3 de agosto de 2020

Van Aert no seu domínio

© Team Jumbo-Visma
Depois de uma autêntica novela de transferência da Vérandas Willems-Crelan para a Jumbo-Visma e que antecipou a sua ida para a equipa do World Tour em um ano, Wout van Aert chegou às clássicas em 2019 com muita vontade, bons resultados, mas a vitória não chegou. Uma ligeira desilusão para o belga, cujas expectativas era altíssimas depois de um 2018 de grande nível. Alcançou pódios e outros resultados de nota, mas faltou aquele triunfo. Acabaria por mostrar-se em sprints e contra-relógios, revelando que podiam esperar mais dele do que simplesmente nas clássicas. Porém, ao vencer neste último sábado a Strade Bianche, é difícil não pensar que Van Aert venceu no seu principal domínio. E está só a começar!

Há pouco mais de um ano, depois de um Critérium du Dauphiné brilhante (vitória no contra-relógio e numa etapa ao sprint, mais a camisola dos pontos), o título nacional de contra-relógio, Van Aert estava a ser uma das figuras da Volta a França. Foi a sua estreia em grandes voltas e além de ser um excelente homem de trabalho, quando chegou a sua vez de se mostrar, lá foi ele comprovar que sabia sprintar, vencendo em Albi os chamados sprinters puros como Elia Viviani e Caleb Ewan, por exemplo.

Dias depois, em Pau, estavam bem encaminhado para mais um resultado promissor no contra-relógio, até que ao tocar numa barreira teve uma queda aparatosa, com consequências muito graves. Aquele 19 de Julho terminou não só com uma época de estreia no World Tour promissora, como lançaram dúvidas se Van Aert iria conseguir regressar ao mesmo nível, tal foram a gravidade das lesões.

A 1 de Agosto de 2020, depois de confinamentos e com uma pandemia a ser notícia todos os dias, Van Aert surgiu para mostrar que não só o bom ciclismo estava de volta na Strade Bianche, como provou que podem contar com ele para lutar por um lugar entre aqueles que deixam a sua marca na modalidade. E no domínio que mais se esperava dele, nas clássicas.

Em 2020 só se o tinha visto na Omloop Het Nieuwsblad e o 11º lugar desapontou um pouco. No entanto, aí está Van Aert no seu elemento. A Strade Bianche é uma corrida que só pode assentar bem a um ciclista que tem no currículo títulos mundiais de ciclocrosse.  Foi uma corrida com mais pó do que está habituado, afinal o ciclocrosse é uma modalidade de Outono/Inverno, mas não o atrapalhou nem um pouco. Quando ficou no pequeno grupo da frente, era difícil não pensar que estava perto de ter o seu momento: vencer a sua primeira clássica World Tour.

A seu lado estavam nomes de respeito, vencedores de monumentos, como Jakob Fuglsang (Astana) - segundo na Strade Bianche em 2019 - ou Alberto Bettiol (EF Pro Cycling). Mas a prova do sterrato italiano é perfeita para as características de Van Aert. Só aquela subida final em Siena poderia causar preocupações.

Nas duas edições anteriores, o belga foi terceiro e muito por culpa daquela curta mas muito inclinada subida. A experiência também já se nota, apesar de ter apenas 25 anos. Davide Formolo (UAE Team Emirates) e Max Schachmann (Bora-Hansgrohe), segundo e terceiro respectivamente, sobem bem melhor do que Van Aert.

Destemido e muito confiante na suas capacidades e na sua condição física, o belga aproveitou o último sector de sterrato, a pouco mais de 12 quilómetros da meta, para dar a machadada final nos companheiros de fuga. 

Ganhou vantagem suficiente para chegar à tal subida sem nervosismos. A vitória era sua e mais do que merecida! Formolo e Schachmann chegaram a 30 e 32 segundos. O 10º, Diego Rosa (Arkéa Samsic) cortou a meta 7:45 minutos depois. O grande rival do ciclocrosse, Mathieu van der Poel, demorou mais 10:06 (15º) para completar os 184 quilómetros. Ainda não foi desta que a rivalidade passou para a estrada. Mas havemos de lá chegar... Muito calor, muitos incidentes - Julian Alaphilippe, vencedor de 2019, furou seis vezes (!) -, mas Van Aert esteve perfeito e fez por ser e merecer o seu dia de glória.

As próximas corridas

Ganhar no seu domínio só pode encher ainda mais de confiança Wout van Aert. Tendo em conta que já demonstrou que não teme os sprints, o belga vai surgir entre um dos favoritos para a Milano-Sanremo, o primeiro monumento que finalmente vamos ver este ano.

Mas antes de sábado, haverá ainda a Milano-Torino esta quarta-feira. Van Aert seguirá depois para França para o Critérium du Dauphiné e Tour. Os seus principais objectivos serão mais tarde perseguir mais vitórias nas principais clássicas do pavé, com Volta a Flandres e Paris-Roubaix em destaque, claro.

O mais importante de sábado, além da vitória, foi Van Aert e a Jumbo-Visma saberem que o pior não só já passou como parece estar num passado muito distante. Van Aert está pronto para agarrar o seu lugar entre os grandes.

Veja aqui a classificação completa da 14ª edição da Strade Bianche, com Rui Costa (UAE Team Emirates) a ser o único português em prova. Terminou na 39ª posição, a 19:27 minutos de Van Aert.


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