29 de junho de 2020

Desafio cumprido na Nacional 2! E já se pensa no próximo

© Federação Portuguesa de Ciclismo
A Estrada Nacional 2 é daquelas que é provável que esteja em muitas bucket list dos amantes das bicicletas. E não só. Ou seja, é uma daquelas coisas que um dia tem de se fazer. Percorrer mais de 700 quilómetros de Chaves a Faro, conhecendo um país de uma forma bem diferente. Entre quarta-feira e domingo, Maria Martins e Raquel Queirós cumpriram este desafio e ao acompanhar nas redes sociais as fotografias que foram partilhando, a vontade é pegar na bicicleta e partir!

São duas das jovens talentosas do ciclismo nacional e que se preparam para deixar desde já a sua marca na história da modalidade. Maria Martins (21 anos) já tem um bilhete garantido para os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021. Será a primeira vez que Portugal estará representado na pista, com Tata, como é conhecida, a ter lugar marcado no omnium.

Raquel Queirós está perto de assegurar o apuramento em BTT, no cross country (XCO), feito que ficou adiado quando as competições foram suspensas. Mas quando forem retomadas, a atleta, de apenas 20 anos, poderá ser também a primeira, no seu caso entre as mulheres, a alcançar a qualificação olímpica nesta especialidade.

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Precisamente por haver esta "ligação" aos Jogos, a aventura da semana passada recebeu o nome de "Pela Estrada Nacional 2 Rumo a Tóquio". Foram cinco etapas que receberam muita atenção, desde os clubes de ciclismo às associações regionais da modalidade, passando pelas autarquias e pelo Comité Olímpico de Portugal. Contaram ainda com o apoio da Federação Portuguesa de Ciclismo e com a presença de bastantes pessoas, tanto nas partidas, como nas chegadas. Mas também durante o percurso houve quem se juntasse às ciclistas a pedalar.

© Federação Portuguesa de Ciclismo
"Estes dias superaram todas as expectativas, nunca pensei que tanta gente aderisse e nos apoiasse durante este desafio. Além disso, as paisagens foram incríveis e aproveitámos para conhecer também um pouco do nosso país, que é tão bonito! Foi muito bom partilhar isto tudo com a Tata, que para mim é um grande exemplo de garra e determinação e uma grande figura do ciclismo feminino", afirmou Raquel Queirós.

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Chaves-Castro Daire (134,4 km), Castro Daire-Góis (133,7), Góis-Ponte de Sor (148,5), Ponte de Sor-Aljustrel (182,1) e Aljustrel-Faro, (117,2) foram as cinco etapas. E se um dos objectivos passava por incentivar a utilização da bicicleta, seja como uma forma de fazer desporto, ou para lazer, turismo ou mobilidade no dia-a-dia, na chegada ao Algarve a iniciativa das jovens teve também o seu lado solidário.

Foram entregues bicicletas e capacetes ao Refúgio Aboim Ascensão, para serem usados pelas crianças que ali vivem. "Foi uma forma muito emotiva de acabarmos esta viagem. É uma maneira de ajudarmos quem mais precisa e de o fazermos tentando desenvolver nas crianças a paixão pelo ciclismo", admitiu Raquel Queirós.

Para ambas, percorrer a Estrada Nacional 2 foi também uma forma de ter um desafio numa altura em que não há corridas. Maria Martins não só gostou da aventura, como a recomenda e já está a pensar na próxima. "Em termos físicos é algo que se faz muito bem, desde que haja uma boa gestão/organização e um ritmo controlado. Vimos paisagens incríveis. Foi aquilo de que mais gostei nesta aventura", contou.

E qual é o próximo desafio? "Fazer a nossa costa, que é fantástica."


28 de junho de 2020

Roglic bate Pogacar... Pogacar bate Roglic

© Bettiniphoto/UAE Team Emirates
Assim vai começando uma rivalidade de eslovenos, que vai ganhando expressão mundial. Em 2019 foram duas das principais referências. Primoz Roglic porque simplesmente parecia que só sabia ganhar. Tadej Pogacar porque no seu primeiro ano no World Tour, fez grandes exibições e também venceu bastante. Ambos foram as estrelas da Vuelta, só para que não houvesse dúvidas que a pequena Eslovénia, tem grandes talentos.

Há uma semana Primoz Roglic foi campeão nacional de fundo, tornando-se assim no primeiro na era pós-confinamento. Então, Pogacar foi segundo. Este domingo, Pogacar venceu no contra-relógio. Roglic foi segundo. É caso para dizer que os dois eslovenos continuam na senda vencedora, que no caso de Pogacar já tinha começado no arranque de temporada com a conquista da Volta à Comunidade Valenciana e a vitória na etapa rainha na Volta ao Emirados Árabes Unidos. Roglic só começou a competir em 2020 nos Nacionais.

Em 2019, Roglic venceu seis das 12 corridas que fez. Pogacar conquistou a Volta ao Algarve e da Califórnia e depois foi terceiro na Vuelta, somando mais três etapas. Partilhou protagonismo com Roglic, o vencedor da grande volta espanhola. O primeiro tem apenas 21 anos, o segundo 30, pois começou nos saltos de esqui, antes de se dedicar ao ciclismo.

Até se pode dizer que são duas gerações de atletas, mas estão perfeitamente em condições de serem rivais a disputar grandes corridas e, claro, que já se pensa na Volta a França. Ambos vão liderar as suas equipas. Pogacar será o líder indiscutível da UAE Team Emirates, que nem vai levar Fernando Gaviria, para não ter de dividir atenções entre geral e sprints.

Roglic fará parte do tridente da Jumbo-Visma, com Tom Dumoulin e Steven Kruijswijk, mas já vai marcando posição com estas boas exibições nos Nacionais. Ficou a nove segundos de Pogacar no contra-relógio (31:10 minutos), num percurso de 15,7 quilómetros entre Zgornje Gorje e Pokljuka, perto da fronteira com a Áustria.

Egan Bernal e Chris Froome, com a sempre poderosa Ineos centrarão muita da atenção quando o Tour chegar no final de Agosto. Porém, a Eslovénia tem o seu lugar de destaque com dois ciclistas diferentes, mas igualmente vencedores. Roglic foi um trabalhador para evoluir as suas capacidades. Só no Tour de 2018 é que finalmente convenceu tudo e todos que poderia ser um voltista.

