, os 131 ciclistas terão de cumprir 1,8 quilómetros em Setúbal. Vai saber a pouco, mas não faltam quilómetros para percorrer nos dias seguintes. É a estreia da cidade sadina a receber o início da Volta e além de Rafael Reis, Domingos Gonçalves estará desejoso de vestir uma camisola que há um ano o francês Damien Gaudin lhe tirou por apenas dois segundos. Porém, este é um contra-relógio que não é só para os especialistas. É muito explosivo, nada técnico, pelo que poderá haver alguma surpresa no primeiro vencedor.

Na quinta-feira teremos a segunda etapa mais longa: 191,8 quilómetros entre Alcácer do Sal e Albufeira, no regresso do Algarve à Grandíssima. Depois segue-se a mais longa: 195,3 entre Beja e Portalegre. E domingo é dia de subir à Torre e depois ainda ter de enfrentar a subida das Penhas da Saúde, que de fácil nada tem. Grande etapa em perspectiva.

Gonçalo Leaça (LA Alumínios) será o primeiro a sair para o contra-relógio às 15:18 e Raúl Alarcón fechará o prólogo ao partir às 17:28.


30 de julho de 2018

"Vai ser uma grande experiência"

Venceslau Fernandes acompanhados pelos directores Luís Pinheiro
e Manuel Correia, com um troféu que quem sabe um dia...
(Fotografia: © João Fonseca)
O nome Venceslau Fernandes não passará despercebido na Volta a Portugal. É um jovem ciclista cuja evolução é notória e faz dele uma das principais escolhas da Liberty Seguros-Carglass, com chamadas à selecção nacional. Aos 22 anos prepara-se para participar na corrida mais ambicionada e uma que conta com um Venceslau Fernandes como vencedor. O pai ganhou em 1984, o filho sobe agora mais um patamar para se afirmar pelo valor que tem e não pelo nome.

"Vai ser uma grande experiência", afirmou, muito animado pela perspectiva de estar na Volta a Portugal, que começa na próxima quarta-feira. Venceslau espera estar bem, pois garante que trabalha sempre para aparecer no seu melhor, seja qual for a competição para que for chamado pelo director desportivo Manuel Correia. No primeiro ano em que a equipa está no escalão Continental, o ciclista salientou ao Volta ao Ciclismo como tem sido muito importante poder participar em competições de outro nível: "Estas equipas novas só de jovens é algo muito produtivo e muito positivo. Quando corri no Algarve, estava ao lado dos melhores ciclistas do mundo. No futuro isto vai dar frutos."

Para Venceslau não é só estar em corridas mais importantes que tem marcado a diferença. "Ajuda-nos também a forma de as preparar, temos de estar mais focados e estar sempre no nosso melhor", realçou. Acrescentou que as presenças na selecção são outro ponto importante no seu crescimento como atleta, tendo este ano estado na Ronde de l'Isard (França) e no Grand Prix Priessnitz spa (República Checa).

Chega agora um dos momentos mais aguardados do ano e a Liberty Seguros-Carglass quer mostrar que está à altura do desafio. "Todos os grandes corredores das equipas nacionais estão à espera da Volta a Portugal. Sim, nós esperamos enfrentar muitas dificuldades, mas vamos encarar a corrida de forma positiva", assegurou. Ganhar uma etapa seria fenomenal, mas há algo que é muito claro na ambição desta formação que tem uma média de idades de 22,2 anos: "O grande objectivo da Volta é a camisola da juventude. Toda a equipa vai apontar a isso e penso que vamos estar na discussão."


"Acredito que tenho qualidade e tenho de provar na estrada, não pelo nome e não por ser filho e irmão de quem sou"

André Carvalho, César Martingil, Gaspar Gonçalves, Rafael Lourenço (que venceu uma etapa no Grande Prémio Jornal de Notícias) vão acompanhar Venceslau. André Crispim fracturou um braço e Filipe Rocha está lesionado no joelho, o que fez Manuel Correia contratar dois espanhóis para evitar levar ciclistas sub-23 de primeiro ano para uma competição extremamente exigente. Carlos Cobos e Samuel Blanco fecham assim as escolhas.

Venceslau tem um discurso sempre em prol do colectivo, mas como o todo só funciona se as individualidades tiveram qualidade, o ciclista está concentrado em melhorar os seus pontos fortes e, claro, os fracos: "Gradualmente quero melhorar na montanha e, sem dúvida, no contra-relógio. Há muito trabalho a fazer nesse aspecto." E a Liberty Seguros-Carglass de Manuel Correia é a equipa certa para continuar a crescer como ciclista, na opinião de Venceslau. "Sinto-me bem aqui. O chefe aposta muito nos jovens e dá oportunidade a todos. É uma grande equipa para evoluir e temos a noção  que nos dá projecção. É uma grande motivação ver ciclistas que estão agora lá fora e que estiveram aqui [os gémeos Oliveira e Ruben Guerreiro, por exemplo].

É quase inevitável acabar por falar da herança familiar, afinal o nome não engana e é filho e irmão de campeões. Venceslau garante que não o chateia nada referirem esse seu lado pessoal. "É normal as pessoas fazerem perguntas", disse, salientando como não pode fugir ao facto de ter como irmã Vanessa Fernandes, uma das melhores triatletas da história, com uma medalha de prata olímpica, e um pai que venceu uma Volta a Portugal. Mas Venceslau quer percorrer o seu caminho: "Quero que me vejam como ciclista da Liberty Seguros-Carglass. Eu sou eu, eles são eles. Acredito que tenho qualidade e tenho de provar na estrada, não pelo nome e não por ser filho e irmão de quem sou."

A Volta a Portugal realiza-se de 1 a 12 de Agosto, com início em Setúbal e final em Fafe. Esta terça-feira, é também na cidade sadina que se poderá assistir à apresentação das equipas a partir das 14:30. A RTP é novamente a casa da Volta na televisão.




João Rodrigues: "De ano para ano estou um ciclista mais maduro e mais confiante nas minhas capacidades"

Fábio Mansilhas: "Estar aqui, no ciclismo profissional, exige mais de mim"

Orgulhosamente último para angariar mais do dobro do dinheiro que pretendia

(Fotografia: © EF Education First-Drapac p/b Cannondale)
Ter um último classificado da Volta a França a ser quase tão falado como o vencedor deve ser algo quase inédito. Mas nem tudo é competição, nem tudo são vitórias que ficam na história e a que se tem direito a um bonito troféu. Por vezes, a atitude, a força mental e a solidariedade também têm espaço na alta competição. É por tudo isto que Lawson Craddock, o número 13 deste Tour, pode dizer que foi orgulhosamente último da corrida, do primeiro ao último dia. 

