30 de novembro de 2018

Impossível ignorar que é preciso mudar

(Fotografia: © Scott Mitchell/Team Dimension Data)
Se não fosse Ben King na Vuelta, a época da Dimension Data teria sido muito negativa. As duas vitórias de etapa do americano em Espanha não apagam as prestações abaixo do esperado de muitos dos ciclistas da equipa, mas ganhar numa grande volta sempre deu um alento. Poucas vitórias, poucas exibições de nível, a Dimension Data volta a terminar no último lugar do ranking, algo já não tão preocupante numa perspectiva de que o sistema de descidas e subidas de escalão foi uma ideia abandonada pela UCI. Porém, continua a ser preocupante num desporto que vive de assegurar que os patrocinadores têm uma devida exposição, dado o muito dinheiro investido.

Mark Cavendish está numa espiral descendente. Além de uma sucessão de acidentes no início de temporada, a mononucleose voltou a afectá-lo. Apenas uma vitória em 2018, no Dubai, em Fevereiro. Depois foi uma época para esquecer do sprinter britânico, de quem muito se duvidou que renovasse. Ficará mais um ano, mas é cada vez menos a estrela em que a equipa mais aposta.

Quem terá mais responsabilidade de apresentar resultados é Louis Meintjes. O regresso do filho pródigo resumiu-se a exibições apagadas, um abandono no Giro e uma Vuelta que nem se deu pelo sul-africano. Voltou à equipa para iniciar um processo de evolução para discutir o Tour, para o ganhar nos próximos dois/três anos. Tem primado pela sua regularidade nas grandes voltas, com um top dez a ser algo normal. Mas este ano foi tudo menos normal. Aos 26 anos, Meintjes é um dos melhores voltistas que, no entanto, esteve longe do seu potencial.

E o que dizer de Steve Cummings... O próprio britânico quer virar a página no próximo ano depois de um 2018 em que nada lhe saiu bem. Nada. Aos 37 anos estará a entrar na recta final da carreira, ainda que queira, num último fôlego, demonstrar que pode repetir uma daquelas exibições que lhe valeram vitórias no Tour e na Vuelta.

Também Edvald Boasson Hagen demorou a atingir uma boa forma, não ajudando começar o ano com uma operação à vesícula. Ainda assim foi a tempo de amealhar duas vitórias, uma na Volta à Noruega (segunda etapa) e o título nacional daquele país. Na segunda metade da temporada foi mesmo dos mais regulares da equipa, mesmo que não tenha alcançado um triunfo numa corrida World Tour.


Ranking: 18º (1953 pontos)
Vitórias: 7 (incluindo duas etapas na Vuelta)
Ciclistas com mais triunfos: Ben King e Edvald Boasson Hagen (2)


Mas quando a época parecia estar a ir de mal a pior, eis que aparece um Ben King, que acabou por ser uma das duas estrelas de 2018. A outra foi o jovem Ben O'Connor, um australiano que foi uma pena a queda no Giro estragar-lhe o boa fase. Mas aos 23 anos, é um daqueles ciclistas que se tem de assinalar como a seguir com muita (mesmo muita) atenção em 2019.

Com Meintjes apagado. O'Connor foi o autor de uns dos momentos mais espectaculares do ano, na vitória que alcançou na terceira etapa da Volta aos Alpes. Um esforço solitário que confirmou o talento deste jovem no ciclismo mundial. Estava a prosseguir com as boas exibições no Giro, à porta do top dez e na luta pela camisola da juventude, quando uma queda, a três dias do fim, não só o tirou da corrida, como a clavícula partida o afastou da estrada durante uns tempos. Não repetiu mais o nível, mas a renovação por duas temporadas é a prova de como a Dimension Data o irá colocar entre uma das figuras a partir de Janeiro.


King foi mais feliz na Vuelta. Ganhou duas etapas e com enorme categoria, nos dois resultados que salvaram a época da Dimension Data e que poderá relançar a carreira do americano de 29 anos. Não lhe é estranho vencer em corridas importantes, ainda que nada como uma grande volta. Contudo, estes triunfos deram outra confiança ao próprio corredor, que poderá também ter um papel mais importante em 2019, tanto na procura por mais vitórias, como na ajuda aos líderes.

Num ano abaixo das expectativas, a Dimension Data ainda teve de lidar com a perda de Bernhard Eisel por muitos meses, depois do austríaco ter caído no Tirreno-Adriatico e, mais tarde, ter sido descoberto um hematoma subdural, que obrigou o ciclista a ser operado. Lachlan Morton, por seu lado, foi atropelado e partiu um braço. De referir ainda que o espanhol Igor Antón saiu de cena no final da Vuelta, aos 35 anos, mas sem conseguir uma última grande vitória como desejava.

Mudança de filosofia

Para 2019, a Dimension Data irá alterar a sua filosofia de ser uma equipa que dá oportunidade a vários ciclistas africanos. A estrutura vai manter a sua ligação ao país de origem, África do Sul, mas foi assumido que é necessário fazer uma mudança e ter outros ciclistas.

Michael Valgren (Astana), Lars Bak (Lotto Soudal) - dois dinamarqueses -, o checo Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott) e o italiano Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo) são algumas das contratações. O número de africanos foi reduzido. Fica claro que esta Dimension Data que precisa de resultados, mais vitórias e mais corredores que lutem por triunfos, contratou corredores com capacidade para fortalecer a equipa nesse aspecto, alargando o leque de opções tanto com qualidade como com experiência.

Permanências: Edvald Boasson Hagen, Mark Cavendish, Steve Cummings, Scott Davies, Nicholas Dlamini, Bernhard Eisel, Amanuel Ghebreigzabhier, Ryan Gibbons, Jacques Janse van Rensburg, Reinardt Janse van Rensburg, Ben King, Louis Meintjes, Ben O'Connor, Mark Renshaw, Tom-Jelte Slagter, Jay Thomson, Jaco Venter e Julien Vermote

Contratações: Lars Bak (Lotto Soudal), Enrico Gasparotto (Bahrain-Merida), Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott), Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo), Michael Valgren (Astana), Danilo Wyss (BMC), Stefan de Bod (Dimension Data for Qhubeka), Gino Mäder (IAM Excelsior - fará a sua estreia como profissional) e Rasmus Tiller (Joker Icopal).

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Perfis das etapas da 45ª Volta ao Algarve

Há pouco mais de uma semana ficou-se a conhecer o percurso da próxima edição da Volta ao Algarve, que se vai realizar entre 20 e 24 de Fevereiro. A corrida portuguesa de categoria mais alta, 2.HC, mantém a tradição de cinco etapas que agradam a vários tipos de ciclistas: duas para sprinters, outras tantas para trepadores e uma que será um dos primeiros testes do ano no contra-relógio.

