26 de julho de 2020

"Em Portugal é raro existir uma corrida que seja perfeita para mim"

Iúri Leitão é um sprinter e é nessa especialidade que quer triunfar no ciclismo. Portugal tem sprinters, mas todos têm de se adaptar de um território onde as corridas raramente assentam ao que se chama "puro sprinter". Mas a determinação deste jovem ciclista levou-o a perseguir os seus sonhos além fronteiras. Mudou-se para a equipa espanhola Super Froiz. O entusiasmo era grande no início de 2020, até que uma pandemia trouxe a incerteza, novos hábitos e rotinas.

Mas o entusiasmo continua bem vivo em Iúri Leitão. A situação epidemiológica em Espanha não permite fazer grandes planos, mas o ciclista de 22 anos mantém a dedicação aos treinos. Garante que quando for chamado a competir quer ajudar a Super Froiz a vencer e, claro, ele próprio mostrar-se para tentar "dar o salto".

"Acabei por nunca competir em Espanha [esta época]. Fiz a Prova de Abertura [Região de Aveiro] pela selecção, mas depois só consegui estrear-me pela equipa na Clássica da Primavera. Nunca competi no pelotão espanhol. Ainda estou um pouco às cegas do que vou lá encontrar, que tipo de ritmo, que tipo de corridas, que tipo de atletas", explicou ao Volta ao Ciclismo. Leitão espera que a sua estreia possa acontecer no início de Agosto, mas o calendário em Espanha continua também ele incerto.

Com expectativas altas para 2020, Iúri Leitão não esconde alguma tristeza por tudo o que está a acontecer. "Foi uma desilusão. Tinha algumas provas para os primeiros meses da temporada e estavam delineados alguns objectivos. Queria mostrar serviço à equipa. Foi uma grande desilusão ter de voltar para casa, não competir e recomeçar tudo do zero, como se fosse uma nova pré-época. Foi um pouco triste", admitiu.

"Vi em Espanha a possibilidade de me mostrar um pouco mais, poder brilhar, poder dar uma vitória ou outra à equipa"

Enquanto espera pelo momento de competir no país da sua equipa - esteve no contra-relógio da Prova de Reabertura, em Anadia, a 5 de Julho -, assegura que o que o fez mudar-se da Sicasal-Constantinos para Super Froiz continua a motivá-lo e muito.

"Vi a oportunidade de na Froiz fazer um novo calendário. Novas oportunidades, nova equipa, poder mostrar-me no meu terreno, que em Portugal é raro existir uma corrida que seja perfeita para mim. Vi em Espanha a possibilidade de me mostrar um pouco mais, poder brilhar, poder dar uma vitória ou outra à equipa. Poder dar mais daquilo que eu tenho para dar", salientou. E acrescentou: "Penso que poderá ser uma boa oportunidade para, quem sabe, dar o salto."

Nasceu em Viana do Castelo, mas mesmo rodeado de um terreno de sobe e desce, Iúri Leitão saiu um sprinter, com provas dadas também na pista, onde foi um dos ciclistas que tentou levar Portugal aos Jogos Olímpicos pela primeira. O feito acabou por ser alcançado no feminino, por Maria Martins.

Porém, é na estrada que agora se concentra. Recordou como no início do ano teve um estágio de poucos dias e que lhe permitiu conviver com os seus companheiros. Mas soube a pouco.

Gerir uma fase diferente na vida

A pandemia obrigou a mudanças nas rotinas. Sem corridas em perspectiva, o treino teve de seguir o seu curso, mas houve que ter outros cuidados, mesmo num país em que os ciclistas puderam continuar a pedalar na rua durante o Estado de Emergência.

"Tudo mudou um pouco. Nós tínhamos as nossas rotinas, a nossa maneira de viver e do nada só podíamos sair para as coisas essenciais e para treinar. Passar o dia em casa era uma vida um bocado sedentária e tive de adaptar tudo o que fazia. No princípio foi um bocado complicado, mas acabou por se tornar numa nova rotina", contou.

O mesmo irá acontecer com as medidas de segurança sanitária que agora vão sendo implementadas nas corridas. "É diferente..." desabafou, recordando como nos treinos teve de reduzir o número de pessoas com quem está e do cuidado necessário neste tempo de pandemia. "Tem sido um processo de adaptação", afirmou.

"Será que vamos correr, será que não vamos... A única coisa que posso fazer é olhar em frente e continuar a treinar"

Um dos desafios acaba por ser gerir emocionalmente a incerteza de quando se vai competir. Uma corrida pode estar marcada, mas não há garantias que se realize, já que está sujeita às condições epidemiológicas do momento. "Quando nós recebemos as notícias que vão haver corridas e começam a aparecer datas, dá-nos um pouco de esperança. Mas depois vemos que as coisas não são tão positivas como as pessoas estavam a pensar e ficamos um bocado de pé atrás. Será que vamos correr, será que não vamos... A única coisa que posso fazer é olhar em frente e continuar a treinar e quando puder vou competir", referiu.

Com contrato de apenas um ano com a Super Froiz - onde está outro português, Patrick Videira -, 2020 não está a ser nada do que Iúri Leitão desejava. Ainda assim, espera ter a possibilidade de retribuir a confiança nele depositada e, claro, renovar para 2021. "Espero continuar para o ano. A equipa tem os patrocinadores base há muito tempo e penso que não terá problemas em continuar e eu quero prosseguir. Lá está, não tivemos a possibilidade de mostrar nada do que temos para dar e penso que todos nós merecemos outra oportunidade", afirmou.


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