Até lá, era um excelente contra-relogista e um exímio ciclista de provas por etapas de uma semana, mas ainda se questionava se aguentaria três semanas. Resposta dada em 2019, depois de um Giro em que aprendeu de uma forma dura como deve gerir a sua forma. Foi terceiro, quando era o grande favorito e começou fortíssimo a corrida. Redimiu-se na Vuelta

Pogacar é daqueles talentos natos, que ainda se está por perceber até onde vai o seu potencial. Naturalmente que é também muito trabalhador. Só assim se chega ao topo. A seu lado no Tour vai ter Jan Polanc. Mais um esloveno. No Giro de 2019 até andou de camisola rosa, mas agora sabe que vai mesmo ter de ser um fiel escudeiro de Pogacar.

A relação entre ambos foi precisamente aprimorada já nos Nacionais e Pogacar valorizou o trabalho do companheiro, que acabou por alcançar a sua recompensa ao ser terceiro no contra-relógio, a 1:47 minutos.

"O Jan mostrou que a sua forma está a melhorar. Ele trabalhou muito para mim na semana passada na corrida de fundo e conseguir o bronze é também muito bom para a equipa", afirmou Pogacar. Sobre a conquista pela segunda vez do título nacional de contra-relógio, disse: "Depois do segundo lugar na semana passada, regressar e vencer sabe mesmo bem. Foi um percurso que conhecia muito bem e tinha treinado muito durante a semana."

Os Nacionais da Eslovénia podem até ter recebido mais atenção por serem os primeiros pós-confinamento, numa altura em que o ciclismo começa a dar sinais de retoma, mas ainda falta praticamente um mês para os homens do World Tour regressarem às grandes corridas. No entanto, com um Roglic e Pogacar, a Eslovénia ganhou o seu lugar na modalidade, sem esquecer que Matej Mohoric (Bahrain-Merida), por exemplo, é um campeão de sub-23 (venceu em 2013) e soma uma etapa no Giro e na Vuelta.


25 de junho de 2020

Pelotão à espera de uma Volta a Portugal adiada e sem previsão de nova data

© João Fonseca Photographer
Primeiro foi Viana do Castelo, seguiu-se o autarca de Guarda a avisar que estava a avaliar se iria ou não receber a Volta a Portugal e depois foi de Viseu que veio a mensagem que Volta sim, mas em 2020 não. Quase que parecia inevitável que a corrida sofresse um adiamento. Ou será cancelamento?

De pouco valeu as garantias deixadas por Delmino Pereira numa entrevista à RTP, que era possível organizar uma Volta a Portugal com toda a segurança em tempo de pandemia. O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) reiterou que a Direcção-Geral de Saúde tinha aprovado o plano sanitário apresentado e salientou: "O grande problema não está nas normas. O grande problema está na nossa sociedade que está permanentemente a ser incumpridora das normas que a DGS definiu."

No entanto, a Podium, entidade responsável pela organização da Volta a Portugal, anunciou esta quinta-feira que não se irá avançar com a corrida nas datas previstas, entre 29 de Julho e 9 de Agosto. Uma decisão feita com a FPC.

"Com a evolução da pandemia, nos termos propostos na revisão do plano sanitário e tendo em conta as manifestações públicas e particulares de não autorização da passagem e permanência da Volta a Portugal em Bicicleta por diversos municípios integrantes do percurso da prova, as duas entidades [Podium e FPC] concluíram que não se encontram reunidas, por ora, as condições necessárias para a realização da 82ª Volta a Portugal Santander no mês de Agosto", lê-se no comunicado.

As equipas portuguesas tinham respirado de alívio quando a Direcção-Geral da Saúde tinham aceitado o plano sanitário da FPC para a realização da Volta, mas agora a incerteza paira novamente. Se a posição dos municípios se mantiver, poderá ser difícil a Volta ir para a estrada em 2020.

"A Volta é um incontornável evento nacional e motor desta grande modalidade desportiva que é o ciclismo, por essa razão a Podium e a FPC estão neste momento a equacionar outros cenários e a procurar activamente encontrar com os seus parceiros uma data alternativa para a realização do evento, ainda em 2020. Tencionamos dar nota dos resultados destas negociações a breve trecho", afirma a entidade.

Futuro das equipas

A viver muitas vezes no limite da sobrevivência financeira, as equipas portuguesas esperaram ansiosamente que a DGS desse luz verde ao regresso do ciclismo à estrada. Quanto tal finamente aconteceu, houve um suspiro de alívio, pois é na Volta a Portugal que as formações nacionais apostam quase toda uma temporada em termos de dar retorno à aposta que os patrocinadores fazem nelas.

Apesar de ser a Volta ao Algarve a corrida com categoria mais alta no país, é a Volta a Portugal aquela que continua a ser o ganha-pão das equipas lusas. A Algarvia tem um pelotão com algumas das melhores formações mundiais, o que significa que em termos mediáticos é na Volta a Portugal que as equipas nacionais recebem toda a atenção e mais lutam por vitórias.

Televisão, jornais (muitas vezes com mais do que uma página), rádios e claro nos sites, é na Volta que as equipas vêem o seu nome espelhado com destaque. Há algum tempo que a Volta a Portugal se tem centrado nas equipas de cá, sendo menos habitual ver uma equipa estrangeira que venha com intenções de discutir a geral. Ficam-se muitas vezes por ganhar alguma etapa. É preciso recuar a 2006 para ver uma formação não portuguesa vencer a geral: a Comunidad Valenciana, então com David Blanco.

Se a Volta não for para a estrada em 2020, algumas equipas nacionais poderão não sobreviver até 2021. Actualmente há nove no escalão Continental e poucas podem dizer que estão financeiramente estáveis, numa altura em que a crise económica vai ganhando forma e as empresas também se debatem por manter os seus negócios.

O restante calendário

Sem Volta falta igualmente saber como será o resto do calendário. O que estava a ser preparado tinha como intenção ajudar as equipas a ganhar forma competitiva a pensar, claro está, na Volta a Portugal. A primeira corrida está agendada para 5 de Julho, um contra-relógio individual em Anadia, seguindo duas provas de um dia em Oliveira de Azeméis, que incluí o Memorial Bruno Neves, além do Troféu Joaquim Agostinho. Este tem a região de Torres Vedras como palco.

Não seria surpresa que mesmo com a Volta a Portugal a realizar-se em 2020, os efeitos da pandemia na economia seriam sentidos no ciclismo. Se a Volta não for para frente, adivinham-se tempos muito complicados na modalidade no país.