Só durante 100 quilómetros não sofreu com as dores de quem fracturou a omoplata logo na primeira etapa. Uma queda que o deixou ainda com um rosto ensanguentado devido a um corte no sobrolho. Uma das imagens desta Volta a França. Poderia ter abandonado ao saber que tinha fracturado a omoplata, mas decidiu continuar e tornar a sua presença no Tour uma forma de angariar dinheiro para a reconstrução do velódromo de Alkek, em Houston, muito afectado pelo furacão Harvey, há um ano. Craddock comprometeu-se a doar 100 dólares (cerca de 85 euros) por cada etapa que terminasse. Apelou a que mais também ajudassem com o valor que quisessem.

O seu esforço não foi inglório. Na campanha criada na página Go Fund Me pode-se ver que vai em mais de 233 mil dólares, quase 200 mil euros. Mais do dobro do inicialmente pretendido. "Sem a campanha, eu se calhar teria ido para casa há duas semanas", admitiu Craddock, no comunicado da equipa EF Education First-Drapac p/b Cannondale. "Fui além dos meus limites. Muitas vezes durante a corrida não sabia se conseguiria, mas as palavras de encorajamento e a generosidade que todo o mundo mostrava, motivaram-me. Cortar a meta em Paris é algo extremamente emotivo", salientou.

Com o líder Rigoberto Uran a abandonar, a equipa não conseguiu obter nenhum resultado de nota neste Tour, depois do segundo lugar do colombiano na edição passada. Porém, o último lugar de Craddock foi um feito que até o director da equipa destacou. "O que o Lawson fez foi muito altruísta", referiu Jonathan Vaughters, que contou como toda a equipa o apoiou. Pierre Rolland, por exemplo, abria-lhe os géis durante a corrida.

Para aguentar as 21 etapas, incluindo a do pavé - que se foi infernal para muitos, ninguém a fez com uma fractura na omoplata -, Craddock foi submetido a três sessões de quiroprática por dia, além de ser constantemente acompanhado pelos médicos da equipa, directores e sempre pelos companheiros.

Muitas vezes se viu aquele número 13 no final do pelotão e até pode ter ficado com o título de lanterna vermelha, no entanto, quando se olha para os resultados nas etapas, há um que salta à vista: no Alpe d'Huez.  Dos 153 ciclistas que nesse dia terminaram, Craddock foi 42º a "apenas" 23:39 de Geraint Thomas (Sky). De resto terminou sempre entre os últimos, mas é mesmo caso para dizer que Craddock foi orgulhosamente último: 145º, a 4:34:19 horas do camisola amarela, Geraint Thomas.


29 de julho de 2018

Do falhanço da Movistar e Mitchelton-Scott ao renascer da Lotto-Jumbo e quase perfeição da Sky

(Fotografia: © ASO/Bruno Bade)
Ponto final numa 105ª edição do Tour que consagrou Geraint Thomas como o grande campeão. 145 ciclistas chegaram aos Campos Elísios, numa corrida que teve uma etapa de pavé que marcou muito alguns candidatos (houve quem não resistisse), ainda que logo no primeiro dia houve quem começasse a perder tempo. A aposta de poucas chegadas em alto pode por vezes ser um pouco frustrante para quem assiste, mas acabou por manter este Tour um pouco mais indefinido. Julian Alaphilippe surpreendeu na montanha, enquanto Sagan não dá hipóteses nos pontos. De referir ainda o adeus de um ciclista que marcou uma geração em França: Sylvain Chavanel. Agora é tempo de balanços e respeitando a classificação por equipas aqui fica a prestação das 22, com várias a saírem de França com poucas ou nenhumas razões para sorrir.

Movistar: Ganhar uma etapa, mesmo que tenha sido a muito aguardada de apenas 65 quilómetros nos Pirenéus, foi muito pouco para Nairo Quintana e ainda menos para uma Movistar que resolveu apostar tudo no Tour e saiu quase de mãos a abanar. O muito falado tridente nunca assustou ninguém. Quintana pode ter tido azar logo no primeiro dia ao partir as rodas, mas depois nunca foi aquele colombiano que entusiasmava sempre que atacava e deixava a concorrência em sentido. Mesmo a vitória na etapa foi muito consentida pelos adversários. Viu-se um pouco do bom Quintana, mas fica a questão de onde anda o grande Quintana. Mikel Landa só apareceu na última etapa de montanha em boa forma, tendo andado limitado com dores nas costas devido a uma queda na etapa do pavé. Alejandro Valverde fez o que lhe competia para ajudar, tal como Marc Soler, mas a super equipa não existiu. Andrey Amador, Daniele Bennati e Imanol Irviti - Rojas abandonou no final da primeira semana - são ciclistas de qualidade e trabalharam muito, mas não formaram o esperado bloco que fizesse frente à Sky. Para a maioria das equipas ter dois homens no top dez seria excelente, para a Movistar pouco significado tem quando os queria ver no pódio, um deles em primeiro.

Bahrain-Merida: A saída de Vincenzo Nibali foi de um tremenda injustiça para um ciclista que ameaçava construir no Alpe d'Huez uma candidatura que preocuparia a Sky. Irresponsabilidade, distracção, fosse o que fosse daquele adepto, acabou com a corrida do italiano, mas não com a da equipa. Antes Sonny Colbrelli só não conseguiu bater Peter Sagan num sprint e depois da saída de Nibali, os irmãos Izagirre tomaram conta das fugas, mas ambos não foram além de um segundo lugar. Perante as contrariedades, nem tudo foi perdido, contudo, saberá certamente a pouco.

(Fotografia: © ASO/Marie-Christine Lieu)
Sky: Quando parecia que começava a mostrar debilidades, a equipa britânica reapareceu neste Tour forte, imperturbável, até quando Gianni Moscon resolveu agredir outro ciclista e foi expulso. Este foi o ponto baixo de uma equipa que soube lidar com uma co-liderança, controlando os egos de Geraint Thomas e Chris Froome. O objectivo de ver Froome fazer história com a dobradinha Giro/Tour, ganhando quatro grandes voltas consecutivas e o quinto Tour não foi alcançado. Porém, a Sky ganhou o sexto Tour em sete anos, agora com um Thomas que cresceu dentro da estrutura e já não é um braço direito de luxo, é um líder de pleno direito. E para acabar em grande, só faltou a vitória de Froome no contra-relógio, no único erro cometido pela equipa. Thomas "levantou o pé" para que o companheiro ganhasse e depois Tom Dumoulin estragou a festa. Ainda assim, Froome foi ao pódio e, claro, ninguém irá esquecer que este foi o Tour em que apareceu o próximo grande voltista: Egan Bernal.

