1 de outubro de 2016

O irresistível 'El Chavito' já tem o seu monumento

Chaves festeja... Uran vê o primeiro lugar escapar-lhe outra vez
Que final de temporada! A última competição do World Tour teve dureza (muita dureza) e ainda mais espectáculo. Junta-se um pouco de história, umas despedidas e pode-se dizer que as emoções na Il Lombardia foram mais do que muitas para os ciclistas e para quem assistiu. Rui Costa foi o único português a terminar a prova e tendo em conta que só 61 ciclistas chegaram ao fim (ou seja, desistiram quase 140), o 15º lugar é muito bom para o português da Lampre-Merida.

Sky, Tinkoff, IAM, Dimension Data, Lotto-Jumbo, Bardiani e Gazprom-Rusvelo tiveram apenas um ciclista a completar os 240 quilómetros entre Como e Bergamo, com oito difíceis subidas entre os locais. Na Lotto Soudal ninguém resistiu. Não é que seja inédito muitas desistências. Muitos fazem o seu trabalho em prol dos líderes e quando esse chega ao fim, optam por abandonar.

Porém esta Il Lombardia foi desenhada para se tornar inesquecível e se há um ano Vincenzo Nibali deu espectáculo com a sua fuga para a vitória, desta fez foi um quarteto que acabou por animar um final emotivo, depois de muitos quilómetros em que se assistiu a muitas movimentações. Não houve momentos aborrecidos!

Johan Esteban Chaves (OricaBikeExchange), Rigoberto Uran (Cannondale-Drapac) e Romain Bardet (AG2R) afastaram-se de um grupo que tinha Fabio Aru (Astana), Gianluca Brambilla (Etixx-QuickStep), Alejandro Valverde (Movistar) e Robert Gesink (Lotto-Jumbo), entre outros. Nele também estava um Diego Rosa que trabalhou de forma incansável para Aru, mas o líder da equipa cazaque não aguentou o ritmo e o italiano teve autorização para ir no encalço do trio. Foi um esforço incrível, mas Rosa conseguiu encostar e os quatro entenderam-se para garantir que mais ninguém se chegava à frente.

Começava a ganhar contornos mais um momento histórico para a Colômbia. Com dois homens em boa forma na frente, Uran sabia que tinha a oportunidade de ouro (além de ser a última) de finalmente dar uma vitória World Tour à Cannondale-Drapac. A equipa norte-americana soma apenas nove triunfos em 2016, nenhum em provas do principal escalão. Romain Bardet sabia que os 100 pontos da vitória seriam muito importantes para a classificação da AG2R no ranking, enquanto Diego Rosa queria provar porque é um dos ciclistas em final de contrato mais pretendido.

Mas foi o dia de 'El Chavito'. Aliás, este foi o ano do colombiano e também da própria Orica-BikeExchange, que este ano venceu dois monumentos. Johan Esteban Chaves tornou-se no primeiro ciclista da Colômbia a conquistar um monumento do ciclismo. E como o fez? Com calma. Sim, Chaves explicou que ao ver Diego Rosa atacar a poucos metros da meta (numa altura em que Bardet já tinha ficado para trás na derradeira subida do dia feita em parte em pavé), que o importante foi manter a calma. Depois mostrou que talvez tenha aprendido com os colegas Caleb Ewan, Michael Matthews ou Simon Gerrans. Sprintou como nunca o tínhamos visto fazer e ultrapassou Rosa mesmo sobre a meta. O compatriota Rigoberto Uran ficou com o último lugar do pódio pela terceira vez na carreira na Lombardia.

É o ano da confirmação para Chaves. Mostrou que podem contar com ele para as provas de três semanas com um segundo lugar no Giro e um terceiro na Vuelta e neste final de temporada revelou ainda que também se adapta a provas de um dia como a Il Lombardia, pois além garantir o seu primeiro monumento, o colombiano de 26 anos já tinha dado sinais ao vencer há uma semana o Giro dell'Emilia. E Itália é um país simpático para Chaves, pois também tinha conquistado uma etapa no Giro, em Maio. Nairo Quintana pode ser o rei do ciclismo colombiano actualmente, mas Chaves vai conquistando cada vez mais adeptos, tanto pelos seus resultados como pela forma como encara o ciclismo fora da bicicleta.