Há que não esquecer também os restantes escalões. Os sub-23 por exemplo, já sofrem por falta de corridas próprias para a categoria, fazendo grande parte da temporada com as de elite. A Volta a Portugal está vedada às chamadas equipas de clube, mas sem previsões de mais provas ou mesmo da sua própria Volta, as dificuldades tendem a aumentar.

Estamos em ano de eleições na Federação Portuguesa de Ciclismo. Delmino Pereira (presidente há dois mandatos) sabe que tem Rui Sousa como adversário. E uma coisa é certa, um dos maiores desafios para manter vivo o ciclismo nacional está pela frente.

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22 de junho de 2020

Viana do Castelo não quer receber a Volta. Federação garante plano sanitário seguro

Delmino Pereira (na foto com a segurar a taça) afirma que plano sanitário
garante uma Volta a Portugal segura para quem participar e para quem assistir
© João Fonseca Photographer
A decisão da autarquia de Viana do Castelo em não receber este ano a Volta a Portugal devido à pandemia de covid-19, provocou uma reacção imediata da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC). Além de publicar o plano sanitário previsto e aprovado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) para a realização da corrida, Delmino Pereira deu uma entrevista para deixar garantias que é possível haver Volta em segurança.

"O grande problema não está nas normas. O grande problema está na nossa sociedade que está permanentemente a ser incumpridora das normas que a DGS definiu", salientou o presidente da FPC à RTP. Delmino Pereira salientou que "a DGS tem consciência da realidade do evento" e que é esta mesma entidade que emite os pareceres sobre todos os sectores de actividade.

O dirigente referiu como a Volta a Portugal - que se vai realizar entre 29 de Julho e 9 de Agosto - pode mesmo ser um exemplo de civismo. Recordou que a maioria dos quilómetros da corrida são pelo interior do país, por estradas em que há poucas pessoas a ver, ou seja, com pouca probabilidade de ajuntamentos.

A maior questão prende-se com as partidas e chegadas nas cidades e o responsável assegurou que se está a trabalhar para que se esteja nesses locais com toda a segurança. Realçou igualmente que o plano sanitário que será colocado em prática é idêntico aos que serão aplicados em corridas como o Tour, Vuelta e noutras grandes corridas mundiais e que têm uma presença muito maior de público, além de muito mais pessoas envolvidas na própria corrida.

A autarquia de Viana do Castelo, cidade que tem tradicionalmente recebido ou uma partida ou uma chegada na Volta, justificou a decisão de não ser um dos palcos da corrida, por não querer "dar sinais contraditórios" à sociedade.

"Neste tempo de incerteza e de imprevisibilidade face ao desconhecimento da evolução da covid-19 e de uma eventual segunda vaga, o município de Viana do Castelo num sentido de prudência, responsabilidade e respeito pela vida não vai permitir a realização da Volta A Portugal em Viana do Castelo no início de agosto", lê-se no comunicado.

"Acima de tudo temos de proteger e aliviar a pressão, com prevenção do Serviço Nacional de Saúde que tem estado sobre um elevado stress nestes últimos meses", acrescentou a autarquia.

As medidas que serão implementadas

Relativamente às partidas e chegadas, o plano da FPC prevê a instalação de postos de avaliação médico-sanitária. O objectivo passa por "promover a verificação do estado de saúde em questão de sinais/sintomas associados à covid-19, e a prevenir transmissão e conter casos suspeitos antes de iniciar a competição desportiva".

Nestes locais vão existir duas áreas de acesso restrito a pessoas credenciadas. A ideia é criar "bolhas sanitárias". "À Zona 0 apenas poderão aceder corredores, um número de limitado de elementos de staff técnico das equipas, forças de segurança, jornalistas e elementos com funções indispensáveis à realização do evento. O acesso à Zona 1 está limitado a pessoas credenciadas como patrocinadores, convidados, comunicação social e logística." Em ambas as zonas será obrigatório o uso de máscara.

A FPC garante ainda que "serão criados mecanismos de limitação de acesso do público às áreas de partida e chegada das etapas. Os pontos de interesse durante as etapas (metas intermédias) serão colocados em locais de menor concentração populacional, contribuindo para menores ajuntamentos populares".

Regras para as equipas

As equipas terão "um médico, responsável pela aplicação das normas sanitárias no seio da equipa e pela ligação ao médico coordenador do evento". Além disso "todos os atletas, equipas técnicas e staff devem realizar um teste para SARS-CoV-2 na véspera do confinamento em coorte de 14 dias, e ainda 24 horas antes do início da prova". Ou seja, os membros das equipas que forem participar na Volta, terão de estar juntos nos 14 dias antes da corrida começar. 

Quanto às formações estrangeiras, além de terem de cumprir as mesmas regras que as portuguesas, terão ainda "de comprovar a realização de testes à SARS-Cov-2 a todos os elementos da equipa (ciclistas e staff) com resultado negativo no máximo até 5 dias antes de entrarem em Portugal".

O número de ciclistas no pelotão será reduzido, assim como os quilómetros de cada etapa.

Responsabilidade da organização

As medidas continuam e haverá "um médico-coordenador, responsável por zelar pelo cumprimento do plano médico-desportivo e sanitário, articulando e coordenando os demais elementos médicos, de socorro e sanitários do evento, pugnando pela prioridade das medidas de saúde estabelecidas pela Autoridade de Saúde Nacional".

A organização será ainda a "responsável pela distribuição das equipas pelas unidades hoteleiras, baseando-se na Orientação 008/2020 da DGS, limitando o número de equipas na mesma unidade de alojamento e criando corredores de circulação que permitam afastar os membros das equipas dos restantes hóspedes".

Pode ler neste link o plano sanitário da FPC na íntegra. E neste link está disponível o parecer da DGS sobre a realização da Volta a Portugal.

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21 de junho de 2020

Demorou, mas Roglic finalmente competiu e é campeão nacional

© Jumbo-Visma
Primoz Roglic era um dos cerca de 20 ciclistas do World Tour que ainda não tinham competido em 2020. O esloveno, este ano com o Tour como objectivo, ia começar a sua temporada quando a pandemia mandou todos para casa. Demorou, mas Roglic está finalmente na estrada e a fazer o que mais sabe: ganhar.

Primeira corrida e já vai partir para o que resta da época, num calendário nunca antes visto, como campeão nacional de estrada. A máquina continua oleada!

A situação epidemiológica na Eslovénia permitiu que os Nacionais pudessem realizar-se já em Junho, como é habitual na Europa. Sendo este um país que aos poucos vê cada vez mais ciclistas chegar ao mais alto nível e com sucesso, a corrida gerou um natural interesse, reforçado com a vontade de todos de querer ver ciclismo! Afinal está tudo praticamente parado desde Março, salvo algumas excepções fora do Velho Continente.

