9 de outubro de 2016

Ciclistas acusam UCI de falta de apoio médico depois de um contra-relógio de 40 quilómetros no deserto

(Fotografia: Facebook UCI Doha 2016)
Não foi preciso esperar muito. Logo na primeira prova dos Mundiais surgiram os problemas devido ao calor, principalmente no contra-relógio feminino. Uma estranha queda aparatosa era um sinal que o calor talvez estivesse mesmo a afectar as corredoras. As dificuldades que algumas especialistas desta modalidade do ciclismo tiveram em conseguir chegar ao fim e depois as notícias que deram conta que várias ficaram doentes devido ao extremo calor que enfrentaram, confirmaram o pior cenário. Para agravar ainda mais uma situação potencialmente perigosa para a saúde das atletas, foi denunciado que não havia apoio médico suficiente no final da corrida e que houve quem tivesse de esperar 15 a 20 minutos por assistência.

Um início assustador tendo em conta as provas que ainda estão por realizar com muitos mais quilómetros. A UCI anunciou que analisará a situação e se as condições forem perigosas, as corridas poderão ser encurtadas. Mas o accionar do protocolo do tempo extremo só está previsto para as provas de fundo, os contra-relógios não foram falados, ainda que depois do que aconteceu este domingo, a ver vamos que decisões serão tomadas nos próximos dias.

Anouska Koster foi a autora da referida queda aparatosa. Rapidamente se percebeu que a ciclista desconcentrou-se, fazendo um desvio inesperado que a levou a embater nos pés de uma das barreiras. Depois, o desespero por saber que era o quarto elemento necessário para a Rabobank-Liv terminar a prova, fez com que se tentasse levantar, mas nem conseguia ter coordenação de movimentos. Koster - que acabou por conseguir juntar-se às colegas para pelo menos terminar o contra-relógio - colocou mais tarde uma imagem no Instagram mostrando as suas ligaduras.

"O calor no Qatar é extremo. Não consigo explicar como nos sentimos a correr 40 quilómetros pelo deserto. Seria de esperar que os organizadores e a UCI tivessem algum conhecimento de ciclismo. Se mandam as pessoas para um contra-relógio com este calor, há que garantir que pelo menos dez ambulâncias estão prontas a tratar dos ciclistas. A UCI não pensou nisto", acusou Roxane Knetmann, colega de Koster.

Muitas das descrições do que sofreram os ciclistas, dão conta que ainda nem a meio já se sentiam como se estivessem numa sauna, com alguns a nem conseguirem cumprir o plano acabando por descolar mais cedo do que era suposto. Um pesadelo... O contra-relógio já é muitas vezes uma prova de superação dado o esforço individual que é necessário fazer, sendo necessário ir muito no limite, mas no Qatar "prova de superação" ganhou um novo significado.

Os primeiros campeões

                                          (Fotografia: Facebook UCI Doha 2016)
Mesmo com as temperaturas a rondar os 35 graus e uma humidade a roçar o insuportável, foram atribuídos os dois primeiros títulos mundiais.  A Boels-Dolmans confirmou o domínio da temporada conquistando a medalha de ouro com o tempo de 48:41. A 48 segundos ficou a Canyon Sram Racing e a Cervélo-Bigla fez mais 1:57 minutos, mas subiu ao último lugar do pódio. Já a Rabobank-Liv, que até ia a fazer um bom tempo quando Koster caiu, terminou em último a 6:03 minutos. Veja aqui os resultados.

                                          (Fotografia: Facebook UCI Doha 2016)
Nos homens confirmou-se que a BMC e a Etixx-QuickStep eram novamente as mais fortes. Depois de dois anos de domínio da equipa norte-americana, a Etixx-QuickStep recuperou o título e é a primeira a chegar às três conquistas, desde que a competição começou em 2012. 17 segundos separaram as formações, com a Orica-BikeExchange a conseguir um terceiro lugar (a 37 segundos), que deixou os responsáveis da equipa australiana muito satisfeitos.

Quanto à Movistar, de Nelson Oliveira, ficou um pouco abaixo das expectativas, terminando com o sexto tempo a 1:11 minutos. Das dez equipas do World Tour que marcaram presença, só a AG2R foi batida por uma equipa de outro escalão, a belga Verandas Willems, do nível Continental. Veja aqui os resultados.

De destacar Tony Martin. O alemão conquistou o seu terceiro título mundial por equipas, juntando aos três que tem a título individual. Apesar de nos últimos dois anos não ser o Martin dominador de outrora, será certamente uma motivação extra para a prova de quarta-feira. Na equipa estava ainda Marcel Kittel que deu largas à felicidade ao vencer a prova, quando falta uma semana para aquela que mais ambiciona, em busca da camisola do arco-íris. Apesar de não ter sido escolhido como líder da Alemanha - André Greipel foi o eleito - também Kittel ganhou mais uma motivação... como se precisasse!

Ivo Oliveira em acção

Esta segunda-feira realizam-se mais duas provas. ÀS 9:30 locais (menos duas horas em Portugal Continental) arranca o contra-relógio individual feminino de juniores e às 11:30 será a vez dos sub-23 masculinos. Ivo Oliveira será o português em acção para cumprir os 28,9 quilómetros. Quanto a temperaturas, à hora do contra-relógio dos sub-23 está previsto entre 35 e 36 graus, humidade de 40% e vento de 13 quilómetros/hora.

"Gosto de correr com calor. Vai ser uma experiência nova, porque é o meu primeiro Mundial de estrada como sub-23. No mês passado, no Europeu, fui 24º. Mesmo sabendo que um Mundial é diferente, conseguir um top 25 seria muito bom", afirmou o ciclista português, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

Será possível acompanhar a prova de Ivo Oliveira em directo através do site da RTP, não havendo transmissão televisiva, apenas um resumo às 17:00.



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