Faltavam os perfis das tiradas, que aqui ficam, com as metas volantes assinaladas a vermelho e os prémios de montanha a azul. A única de primeira categoria é, mais uma vez, na Fóia. O Malhão, que terá duas passagens, é se segunda.

Portimão-Lagos (199,1 quilómetros)



Almodôvar-Fóia (187,4 quilómetros)




Lagoa-Lagoa (20,3 quilómetros) - contra-relógio individual




Albufeira-Tavira (198,3 quilómetros)



29 de novembro de 2018

Burgos-BH auto-suspendeu-se após terceiro caso de doping

A Burgos-BH antecipou-se a uma eventual sanção da UCI e auto-suspendeu-se por duas corridas no arranque da temporada de 2019, depois de ter sido confirmado o terceiro caso de doping na equipa em 12 meses. Em vez de competir, irá organizar uma concentração anti-doping, no qual todos os membros da estrutura, dos responsáveis, aos ciclistas, passando por todo o staff, estão obrigados a marcar presença.

Esta decisão de se afastar das corridas já era esperada, até porque a Burgos-BH pertence ao Movimento por um Ciclismo Credível. No entanto, não substitui uma eventual suspensão da UCI, que está a analisar o caso da equipa espanhola. O director geral, Julio Andrés Izquierdo, salientou que a Burgos-BH quer "ser uma referência neste âmbito". "Decidimos realizar de forma voluntária uma auto-suspensão nas actividades competitivas para nos dedicarmos exclusivamente à prevenção de doping e auto-conhecimento da nova equipa. Esta concentração durará três semanas, onde se levará a cabo acções do tipo formativo, colóquios e reuniões com especialistas na matéria de doping", afirmou.

No mesmo comunicado é explicado que a equipa não irá participar na Tropicale Amissa Bongo, no Gabão, entre 21 e 27 de Janeiro, e no Challenge de Maiorca, conjunto de quatro corridas (troféus), entre 31 de Janeiro e 3 de Fevereiro.

Em Dezembro de 2017, David Belda (35 anos) foi suspenso por quatro anos depois de ter testado positivo por EPO. Já este mês, primeiro foi Ibai Salas (27) a receber igual sanção por irregularidades no passaporte biológico, tendo o mesmo acontecido a Igor Merino (28), a quem foi detectada uma hormona de crescimento.

"Vamos implementar um novo sistema de controlo aos ciclistas. Até agora estávamos concentrados no passaporte biológico e no ADAMS*. Porém, em 2019 queremos ir mais além. Faremos controlos internos para ter um conhecimento exacto de cada um dos nossos corredores. Na Burgos-BH levamos muito a sério a luta contra o doping. Tal é assim que os nossos patrocinadores mantêm toda a confiança em nós, ao ponto da cadeia de hotéis HELIOS nos ter oferecido as suas instalações, para que possamos levar a cabo esta concentração", explicou Izquierdo.

Depois de vários anos como projecto Continental, a Burgos-BH subiu ao segundo escalão, Profissional Continental, este ano. Recebeu um convite para a Vuelta, mas a temporada não foi a desejada, longe de vitórias - apenas uma na China - e de outros resultados de referência.

Apesar dos três casos positivos de doping, a Burgos-BH quer prosseguir como Profissional Continental, tendo pedido essa licença à UCI. Estão a ser fechadas várias contratações, com destaque para dois jovens portugueses. Nuno Bico (24 anos) vai deixar a Movistar após duas épocas, enquanto José Neves (23) vai para Espanha depois de um bom ano da W52-FC Porto e que levou a americana EF Education First-Drapac p/b Cannondale a convidá-lo para uma estágio desde Agosto. A equipa espanhola garantiu ainda um ciclista muito experiente: Ricardo Vilela. Perto de celebrar 31 anos, o ciclista regressa àquele país, onde representou a Caja Rural, depois de duas temporadas na colombiana Manzana Postobón.

O sprinter britânico Matthew Gibson (22 anos, ex-JLT Condor), o espanhol Manuel Peñalver (19, Trevigiani Phonix-Hemus 1896) e o compatriota Ángel Madrazo (30, Delko Marseille Provence KTM, com passagem pela Movistar entre 2009 e 2013) são os reforços já conhecidos.

A Burgos-BH começará assim a temporada mais tarde, tendo já notificado a UCI da sua decisão de se auto-suspender. Contudo, terá um 2019 em suspenso até conhecer a eventual sanção do organismo, que poderá afastar a equipa de mais corridas. Além desta questão, a Burgos-BH terá o trabalho de limpar uma imagem muito fragilizada com estes três casos de doping no espaço de um ano, tentando começar pela concentração que vai realizar com todos os membros da equipa.

*Nota: O ADAMS (sigla em inglês para Anti-doping Administration & Mangement System) é uma base de dados mundial que garante a confidencialidade das informações e reduz a repetição inútil do trabalho. Se utilizarem o ADAMS, os ciclistas não têm que comunicar as informações separadamente à sua Federação ou à sua Organização Nacional de Anti-dopagem.


28 de novembro de 2018

Tafi no Paris-Roubaix? "Precisas de fazer outra coisa na vida aos 52 anos"

(Fotografia: Twitter Andrea Tafi)
Quando Andrea Tafi anunciou a intenção de correr o Paris-Roubaix e assim celebrar o 20º aniversário da sua vitória no monumento francês, a ideia foi bastante falada, mas talvez poucos acreditassem que, aos 52 anos, alguma equipa o contrataria. Porém, cerca de 15 dias depois, o italiano confirmou que já tinha encontrado uma. Qual? Continua no segredo dos deuses. O que não é segredo é que nem todos estão a gostar deste possível regresso e o compatriota de Tafi, o bicampeão do mundo Paolo Bettini, não poderia ter sido mais directo nas críticas.

"Ao Andrea digo-lhe: espero que não corras. Precisas de fazer outra coisa na vida aos 52 anos", afirmou, numa entrevista à Gazzetta dello Sport. E continuou. "Ele está a conquistar a atenção mediática com isto, mas seria melhor pensar em deixar o lugar vago para um jovem ciclista. Ao fazer [a corrida] ele está a roubar o lugar a alguém."