Olhando para o top dez, há nomes bem interessantes que lutaram pelo título, na prova de 145,8 quilómetros. A 10 segundos de Roglic (Jumbo-Visma) ficou Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), um atleta que muito está a entusiasmar o mundo velocipédico, principalmente depois de partilhar o protagonismo na Vuelta com Roglic: foi terceiro na geral, primeiro na juventude e ainda conquistou três etapas. E é impossível não recordar que tanto Roglic, como Pogacar são vencedores da Volta ao Algarve.

Em terceiro, a 39 segundos ficou Matej Mohoric, da Bahrain-McLaren - vencedor de uma etapa no Giro e Vuelta, campeão do mundo de sub-23 em 2013 e campeão nacional em 2018. Em quinto, a 1:13 minutos, ficou o companheiro de equipa Domen Novak (campeão nacional em 2019), seguindo-se Jan Polanc (UAE Team Emirates), a 1:34, vencedor de duas etapas no Giro e que no ano passado chegou a vestir a camisola rosa.

Jan Tratnik e Grega Bole, ambos também da Bahrain-McLaren ficaram no top dez, onde ainda se destaca o veterano de 36 anos, Janez Brajkovic. Agora pelo escalão Continental e após cumprir uma suspensão por doping, este esloveno já representou equipas de topo como a então Bahrain-Merida, Astana, RadioShack e a Discovey Channel. Actualmente está na Adria Mobil.

Satisfeito por estar de volta à acção

"É realmente maravilhoso que a situação permitisse que pudéssemos correr outra vez e fazer o que fazemos melhor, correr nas nossas bicicletas. Estou, por isso, muito feliz por ter conseguido ficar com o título nacional na minha primeira corrida da época”, afirmou Roglic, num comunicado divulgado pela sua equipa, a Jumbo-Visma.

"Foi uma corrida difícil, com uma subida muito dura no final. Com os resultados na primavera, o Tadej era favorito e não foi certamente fácil batê-lo", acrescentou Roglic, admitindo que fez o reconhecimento da subida final nos últimos dias. “Sabia onde tinha de atacar”, disse.

Motivado por ter começado a ganhar, Roglic está entusiasmado com as próximas e no seu calendário estão de momento três corridas: o Tour de l’Ain, Critérium du Dauphiné e a Volta a França. Ou seja, a partir de Agosto.

O ritmo ganhador de Roglic mantém-se

Ganhar a primeira corrida em que participa em 2020 é "apenas" a continuação de um 2019 memorável para Primoz Roglic. O esloveno participou em 12 provas, entre corridas por etapas e de um dia. Ganhou metade! E há que não esquecer que ainda venceu etapas, incluindo no Giro, onde foi terceiro na geral, mesma posição conquistada no Chrono des Nations.

Aos 30 anos, ganhou estatuto de herói no seu país ao ser o primeiro esloveno a conquistar uma grande volta e este ano ganhou o direito de ir ao Tour com estatuto de líder. O único senão é que o terá de o partilhar com Steven Kruijswijk e o recém-chegado à Jumbo-Visma, Tom Dumoulin.

Curiosamente, nenhum dos ciclistas do novo tridente do ciclismo mundial tinha competido ainda em 2020. Para Roglic não faz mal nenhum começar desde já a marcar o seu terreno, ganhando.

Em 2018, Roglic até foi quarto no Tour, mas o líder era Steven Kruijswijk, que ficou em quinto. Foi o ponto de viragem na carreira do esloveno, pois com as exibições naquela Volta a França, mostrou à equipa que não só era um voltista, mas poderia ser um voltista vencedor. No ano seguinte, aprendeu no Giro uma lição dura de como gerir a forma física e foi à Vuelta confirmar a expectativa de puder ganhar uma grande volta.

Ainda teremos de esperar pouco mais de um mês para ver os melhores do mundo começarem a competir nas grandes corridas, mas até lá, algumas provas já estão a ir para a estrada, algumas no leste da Europa.

Porém, nunca é de mais recordar. Estamos a poucos dias de em Portugal termos o pelotão de regresso à estrada. A 5 de Julho a Prova de Reabertura está marcada para Anadia e será um contra-relógio individual, para aquecer as pernas para um calendário que se espera vá ganhando mais forma.

Confira no link em baixo as corridas já marcadas no nosso país e no de baixo as provas World Tour.


20 de junho de 2020

Lutar pela geral no Tour? Bardet nem quer ouvir falar disso

© ASO/Pauline Ballet
Romain Bardet foi um dos ciclistas que viu os seus objectivos serem alterados com a paragem da temporada devido à pandemia. O francês estava expectante em estrear-se no Giro, esperando que os ares de Itália pudessem ter o mesmo efeito de relançamento da carreira como aconteceu com o compatriota Thibaut Pinot, da Groupama-FDJ. Porém, Bardet vai mesmo ter de ir novamente ao Tour, mas nem lhe falem em lutar pela geral e também não vale a pena pressionar sobre a continuidade na AG2R. O francês não fecha a porta a uma mudança de equipa e já terá interessados.

Desde que se tornou profissional, em 2012, que Bardet representa a mesma equipa. Não demorou muito a tornar-se numa esperança francesa, na eterna busca por um ciclista da casa que volte a ganhar o Tour. A espera dura desde 1985. Bardet nem era nascido. Aos 29 anos, o ciclista até terá ponderado terminar a carreira depois de um 2019 que desiludiu, principalmente na Volta a França. A pressão que recai em si é sempre enorme e mesmo tendo ganho a classificação da montanha, não apagou o Tour fraco que realizou. O próprio admite que não o satisfez plenamente conquistar a prestigiada e muito famosa camisola das bolas vermelhas. 

Foi segundo em 2016 e terceiro em 2017 na geral. Os franceses sonhavam, o que significava que os franceses pressionavam cada vez mais. Não conseguiu confirmar o estatuto de candidato nos dois anos seguintes e nem quer ter um em 2020. "Não quero enfrentar o Tour como fiz nos últimos sete ou oito anos. Vou preparar-me bem, mas não quero fazer planos ou ter objectivos traçados", afirmou ao jornal La Montagne, citado pelo Cyclingnews. "Vou ser mais agressivo, não quero focar-me na classificação geral. Vou surgir sem pressão", acrescentou, recordando como preparou 2020 sem pensar no Tour, pois o plano passava pelo Giro.

