15 de outubro de 2016

Os candidatos à cobiçada camisola do arco-íris: sprinters, mas não só...

Peter Sagan pode não ser favorito, mas o eslovaco é sempre um candidato
(Fotografia: Team Sky)
Muito se falou, muito se escreveu, muito se criticou, mas aí está ela: a corrida que vai decidir o campeão do mundo. Sem qualquer desprestígio para as restantes provas, esta é inevitavelmente a mais aguardada. Entre o calor e a falta de público, entre as discussões de sprinters do mesmo país e um Peter Sagan misterioso se defenderia ou não o título em Doha, chegou o momento de alguns dos homens mais rápidos do ciclismo decidirem quem é o melhor, depois de muitos anos de espera para ter um percurso plano.

A última vez que os sprinters decidiram o título mundial foi em 2011, em Copenhaga, então com Mark Cavendish a comprovar o seu domínio, com Matthew Goss e André Greipel a completarem o pódio. A temperatura será bem diferente, mas a ambição está em alta entre ciclistas de grande ego e que querem (a todo o custo) aquela camisola do arco-íris. Serão 257,5 quilómetros debaixo de um sol que irá aquecer a temperatura até aos 36 graus. Os sprinters puros são os favoritos, mas quando nada se tem a perder, outros podem muito bem fazer uma surpresa. Conheça alguns dos principais candidatos para a corrida deste domingo.

Mark Cavendish (31 anos, Grã-Bretanha)

No início do ano dificilmente se pensaria que se chegaria aos Mundiais a pensar que Mark Cavendish seria o principal candidato. Porém, o britânico renasceu no palco ideal: a Volta a França. Não só venceu quatro etapas, como o fez frente aos seus principais rivais. Cavendish mostrou estar de regresso ao seu melhor, contudo, nas últimas semanas esteve doente e o próprio admite que a preparação não foi a mais indicada. Porém, o ciclista tem uma vantagem frente alguns dos seus adversários: tem oito ciclistas que estarão a trabalhar para preparar o seu sprint. Não há divisões como noutras selecções, há apenas o objectivo bem definido de ver Cavendish com a sua segunda camisola do arco-íris na sua carreira.

André Greipel (34 anos) e Marcel Kittel (28 anos, Alemanha)

Foi um dos protagonistas de uma das polémicas que se arrastou durante algumas semanas. Greipel criticou a federação por demorar tanto tempo a decidir quem seria o líder: ele ou Marcel Kittel. Se no início da temporada foi Kittel quem mais se destacou, o alemão como se eclipsou após a Volta a Itália, apesar de ter conseguido um triunfo no Tour. Porém, Greipel, que também fez um bom Giro, venceu nos Campos Elísios, antes tinha sido campeão da Alemanha e mesmo só tendo alcançado um triunfo após o Tour, mostrou-se em melhor forma do que Kittel. A federação decidiu levar os dois ciclistas, com Greipel como líder e Kittel como elemento livre. Uma decisão arriscada, tendo em conta que a selecção alemã só tem seis ciclistas. Com Cavendish a ter certamente um comboio, como irá a Alemanha disputar o sprint é uma das grandes curiosidades da corrida.

Arnaud Démare (25 anos) e Nacer Bouhanni (26 anos, França)

Mais uma selecção com dois sprinters, mas neste caso sem líder definido. Pelo menos publicamente. Démare e Bouhanni são rivais desde o tempo em que eram colegas na FDJ e essa rivalidade só tem vindo a aumentar de ano para ano. O primeiro conquistou em 2016 o seu primeiro monumento (Milano-Sanremo), mas a restante temporada não foi muito auspiciosa e só agora no final voltou a mostrar-se, com um triunfo na Binche-Chimay-Binche e o segundo lugar no Paris Tour. Já Bouhanni teve uma época com mais vitórias, mas também com alguma polémica à mistura. Sprints irregulares custarem-lhe triunfos, um murro num homem que fazia barulho no hotel onde estava hospedado antes dos Campeonatos Nacionais, tirou-o da Volta a França devido a lesão. A França tem uma equipa de nove ciclistas, mas falta saber para quem vão afinal os gregários trabalhar.

Tom Boonen (36 anos, Bélgica)

Já não é o ciclista de outrora, mas Boonen ganhou um novo alento a partir do momento em que anunciou que irá terminar a carreira após o Paris-Roubaix, em 2017. Despedir-se com a camisola do arco-íris seria perfeito e o belga trabalhou para tentar estar na melhor forma possível para fazer frente aos actuais sprinters estrelas do pelotão. A queda no Eneco Tour assustou, mas Tom Boonen está preparado para tentar surpreender os favoritos. Pode não estar entre o grupo dos principais candidatos, no entanto, o carácter lutador do belga é algo a respeitar... e muito.

Giacomo Nizzolo (27 anos) e Elia Viviani (27 anos, Itália)

Mais um caso de liderança repartida. Não foram épocas brilhantes dos sprinters italianos. Nizzolo ainda assim somou seis vitórias, incluindo nos nacionais. Porém, não foram triunfos em grandes competições. Viviani só tem duas vitórias na estrada, mas na pista foi campeão olímpico de omnium. Mais uma vez só durante a prova em Doha se irá perceber se haverá um líder, ou se também os dois estarão livres para tentar vencer. No entanto, depois das temporadas discretas, não são os ciclistas em quem mais se aposte, mas é melhor não os tirar da lista de candidatos!