Lotto-Jumbo: Quarto e quinto lugar na geral, um pódio que escapou no contra-relógio e três etapas ganhas.  No início do Tour nada disto era esperado. Primoz Roglic comprovou que é ciclista para disputar as três semanas. Pode ter perdido o pódio na sua especialidade, o contra-relógio, mas até esse dia servirá para o esloveno evoluir, se tirar as ilações correctas do que correu mal. Venceu uma etapa, juntando às duas do sprinter Dylan Groenewegen. Steven Kruijswijk mostrou que ainda tem algo mais para dar, mesmo estando a perder o protagonismo para Roglic. Excelente corrida desta equipa, que passará a ser vista com outros olhos nas próximas grandes voltas.

Astana: É urgente encontrar um líder para as três semanas. Jakob Fuglsang teve a sua oportunidade e desperdiçou-a. No entanto, esta é uma equipa que praticamente todos os ciclistas têm um espírito de lutadores, muito à imagem do director Alexander Vinokourov. A perda muito cedo de Luis Leon Sánchez foi um rude golpe - sofreu uma queda -, mas Omar Fraile e Magnus Cort Nielsen foram buscar duas vitórias de etapas muito desejadas, principalmente depois de um início de temporada forte, que acabou por não ter continuidade no Giro. Esperava-se um pouco mais da Astana, de Fuglsang, mas duas vitórias de etapa, mais a participação em várias fugas, faz com que tenha sido um Tour menos mal, tendo em conta o falhanço do dinamarquês (12º a 19:16 minutos).

Sunweb: Segundo lugar na geral e vitória no contra-relógio com Tom Dumoulin. Esta é uma equipa que segue os passos da Sky no que diz respeito em concentrar toda a responsabilidade num ciclista para ganhar. Para quem ia ao Tour para se testar (nunca tinha feito Giro/Tour com a intenção de tentar vencer ambos), pode-se dizer que passou com distinção. Foi novamente segundo atrás de um ciclista da Sky, mas Dumoulin esteve muito bem. Só ele e Thomas não tiveram um mau dia. Não restam dúvidas que o holandês terá o Tour como principal objectivo e que a Sunweb irá continuar a construir uma equipa forte para melhor proteger o seu líder. Nesse aspecto, o Giro correu melhor. Sam Oomen fez falta.

AG2R: Perder Axel Domont, Alexis Vuillermoz e Tony Gallopin foi um rude golpe, quando ainda faltava metade do Tour e praticamente todas as principais etapas. Pierre Latour esteve muito concentrado em garantir a classificação da juventude e em certos momentos deveria ter estado ao lado do seu líder Romain Bardet. Porém, foi mesmo Latour quem deu a maior alegria a uma equipa que acreditava em algo especial para este Tour, mas Bardet não esteve à altura dos acontecimentos. E não se pode apenas culpar os abandonos precoces. O francês falhou quando tinha de ser ele a mostrar-se. Desta feita nem foi o contra-relógio o seu calcanhar de Aquiles. Bardet falhou na montanha e a AG2R nem uma vitória de etapa conseguiu. Valeu a classificação da juventude, mas que deve saber a pouco.

BMC: A presença da equipa americana resume-se ao triunfo no contra-relógio e a Greg van Avermaet. Mas sete dias de camisola amarela é algo de positivo, com o belga a salvar a BMC, que viu Richie Porte cair novamente e abandonar na nona etapa, enquanto Tejay van Garderen (sim, acabou o Tour), não esteve à altura da responsabilidade de assumir a liderança. A outra boa notícia acabou por ser a garantia que a estrutura vai continuar, agora como apoio da empresa polaca CCC. De resto, a BMC sairá de França com poucas razões para sorrir.

Quick-Step Floors: Quatro vitórias de etapa e a classificação da montanha. Perfeito dentro dos objectivos desta equipa. Aliás, a conquista de Julian Alaphilippe até é um bónus, já que não deixou de ser algo surpreendente vê-lo segurar a camisola das bolinhas na mais alta da montanha. Só faltou Fernando Gaviria ter capacidade para passar as maiores dificuldades, ele que há um ano venceu a classificação dos pontos no Giro. Mas venceu duas etapas e vestiu a camisola amarela logo na estreia no Tour. Bob Jungels ficou à porta do top dez, com pouco mais de dois minutos a separá-lo de Nairo Quintana. Mais um passo rumo à evolução do luxemburguês. A Quick-Step Floors sai de França sendo uma das equipas com melhor prestação.

Mitchelton-Scott: Depois da performance no Giro, de ter optado deixar o sprinter Caleb Ewan em casa para apostar tudo em Adam Yates, a Mitchelton- Scott sai vergada por uma ambição que esbarrou num líder incapaz de se apresentar ao melhor nível e numa equipa que esteve longe do nível daquela que esteve em Itália. Quando Yates começou a fraquejar, ainda tentou ir buscar uma etapa, tal como Mikel Nieve. Contudo, a equipa australiana termina o Tour com uma prestação fraca. Está a tornar-se numa estrutura mais forte para este tipo de corridas, mas ainda há trabalho a fazer para se aproximar de uma Sunweb, por exemplo, e já nem se fala da Sky, que continua num patamar só dela nas grandes voltas.

(Fotografia: © ASO/Bruno Bade)
UAE Team Emirates: Daniel Martin e Alexander Kristoff cumpriram. Venceram uma etapa cada e o sprinter conquistou a mais desejada nos Campos Elísios. O irlandês ganhou uma tirada, cedeu tempo, reconquistou-o, teve o top dez em risco, mas lutou para o garantir. Por tudo isto recebeu o prémio de supercombativo da Volta a França. Fechou na oitava posição, a 9:05 de Geraint Thomas. Mesmo que tivesse ao seu lado um bloco mais forte, Martin não foi (e talvez não seja) um ciclista para discutir um pódio no Tour. E quase que deu para esquecer que haviam mais seis ciclistas em prova, pois mantém-se o eterno problema desta formação. Já Kristoff esteve sempre na disputa dos sprints e no final teve a recompensa. Pode-se dizer que faltaram os grandes nomes e que Sagan estava limitado, mas o norueguês teve todo o mérito em bater uma concorrência que não deixou de ser de respeito.

Cofidis: Christophe Laporte esteve perto de agradecer a confiança depositada nele para os sprints, mas Arnaud Démare relegou-o para segundo lugar, da única vez que esteve realmente na disputa. Para uma equipa que deixou Nacer Bouhanni em casa de forma a ter parte dela a apostar em fugas para procurar uma etapa, os planos da Cofidis estiveram longe de ser concretizados. Tour negativo para a equipa francesa. Praticamente não se viram os seus corredores.

(O texto continua por baixo do vídeo.)