De certa forma, Bardet quer competir como o fez nos seus melhores tempos. É um ciclista que sabe ser agressivo, que gosta de atacar, sem estar preso a uma responsabilidade maior, que pode obrigar a uma maior contenção na forma de estar nas corridas. Foi assim que alcançou os seus melhores resultados. Quando a responsabilidade aumentou e a pressão para estar na luta pela amarela tomou conta da imprensa francesa, Bardet começou a fraquejar, um pouco à imagem do que aconteceu com Pinot.

O problema demonstrou ser mais a nível mental do que físico. Bardet também possa dizer que tendo uma equipa forte, não tem o nível para competir com uma Ineos ou Movistar, por exemplo. A ida ao Giro seria a forma de se libertar da pressão francesa. Poucos duvidaram que era a escolha mais do que correcta para Bardet tentar relançar a carreira.

Mudança de equipa?

Os planos são agora diferentes e poderão passar por uma mudança de equipa no final de 2020. Bardet é um dos muitos notáveis do pelotão em final de contrato. O seu empresário, Joona Laukka, afirmou ao Cyclingnews que o ciclista quer saber o projecto para o futuro da AG2R antes de tomar uma decisão, mas está aberta a porta a assinar por outra equipa.

Aqui entra a Sunweb. A equipa alemã vê no francês um bom reforço para um lugar deixado vago pela saída de Tom Dumoulin e numa altura que se prepara para ficar sem o jovem Sam Oomen e Wilco Kelderman, ciclistas que procuram também eles novos ares. O antigo companheiro de Bardet na AG2R, Nicolas Roche já afirmou que Bardet encaixaria muito bem na filosofia da Sunweb. O francês até estará a planear levar com ele Mikaël Cherel, que está igualmente em final de contrato com a AG2R.

Sobre este possível interesse, Laukka limitou-se a dizer que a Sunweb sabe que Bardet está em final de contrato. Contudo... "Ele está à procura de outra opções, mas uma delas é ficar [na AG2R]." O ciclista aguarda pelo proposta da actual equipa, com o empresário a afirmar que as negociações finais vão ocorrer em breve.

Sair da área de conforto é algo que claramente Bardet está à procura nesta fase na carreira, a começar com os objectivos nas corridas, mas não seria uma surpresa total se optasse por uma nova equipa. Já a AG2R continua a acreditar no seu ciclista e no imediato não tem um atleta que dê as mesmas garantias. Pierre Latour venceu a classificação da juventude no Tour em 2018, mas não aproveitou a oportunidade de liderança que lhe foi dada na Vuelta no ano seguinte. Este ano iria ser a aposta para o Tour. Também está em final de contrato com a AG2R, com Alexis Vuillermoz, Oliver Naesen e Benoît Cosnefroy a já terem renovado.

A equipa foi buscar Tony Gallopin em 2018 quando percebeu que este ciclista estava a tentar transformar-se num voltista, mas não demorou a ter a certeza que o regresso a um pódio na Volta a França será sempre uma maior possibilidade com Bardet na equipa, principalmente se conseguir recuperar mentalmente o ciclista.


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19 de junho de 2020

Ciclismo nacional está de volta!

© João Fonseca Photographer
Chegou a notícia que o pelotão e os adeptos de ciclismo em Portugal mais aguardavam. Temos Volta... e não só! Demorou, mas finalmente houve decisão da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que deu luz verde à realização da corrida e nas datas já previstas: de 29 de Julho a 9 de Agosto. Condições? Serão muitas, como se esperava e serão igualmente aplicadas às corridas que a Federação Portuguesa de Ciclismo já confirmou. E a primeira será um contra-relógio.

Será uma edição diferente da Volta a Portugal, à imagem do momento que se vive um pouco por todo mundo. Ajuntamentos estão proibidos. A organização terá de assegurar o distanciamento social e não poderão juntar-se mais de 20 pessoas, segundo informou fonte da DGS à Lusa. A mesma fonte garantiu que "de acordo com o plano apresentado" pela Federação Portuguesa de Ciclismo, a Volta está prevista realizar-se nos dias que estavam inicialmente estabelecidos.

Entre as condições que terão de ser respeitadas, "os atletas serão monitorizados pela equipa médica do clube", para que desta forma seja possível assegurar a detecção de algum sintoma que esteja relacionado com a covid-19. Os ciclistas serão testados antes do arranque da Volta e caso surjam casos suspeitos de infecção, esses ficarão impedidos de competir e terão de respeitar os procedimentos que estão em vigor no país.

Já a concentração de no máximo 20 pessoas e a manutenção do distanciamento social é uma medida a ser aplicada ao público nas partidas e chegadas. No entanto, também as equipas terão regras a seguir. Não podem ficar todas no mesmo hotel, por exemplo.

Quanto às formações estrangeiras e segundo o que estava previsto no plano apresentado no início do mês pela federação ao governo, não haverá nenhuma quarentena obrigatória, podendo as equipas entrar no país se "reunirem condições sanitárias" para participar na Volta a Portugal.

Esta posição da DGS vem aliviar um pouco a pressão que aumentava sobre as equipas portuguesas. Enquanto pairou a possibilidade da época ser cancelada, tal poderia ser desastroso para algumas estruturas, com os patrocinadores a não terem qualquer exposição mediática.

Felizmente não vai acontecer e pouco depois de se conhecer a decisão da DGS, a federação anunciou as corridas que vão anteceder a Volta a Portugal, mas não é um calendário fechado, pois espera-se mais provas após aquela que é a mais ambicionada pelas equipas portuguesas. De salientar que os Nacionais estão igualmente confirmados entre 21 e 23 de Agosto, em Paredes.

Há cerca de uma semana, os representantes do ciclismo nacional assinaram um manifesto a apelar ao regresso do ciclismo, salientando que "a retoma da actividade é essencial para as equipas darem o retorno aos patrocinadores que garante o financiamento das estruturas profissionais e os postos de trabalho dos ciclistas portugueses".

O ciclismo nacional prepara-se assim para regressar à estrada e já nem falta muito!