Caleb Ewan (22 anos) e Michael Matthews (26 anos, Austrália)

Matthews entrou de rompante em 2016 com três vitórias num mês e apesar de só ter somado mais uma (na Volta a França), o australiano foi sempre bastante regular, com muitos top dez. Já o pequeno Caleb Ewan até tem mais vitórias (cinco), ainda que em provas de menor importância, com a excepção da clássica de Hamburgo. Ewan é um dos ciclistas que a Orica-BikeExchange aposta para o futuro e que tem está em pleno processo de evolução. Já Matthews tem mais experiência e até vai deixar a Orica, rumando à Giant. Mas mudanças de equipa à parte, o mais provável é que Matthews seja a aposta principal da Austrália, com Caleb Ewan a funcionar muito provavelmente como plano B.

Alexander Kristoff (29 anos, Noruega)

Se há alguém que tem algo a provar nestes Mundiais é Kristoff. Depois de um 2014 e 2015 fantásticos, com vitórias em dois monumentos (Milano-Sanremo e Volta a Flandres), entre outras importantes, Kristoff "apagou-se" em 2016. Os recentes bons resultados nas corridas no seu país, não são um cartão de visita forte e Kristoff é um ciclista com o ego ferido e desesperado por uma grande vitória. O que poderá o norueguês fazer em Doha é uma incógnita dado o ano tão irregular.

Dylan Groenewegen (23 anos) e Danny van Poppel (23 anos, Holanda)

A selecção holandesa aposta em dois jovens sprinters. Porém, Van Poppel sabe que é difícil impor-se como líder com as quatro vitórias que obteve este ano, tendo em conta que Groenewegen é claramente a estrela em ascensão do ciclismo holandês. Soma 11 vitórias e é o campeão nacional. Além disso, demonstra ter capacidade para fazer frente aos principais candidatos, pelo que Groenewegen é certamente um dos ciclistas que está na lista das outras selecções como um homem a ter em atenção... muita atenção.

Fernando Gaviria (22 anos, Colômbia)

A Colômbia volta a ter um sprinter de grande nível, não sendo apenas um país de trepadores. Gaviria evoluiu muito no ano em que esteve com a Etixx-QuickStep. Soma cinco vitórias e a última, no Paris Tour, foi espectacular. O colombiano pode ser sprinter, mas até demonstrou como se pode ser campeão mundial em Doha sem ir ao sprint. Gaviria arrancou a 500 metros da meta e ninguém o apanhou. É ainda muito jovem, mas é um outsider de respeito.

Sam Bennet (25 anos, Irlanda)

O irlandês está a realizar um forte final de temporada com uma vitória no Giro della Toscana e Paris-Bourges. A missão de Bennet é quase impossível, pois só contará com a ajuda de dois companheiros, mas é um sprinter de qualidade, que a Bora confiou para o manter na equipa numa altura em que se prepara para subir ao World Tour.

Juan José Lobato (27 anos, Espanha)

De sprinter puro, Lobato foi transformando-se num gregário de luxo na Movistar. Porém, as qualidades estão lá e é a oportunidade que Lobato tem para conquistar uma vitória muito importante também para o seu país, pois a última vez que um espanhol foi campeão do mundo foi em 2004 em Verona, com então Oscar Freire a vencer. Alejandro Valverde ficou de fora dos eleitos, depois de uma época que lhe provocou grande exaustão e o percurso seria muito difícil para conseguir vencer. Nesta altura do ano já não lhe restariam muitas forças para atacar. Abriram-se as portas para Lobato, que tenta afastar a pressão, dizendo que é já uma honra estar nos Mundiais. Mas em Espanha deseja-se mais do que um resultado honroso.

Peter Sagan (26 anos, Eslováquia)

Já se sabe que Sagan tem a capacidade para se adaptar a vários percursos. No entanto, são vários os exemplos que demonstram que o eslovaco é um bom sprinter, mas frente aos melhores fica em desvantagem. Claro que estamos a falar de Sagan e ele já venceu os melhores ao sprint. Sagan resolveu alimentar uma novela de uma eventual ausência dos Mundiais de Doha. Mas ele aí está com o discurso: "Não tenho nada a perder." E realmente não tem. Aos 26 anos, soma cinco camisolas dos pontos da Volta a França, conquistou este ano o seu primeiro monumento (Volta a Flandres), é o campeão do mundo em título, foi campeão europeu e soma 88 vitórias como profissional. E tem 26 anos!

Greg van Avermaet (31 anos, Bélgica)

É o campeão olímpico, pelo que seria impossível retirar-lhe a ambição de juntar a essa medalha o título mundial. Não restam dúvidas que Avermaet ajudará Boonen se assim tiver de ser, no entanto, o ciclista tem alguma liberdade para tentar ele próprio a glória. Sprintar será difícil, mas Avermaet é daqueles ciclistas que poderá tentar um ataque que surpreenda as equipas dos sprinters. O belga atingiu finalmente o meu melhor nível e depois de tantos anos a somar segundos lugares, Avermaet ganhou o gosto pelas vitórias e agora a sua ambição não tem limites.

José Gonçalves (27 anos, Portugal)

O ciclista de Barcelos pode ser considerado um outsider. Será quase impossível, é certo, mas José Gonçalves é um ciclista de ataque e na fuga certa ou um "puxão" no momento exacto... e nunca se sabe. O percurso é demasiado plano para o português que gostaria de ter alguma dificuldade, mas eis um homem que não irá deixar passar a corrida sem dar luta, se se sentir bem fisicamente, que é a grande incógnita.

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