9 de abril de 2016

O momento de enfrentar o "Inferno do Norte"

Fotografia: Flickr franzconde
O Paris-Roubaix é daquelas corridas que deve ser vista do primeiro ao último quilómetro. Aqui só vencem os melhores, aqueles ciclistas que têm uma capacidade de sofrimento que os distingue dos demais. Aqui o favoritismo tem valor reduzido. Por outro lado, a sorte tem uma grande peso e, por isso, nos duros percursos de pavé não chega destreza, talento, muito treino ou até equipamento de topo: os sectores de pavé podem ditar uma vitória ou uma derrota.

Este domingo, Fabian Cancellara dá um toque ainda mais especial à corrida, afinal é a despedida e o próprio já admitiu que emocionalmente custa-lhe dizer adeus. Depois do segundo lugar na Volta a Flandres, o suíço aposta tudo no Paris-Roubaix para conquistar um monumento neste último ano de carreira. E na prova francesa soma três vitórias (2006, 2010 e 2013).

No entanto, ao contrário do que tanto se falou antes da Volta a Flandres e do Paris-Roubaix, não é o embate com o rival de longa data que agora mais se aguarda. É com Peter Sagan, o ciclista que ameaça ocupar o lugar de protagonismo nestas clássicas, que até este ano pertenciam principalmente a Cancellara e Tom Boonen.

Aos 26 anos, o eslovaco venceu finalmente o seu primeiro monumento na semana passada e aponta já ao segundo, provavelmente mais motivado do que nunca, ainda mais vestido com a camisola de campeão do mundo.

Mas atenção, não se tire Boonen da equação. É certo que na Volta a Flandres desiludiu, não se apresentando na melhor forma. Porém, apesar de ser belga, é grande a paixão é pelo monumento francês, o qual já venceu quatro vezes: 2005, 2008, 2009 e 2012. Muitos parecem querer forçar uma reforma, mas Boonen vai mantendo o mistério quanto a esse assunto. Sem mistério foi o discurso antes do Paris-Roubaix. A mensagem foi clara: contem com ele.

Sendo esta uma corrida em que o favoritismo de pouco vale, há outros nomes a ter em conta. Só na Etixx-QuickStep de Boonen há Zdenek Stybar e Niki Terpstra, vencedor em 2014, um exemplo de como um outsider pode surpreender. Tony Martin também disse que quer mostrar o que é capaz de fazer no pavé do Paris-Roubaix, mas não deixou indicações convincentes na Volta a Flandres.

A Sky está cada vez mais apostada em ganhar o seu primeiro monumento. Teve uma Volta Flandres positiva e Ian Stannard e Luke Rowe partem com o objectivo bem definido: chegou o momento de ganhar.

Há também uma grande curiosidade para ver Sep Vanmarcke. Terceiro na Volta a Flandres, o belga da Lotto Jumbo apresenta-se como um forte candidato, apresentando-se num bom momento de forma. E a Bélgica terá ainda Jurgen Roelandts e Tiesj Bennot, o mais recente prodígio daquele país (ambos são da Lotto Soudal).

Da nova geração, como Bennot (22 anos), o canadiano Antoine Duchesne (24), da Direct Energie, é outro ciclista a ver.

Alexander Kristoff (Katusha) não esteve ao seu melhor na Flandres, mas é sempre um ciclista a ter em atenção - certamente que quer o terceiro monumento depois da Milan-San Remo (2014) e Volta a Flandres (2015) -, tal como Lars Boom (Astana) e Boasson Hagen (Dimension Data). Sem Greg van Avermaet, a BMC fica sem o seu líder nas clássicas, mas poderá ser a oportunidade de Taylor Phinney reaparecer.

A surpresa da corrida chama-se Mark Cavendish. O sprinter da Dimension Data quis correr no Paris-Roubaix, um percurso com características bem diferentes daquelas onde costuma triunfar. O britânico até já conta com um monumento, aquele mais reservado aos sprinters, Milan-San Remo. No mínimo, a presença de Cavendish gera curiosidade e já se sabe que quando o britânico estabelece um objectivo, pode-se esperar luta.

Os portugueses terão um compatriota a ver. Nelson Oliveira já mostrou que se adapta bem às dificuldade da corrida e o próprio tem como um dos seus objectivos da época um bom resultado no Paris-Roubaix. A sua contratação pela Movistar também foi feita a pensar nas clássicas, além de ser um ciclista que qualquer líder gostaria de ter ao seu lado (que o diga Rui Costa) e o seu potencial como contra-relogista. Mário Costa, da Lampre, também estará presente.

O percurso e a meteorologia

São 257,5 quilómetros, 52,8 de pavé, o que corresponde a 27 sectores. No Paris-Roubaix há tradições que não mudam e Arenberg é a prova. Há espera do pelotão estão 2400 metros de pavé classificado com cinco estrelas (o nível mais difícil), aos 162 quilómetros. Mons-en-Pévèle é o outro sector de cinco estrelas. Três mil metros aos 209 quilómetros.

Na teoria são os mais difíceis, mas não há sectores de pavé fáceis e se o mau tempo acompanhar a prova, então poderá ser um daqueles caóticos Paris-Roubaix... que se adora! As previsões apontam para uma probabilidade de 30% de chuva, que poderá cair com alguma intensidade durante esta noite. O primeiro sector de pavé, Troisvilles, correu o risco de ser anulado devido à lama que foi encontrada durante o reconhecimento feito durante a semana. Para já, está confirmado que se mantém, mas, apesar de lama (ou o pó se estiver bom tempo) e Paris-Roubaix serem quase sinónimos, a segurança dos ciclistas poderá levar a uma anulação, o que significaria um desvio no percurso.

Como curiosidade, depois do incidente no ano passado quando alguns ciclistas atravessaram uma passagem de nível com a cancela fechada e com o comboio a passar segundos após o terem feito, a organização estudou com os responsáveis daquele transporte o melhor horário para evitar que os ciclistas sejam obrigados a parar.

E como o Paris-Roubaix é uma corrida para se ver do primeiro ao último quilómetro, o Eurosport começa a transmissão às 9:15. Enquanto se espera, a Tinkoff mostrou um pouco das condições que esperam o pelotão no vídeo em baixo.

Que comece o "Inferno do Norte"!


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