19 de agosto de 2020

Froome: saída pela porta pequena (ou pelo menos não tão grande)

© Team Ineos
Por esta altura, a exclusão de Chris Froome da Volta a França não é algo de ficar de boca aberta. As prestações do britânico nas recentes corridas foram simplesmente muito fracas. O ciclista pode escrever nas redes sociais que está a melhorar fisicamente, mas com o Tour tão perto, era difícil imaginar que alguém que ficou consecutivamente para trás - às vezes bem cedo - nas etapas de montanha (e não trabalhava assim tanto para Egan Bernal) pudesse em menos de 15 dias estar em condições de disputar o Tour. É um adeus à Ineos com uma saída pela porta pequena. Ou talvez uma não tão grande como merecia, isto caso consiga vencer a Volta a Espanha, para onde foi seleccionado.

Dave Brailsford anunciou nesta manhã de quarta-feira os eleitos para o Tour e qual o futuro de Froome e também de Geraint Thomas. O galês também ficou de fora e vai ser o líder no Giro (de 3 a 25 de Outubro). Ficaram os elogios a Froome que o momento exigia: "É uma lenda do nosso desporto, um verdadeiro campeão que demonstrou um incrível carácter e determinação para regressar após a queda no ano passado."

Porém, não deixa de ser um renegar do ciclista que tanto deu à equipa para segundo plano. Não há volta a dar. Froome perdeu definitivamente o lugar para Egan Bernal e poderá ter perdido a possibilidade de conquistar o histórico quinto Tour, que o colocaria no grupo dos recordistas: Eddy Merckx, Jacques Anquetil, Bernard Hinault e Miguel Indurain.

Depois do Critérium du Dauphiné, esta decisão de Brailsford parecia ser quase inevitável. Froome esteve desaparecido na Route d'Occitanie e não fez melhor no Tour de l'Avenir e no Dauphiné. Sempre pareceu um homem batido por tudo e por todos. Mesmo quando assumir um papel de trabalho não convencia. E neste aspecto ficava ainda mais claro que se Froome não tinha condições para disputar a vitória no Tour, também não faria sentido escolhê-lo para ser um gregário. Um quatro vezes vencedor da Volta a França? Pareceria simplesmente mau de mais e psicologicamente seriam três semanas de inferno para Froome.

Aos 35 anos é um ponto final da liderança espectacular de Froome na Ineos no Tour. Ficam as memórias, mas o britânico ainda quer ter um futuro. É aqui que se levanta a questão. Estará Froome apenas fora de forma, ou a queda em 2019 no Dauphiné - e que não se pode esquecer que ameaçou a sua carreira - deixou marcas mais profundas?

Mesmo que não venha a conquistar o quinto Tour, Froome já está entre os melhores. Ganhou ainda um Giro, duas Vueltas, etapas e outras importantes corridas. Foi uma carreira em grande de um ciclista que não demorou a "encostar" Bradley Wiggins nos primórdios da então Sky, quando este é que havia sido escolhido para ser o grande capitão da equipa.

Além da questão física, Froome já assinou pela Israel Start-Up Nation. Chegou-se a falar que o britânico poderia sair da Ineos ainda antes do Tour, precisamente para ser líder único em França. Estávamos numa altura que Bernal, Froome e Thomas iam dizendo que queriam ganhar o Tour de 2020. Essa hipótese ficou afastada, mas ciclista e a Ineos anunciaram que iriam mesmo separar-se em 2021.

A história de Froome na Ineos não deveriam enfraquecer a posição do ciclista, mesmo que esteja de saída. Mas também não ajuda. Neste aspecto é impossível não recordar Nicolas Portal, o director desportivo que esteve ao lado de Froome nos grandes momentos do britânico. A sua morte deixou uma vazio na equipa e o divórcio com Froome parece ter sido precipitado sem Portal a segurá-lo e a garantir o lugar de destaque.

E claro, haja mérito para Bernal. Aos 23 anos é uma certeza no presente e para o futuro. Quando Froome caiu em 2019, Thomas quis novamente ser o líder, mas o jovem colombiano demonstrou que não era preciso esperar ou prepará-lo mais. Era o novo número um da Ineos e ganhar o Tour bem que ajudou a conquistar esse estatuto.

Porém, nas recentes corridas, soaram bem alto os alarmes na Ineos que o seu poderio já não está só a ser posto em causa. Foi-lhe retirado por uma Jumbo-Visma que apostou no mesmo jogo da equipa britânica e tornou-se uma especialista onde a Ineos era imbatível. Está na altura de mudar e Brailsford admite que a equipa será um pouco diferente no Tour.

Froome não iria ganhar a Volta a França e, por agora, é difícil imaginá-lo a discutir a Vuelta (de 20 de Outubro a 8 de Novembro), mas até lá ainda tem muito tempo para melhorar, ao contrário se fosse ao Tour, que arranca a 29 de Agosto, em Nice. Depois irá então mudar-se para uma Israel Start-Up Nation, que está a reforçar-se a pensar em dar todo o apoio ao seu líder. Michael Woods (EF Pro Cycling), Patrick Bevin (CCC), Daryl Impey (Mitchelton-Scott) e Fredrik Carl Hagen (Lotto Soudal) já estão garantidos.

No entanto, na equipa de Israel poderá muito bem estar a aumentar alguma ansiedade. Afinal que Froome contrataram?

Equipa da Ineos para a Volta a França: Egan Bernal, Richard Carapaz (foi a surpresa, pois estava previsto que iria ao Giro tentar ganhar pela segunda vez - será o braço-direito de Bernal), Pavel Sivakov (um estreante), Andrey Amador, Jonathan Castroviejo, Michal Kwiatkowski, Luke Rowe e Dylan van Baarle.

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