Quanto a OricaBikeExchange, junta a Il Lombardia ao Paris-Roubaix, conquistado este ano por Mathew Hayman, e à Milano-Sanremo (2012) e Liège-Bastogne-Liège (2014), monumentos ganhos por Simon Gerrans. Só falta a Volta a Flandres.

As despedidas das equipas e de carreira

Diego Rosa procurava uma grande vitória antes de deixar a Astana. Ainda não se sabe para onde vai o italiano, mas fala-se muito do interesse da Sky. Philippe Gilbert não quis falar em despedidas emotivas no dia em que terminou a última prova pela BMC, preparando-se agora para rumar à Etixx-QuickStep. Giovanni Visconti deu tudo o que tinha para ajudar Valverde, numa altura em que já se sabe que vai trocar a Movistar pela nova equipa Bahrain-Merida.

Porém, as emoções maiores foram para Frank Schleck e Ryder Hesjedal (ambos da Trek-Segafredo) e Joaquim Rodríguez (Katusha). Os três terminaram a carreira. Rodríguez saiu da reforma, que anunciou durante a Volta a França, por ordem da equipa. Nas três provas em que participou em Itália, não terminou nenhuma, nem o "seu" monumento. 'Purito' venceu na Lombardia em 2012 e 2013. No final afirmou: "Esta foi a minha última corrida", disse, contrariando as informações avançadas pelo seu agente que davam conta que o futuro do espanhol ainda estava em aberto. Surgiram mesmo rumores que poderia estar a caminho da Bahrain-Merida, para assim dar uns pontos importantes à equipa na procura pela licença World Tour em 2017.

Os portugueses

Pouco há dizer. Rui Costa foi 15º a 5:02 minutos do vencedor e nunca esteve na discussão da corrida, na qual foi terceiro em 2014. Sérgio Paulinho (Tinkoff) e André Cardoso (Cannondale-Drapac) desistiram. Nelson Oliveira (Movistar) e Tiago Machado (Katusha) chegaram a aparecer como convocados para a competição, mas a lista foi alterada e não fizeram parte da escolha final.

Sobrevivência das equipas

Em disputa na Lombardia estava também a procura dos pontos que algumas equipas muito precisavam para garantir a licença World Tour em 2017. A Dimension Data termina no último lugar do ranking e tem o lugar em risco no principal escalão no próximo ano. De recordar que serão dadas 17 licenças e são 18 as equipas candidatas, com a Bahrain-Merida e a Bora-Hansgrohe a procurarem entrar no World Tour, numa altura em que sai a Tinkoff e a IAM.

Só os dez primeiros somavam pontos. Warren Barguil conseguiu 20, fruto do seu oitavo lugar, mas a Giant-Alpecin também vê o seu futuro em risco, depois de uma temporada que começou mal logo na pré-época com o atropelamento de vários ciclistas. John Degenkolb sempre foi um dos que mais pontos deu à equipa, mas devido a esse acidente, a sua temporada foi para esquecer e o alemão também está de saída para a Trek-Segafredo. A Lampre-Merida, futura TJ Sport-Merida, não está completamente descansada, mas a equipa já está a contratar ciclistas como Ben Swift e John Darwin Atapuma para garantir pontos que podem ser importantes.

Do outro lado ranking, sem Alberto Contador, a Tinkoff apostava em Roman Kreuziger e Rafal Majka para tentar ultrapassar a Movistar no primeiro lugar. No entanto, só Michael Gogl terminou e em 35º lugar. Valverde foi sexto e até deu mais 40 pontos para consolidar o primeiro lugar. É o quarto ano consecutivo com a Movistar a ser primeira no ranking World Tour.


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