Aqui ficam as corridas que começam a desenhar o calendário nacional pós-confinamento, com um contra-relógio a ser o ponto de partida.
  • 5 de Julho: Prova de Reabertura - Taça de Portugal Jogos Santa Casa (contra-relógio individual), CAR Anadia
  • 11 e 12 de Julho: Challenge Memorial Bruno Neves (duas provas de um dia), Oliveira de Azeméis 
  • 18 a 20 de Julho: Grande Prémio Internacional de Torres Vedras - Troféu Joaquim Agostinho
  • 29 de Julho a 9 de Agosto: Volta a Portugal
  • 21 a 23 de Agosto: Campeonato Nacional de Estrada, Paredes
Em 2020, apenas se realizaram três corridas em Portugal: a Prova de Abertura Região de Aveiro (ganha por Alberto Gallego, da Rádio Popular-Boavista), a Volta ao Algarve (conquistada por Remco Evenepoel, da Deceuninck-QuickStep) e a Clássica da Primavera (ganha por Luís Gomes, da Kelly-InOutBuild-UDO).



18 de junho de 2020

Afinal não há acordo. Mitchelton-Scott já não será Manuela Fundación

© Chris Auld/Mitchelton-Scott
Relação de curta duração! Seis dias. Um acordo que foi anunciado como finalizado, afinal não era bem assim e a Manuela Fundación já não vai patrocinar a equipa Mitchelton-Scott. Os novos equipamentos são para esquecer e o nome dos actuais patrocinadores mantém-se em 2020, agora que o dono Gerry Ryan bateu com a porta, não tendo gostado nada que de Espanha chegassem declarações de intenção dos novos patrocinadores serem também os novos donos.

Esta quarta-feira, Ryan, tinha afirmado numa entrevista ao Ride Media algo muito simples: "Eu sou o dono da equipa." O responsável confirmou que a licença continuaria a ser australiana, assim como manteria a aposta que a estrutura tem feito nos ciclistas deste país. O responsável considerou ainda que a GreenEdge precipitou-se ao anunciar o acordo com a Manuela Fundación, adiantando que está em negociações com outros potenciais patrocinadores para 2021.

Estas declarações apanharam os responsáveis da Manuela Fundación desprevenidos. O Ciclo 21 cita fontes da fundação, que dão conta da surpresa que foi ler as declarações de Ryan, assim como algum mal-estar que estas causaram. No entanto, a expectativa era que qualquer problema seria ultrapassado na reunião agendada para a próxima semana.

Algo que parecia claro para Emilio Rodríguez, director da parte desportiva da fundação, era que seriam donos da equipa, com o objectivo da licença ser espanhola em 2021, ainda que o patrocínio entrasse já em vigor. A Manuela Fundación pagaria ainda parte dos salários deste ano.

24 horas depois de ainda haver alguma esperança de conciliação, foi divulgado o comunicado por parte da equipa australiana: a parceria não irá concretizar-se. "Inicialmente sentimos uma forte conexão com o senhor Francisco Huertas, a Manuela Fundación e os seus nobres objectivos. Contudo, à medida que as negociações evoluíram após o anúncio inicial na sexta-feira, concluímos que a relação não irá continuar", explicou Gerry Ryan, no comunicado divulgado esta quinta-feira.

A Mitchelton-Scott foi uma das equipas que se viu obrigada a cortar nos salários durante a paragem forçada devido à pandemia de covid-19, mas Ryan deixou a garantia que a partir de Agosto, quando as competições retomarem, os valores iniciais serão repostos, tanto na equipa masculina, como na feminina.

Porém, Gerry Ryan irá manter as negociações com patrocinadores para assegurar a continuidade da equipa em 2021, assim como para poder tratar da renovação de contrato de vários ciclistas, dois deles são as principais figuras do momento da Mitchelton-Scott nas grandes voltas: os gémeos Adam e Simon Yates.

Director da Manuela Fundación zangado com quebra do acordo

O empresário Francisco Huertas já patrocina uma equipa de BTT, assim como uma escola de ciclismo. Já tentou entrar no futebol, mas acabou por não conseguir e a primeira tentativa de chegar ao mais alto nível do ciclismo parece então terminar com o mesmo resultado.

A Mitchelton-Scott, continua assim a ser... a Mitchelton-Scott. Algo que deixou Manuel Calvente furioso. O director da equipa de sub-23 da Manuela Fundación reiterou ao Cyclingnews que foi assinado um acordo a 5 de Junho, salientando que o tornar público foi uma decisão da GreenEdge.

"Os autocarros da equipa estão na oficina, já sem as cores da equipa e à espera da nova publicidade e autocolantes. Até recebemos fotografias a mostrar como estava tudo a decorrer", explicou Calvente. O director afirmou ainda não entender como Gerry Ryan diz que irá pagar os ordenados completos a partir de Agosto, pois Calvente alega que a Mitchelton-Scott não tem dinheiro para pagar o salários actualmente.

Acrescentou que já esta quarta-feira começou a ter dúvidas se queria continuar a trabalhar com a Mitchelton-Scott depois da entrevista de Gerry Ryan, garantindo que a Manuela Fundación nunca se opôs a nada do proposto. "Saímos disto a parecer que somos os vilões do filme, quando não fizemos nada que não tivesse sido acordado", referiu Calvente.


17 de junho de 2020

Parabéns Canibal!

© Chris Protopapas/Wikimedia Commons
Afinal quem é o melhor? Eis algo que pode gerar algumas discussões seja em que modalidade se esteja a falar. Contudo, parece que quando se questiona quem é o melhor de sempre no ciclismo - ou pelo menos um dos melhores -, muitos responderão com relativa rapidez Eddy Merckx. Às vezes os números de uma carreira não sempre demonstram a qualidade de um ciclista. Mas não é o caso de Merckx! Numa era bem diferente da actual, não foi por acaso que ganhou a alcunha de Canibal. O que havia para ganhar, ganhou. Em diversas corridas, por mais do que uma vez. Merckx está de parabéns! Faz 75 anos. Ou como prefere dizer, três vezes 25!

Teve adversários de nível. Não foi invencível, mas Merckx sempre apresentou uma postura de imbatível e escreveu a sua história como um dos ciclistas que parecia encontrar sempre o caminho da vitória. Na Bélgica, de quando em vez, lá surge um jovem talento que é apelidado de "novo Merckx". Improvável, é certo, mas não deixa de ser um enorme elogio. Se há algo que também ninguém duvida é que Merckx foi único.

Para quem não viu o belga correr, ficam os números. E esses impressionam. Foram quase 300 vitórias numa carreira de cerca de 14 anos, entre a década de 60 e 70. Como destacar tudo?... Vamos aos recordes. 34 etapas na Volta a França (Mark Cavendish bem sonha em lá chegar - tem 30), 64 se se somar as do Giro e Vuelta. Quem ficou mais próximo foi Mario Cipollini com 57 e foi um ciclista totalmente diferente de Merckx, obtendo as suas inúmeras vitórias ao sprint.