Bettini é um pouco mais novo, tem 44 anos, e garante que não tem qualquer intenção de regressar ao activo. "Sou um embaixador para diferentes empresas e divirto-me a pedalar com os seus clientes. Pedalo quando quero. Nem pensar que o vou fazer três vezes por semana", afirmou o ex-ciclista, que também já foi seleccionador do seu país.

Os italianos foram companheiros de equipa na Mapei-Quickstep durante quatro temporadas (1999-2002). Foram dois especialistas em clássicas e no que diz respeito a monumentos, Tafi ganhou a Lombardia (1996), o Paris-Roubaix (1999) e Volta a Flandres (2002). Bettini venceu duas vezes a Liège-Bastogne-Liège (2000 e 2002), a Milano-Sanremo (2003) e a Lombardia também em duas ocasiões (2005 e 2006). Bettini não era tão dotado para o pavé. Aliás, Tafi é mesmo o único italiano a vencer os dois monumentos neste tipo de piso.

Andrea Tafi retirou-se em 2005, mas não deixou de pedalar e este ano até participou numa corrida húngara, com classificação 1.2 da UCI, tendo terminado na 37ª posição. Foram 157,6 quilómetros a 48 quilómetros por hora de média.

Quanto à equipa que terá demonstrado interesse em contratá-lo, uma do World Tour dá-lhe acesso directo à corrida, mas também poderá ser uma das Profissionais Continentais com um convite para competir, que ainda não foram anunciados. A sul-africana Dimension Data (World Tour) já foi falada, mas não passa, por agora, de um rumor. Tafi tinha antes de mais garantir que cumpre os requisitos do regulamento anti-doping para competir numa corrida deste nível, algo que estará resolvido.

Lefevere diz que não compreende

O histórico director da Quick-Step Floors foi abordado por Tafi sobre a possibilidade de competir pela equipa por quem ganhou em 1998, então a Mapei-Quickstep. Patrick Lefevere deu um redondo não. "Ele perguntou-me, a rir, mas meio a sério, se a nossa equipa estaria interessada, mas sabes como é composta a nossa equipa. É já uma luta para escolher os sete ciclistas para o Paris-Roubaix e não quero investir num projecto só pela publicidade. Espero que ele encontre outra maneira", referiu ao Cycling News, poucos dias depois, no início de Novembro, de Tafi anunciar que tinha encontrado quem o recebesse.

Lefevere explicou que esteve com Tafi num evento de um patrocinador e que todos estavam a perguntar ao antigo ciclista "se ele tinha febre, ou algo parecido, ou se tinha endoidecido". "Não percebo", desabafou o responsável belga. Para Lefevere, há mais em jogo do que o simples regresso ao Paris-Roubaix, pois, ao estar a preparar um documentário, para o director da Quick-Step Floors, está-se a falar de um negócio, de uma aposta comercial.

Antes de se saber que já haveria uma equipa interessada em contratar Tafi para o Paris-Roubaix - não está excluída a hipótese de fazer algumas corridas antes para se preparar -, o italiano tinha dito que se não conseguisse estar na prova profissional, faria a competição amadora. O objectivo passa mesmo por fazer um documentário sobre este seu regresso a Roubaix, 20 anos após ter vencido o mítico monumento, seja em que moldes for.

Agora é esperar para saber qual é a equipa que Tafi diz o querer, mas uma casa de apostas italiana até já avançou com as probabilidades para este possível regresso do atleta ao Paris-Roubaix. Uma vitória 1/350, um pódio 1/150 e um top dez 1/50.


27 de novembro de 2018

Sporting-Tavira a melhorar mas com uma época que soube a pouco

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Quando a Volta a Portugal começava a aproximar-se, Vidal Fitas via a sua equipa a melhorar a forma a cada corrida em que competia e via um Joni Brandão com capacidade para ser o líder para que foi contrato, depois de um 2017 marcado por um problema de saúde. O Sporting-Tavira demonstrava estar melhor, mais competitivo, mas conseguiria estar ao nível da arqui-rival W52-FC Porto?

A equipa começou cedo (e longe) a ganhar, ainda que tenha perdido Fábio Silvestre para toda a temporada. Aleskandr Grigorev não demorou muito a mostrar que era uma boa contratação, com Mario Gonzalez a subir de nível e com um Frederico Figueiredo igual a ele próprio. O que é sinónimo de excelência. Porém, na corrida em que se aposta praticamente tudo, o pódio foi bom, soube a pouco.

Na viagem ao Gabão, logo em Janeiro, Rinaldo Nocentini ganhou duas etapas na Tropicale Amissa Bongo. Não lhe chamem velho para o ciclismo, pois mesmo já com 41 anos, o italiano ainda tem algo para dar. Além das vitórias, o seu passado não passa despercebido e o Sporting-Tavira recebeu bastante atenção por ter nas suas fileiras um ciclista que já vestiu a camisola amarela na Volta a França. Apesar deste arranque, Nocentini não esteve o nível de 2017, mas continua a ser uma voz de comando na estrutura.

O italiano ir perdendo preponderância na disputa por vitórias não é uma surpresa. A grande questão era como estaria Joni Brandão. Em Março deu as primeiras indicações que estava a regressar ao seu melhor, com um pódio na Clássica Aldeias do Xisto. Depois, foi sempre a melhorar. Por mais que lutasse por uma vitória (foi segundo nos Nacionais) era na Volta que estava concentrado. Ele e a equipa. Já são mais de 30 anos de espera por uma conquista para o Sporting, um bastante menos para o Tavira (2011).

A época foi praticamente toda jogada na Volta a Portugal. O que não é novidade. Joni começou bem, atacou quando mais ninguém o fez numa subida na Serra da Estrela, que ficou sem Torre devido ao intenso calor (a organização decidiu mudar a etapa), o que não agradou ao líder sportinguista. Raúl Alarcón (W52-FC Porto) teve de trabalhar para deixar claro a Joni que seria preciso mais para o derrotar.

Era preciso um esforço colectivo, que foi confuso e não funcionou quando mais era necessário. Na etapa da Senhora da Graça os ataques foram infrutíferos, mal medidos e faltou um Alejandro Marque mais disponível para o papel de gregário, um Nocentini em melhor forma e ainda houve um Grigovev que ficou abaixo das expectativas depois da época que realizou. Frederico Figueiredo é bom, mas sozinho a ajudar o líder não chega para tornar a equipa forte para derrotar uma W52-FC Porto com tanta qualidade e poderio colectivo.