Trek-Segafredo: Valeu o renascimento de John Degenkolb, ou pelo menos assim se espera depois de ganhar em Roubaix e ter sido segundo nos Campos Elísios. Toms Skuijns também esteve bem e chegou a estar com a camisola da montanha, antes das etapas mais complicadas chegarem. Já Bauke Mollema falhou por completo, tentou salvar algo entrando em fugas, mas se há uma ilação a tirar deste Tour, é que não restam dúvidas que está na altura de renovar, algo que estará a ser preparado para 2019.

Fortuneo-Samsic: Pode não ser uma equipa forte, mas Warren Barguil não se pode queixar de falta de apoio para que concretizasse o objectivo de ganhar a etapa. Chegou a ter quase todos os companheiros em fuga com ele. Foi Barguil quem esteve mal. Quando foi necessário assumir a corrida, a condição física não estava lá. Uma sombra comparativamente com o ciclista entusiasmante de 2017, que venceu duas etapas e a camisola da montanha com a Sunweb. Nem frente a um ciclista que não é um puro trepador como ele, Julian Alaphilippe - mas que agiu como tal -, conseguiu pelo menos garantir aquela classificação. Há muito a mudar neste Barguil que saiu da Sunweb porque queria ser líder indiscutível, mas que não mostrou estar preparado para a responsabilidade.

Groupama-FDJ: Arnaud Démare salvou a corrida da equipa francesa ao vencer uma etapa, mas a desconfiança lançada que recebeu ajuda do carro da equipa para chegar dentro do tempo limite na etapa dos 65 quilómetros, acaba por estragar ainda mais uma prova em que a Groupama-FDJ mostrou precisar de ter um Pinot Pinot para pelo menos aspirar a algo mais. Démare tem mérito na vitória, mas quando estavam todos os principais sprinters revelou dificuldade para estar lado-a-lado com eles. Foi pena não se ter visto mais do jovem talento David Gaudu.

Direct Energie: Podem ter entrado nas fugas, tentaram, esforçaram-se, mas esta equipa francesa foi mais uma a desiludir. Esperava-se mais, principalmente de Lilian Calmejane, que há um ano venceu uma etapa. No primeiro Tour sem Thomas Voeckler, esta Direct Energie ficou aquém do que poderia fazer. Mas uma palavra para Sylvain Chavanel. Foi o adeus de um ciclista que marcou uma geração em França. Passou mais de um ano da sua vida a participar em Voltas a França, venceu três etapas e só não terminou duas das 18 que fez. Chavanel bem tentou uma daquelas vitórias a atacar de longe, mas não estava destinado. No final da temporada, o francês de 39 anos sairá de cena.

Katusha-Alpecin: Ilnur Zakarin lá apareceu nas duas últimas etapas para entrar no top dez e salvar um pouco um Tour muito fraco desta equipa. Dividida para ajudar o russo e Marcel Kittel, a aposta no alemão foi completamente falhada. O sprinter esteve muito longe das suas reais capacidades. Nunca demonstrou estar sequer perto do nível de Fernando Gaviria e Peter Sagan, por exemplo, acabando mesmo por abandonar nos Alpes. Já Zakarin demonstrou que consegue ter uma última semana forte, mas entre azares e algumas fraquezas nas duas primeiras, acaba por arruinar a possibilidade de fazer algo mais. Fez pódio na Vuelta, mas precisa de ser mais consistente no Tour e a equipa precisa de se reforçar para a montanha.

(Fotografia: © ASO/Bruno Bade)
Bora-Hansgrohe: Três etapas e a camisola verde de Peter Sagan, portanto, principal objectivo cumprido, depois de no ano passado ter sido uma desilusão com a expulsão do eslovaco. Sagan é um senhor que dá garantias e igualou o recorde de Erik Zabel. Já Rafal Majka ficou aquém do que deveria ter feito. Era um ano importante para o polaco afirmar-se, mas a única imagem que deixou é que pode ser um eterno candidato ao top dez (nesta edição nem isso), um potencial vencedor de etapas (que também não alcançou desta feita) e talvez se apontar a esse objectivo, voltar a conquistar a camisola da montanha, mas um verdadeiro candidato a disputar a Volta a França... este Majka não é.

Wanty-Groupe Gobert: A equipa belga mostrou-se em algumas fugas, mas foi em Guillaume Martin que residiu a esperança de algo espectacular. O jovem francês esteve durante muito tempo na luta pela camisola da juventude com Pierre Latour, mas os Pirenéus acabaram por estragar um sonho. Não foi um Tour muito conseguido por esta equipa de ciclistas combativos, juntando-se às restantes Profissionais Continentais - Cofidis, Direct Energie e Fortuneo-Samsic - que fizeram pela vida, mas nada alcançaram.

EF Education-First- Drapac p/b Cannondale: Sem Vincenzo Nibali, a Bahrain-Merida socorreu-se dos irmãos Izagirre para não passar ao lado Tour. Sem Rigoberto Uran, uma das "vítimas" da etapa do pavé, a equipa americana não teve ninguém. Até parece irónico que o ciclista que mais destaque teve foi o "lanterna vermelha" Lawson Craddock. Ao falhar todos os objectivos competitivos de ganhar, a luta do americano de permanecer na corrida depois de fracturar a omoplata na primeira etapa foi a grande vitória da formação americana.

Dimension Data: Serge Pauwels tentou salvar algo deste Tour entrando em fugas, mas uma queda atirou-o para fora da corrida. Mark Cavendish foi uma nulidade no sprint e se houve abandono que não surpreendeu foi o do britânico. Foi uma Volta a França demasiado fraca da equipa sul-africana que está a precisar de sangue novo para reaparecer como candidata a pelo menos não passar quase completamente despercebida.

Lotto Soudal: A equipa caça-etapas que viu tudo correr-lhe bastante mal. Perder Tiesj Benoot logo após a quarta tirada, devido a queda, acabou por ser um rude golpe. André Greipel está na fase descendente da carreira, ainda que num sprint não ficou longe de mais uma vitória no seu impressionante currículo (11 triunfos só no Tour). O inevitável Thomas de Gendt ainda tentou, mas não foi aquele ciclista muito activo em fugas como já se viu. Se era preciso mais para se perceber como é uma Volta a França para esquecer, só três ciclistas completaram as 21 etapas.

Para terminar, o link para as classificações finais da Volta a França (via ProCyclingStats) e o melhor do Tour no vídeo em baixo.




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»»O renascer de uma equipa««

28 de julho de 2018

Thomas deixou cair a máscara num ano que se espera ser de mudança para o Tour

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
"Isto é de doidos!" Talvez este seja um aspecto que todos concordam com Geraint Thomas. É uma vitória que se alguém tivesse dito no início da Volta a França que iria acontecer, se teria dito que era uma opinião de doidos! Mas aconteceu mesmo e foi do melhor que poderia ter acontecido ao Tour e à própria Sky. Thomas é um justíssimo vencedor. Foi o mais forte, não demonstrou fraqueza, tenha sido por nunca ter sido verdadeiramente testado, ou porque quando alguém tentou atacá-lo, rapidamente a superioridade do galês e da Sky ficou bem clara. Thomas sempre manteve uma postura muito britânica, sem deixar transparecer emoções. O discurso era cauteloso e de respeito para com Chris Froome. Quando acabou o contra-relógio deixou finalmente cair a máscara e nem conseguiu acabar a primeira entrevista como o vencedor da Volta a França.

