5 de julho de 2020

Rui Costa vence num dia de pouca normalidade

© João Fonseca Photographer
Foi uma tarde entre a alegria de se estar de volta ao ambiente de ciclismo e a certeza de que nada está normal. A Prova de Reabertura realizou-se debaixo de muitas medidas de segurança, muitas instruções para todos os intervenientes, desde os ciclistas, ao público, sem esquecer os jornalistas. Todos queriam sentir um pouco da adrenalina da competição, mas com um futuro tão incerto, não foi fácil encontrar sorrisos entre os quase 100 participantes do contra-relógio.

Os 22 quilómetros pelo concelho de Anadia até tiveram um ilustre vencedor. Rui Costa aproveitou esta prova para apurar a forma e levou a melhor sobre um dos principais especialistas do pelotão nacional: Rafael Reis. O homem do Feirense ficou a apenas três segundos do melhor tempo, 28:10 minutos do ciclista da UAE Team Emirates.

Gustavo Veloso (W52-FC Porto) demonstrou como aos 40 anos ainda continua a ser dos melhores nesta especialidade no pelotão português, ficando a 22 segundos do vencedor, deixando atrás de si outros dos candidatos do dia, Ivo Oliveira, companheiro de equipa de Rui Costa (a 35 segundos). Daniel Dias (Sicasal-CM Torres Vedras) foi o melhor sub-23 e como esta competição contou para a Taça de Portugal é também o líder, tal como Rui Costa em elite.

Esta parte, pode-se dizer que foi a normal. A competição e os tempos. Porém, pormenores como a falta de alguém a segurar o selim, permitindo que os ciclistas tivessem os pés encaixados no pedal para arrancar (foram muitos os que perderam tempo logo no arranque por não conseguirem colocar rapidamente o pé), a proibição de deixar bidões antes de partirem e, claro, o uso de máscara obrigatória sempre que não estavam a pedalar e para tirar a fotografia no pódio (e só nesse momento), foram todos sinais de que normal, este dia teve pouco.

Depois havia a incerteza. Este domingo era dia de ir cerca de 30 minutos a fundo. E depois? Se a maioria dos ciclistas portugueses que competem em equipas estrangeiras têm um discurso de alguma satisfação por acreditarem que vão mesmo ainda ter uma época desportiva, por cá é tudo bem diferente.

As duas corridas previstas para o próximo fim-de-semana, em Oliveira de Azeméis, foram canceladas. Sobra o Troféu Joaquim Agostinho, de 18 a 20 de Julho e os Nacionais de 21 a 23 de Agosto. E com a pandemia a não ter nada de previsível é impossível dizer que são provas garantidas.

A Volta a Portugal foi adiada, sem nova data à vista e não se pode afastar a hipótese de não ir para a estrada em 2020. E não há mais corridas marcadas. Quando calendário foi anunciado há umas semanas, a expectativa foi grande para as equipas portuguesas. Contudo, com o passar do tempo, o pesadelo que este ano se transformou, não tem fim à vista.

Houve uma prova, vontade de ganhar, mas o ambiente não foi o mesmo. O futuro do ciclismo português não será nada fácil.

Elogios à organização

A Prova de Reabertura foi organizada pela Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), que assim colocou em prática as medidas que apresentou ao governo, quando lutou para que fosse possível retomar as corridas.

Rui Costa não quis deixar passar a oportunidade para deixar o seu elogio, considerando que houve "risco 0". "Estiveram impecáveis. Parabéns pelo trabalho que fizeram", afirmou na conferência de imprensa. Eis outra mudança, acabaram-se as entrevistas junto à meta. As declarações finais foram feitas num local onde os dois vencedores e os jornalistas mantiveram a distância.

A FPC teve um teste importante e todos fizeram por cumprir as regras e assim garantir a segurança.

Falando de ciclismo e do calendário de Rui Costa...

Apesar de ser impossível sentir normalidade, tenta-se pensar que se em Portugal as incertezas são muitas, Rui Costa é um exemplo de quem está com objectivos bem delineados. Quais? Lutar por todas as corridas em que vai participar.

Para o campeão do mundo de 2013, com um calendário intenso em tão pouco tempo, todas as provas terão de ser um objectivo. Vai começar a 1 de Agosto na Strade Bianche, seguindo-se a Volta a Polónia e talvez uma vinda aos Nacionais de Paredes. Viajará depois para França, onde fará duas corridas, antes das duas clássicas do Canadá, os Mundiais, clássicas da Ardenas e a Volta a Espanha para terminar.

E há coisas que a pandemia não vai mudar. Enquanto Rui Costa falava, Daniel Dias era um jovem bastante feliz. Não só porque tinha ganho, mas porque estava ao lado de uma referência. "É um ídolo", disse, desabafando: "Foi um dia bastante bom". Para quem chegou em 2020 escalão de sub-23, receber os parabéns de Rui Costa será um momento que guardará na memória.


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