Ranking: 1º (2421 pontos)
Vitórias: 7 (incluindo etapas nos GP Beiras e Serra da Estrela, Jornal de Notícias e Abimota)
Ciclista com mais triunfos: Rinaldo Nocentini (2)

O segundo lugar de Joni foi merecido, mas não houve vitória de etapa e o objectivo de ganhar a Volta ficou longe de ser alcançado. Além disso, a classificação da montanha e de equipas acabou nas mãos da rival. Soube mesmo a pouco, deixando alguma frustração numa temporada em que se esperava mais quando chegou o momento para que o Sporting-Tavira mais se preparou.

A equipa foi regular, somou sete vitórias - começou a ganhar no Gabão e acabou na Ásia a conquistar a Volta à China II com Marque -, mas faltou-lhe um grande triunfo. No entanto, a regularidade valeu o primeiro lugar no ranking nacional da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, com Joni a vencer individualmente.

São três anos de parceria sempre a melhorar. Disso não restam dúvidas. Mas quando se pensava que seria em redor de Joni Brandão que o Sporting-Tavira continuaria a criar o colectivo que possa discutir a corrida mais desejada, eis que o ciclista regressa à Efapel.

Mesmo com a mudança na direcção no Sporting, a aposta no ciclismo mantém-se, com Marco Chagas a ser um "reforço", como conselheiro. O antigo corredor, de 62 anos, foi o último a vencer a Volta com a camisola verde e branca, em 1986. O investimento na equipa está a ser grande. Para já, estão garantidos dois regressos a Portugal de ciclistas com muita experiência internacional, inclusivamente do World Tour: Tiago Machado (Katusha-Alpecin) e José Mendes (Burgos-BH). César Martingil (Liberty Seguros-Carglass) viu premiada a sua boa temporada, que teve como destaque precisamente a boa exibição na Volta.

Martingil vai para a equipa para lutar nos sprints, agora que Fábio Silvestre deverá retirar-se, aos 28 anos. A queda no Gabão foi grave, com o ciclista a fracturar a tíbia e a ficar muito mal tratado. Não competiu esta temporada. De referir que também David Livramento teve uma longa paragem de cerca de quatro meses.

Marco Chagas confirmou a permanência de Nocentini, enquanto Marque até já deu as boas-vindas a Machado, recordando quando foram colegas de equipa há 14 anos, na então Carvalhelhos-Boavista. De saída está Mario Gonzalez. O espanhol que há um ano foi chamado para preencher a vaga de Brandão na Volta, em 2018 conquistou um lugar de destaque na equipa por mérito próprio, tendo vencido uma etapa no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela. As suas exibições garantiram-lhe um contrato com a Euskadi-Murias, equipa basca que subiu ao escalão Profissional Continental esta temporada e que até se candidatou a um convite para o Tour em 2019.

Quando se fala de ciclistas regulares, Frederico Figueiredo é a definição, numa regularidade de top 10, apesar de poucas vezes ter liberdade por lutar por uma vitória para si. É um corredor a manter. A partir de agora será Machado o líder, ainda que se levante a questão se, depois de tanto tempo como gregário, poderá ser um ciclista líder que discuta a Volta. Sérgio Paulinho não conseguiu fazer essa passagem com sucesso na Efapel.

Tiago Machado é um ciclista diferente de Paulinho, um lutador por excelência e que se irá ver na frente de outras corridas antes de chegar a Volta. Não é ciclista para ser discreto agora que terá toda a liberdade. Não é um trepador nato como Joni Brandão, mas poderá defender-se na montanha e irá, certamente, realizar um trabalho mais específico para a nova função.

Contudo, além de tirar partido da qualidade individual de Machado, o desafio do Sporting-Tavira do próximo ano será ter finalmente um colectivo a funcionar ao nível de uma W52-FC Porto. A funcionar em prol do líder. Só assim será possível discutir a Volta.

2019 é o último ano de parceria do contrato assinado por quatro temporadas entre leões e o Tavira, ficando agora a curiosidade de saber se é para continuar. No entanto, não restam dúvidas que em 2019 se tentará dar mais um passo no aumento de competitividade da equipa.

Veja aqui todos os resultados do Sporting-Tavira em 2018 e das restantes equipas nacionais.

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26 de novembro de 2018

A intocável W52-FC Porto

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Ano após ano, sai uma figura, entra outra ou aparece uma nova dentro da equipa. As soluções na W52-FC Porto não se esgotam, permitindo gerir uma temporada como mais nenhuma estrutura em Portugal tem esse luxo. Por momento, por breves momentos, parecia haver uma porta entreaberta para bater a equipa na Volta a Portugal, mas, quando o momento da verdade chegou, Nuno Ribeiro fez a sua jogada e, mais uma vez, o poderio da W52-FC Porto demonstrou ser inquestionável. Se Raúl Alarcón manteve a senda de sucesso de 2017, José Neves foi uma jovem contratação de sucesso. César Fonte encontrou os caminhos das vitórias (mas com um final de época negativo) e depois há João Rodrigues. Pode-se dizer que foi a revelação, ainda que possa ser mais justo considerar que foi a confirmação.

Estrutura sólida, financeiramente não só é estável, mas acima de qualquer outra equipa no pelotão nacional. Isso permite  que o director desportivo, Nuno Ribeiro, possa movimentar-se muito melhor no mercado de transferências e assim ter sempre um conjunto forte. A saída de Amaro Antunes não foi facilmente colmatada. Talvez nem tenha sido e foi essa a grande diferença na Volta a Portugal, por exemplo. Mas o que chegou a parecer ser uma equipa que poderia estar menos forte do que em 2017, teve apenas uma estratégia diferente, adaptada aos ciclistas que a representaram em 2018.

No final, os números dizem praticamente tudo: sexta Volta consecutiva, 15 vitórias ao todo na temporada, ao que se acrescenta outras 21 conquistas, entre classificações por equipas, prémios da montanha, metas volantes... Grande Prémio Jornal de Notícias, Troféu Joaquim Agostinho e o Grande Prémio de Portugal Nacional 2 foram as outras corridas que ficaram no currículo da W52-FC Porto que vai finalmente atrás de mais. Depois de tanto domínio por cá, a equipa conseguiu reunir as condições e os apoios necessários financeiros para concretizar um sonho que durava há dois/três anos: pedir a licença do segundo escalão, Profissional Continental.

Raúl Alarcón até teve uma primeira fase de temporada mais apagada, comparativamente com 2017, mas foi devido a uma queda que o afastou da competição algumas semanas. Porém, preparou-se para a fase da época que mais lhe interessava. Aqueceu motores com uma etapa no Grande Prémio Abimota e foi depois vencer outra e a geral da primeira edição do Grande Prémio de Portugal Nacional 2. Mas era a Volta que mais interessava.