Nos últimos dois anos Thomas tem reclamado uma oportunidade para liderar a toda poderosa Sky. Recebeu-a na Volta a Itália em 2017, mas uma queda devido a uma má paragem de uma moto da polícia, levou-o ao abandono. Prometeu regressar, mas Chris Froome decidiu ir ao Giro. Foi das poucas vezes que Thomas deixou escapar alguma emoção, não escondendo que não queria continuar dependente da decisões de Froome. Assumiu-se como co-líder da Sky para o Tour, mas nunca conseguiu convencer que era mesmo hipótese para ganhar a Volta a França.

Afinal Froome ultrapassou o caso do salbutamol e tinha estado fenomenal no Giro. Sem colocar em causa a harmonia da equipa, Thomas assumiu-se mesmo como o mais forte durante o Tour e com Froome a pagar a factura de ter estado em Itália, o galês agarrou com os mãos, pernas, com tudo o que tinha a uma oportunidade que poderia ser única se falhasse. Não só não falhou, como convenceu todos que é voltista. A amizade entre ambos terá mesmo funcionado a favor de uma sempre perigosa co-liderança, mas que desta vez funcionou (a Movistar não pode dizer o mesmo, por exemplo).

Curiosamente, ainda na sexta-feira, Thomas escolheu uma frase que marcou o início da era de Froome: "Os meus resultados irá resistir ao teste do tempo." Froome disse o mesmo quando ganhou o seu primeiro Tour, contudo, terá sempre uma suspeita a pairar sobre si, perante o que aconteceu na Vuelta. A Sky também, pelo que os seus ciclistas estarão sempre debaixo de olho. No entanto, todo o percurso de Thomas desde a pista, à estrada, de gregário a vencedor de corridas de uma semana e a confirmação que é um voltista de respeito, demonstra que o galês tinha capacidade para mais do que um papel secundário. E sim, merece todo o reconhecimento, sem que se esteja sempre a duvidar. Apuparam-no, tentaram empurrá-lo, questionaram-lhe constantemente se ia ajudar Froome ou se correr por ele e Thomas mostrou-se forte psicologicamente, aguentou uma enorme pressão. Também isso define um grande atleta.

Depois de neste domingo celebrar nos Campos Elísios, Thomas terá de definir o seu futuro. Todas as questões que foram sendo colocadas durante o Tour - se tinha capacidade para lutar pela vitória, se era mesmo líder... - foram respondidas a favor de Thomas, que venceu duas etapas, incluindo no mítico Alpe d'Huez. Falta agora responder a uma: irá renovar? A Sky quer manter este ciclista de 32 anos. Porém, quando Froome parecia estar relegado até do pódio, eis que o campeão reaparece no contra-relógio e deixa bem vincado que continua mais do que preparado para conquistar mais alguma (ou algumas) grandes voltas. 

Se Thomas renovar, vai querer continuar a apostar no Tour, mas Froome também o irá fazer em 2019, à procura do quinto triunfo. Esta foi uma co-liderança em que Thomas não deixava de ser um plano B. Mas vencendo, quer ser o A e aí sim, haverá um luta de egos que nem uma amizade poderá controlar.

Thomas poderá optar por mudar de equipa, na qual terá sempre outro desafio. Nenhuma lhe poderá oferecer um grupo tão forte de gregários como a Sky. Mas terá a liderança desejada, sem depender das escolhas de Froome e sem um Egan Bernal que não vai demorar muito a tornar-se também ele num líder.

Geraint Thomas quebrou uma hegemonia que se tornava quase monótona de ver Froome ganhar. Para o Tour foi excelente ver uma maior indefinição, mesmo que essa tenha vindo de dentro de uma Sky que pode não reunir a maior das admirações em França, mas já são seis Tours em sete anos. Mesmo para a equipa foi positivo ter o galês a vencer e assim evitar o prolongar polémicas em redor de um ciclista que está a precisar de ficar uns tempos mais discreto, para provavelmente ressurgir forte nos Mundiais.

Este Tour pode marcar uma mudança no que se tem visto nos últimos anos. Thomas não é nenhum jovem, mas pode ser mais um candidato a juntar-se a uma lista que garantidamente tem Tom Dumoulin (Sunweb) como um grande voltista, além do possível nascer de uma estrela chamada Primoz Roglic (Lotto-Jumbo). Mikel Landa (Movistar) esteve muito aquém do desejado, mas o melhor do espanhol há-de reaparecer e não vamos já afastar Romain Bardet (AG2R). O francês falhou depois de dois pódios consecutivos, mas é um ciclista que está ainda precisa de evoluir um pouco mais para atingir a consistência daqueles que este ano lutaram pelo Tour. Tem tudo para o conseguir.  Da geração de Thomas, fica a esperança de ainda se ver um último fôlego de Richie Porte, outro antigo gregário da Sky, que mostrava mais capacidade para se tornar líder do que Thomas, mas que não consegue escapar a azares.

A Volta a França foi das mais interessantes dos últimos anos, com várias etapas de apresentaram espectáculo e este conjunto de ciclistas, a que se podem a qualquer momento juntar uma juventude agora a surgir e que tem neste momento Egan Bernal como a figura máxima, pode ser decisiva para esta corrida recuperar o estatuto de ser a melhor de três semanas. Nas mais recentes edições foi batida constantemente por uma Vuelta e mesmo o Giro. Sim, a Sky controlou e pouco ou nada abanou, mesmo com a expulsão de Gianni Moscon. Porém, já praticamente todos não têm receio de tentar fazer frente.




21ª e última etapa da 105ª edição do Tour: Houilles - Paris Champs-Élysées, 116 quilómetros

Este domingo é dia de consagração e de conhecer quem vencerá nos Campos Elísios. Com quase todos os principais sprinters de fora e com um Peter Sagan limitado devido à queda na quarta-feira, serão muitos a tentar um último momento de glória, no palco mais sonhado pela maioria dos ciclistas.

No pódio estarão certamente Geraint Thomas, ladeado por Tom Dumoulin (que venceu o contra-relógio deste sábado - bateu Froome por um segundo e ficou a 1:51 de Thomas, que foi terceiro na etapa) e Chris Froome, que recuperou o terceiro lugar que Primoz Roglic lhe tinha tirado na sexta-feira (fica a 2:24 do colega de equipa). Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) confirma a conquista da camisola verde dos pontos e iguala o recorde de Erik Zabel (seis), Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors) é o rei da montanha e Pierre Latour (AG2R) venceu a classificação da juventude. Daniel Martin (UAE Team Emirates) foi considerado o supercombativo do Tour, enquanto a Movistar ganhou por equipas.