Merckx subiu ao primeiro lugar do pódio final nas grandes voltas 11 vezes. O francês Bernard Hinault fê-lo por 10. Venceu o Tour em cinco ocasiões, marca que partilha com Hinault, Jacques Anquetil e Miguel Indurain. No Giro foram mais cinco conquistas, igualando Fausto Coppi e Alfredo Binda.

A Vuelta foi ganha apenas por uma vez. E monumentos? Na Milano-Sanremo foram sete vitórias e sim, é recordista! Liège-Bastogne-Liège ganhou cinco vezes. E é recordista! Três Paris-Roubaix, duas Voltas a Flandres e outras tantas Lombardias (não é recordista). Foi campeão do mundo em três ocasiões, o máximo que alguém conseguiu, partilhando esta marca com Rik van Steenbergen, Óscar Freire, Alfredo Binda e Peter Sagan. Foi também recordista da hora e a lista de feitos continua, continua, continua.

Também teve os seus momentos negros. Testou positivo por doping em três ocasiões. Mas eram de facto outros tempos, com sanções bem diferentes das actuais.

Quando hoje se fala de um todo-o-terreno, ninguém tem as características comparáveis a um Merckx que venceu a subir, em plano, em alcatrão, em pavé... Hoje parece impensável ver alguém que lute por um Tour, estar num Paris-Roubaix com a mesma ambição. Outros tempos, outra forma de preparar os ciclistas, cada vez mais especializados.

Merckx foi de um tempo de ciclismo mais instintivo, sem tecnologias e em que os corredores passavam muito mais tempo em corridas. O próprio refere isso mesmo numa entrevista ao Sporza, quando num ano competiu 195. Afinal os patrocinadores assim o exigiam. Hoje em dia, os mais activos pouco passam os cem dias em competição.

Aos 75 anos, a sua palavra continua a ter peso. Não se inibe de criticar ou de lançar umas provocações, como aconteceu recentemente sobre Remco Evenepoel (o mais recente "novo Merckx"), mas também deixa o seu elogio e Tadej Pogacar pode dizer que tem o respeito deste senhor do ciclismo.

E houve um português que Merckx respeitou e muito: Joaquim Agostinho. Uma vez disse: "Quando pressinto que ele vai fugir, ataco eu, para ficar tranquilo."

16 de junho de 2020

Peter Sagan mantém palavra: vai ao Giro e falha clássicas do pavé

© Bettiniphoto/Bora-Hansgrohe
Quando Fabian Cancellara terminou a carreira em 2016, seguindo-se Tom Boonen em Abril do ano seguinte, parecia estar estendida a passadeira vermelha para que Peter Sagan tomasse conta do trono nas clássicas do pavé. Por várias razões, o eslovaco não confirmou a expectativa, ainda que ninguém duvide que seja um dos melhores ciclistas neste tipo de corrida. Uma vitória na Volta a Flandres e uma no Paris-Roubaix, para referir apenas os monumentos, sabem a pouco e até parece algo estranho quando se vê a destreza que Sagan tem na bicicleta sobre um terreno que não é para todos. Porém, eis algo ainda mais estranho. O tricampeão do mundo não estará nas icónicas corridas do pavé, pois a Bora-Hansgrohe manteve a palavra dada à RCS Sport, organizador da grande volta italiana. Sagan vai mesmo estrear-se no Giro.

Tinha sido uma das grandes novidades para 2020. Peter Sagan iria atrás do pleno de vitórias em etapas nas três grandes voltas, além de querer juntar a camisola dos pontos às sete que já conta do Tour. Isto antes do covid-19 aparecer. Quando foi conhecido o calendário da UCI para o recomeço da temporada após a paragem forçada devido à pandemia, surgiram as primeiras dúvidas sobre como iria Sagan planear as corridas, com as clássicas do pavé a coincidirem com a Volta a Itália.

"O calendário não é justo para o Giro", afirmou Ralph Denk. O director da Bora-Hansgrohe referia-se precisamente ao facto das clássicas terem sido colocadas ao mesmo tempo que o Giro, com a Vuelta a coincidir também uns dias com a grande volta italiana. "Eu dei a minha palavra ao Giro que o Peter ia participar e o Peter também o fez", realçou o responsável, citado pelo Cyclingnews.

Porém, esta decisão não significa que Sagan não vá perseguir um dos seus objectivos de carreira: a Milano-Sanremo. A corrida italiana é um monumento que já vai deixando o eslovaco frustrado, tantas foram as vezes que esteve perto de ganhar, mas acabou por ver um adversário festejar. No currículo também falta uma Strade Bianche.

Vai ser precisamente nesta clássica, a 1 de Agosto, que Peter Sagan vai recomeçar a sua temporada, depois de no início de 2020 ter estado na Volta a San Juan e no Paris-Nice, sem ter somado vitórias. Antes do monumento irá à clássica Milão-Turim e concluída esta primeira passagem por Itália, viajará para França, onde estará no Critérium du Dauphiné, com olhos postos no Tour. Já, os Mundiais poderão ser excluídos do programa do ciclista. O terreno montanhoso da Suíça não atrai Sagan, que assim poderá descansar mais para o Giro.

"Tínhamos objectivos claros para o que esperávamos sobre os nossos líderes e não mudaram muito. Vamos fazer o Tour com o Emanuel [Buchmann] como capitão e apontamos a um pódio ou ficar próximo do pódio. O Peter também fará a Volta a França e tentará lutar pela camisola verde. Vamos tentar igualmente ganhar um monumento. A única diferença que temos são as clássicas. É complicado com o Giro ao mesmo tempo", explicou o director desportivo, Enrico Poitschke.

Também será complicado, na perspectiva dos adeptos, não ver Sagan na Volta a Flandres e no Paris-Roubaix. Será difícil não sentir que faltará um elemento chave destas corridas na última década, pois aos 30 anos, Sagan celebra 10 como profissional e como um dos ciclistas mais populares e marcantes da modalidade.

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15 de junho de 2020

Quem ainda não competiu em 2020

Tom Dumoulin cancelou o seu calendário inicial devido a lesão
© Jumbo-Visma
De olhos postos em Julho na esperança que seja mesmo o mês em que se começa a ver os ciclistas novamente na estrada na Europa, analisando as estatísticas de 2020 há um grupo de quase duas dezenas de ciclistas do World Tour que ainda não fez um quilómetro de estrada em competição esta época. Entre eles está um português. O destaque vai para o trio da Jumbo-Visma que por altura da suspensão da época devido à pandemia, dois destes corredores começavam a suscitar dúvidas sobre a forma física.