Desta feita não haviam dúvidas que era o líder, mesmo com Gustavo Veloso ainda na equipa. O respeito pelo capitão esteve sempre lá, mas a vitória na terceira e quarta tirada de Alarcón esclareceu tudo quando a lideranças. Sem Amaro, não houve um ciclista que praticamente nunca deixasse Alarcón, como aconteceu em 2017. Talvez se possa mesmo dizer que a W52-FC Porto funcionou ao estilo Sky. Todos tinham o seu papel e quando chegava o momento de o líder agir, Alarcón nunca entrava em acção e nunca falhou. Esta situação de Alarcón ficar mais cedo sozinho deu esperança aos adversários, principalmente a Joni Brandão e ao Sporting-Tavira. Mas os ataques, alguns mal medidos, não resultaram, pois a W52-FC Porto era mais forte. E Raúl Alarcón arrumou com a concorrência quando teve essa responsabilidade.

Ranking: 2º (2333 pontos)
Vitórias: 15 (incluindo a Volta a Portugal, GP Jornal de Notícias e Troféu Joaquim Agostinho)
Ciclista com mais triunfos: Raúl Alarcón (7)

O espanhol não foi surpresa, pelo que é João Rodrigues que deixou uma marca nova nesta Volta. Depois de dois anos a evoluir dentro da estrutura. O jovem algarvio muito trabalhou desde a Volta ao Algarve para que 2018 pudesse ser o seu ano de afirmação na equipa. Assim foi. Aos 24 anos, feitos este mês, João Rodrigues demonstrou grandes melhorias na montanha, dedicando-se também ao contra-relógio, o que até o levou a participar nos Nacionais nesta especialidade. Rodrigues quer tornar-se no ciclista mais completo possível e, para já, é um gregário que, se repetir as exibições não só da Volta, mas de outras corridas, irá rapidamente ser um de luxo.

Não foi António Carvalho, não foi César Fonte, nem Ricardo Mestre que mais se viram ao lado de Alarcón. Foi o jovem Rodrigues. Foi sétimo na geral e segundo no contra-relógio final de Fafe. Excelente!

Carvalho venceu o Grande Prémio Jornal de Notícias, que era um dos seus objectivos da temporada, mas foi uma sombra do ciclista que em 2017 esteve ao nível de Alarcón e Amaro Antunes. César Fonte agarrou a oportunidade para ir para esta equipa e assim ter mais oportunidades de ganhar. Somou três triunfos, mas na Volta esteve apenas focado no trabalho colectivo. Contudo, em Outubro soube-se que o ciclista tinha acusado betametasona, numa amostra recolhida após a vitória na sétima etapa do Grande Prémio Jornal de Notícias.

Mestre continua a ser um ciclista que cumpre à risca o que lhe é pedido, tendo sido essencial em mais uma conquista da Volta a Portugal - ele que já a venceu em 2011 - e teve o seu triunfo na terceira etapa da Volta às Astúrias. Samuel Caldeira viu uma lesão condicioná-lo durante grande parte da época, enquanto Gustavo Veloso ganhou uma tirada na Volta ao Alentejo, mas, aos 38 anos (faz 39 em Janeiro), é um ciclista em clara perda de rendimento. Porém, é um capitão que todos respeitam.

Não nos podemos esquecer de Rui Vinhas, certamente que não era assim que queria ser novamente falado, mas um choque com um carro de outra equipa, na quinta etapa da Volta, deixou-o com feridas em grande parte do corpo, das pernas, aos braços, ao rosto... A imagem de um Vinhas ensanguentando marcou a corrida. A imagem de um Vinhas, com ligaduras espalhadas pelo corpo, a puxar, a trabalhar e, finalmente, a cortar em meta final em Fafe deve ser ainda mais marcante pelo que representa. Venceu a Volta há dois anos e conquistou uma nova vitória por ser um exemplo de profissionalismo, de esforço, de dedicação e de uma entrega total à equipa.

E temos ainda José Neves. O jovem que até teve pena em deixar a Liberty Seguros-Carglass, mas que estava mais do que preparado para uma equipa de nível mais elevado. Por vezes discreto, por vezes a colocar todo o seu potencial na estrada, Neves venceu o Troféu Joaquim Agostinho, uma corrida internacional e uma que em Portugal mais se ambiciona conquistar. Categoria pura aos 23 anos, que lhe valeu um estágio, a partir de Agosto, na americana EF Education First-Drapac p/b Cannondale.

Outra realidade, outro ritmo, nem sempre foi fácil, mas foi uma experiência importante para Neves que, mesmo não tendo ficado, deixa sempre as portas entreabertas já estar estado numa equipa do World Tour. Neves tem qualidade e não surpreende que uma grande formação o quisesse ver de perto. Agora vai para a Burgos-BH, equipa espanhola Profissional Continental, onde terá a companhia de Nuno Bico (Movistar).

Para 2019, a equipa deverá então ter uma licença Profissional Continental e vai preparando uma temporada que continuará a ter como aposta as corridas nacionais, com foco na Volta, claro, mas também irá competir mais no estrangeiro, já que terá acesso a outras provas, agora que irá para o segundo escalão do ciclismo.

Está confirmada uma mudança: a Swift irá fornecer as bicicletas, deixando a equipa de utilizar as KTM. Quanto a ciclistas, Edgar Pinto (Vito-Feirense-BlackJack) e Daniel Mestre (Efapel) serão as novas caras, com a W52-FC Porto a tirar à concorrência dois dos ciclistas com maior capacidade para conquistar bons resultados. Além disso, experiência não lhes falta e ambos têm a oportunidade para competir a outro nível. Francisco Campos e Jorge Magalhães serão duas jovens apostas vindas do Miranda-Mortágua. O primeiro mais dotado para os sprints e com um título de campeão nacional de sub-23 conquistado em 2017, o segundo um trepador em evolução.

Raúl Alarcón continuará como líder e a maioria dos ciclistas que constituem a espinha dorsal da equipa do Sobrado, deverão permanecer às ordens de Nuno Ribeiro. Este ano, até ficou em segundo lugar no ranking nacional, elaborado pela Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, e não foi um dos seus ciclistas a ganhar individualmente (venceu o Sporting-Tavira e Joni Brandão). Porém, até poderão haver novos objectivos na W52-FC Porto, mas quando 2019 arrancar, não restam dúvidas que mais uma vez será colocada a questão se alguém conseguirá bater esta equipa.