Pode ver aqui a classificação.



»»O renascer de uma equipa««

»»Froome "é humano", Thomas o mais forte, Bernal o futuro a pedir para se tornar no presente««

27 de julho de 2018

O renascer de uma equipa

(Fotografia: © ASO/Bruno Bade)
Estabilidade. Uma palavra-chave para o renascer de uma equipa que nos finais dos anos 90 e na primeira década do século era das mais forte do pelotão. A então Rabobank estava na luta pelas grandes corridas, com planteis fortes e durante quase duas décadas, o banco holandês foi um patrocinador importante, inclusivamente para o ciclismo feminino e de formação. Foi a este último que se agarrou quando em 2012 bateu com a porta à elite devido às alegações de doping. Foi um rombo numa estrutura que teve em Richard Plugge um director que se recusou a deixar cair a equipa. A reconstrução foi difícil e a incerteza foi muita, mas 2018 está a tornar-se no ano em que há certezas que a agora denominada Lotto-Jumbo começa a mostrar potencial para regressar ao topo.

Em 2016, Steven Kruijswijk quase conseguiu dar uma inesperada vitória numa grande volta. Uma queda e Vincenzo Nibali tiraram-lhe o Giro. Escapou um triunfo na geral de uma grande volta que não acontece desde que Denis Menchov ganhou a Vuelta e o Giro, em 2007 e 2009, respectivamente. Kruijswijk não mais conseguiu aparecer àquele nível. Neste Tour tem estado muito bem, mas ofuscado por um brilhante Primoz Roglic. O saltador de esqui que deu em ciclista e que em três grandes voltas, ganhou sempre uma etapa. E na primeira vez em que lhe é concedido o estatuto de líder, está a 31 quilómetros de um contra-relógio - no qual é especialista - de conseguir o pódio, provavelmente tirando o lugar ao quatro vezes vencedor da Volta a França, Chris Froome.

Quando há dois anos venceu o contra-relógio no Giro, foi uma espécie de "Primoz quê?" Roglic é agora um nome bem conhecido - ainda mais em Portugal, onde venceu a Volta ao Algarve em 2017 - e nesta Volta a França conquistou um estatuto no pelotão que ele muito trabalhou, mas que ainda estava rodeado de alguma desconfiança. A sua qualidade como ciclista de provas de uma semana estava mais do que confirmada. Só este ano venceu a Volta à Romandia, ao País Basco e da "sua" Eslovénia. Agora confirma que é também um corredor de 21 etapas.

Esta sexta-feira, numa tirada espectacular nos Pirenéus, Roglic - que fará 29 anos em Outubro - foi irrepreensível. Saltou para o terceiro lugar e o segundo está a 19 segundos. Se Tom Dumoulin (Sunweb) tem razões para se preocupar, já Geraint Thomas (Sky) só terá de ser igual a ele próprio e evitar azares. 2:24 minutos será uma distância demasiado grande para perder em 31 quilómetros, mesmo que se esteja perante o vice-campeão do mundo. Ao contrário do campeão Dumoulin, Roglic não fez o Giro. Uma segunda vitória de etapa não é de afastar, tal como passar o holandês.

Depois há um Dylan Groenewegen (25 anos), vencedor de duas etapas neste Tour e que em 2017 ganhou nos Campos Elísios. Cada vez mais é um dos melhores sprinters da actualidade e está também a fazer o trabalho para se tornar num homem de clássicas. Kruijswijk merece o mérito de ter sido essencial nesta reconstrução da equipa, ele que ficou na estrutura desde os tempos da Rabobank, mas são Roglic e Groenewegen os rostos de uma Lotto-Jumbo que nas próximas grandes voltas não será mais uma simples outsider.

Mas estes são os nomes que se consagraram no maior palco de ciclismo do mundo. Contudo, há ainda um muito talentoso George Bennett, cujo oitavo lugar no Giro pode não ter sido bem o que esperava, mas este australiano ainda tem algo mais para dar e conquistar. Aos 24 anos, Antwan Tolhoek é uma esperança holandesa a receber a formação numa equipa que está a produzir bons ciclistas.

A par de Kruijswijk há ainda um Jos van Emden, um Lars Boom e a locomotiva Robert Gesink. Todos já com mais de 30 anos, todos do tempo da Rabobank e todos de confiança para o director Richard Plugge. Gesink não se tornou no voltista esperado, no entanto, o trabalho que hoje realizou para encurtar distâncias para o grupo de Mikel Landa (Movistar) e Romain Bardet (AG2R), explica porque o contrato foi renovado até 2021. Sozinho fez o trabalho de três ou quatro ciclistas da Sky! A vitória de Roglic na etapa também tem muito de Gesink.

Para o ano será apenas Jumbo, ainda  que não esteja excluída a entrada de outro patrocinador. A Lotto sai de cena, mas a cadeia de supermercados garantiu que a aposta será forte e até aumentada, comparativamente com este ano. É tempo de crescer. O passado está mesmo lá atrás. Longe vão os tempos em que a equipa foi apenas a Blanco, sem patrocinador. A Belkin apareceu para dar um primeiro empurrão rumo à reconstrução de uma estrutura que viu alguns dos seus principais ciclistas serem envolvidos em casos de doping, ou de não se livrarem de suspeitas.

Os actuais patrocinadores vincularam-se em 2015. Ano complicado, com apenas seis vitórias. Porém, aquela de Bert-Jan Lindeman na Vuelta serviu de mote para o recomeço de uma equipa que sabe vencer, mas que ainda lhe falta uma vitória na geral de um corrida de três semanas ou num momento, pois soma triunfos em praticamente todas as principais provas. Estará a aproximar-se?...

Etapa espectáculo

A subida ao mítico Tourmalet impulsionou o espectáculo a 100 quilómetros da meta, muito devido a Mikel Landa. Apenas com tudo a ganhar, o espanhol da Movistar cumpriu o prometido e atacou de longe, levando com ele Romain Bardet (AG2R), com Ilnur Zakarin a agarrar-se ao grupo depois da Katusha-Alpecin lhe ter preparado o terreno para tentar ganhar a etapa. Juntou-se ainda um Rafal Majka à procura dar mais uma vitória à Bora-Hansgrohe além das três de Peter Sagan, depois de ter desiludido na luta pela geral.