Mas arrancando com o português. Rui Oliveira teve um início de ano azarado na pista, pois logo em Janeiro caiu durante os Seis Dias de Bremen, quando a Equipa Portugal ainda lutava por um apuramento para os Jogos Olímpicos. Partiu a clavícula e apesar de em Março já estar a treinar em pleno, a pandemia não lhe deu tempo para competir na estrada, naquele que está a ser o seu segundo ano na UAE Team Emirates.

A vontade do jovem de Gaia em competir já deve ser bem grande (por esta altura deve ser um sentimento comum nos ciclistas, independentemente das corridas que fizeram), mas o realce entre os que ainda não se viram em corridas em 2020 vai inevitavelmente para o trio que tanta expectativa está a criar na Jumbo-Visma.

Devido a lesão, Steven Kruijswijk e Tom Dumoulin cancelaram as participações que tinham previsto na primeira fase de temporada. O caso do reforço Dumoulin causou algumas preocupações. Recorde-se que o holandês sofreu uma queda no Giro do ano passado e a lesão no joelho acabou por o deixar de fora praticamente toda a época. Aliás, a gestão da sua recuperação terá sido uma das razões que levou Dumoulin a quebrar contrato com a Sunweb e a rumar à Jumbo-Visma.

O discurso oficial é que está tudo bem, mas o holandês é um dos ciclistas que mais se quer ver, de forma a comprovar-se qual é afinal o seu estado físico, relativamente ao joelho. E claro, todos querem ver este novo tridente do ciclismo em acção. Primoz Roglic foi uma das figuras de 2019, tendo sido número um do ranking depois de vencer grande parte das corridas em que participou, sendo que desde o final de 2019 que está definido que os três atletas vão ao Tour e nada se alterou com as mudanças forçadas no calendário, como aconteceu com alguns líderes de outras equipas.

Minutos entre líderes

Na Volta a França, os tridentes vão centrar muito as atenções, já que a Ineos também levará o seu: Egan Bernal, Chris Froome e Geraint Thomas. Porém, o galês, vencedor em 2018, sabe que irá "jogar por fora", com o foco a estar no colombiano (ganhou em 2019) e no quatro vezes vencedor Froome. 

Por curiosidade, Bernal tem oito dias de competição este ano, todos feito na sua Colômbia. Chris Froome soma cinco, feitos na Volta aos Emirados Árabes Unidos, a corrida onde os primeiros ciclistas foram detectados com covid-19. Geraint Thomas também competiu cinco dias e para felicidade dos adeptos portugueses, foi possível vê-lo por cá, na Volta ao Algarve. Ou seja, com o pensamento no Tour, este trio estava a ter um início calmo de temporada, com Froome a estar focado em recuperar totalmente das graves lesões que resultaram da queda no Critérium du Dauphiné, há um ano.

Aproveitando para espreitar outros líderes de grandes voltas. Vincenzo Nibali, no seu ano de estreia na Trek-Segafredo, tem 14 dias (incluindo a Volta ao Algarve), com o seu companheiro de equipa Richie Porte a somar mais três (17). Entre os gémeos Yates da Mitchelton-Scott, Adam competiu cinco dias e Simon 13, no caso deste ciclista todos "em casa", na Austrália.

Os franceses Romain Bardet (AG2R) e Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) competiram 17 e 14 dias, respectivamente. Mikel Landa correu apenas cinco dias com as novas cores da Bahrain-McLaren. Na Movistar, Enric Mas soma nove e Alejandro Valverde 15.

Quanto aos dois jovens sensação do momento, Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep) estava numa senda vitoriosa nos 13 dias em que competiu. Conquistou a Volta a San Juan e a do Algarve. Evenepoel estava e continua a estar a pensar no Giro, que será a sua primeira grande volta. Quanto a Tadej Pogacar, da UAE Team Emirates, venceu a Volta à Comunidade Valenciana e foi segundo na dos Emirados Árabes Unidos, sem esquecer que ambos os ciclistas ainda ganharam etapas. Pogacar vai ao Tour depois do brilharete que fez na Vuelta em 2019 e tem dez dias de corridas em 2020.

Os portugueses

Já se falou de Rui Oliveira, com o irmão, Ivo, a somar dez dias, cinco no Algarve. O mesmo soma Rui Costa, que fez o mesmo calendário que o compatriota (Volta à Arábia Saudita e Algarvia). Ruben Guerreiro mudou-se para a EF Pro Cycling, mas só teve tempo para fazer o Tour de la Provence, em França. Quatro dias apenas.

Nelson Oliveira foi o português mais activo entre os representantes no World Tour. Competiu 14 dias, que incluíram a viagem à Argentina para a Volta a San Juan e duas provas em Espanha: Volta à Múrcia e Ruta del Sol.

De referir que no segundo escalão, o mais activo foi José Neves (Burgos-BH) com 13 dias. José Gonçalves (Nippo Delko One Provence) tem 11 e Ricardo Vilela (Burgos-BH) 9.

Por Portugal há que recordar que só se realizaram a Prova de Abertura Região de Aveiro, Volta ao Algarve e Clássica da Primavera, o que dá muito pouco tempo de competição à maioria dos ciclistas, ainda que algumas equipas Continentais lusas tenham estado além fronteiras.

Quem competiu mais?

Socorrendo dos dados do ProCyclingStats e mantendo o foco nas equipas do World Tour, o ciclista deste escalão que mais dias competiu foi... Guillaume Boivin, o canadiano da Israel Start-Up Nation. Foram 23 dias antes da paragem forçada. Seguem-se Armée Sander e Thomas de Gendt, da Lotto Soudal, e Ryan Mullen, da Trek-Segafredo, todos com 22.

Lista completa de quem não competiu em 2020

Além de Rui Oliveira e do trio da Jumbo-Visma, a lista contempla: Alexis Vuillermoz (AG2R), William Bonnet (Groupama-FDJ), Jelle Wallays, Gerben Thijssen e Stan Dewulf (Lotto Soudal), Imanol Erviti (Movistar), Rory Sutherland (Israel Start-Up Nation), Benjamin Dyball e Nic Dlamini (NTT), Mathias Norsgaard (Movistar), Ethan Hayter (Ineos), Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), Barnabás Peák (Mitchelton-Scott), Joris Nieuwehuis (Sunweb) e Stephen Williams (Bahrain-McLaren).

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