Veja aqui todos os resultados da W52-FC Porto em 2018 e das restantes equipas nacionais.

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25 de novembro de 2018

Depois de uma boa época, uma ainda melhor

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Início de época forte, uma pequena acalmia para depois apostar tudo na Volta a Portugal. A equipa Aviludo-Louletano-Uli realizou uma excelente temporada que não será esquecida e só poderá servir de mote para continuar a dar os passos em frente que têm sido dados nas recentes temporadas. Se ganhar pela segunda vez consecutiva o Troféu Liberty Seguros é importante, conquistar a Volta ao Alentejo e depois repetir o pódio na Volta a Portugal, vencer três etapas e a camisola dos pontos é algo que só pode deixar orgulhoso o director desportivo.

Jorge Piedade não escondeu que queria ganhar a Grandíssima, mas com a W52-FC Porto a continuar a estar um ou mais patamares acima da restante concorrência, a equipa algarvia tentou discutir o que era possível. Pode não ter conquistado o prémio máximo, mas saiu da Volta com um resultado excelente, confirmando o seu crescimento em competitividade em recentes temporadas.

Há muita tendência para julgar as épocas das equipas portuguesas pelo que fazem na Volta, já que também há a tendência a apostar quase tudo nesta corrida. No entanto, o director Jorge Piedade preparou a sua equipa para conquistar mais vitórias. Se Vicente García de Mateos continua e continuará a ser o líder, Luís Mendonça ganhou mais destaque e mais oportunidades, com o espanhol a ser "guardado" para Agosto, para a Volta.

Mendonça pode ter chegado tarde ao ciclismo profissional, mas tem sido um trabalhador incansável, que além dos sprints quer também discutir resultados na montanha, seguindo as mudanças que De Mateos também realizou nos últimos dois anos.. A sua evolução, dedicação e vontade de vencer foram preponderantes na grande vitória na Volta ao Alentejo, onde um português não ganhava desde 2006 (Sérgio Ribeiro).

Um momento marcante da temporada, só ultrapassado por uma Volta a Portugal de grande nível.  Antes, um susto. Devido a alegadas irregularidades no passaporte biológico de Vicente García de Mateos, o espanhol foi suspenso, mas o Tribunal Arbitral de Desporto deu luz verde para competir, enquanto decorria o seu processo. O espanhol, que em 2017 já tinha estado muito bem na Volta, repetiu o terceiro lugar na geral, a vitória na classificação por pontos, mas em vez de uma etapa, ganhou três! A sua época foi toda a preparada a pensar na Volta e De Mateos não falhou, mesmo que não tenha conseguido disputar a vitória na geral. É o que lhe fica a faltar. A ele e à equipa.

Ranking: 3º (2332 pontos)
Vitórias: 9 (incluindo a Volta ao Alentejo e três etapas da Volta a Portugal)
Ciclista com mais triunfos: Vicente García de Mateos (3)
Contudo, há ainda que falar noutro ciclista muito relevante e uma das melhores contratações em 2018. Luís Fernandes trocou uma equipa algarvia por outra - estava no Sporting-Tavira - e tornou-se num braço direito essencial para os seus líderes. Deu mais força ao bloco em redor de De Mateos, tendo um papel preponderante em vários dos bons resultados que a equipa alcançou esta temporada, tendo alguma liberdade em certas corridas. A fechar a época conquistou a sua vitória, no Circuito Póvoa da Galega.

Márcio Barbosa regressou a uma equipa profissional, depois da suspensão e de uma passagem pelo ACDC Trofa. Foi subindo de forma ao longo do ano, venceu o Grande Prémio de Mortágua, mas, pelo que fez no passado, é um ciclista que poderá dar mais à equipa, pois não é por acaso que é considerado um dos melhores trepadores portugueses. Vai continuar a merecer a confiança em 2019.

Óscar Hernández (ganhou o Troféu Liberty Seguros - em 2017 foi De Mateos o vencedor - e uma etapa no Troféu Joaquim Agostinho) e Rui Rodrigues (Circuito da Moita) deram as outras vitórias à equipa de Loulé, num total de nove. Este último não permanecerá na estrutura em 2019 - vai para a Vito-Feirense-BlackJack -, mas é a saída de Luís Mendonça que acaba por marcar este final de ano. Não havendo um substituto claro, Leonel Coutinho passará a ser uma das opções para o sprint, sendo um ciclista que devido a lesão perdeu parte da temporada e que espera recolocar a sua carreira num bom rumo na formação algarvia. Da equipa do Feirense chega também Ricardo Vale.

Nuno Meireles é um todo o terreno, que transmite confiança no trabalho que realiza e deixa o Miranda-Mortágua após um ano na equipa. De Espanha virá outro sprinter: Francisco Garcia Rus, de 26 anos, que representou o GSport-Valencia Sports-Wolfbike.

Vicente García de Mateos, Luís Fernandes, Óscar Hernández, Márcio Barbosa, André Evangelista, David de la Fuente e Juan Ignacio (Nacho) Perez são ciclistas os que vão continuar a representar a equipa que se passará a chamar Ludofoods-Louletano-Aviludo.

A manutenção de Vicente García de Mateos é com o claro objectivo de continuar na perseguição do sonho de vencer a Volta a Portugal. Tal como está a acontecer com a Efapel, por exemplo, construir um bloco forte em redor do líder é essencial, se se quer estar mesmo na luta pelo primeiro lugar e não apenas pelo pódio, o que significa debater-se contra o poderio colectivo da W52-FC Porto. Cada época tem sido melhor para o Louletano. Falta o prémio máximo: a camisola amarela da Volta a Portugal.

Veja aqui todos os resultados da Aviludo-Louletano-Uli em 2018 e das restantes equipas nacionais.

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Crowdfunding para angariar dinheiro na luta de André Cardoso contra a UCI

André Cardoso procura angariar 250 mil euros para continuar a sua batalha contra a decisão da UCI em o suspender por quatro anos. O ciclista recorreu à plataforma GoFundMe para iniciar um crowdfunding e assim obter a necessária ajuda financeira para poder prosseguir a sua defesa, mas não só. "Esta é a minha tentativa de corrigir o que está errado e limpar não apenas o meu nome mas também garantir que isto não aconteça com outra pessoa", escreveu na sua página de Facebook.

Em Junho do ano passado, André Cardoso foi notificado de uma análise positiva por EPO (Eritropoetina). Foi suspenso provisoriamente, quando estava a poucos dias de competir na sua primeira Volta a França, ao lado de Alberto Contador, na Trek-Segafredo. Só há poucos dias o processo foi encerrado pela UCI, com uma pesada sanção de quatro anos de suspensão.