Primoz Roglic foi o mais espectacular de todos, num dia em que Chris Froome agarrou-se como pôde a Egan Bernal para tentar salvar um terceiro lugar, que, ainda assim, está agora a 13 segundos. Tom Dumoulin fez tudo para defender o seu segundo posto, mostrando que lutar pelo Tour é algo que estava além das suas capacidades. O preço do Giro está a ser pago, pelo que fez o que lhe competia, ainda que para isso tenha ajudado Geraint Thomas a ficar a 31 quilómetros de conquistar um Tour que ninguém, ou quase, acreditaria ser possível há três semanas. Se os três actuais ocupantes do pódio ali permanecerem, o Tour terá três estreantes nestas posições nesta corrida. Só Tom Dumoulin sabe o que é subir ao pódio de uma grande volta: ganhou o Giro em 2017.

(O texto continua por baixo do vídeo.)




Landa subiu ao sexto lugar, enquanto o companheiro Nairo Quintana caiu de quarto para nono, depois de uma etapa dolorosa. O colombiano sofreu uma queda na quinta-feira e não escondeu o quanto o limitou fisicamente. Salva para a Movistar a vitória na etapa dos 65 quilómetros por parte de Quintana e a classificação de equipas. Zakarin é agora 10º à custa de um Jakob Fuglsang que deu certezas à Astana que tem de contratar um ciclista para as três semanas.

Faltam então 31 quilómetros entre Saint-Pée-sur-Nivelle e Espelette, num contra-relógio que de direito pouco tem. Geraint Thomas sabe o que é vencer estas etapas, começou por o fazer há um ano no Tour, por exemplo. 2:05 é uma margem que lhe dá alguma tranquilidade. Em condições normais, nem Dumoulin, nem Roglic e muito menos um Froome cansado, conseguirão tirar-lhe a amarela. Se nada de anormal acontecer, é ele que será a estrela no desfile de campeões em Paris. Mas festas só no fim, como reitera um Peter Sagan que está a sacrificar-se como nunca para acabar o Tour e confirmar a conquista da sexta camisola verde. Escapou à exclusão por chegar fora do tempo limite, mas as dores continuam depois da queda na quarta-feira.

Quem também estará no "desfile" será Julian Alaphilippe. Mais um francês a ganhar a camisola da montanha, sucedendo a Warren Barguil. O ciclista da Quick-Step Floors pode não ser um trepador puro, mas agora já se questiona se será esse o caminho que seguirá na sua evolução, podendo assim pensar em lutar pela geral no Tour. Ainda é cedo e Alaphilippe quer é saborear esta excelente conquista. Pierre Latour partirá para o contra-relógio com 5:47 minutos de vantagem sobre Egan Bernal, pelo que também só algo de muito mau irá tirar ao francês da AG2R a camisola branca da juventude.

Está quase a terminar um Tour dos mais interessantes dos últimos anos. O contra-relógio não deverá ser aquele dia tão decisivo como a organização poderia desejar, mas vamos esperar pelo fim dos 31 quilómetros, pois há uma longa lista de ciclistas que podem atestar que tudo pode acontecer nesta Volta a França, do primeiro ao último metro.

Pode ver aqui as classificações.


Joni Brandão empata com Domingos Gonçalves antes do arranque da Volta a Portugal

Com a corrida por que todas as equipas portuguesas mais esperam a poucos dias de começar, Joni Brandão tem no ranking nacional mais uma prova de como a sua regularidade em 2018 o coloca como um dos candidatos a lutar pela Volta a Portugal. O difícil 2017 está definitivamente no passado e o ciclista do Sporting-Tavira aproveitou um mês de descanso por parte de Domingos Gonçalves para apanhar o corredor da Rádio Popular-Boavista no topo do ranking nacional.

Está a ser uma temporada muito positiva para a equipa algarvia de Vidal Fitas. Sem os problemas de saúde de Joni Brandão e também com as lesões a não afectarem tanto o Sporting-Tavira, a formação está muito mais competitiva e com enorme ambição para rivalizar com a W52-FC Porto. Apesar de um mês em que conquistou o Troféu Joaquim Agostinho (José Neves) e o Grande Prémio de Portugal Nacional 2 (Raúl Alarcón), ainda assim não conseguiu ultrapassar o Sporting-Tavira, com apenas 51 pontos a separá-las.

Quanto a Joni Brandão, está em igualdade pontual com o campeão nacional de estrada e contra-relógio (597), mas com as vitórias a permitirem Domingos Gonçalves ser o primeiro classificado. Luís Mendonça (Aviludo-Louletano-Uli) é terceiro, sendo mais um dos ciclistas em destaque esta temporada, principalmente com a excelente vitória na Volta ao Alentejo.

Quanto aos sub-23, o critério de desempate permite ao espanhol Xuban Errazquin (Vito-Feirense-BlackJack) ser o líder, mas Francisco Campos (Miranda-Mortágua) está em igualdade pontual (81).

A Volta a Portugal tem um enorme peso no ranking nacional elaborado pela Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais. A corrida começa em Setúbal na próxima quarta-feira, com Fafe a receber o grande final no dia 12 (domingo).

Ranking individual

1º Domingos Gonçalves (Rádio Popular-Boavista), 597 pontos
2º Joni Brandão (Sporting-Tavira), 597
3º Luís Mendonça (Aviludo-Louletano-Uli), 444
4º César Fonte (W52-FC Porto), 376
5º Daniel Mestre (Efapel), 355
6º Óscar Hernandez (Aviludo-Louletano-Uli), 335
7º Mario Gonzalez (Sporting-Tavira), 323
8º Edgar Pinto (Vito-Feirense-BlackJack), 321
9º Henrique Casimiro (Efapel), 311
10º José Neves (W52-FC Porto), 291

Ranking equipas

1ª Sporting-Tavira, 1474 pontos
2ª W52-FC Porto, 1423
3ª Rádio Popular-Boavista, 1150
4ª Efapel, 1108
5ª Aviludo-Louletano-Uli, 1106
6ª Vito-Feirense-BlackJack, 638
7ª Miranda-Mortágua, 235
8ª Liberty Seguros-Carglass, 129
9ª Fortunna-Maia, 35
10ª Jorbi-Team José Maria Nicolau, 7

Pode ver aqui os resultados das equipas de elite portuguesas e o ranking nacional mais pormenorizado.


26 de julho de 2018

Sagan e Gilbert, ciclistas da mesma estirpe

(Fotografia: © BORA-hansgrohe/Bettiniphoto)
Desistir não faz parte do vocabulário da maioria dos ciclistas. Multiplicam-se as histórias daqueles que ensanguentados, até com fracturas, acabam corridas, quando o comum dos mortais iria direitinho para o hospital. Porém, quando se está na mais icónica das corridas de três semanas, este tipo de postura ganha outra dimensão. O Tour começou logo com um Lawson Craddock a fracturar a omoplata e um corte no sobrolho transformou-se logo numa das imagens da competição. Ainda está em prova. Em dois dias, dois dos melhores ciclistas da actualidade mostraram do que são feitos. Philippe Gilbert e Peter Sagan são da mesma estirpe na forma como lutam, como acreditam, como nunca baixam os braços e como não há queda que os assuste.

Peter Sagan bem diz que a camisola verde só estará ganha quando cortar a meta em Paris, mesmo que matematicamente já esteja garantida. O eslovaco não é muito de quedas, mas numa das descidas da curta etapa dos Pirenéus (65 quilómetros) caiu a alta velocidade. Com o equipamento rasgado, sangue na perna e no braço e muito, muito dorido. Foi assim que terminou um dos dias mais difíceis do Tour. Pairou a possibilidade de abandono, mas Sagan lá estava em Trie-sur-Baïse para partir para a 18ª etapa e completar o que falta desta corrida.

Tentou sprintar pela vitória, mas faltou-lhe aquela explosão, numa preparação muito complicada para se colocar bem. Mas estava lá, a responder ao trabalho e apoio da Bora-Hansgrohe. Já tem três vitórias de etapa e a camisola verde. Aconteça o que acontecer, ganhe ou não em Paris, Sagan é uma das figuras deste Tour e mais uma vez um exemplo de profissionalismo.

E Gilbert então... 60 quilómetros com uma rótula partida?! O belga pode já não estar no seu melhor, mas continua a ser um senhor no pelotão e um elemento de extrema importância na Quick-Step Floors. Um verdadeiro capitão. Ia na liderança da 16ª etapa quando, numa descida, falhou uma curva, não evitou um choque com um muro baixo e foi parar do outro lado. Um enorme susto. Gilbert acabou a fazer sinal para a câmara que estava tudo bem. Estava? Acabou a etapa e ainda foi ao pódio para receber o prémio da combatividade. Os exames médicos confirmaram a fractura e só um joelho no estado que se pode ver na fotografia em baixo parou Gilbert.


Démare sob suspeita

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Não são perfeitos. Também já tiveram atitudes menos bonitas, mas Sagan e Gilbert são líderes de quem ninguém duvida. Arnaud Démare até poderia entrar neste grupo de lutadores. O francês tem sofrido tanto na montanha, escapado por pouco à exclusão por falhar o tempo limite, como aconteceu em 2017. Tudo para alcançar o que finalmente conseguiu: ganhar uma etapa. Até esta quinta-feira Démare foi falado mais por andar a lutar contra o tempo, do que propriamente por estar a fazer valer a aposta quase total da Groupama-FDJ nele, na ausência de Thibaut Pinot. Ganhou a etapa três dias depois do seu contrato ter sido renovado, mas mais uma vez tem uma grande vitória ensombrada por suspeitas de ter recebido ajuda do carro de equipa nas subidas.

Desta feita foi André Greipel quem as lançou. O alemão abandonou o Tour quando percebeu, nos Alpes, que não ia cumprir o tempo limite. Então foi logo bem claro: "Outros podem escolher agarrar-se ao carro de equipa, mas se eu não consegui chegar por mim próprio, então prefiro ir para casa. Não estou triste. Sou realista e um desportista justo." Já em casa a assistir à corrida, Greipel publicou um twit após a etapa dos 65 quilómetros: "Talvez alguém deva dizer à Groupama-FDJ e ao Arnaud Démare que há GPS para seguir [os ciclistas] no Tour. Tiro o chapéu por ter perdido apenas nove minutos para Quintana numa subida de 17 quilómetros." O sprinter da Lotto Soudal terminou com a hashtag #notforthefirsttime, isto é, "não foi a primeira vez".

Greipel está a referir-se à vitória de Démare no monumento da Milano-Sanremo em 2016. Então o francês foi acusado de ter recebido ajuda do carro de equipa para ultrapassar a Cipressa, depois de ter caído e ficado atrasado relativamente ao grupo da frente. Matteo Tosatto, então na Tinkoff, e Eros Capecchi, da Astana, serviram de testemunhas. Surgiram relatos que também um comissário teria visto Démare, mas o ciclista não recebeu qualquer sanção.

Na altura, como agora, Démare afirmou que há quem esteja na estrada para ver estas situações e este ano junta-se o vídeo-árbitro. Para o sprinter, ganhar esta quinta-feira em Pau foi a resposta perfeita a Greipel que, entretanto, apagou o twit. Num aspecto Démare tem razão, perante as palavras do alemão, a suspeita irá permanecer, mesmo que nada tenha feito de mal. Contudo, a fama e o respeito têm de ser construídos por ele e este tipo de acusações não estão a ajudar a um estatuto que Démare não está a conseguir conquistar. Também não ajudou que tenha ganho hoje com um "chega para lá" a Christophe Laporte (Cofidis). O problema deste tipo de suspeitas é que se torna difícil de não pensar que onde há fumo...

Mas vamos ao que é um facto e não suspeita. Foi a segunda vitória numa etapa no Tour, a primeira foi em 2017. E a Groupama-FDJ bem precisava dela. David Gaudu e Rudy Molard já se mostraram em fugas, mas sem resultados. Démare precisava corresponder à aposta com este triunfo e ainda faltam os Campos Elísios. Se lá chegar...

Pode ver aqui as classificações.

(O texto continua por baixo do vídeo.)




19ª etapa: Lourdes - Laruns, 200,5 quilómetros

Depois de um dia para ganhar fôlego - menos para Nairo Quintana (Movistar) que caiu e irá partir para a derradeira etapa de montanha algo dorido -, chegam os dois momentos decisivos. Antes do contra-relógio de 31 quilómetros, há 200,5 por percorrer, com passagem pelo mítico Tourmalet. 17 quilómetros com pendentes a chegar aos 10% e o topo a 2115 metros de altitude. Mas o Tourmalet está a meio da etapa. É o Col d'Aubisque  (16 quilómetros, com pendente média de 4,9%) que marca o final da montanha no Tour, ainda que a chegada esteja à distância de cerca de 20 quilómetros, depois dos ciclistas ultrapassarem a dificuldade.

Ao todo teremos duas quartas categorias, uma primeira, uma especial, uma segunda e outra especial. Mikel Landa (Movistar) lançou o repto que é preciso atacar cedo. Que assim seja. Que se jogue tudo, para deixar em aberto um contra-relógio complicado. Nem Geraint Thomas, nem a Sky dão o Tour como ganho, apesar do 1:59 sobre Tom Dumoulin (Sunweb). Se se juntar aquele Primoz Roglic (Lotto-Jumbo) de quarta-feira, naqueles intensos 65 quilómetros - o esloveno está à espreita de um surpreendente pódio -, então a Sky não terá sossego, mesmo com Chris Froome como gregário de luxo.



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