O ciclista, de 34 anos, não se conforma com a decisão, pois a contra-análise foi inconclusiva, ou seja, não confirmou o primeiro teste. Ainda assim, a UCI acabou por castigar André Cardoso, pois como o resultado foi considerado "atípico", ficou aberto a interpretação por parte do organismo. Cardoso considera que a UCI quis fazer dele um exemplo, mas recusa baixar os braços.

O próximo recurso é no Tribunal Arbitral do Desporto, mas, como é explicado no texto da página de crowdfunding, é necessário dinheiro para contratar advogados e prosseguir com o processo.

Com o título "André Cardoso vs the UCI" (contra a UCI), a página pode ser vista neste link, estando até ao momento da publicação deste texto angariados 2575 euros, dos 250 mil pretendidos.


24 de novembro de 2018

Uma época para recordar

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Terminar uma temporada e ver que um dos ciclistas de quem muito se exigiu, cumpriu plenamente e ainda houve mais corredores a ter um ano de sucesso, então só pode ser um 2018 muito feliz para a Rádio Popular-Boavista.

Em Fevereiro, o director José Santos disse sobre Domingos Gonçalves: "Acho que ele tem de assumir mais responsabilidade e acho que tem de ter mais cabeça e sangue frio para assumir a liderança da equipa em algumas corridas." No fim de Agosto, o gémeo tinha somado seis vitórias, incluindo os dois títulos nacionais (contra-relógio e de fundo) e uma etapa na Volta a Portugal. Se Gonçalves centrou muita atenção em si, houve mais. David Rodrigues juntou a conquista da Taça de Portugal e aquela memorável exibição na etapa da Senhora da Graça merecia mais. E a equipa não ficou por aqui, numa temporada plena de razões para celebrar.

Este foi um ano de muita qualidade para a Rádio Popular-Boavista, com 11 vitórias, só sendo ultrapassada pela W52-FC Porto. Com armas bem diferentes da equipa do Sobrado, a formação de José Santos conseguiu igualar a ambição a muitos e bons resultados. E Domingos Gonçalves é o nome incontornável de 2018.

Respondeu por completo ao repto do seu director desportivo, começando a ganhar na Clássica da Primavera, em Março, e só terminou com a conquista de um circuito, o de Alcobaça, em Agosto. Aos 29 anos, Gonçalves realizou a sua melhor temporada - ficou ainda com a medalha de prata no contra-relógio dos Jogos do Mediterrâneo - e a recompensa veio não só no formato de triunfos, mas também numa nova oportunidade na Caja Rural, equipa a que regressará em 2019, depois de por lá ter passado em 2016, então ao lado do irmão, José Gonçalves (Katusha-Alpecin).

Mas ter mais ciclistas a conseguir triunfos, é algo que José Santos queria ver. David Rodrigues confirmou o que pode fazer de melhor. Será difícil esquecer como a meta da Senhora da Graça ficou a 250 metros de uma vitória, quando Raúl Alarcón (W52-FC Porto) o ultrapassou. Foi fuga solitária de 70 quilómetros que merecia um final diferente. A mítica subida fica para ser conquistada noutra altura, mas Rodrigues sai de 2018 com a Taça de Portugal, uma etapa no Grande Prémio Abimota e um conjunto de exibições que elevaram o seu estatuto dentro da equipa, o que lhe poderá valer mais destaque no próximo ano.


Ranking: 4º (2037 pontos)
Vitórias: 11 (incluindo os dois títulos nacionais e uma etapa da Volta a Portugal)
Ciclista com mais triunfos: Domingos Gonçalves (6)

Luís Gomes venceu no Grande Prémio Anicolor e, entre os estrangeiros, foi Óscar Pelegrí quem se mostrou com a vitória no Grande Prémio Abimota/Altice e uma etapa no Grande Prémio de Portugal Nacional 2. Para a história ficam sempre os sucessos, mas a Rádio Popular-Boavista teve em muitas corridas sempre alguém em fugas ou na discussão das vitórias, com Domingos Gonçalves a ser uma presença assídua no top dez. Aliás, há que destacar também que terminou em nono na Volta, algo que nem estava nos seus planos. João Benta - o senhor regularidade quando se entra na fase final de preparação para a Volta - foi sexto, em mais uma prova que foi um ano feliz para a Rádio Popular-Boavista e que na corrida que mais se quer brilhar, a camisola desta equipa foi muito vista.

Se a aposta nos russos Egor Silin e Yuri Trofimov foi perdida, promover o regresso de Daniel Silva deu novo alento, ainda que talvez mais a pensar em 2019. O ciclista esteve suspenso, voltou à competição em Maio e não conseguiu atingir o nível de forma que o levou ao pódio na Volta em 2016. Porém, é um elemento importante e que poderá ser novamente uma aposta forte na próxima temporada. Em boa forma, poderá constituir uma dupla interessante com João Benta, sendo que se prepara para chegar a nova aposta da equipa.

É a pensar em repetir o sucesso desta época que José Santos contratou Luís Mendonça. Domingos Gonçalves será um homem difícil de substituir, mas no que diz respeito à vontade de vencer, ambos equiparam-se. Apesar da aposta tardia no ciclismo, os dois anos na Aviludo-Louletano-Uli permitiram a Mendonça evoluir de sprinter a um ciclista que sobe cada vez melhor e, aos 32 anos, alcançou a sua primeira grande vitória. Não fez por menos: a geral da Volta ao Alentejo. Na equipa algarvia, Vicente García de Mateos é o líder principal, pelo que a ida para a Rádio Popular-Boavista poderá ser uma forma de Mendonça encontrar mais liberdade. Para o ter contratado, José Santos vai apostar forte e exigir muito de Mendonça.

Entre os jovens, que fazem sempre parte desta estrutura, João Salgado mantém-se, com a contratação que chama mais a atenção ser a de Hugo Nunes. É um dos talentos a sair do Miranda-Mortágua. Tem sido escolha na selecção nacional, sendo um bom trepador que, aos 22 anos, dá um passo importante na carreira.

Um dos melhores juniores portugueses junta-se à equipa, Afonso Silva (Sporting-Tavira-Formação Engenheiro Brito da Mana), enquanto de Espanha, da equipa amadora da Caja Rural, chega Antonio Gómez. João Benta, Daniel Silva, Luís Gomes e David Rodrigues permanecem, além de Salgado. Entre as saídas, a não renovação de Pelegrí não deixou de ser um pouco surpreendente, dado os resultados, mas há outro adeus mais marcante. Depois de duas temporadas, Filipe Cardoso deixa a Rádio Popular-Boavista e vai com Pelegrí para a Vito-Feirense-BlackJack.

Veja aqui todos os resultados da Rádio Popular-Boavista em 2018 e das restantes equipas nacionais.

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23 de novembro de 2018

Volta a Portugal desiludiu mas a Efapel teve razões para sorrir

A frustração de uma Volta a Portugal abaixo das expectativas não significa que a Efapel tenha realizado uma má temporada. Com as equipas portuguesas a apostarem grande parte da época nessa prova, é natural que a formação de Américo Silva tenha ficado a desejar por mais e melhor. Porém, olhando para tudo que foi alcançado em 2018, a Efapel pode sorrir. Foi a terceira equipa com mais vitórias (a par da Aviludo-Louletano-Uli), com Daniel Mestre a ser a figura de destaque.

Foi o segundo ano em que Sérgio Paulinho assumiu a responsabilidade de liderar a equipa, ainda que tenha sido salientando desde o início da temporada que, desta feita, iria partilhar a esse estatuto com Henrique Casimiro. O que foi mais do que justo pelo que o ciclista havia feito nas duas épocas anteriores. Ambos venceram: terceira etapa do Grande Prémio Abimota e também a terceira tirada no Troféu Joaquim Agostinho, respectivamente. Para Paulinho foi o primeiro triunfo neste seu regresso a Portugal, depois de ser um gregário de luxo no World Tour.

Porém, o grande objectivo ficou longe. Sérgio Paulinho nem no top dez conseguiu terminar este ano na Volta a Portugal e Henrique Casimiro acabou também ele por não se aproximar da luta pelo pódio (foi décimo). A Efapel falhou ainda na vitória de uma etapa. O próprio director desportivo assumiu que a Volta ficou aquém, mas também destacou como a restante temporada foi positiva.

Neste aspecto o nome que sobressai é o de Daniel Mestre, também ele um líder, mas para outro tipo de terrenos. Clássica Aldeias do Xisto - sempre muito relevante visto as Aldeias do Xisto serem um dos patrocinadores da equipa -, duas etapas no Grande Prémio Jornal de Notícias e ainda foi fechar a época com um triunfo no Circuito de Nafarros. Em três temporadas com a Efapel, Mestre foi dos ciclistas que mais alegrias deu, ainda que nas últimas duas não tenha conseguido ganhar na Volta. E não foi por falta de tentativas. 

Daniel Mestre considerava a Efapel a decisão certa para a sua carreira quando assinou em 2016 e com razão. O seu trabalho e qualidade como ciclista valeram-lhe agora um contrato com a W52-FC Porto, que se prepara para subir de escalão. Uma oportunidade que se percebe que seja difícil dizer que não.


Ranking: 5º (1506 pontos)
Vitórias: 9 (incluindo a Clássica Aldeias do Xisto e três etapas do GP Jornal de Notícias)
Ciclista com mais triunfos: Daniel Mestre (4)


Mais discreto, até pela sua personalidade, a Efapel teve um ciclista que começou devagar, mas quando a época terminou, tinha mostrado ser uma contratação de valor. O espanhol Marcos Jurado sofreu uma gripe que o prejudicou no início da temporada , mas, entre Abril e Maio, começou a atingir um pico de forma e sucederam-se as presenças nas fugas e os bons resultados apareceram, como a vitória na Volta a Albergaria. Já o outro espanhol contratado em 2018, o veterano David Arroyo, teve um regresso ao pelotão português sem muito para recordar.

Há que falar de Bruno Silva. É um daqueles corredores que não sabe fazer as coisas mal. É um gregário que às vezes até pode passar despercebido, mas cumpre muito bem com o que lhe é pedido. Américo Silva não abre mão deste corredor, nem de Rafael Silva, que mereceu mesmo algo pouco visto em Portugal: uma renovação de contrato por dois anos. O sprinter ganhou uma etapa no Grande Prémio Jornal de Notícias e ainda a medalha de bronze nos Jogos de Mediterrâneo, com as cores da selecção nacional.

A época foi boa para a equipa, a Volta a Portugal não. E a Efapel quer ganhar e muito a Volta. Lutar por vitórias e até ficar perto de as alcançar na Grandíssima, acabar com um ciclista no top dez sabe a pouco e a equipa está a realizar um forte investimento para 2019 e vai pensando além disso. Já se fala num projecto para subir a Profissional Continental em 2021. Mas primeiro, a Efapel quer ganhar a Volta.

O regresso de Joni Brandão é uma contratação de extrema importância. Depois de dois anos no Sporting-Tavira, o ciclista regressa à casa onde se consolidou como um dos melhores ciclistas portugueses e espera-se que seja novamente o líder na Efapel que Sérgio Paulinho não conseguiu ser. A experiência de Paulinho como gregário poderá vir a ser importante, como braço-direito de Brandão, não esquecendo Henrique Casimiro, que poderá não perder alguma da liberdade que desfrutou este ano. Este será um trio potencialmente forte se se apresentar bem.

Além de Joni Brandão, a Efapel apostou na contratação de ciclistas estrangeiros. Foi buscar o espanhol de 26 anos, Antonio Angulo (Rías Baixas), que em 2017 representou a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack e venceu a Volta à Bairrada. Américo Silva gosta de contar com ciclistas com experiência e com currículo internacional e garantiu dois. O uruguaio Fabricio Ferrari (33 anos) esteve dez épocas na Caja Rural, enquanto o búlgaro Nikolay Mihaylov (30) representou seis anos a polaca CCC Sprandi Polkowice e em 2017 esteve na francesa Delko Marseille Provence KTM. Ambos sabem o que é fazer corridas importantes, de categoria World Tour, são trepadores, pelo que poderão fazer parte do bloco que o director desportivo quer construir em redor de Joni Brandão.

Sérgio Paulinho, Henrique Casimiro, Bruno Silva, Rafael Silva, Marcos Jurado e Pedro Paulinho são as permanências, numa Efapel que quer acabar com o longo jejum de vitórias, pois desde que David Blanco ganhou a Volta em 2012, a equipa não mais repteiu o feito. Só com um bloco forte será possível pensar em debater-se com a poderosa W52-FC Porto e é isso que Américo Silva está a tentar construir, agora que "recuperou" Joni Brandão.

Veja aqui todos os resultados da Efapel em 2018 e das restantes equipas nacionais.

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