9 de julho de 2020

Froome rumo a um grande desafio no adeus à Ineos

© Team Ineos
Era um dos segredos mais mal guardados do mercado de transferências. A saída de Chris Froome da Ineos parecia ser cada vez mais iminente, principalmente quando Egan Bernal se vai assumindo como o líder da equipa. Ficam para trás os tempos de respeito à hierarquia, que o faziam sempre falar do companheiro como número um. Não perdeu o respeito pelo companheiro, apenas demonstrou que também o merece e que não pode ser um número dois.

Uma década de sucesso depois, Froome deixa a Ineos rumo a um enorme desafio. A Israel Start-Up Nation há muito que queria contar com uma figura de topo, para assim também poder lá chegar o mais rapidamente possível. Ao contrário da UAE Team Emirates, por exemplo, que muito aposta em jovens, a aposta nas contratações da formação israelita é em ciclistas experientes, casos de Daniel Martin e André Greipel para este ano.

Com Froome em final de contrato, os rumores que o britânico estava a procurar outras soluções foram crescendo, ao ponto de chegar a ser avançado que poderia deixar a Ineos ainda antes da próxima Volta a França. Isso não vai acontecer. Froome vai à procura do quinto Tour com a Ineos, antes de se mudar em Janeiro para a Israel Start-Up Nation. Por quanto tempo? Até ao final da carreira, explicou a futura equipa do britânico.

A razão é simples: a Ineos não garante liderança única a Froome. Aos 35 anos, o britânico tem de enfrentar o que obrigou Bradley Wiggins a lidar aos 32 anos. Ou seja, a nova geração está aí, tem muita qualidade e a Ineos quer apostar nela. Froome perdeu estatuto.

"Dadas as suas conquistas, o Chris está, compreensivelmente, desejoso de ter um papel de líder único na equipa no próximo capítulo da sua carreira, o que é algo que não lhe conseguimos garantir neste ponto. Uma saída da Ineos pode certamente dar-lhe isso", disse o director da equipa, Dave Brailsford, num comunicado da equipa.

Além de Bernal, há Pavel Sivakov, Tao Geoghegan Hart, Iván Ramiro Sosa e Eddie Dunbar, só para falar dos jovens talentos. E para 2020, a Ineos ainda foi buscar Richard Carapaz à Movistar, o vencedor do Giro de 2019.

A queda no Critérium du Dauphiné em Junho do ano passado, pode até ter precipitado o fim do estatuto de líder número um da equipa. Mas a verdade é que Bernal chegou e tomou o World Tour de assalto antes disso. Froome sabia que era inevitável ter de lutar por um lugar. Não ajuda ainda a dúvida que persiste se vai voltar a ser o Froome de sempre.

Na próxima Volta a França - que arranca a 29 de Agosto - o ambiente na Ineos vai ser bem quentinho. Se em 2018 o galês Geraint Thomas desafiou a liderança de Froome e ganhou o Tour, mesmo com a equipa a manter o apoio total ao seu líder, este ano o britânico sabe que será bem diferente. Bernal é o presente e o futuro da equipa. Froome é cada vez mais o passado.

Para não arriscar ficar em segundo plano, Froome deixa o conforto da Ineos. Para já, as palavras são muito de circunstância. "Sinto que podemos alcançar grandes feitos juntos", disse Froome sobre a mudança.

Construir um bloco forte

Mas é de facto um enorme desafio para o ciclista e para a nova equipa. A Israel Start-Up Nation era do escalão Continental em 2015. Em 2017 subiu ao segundo e este ano é World Tour, depois de ficar com licença da extinta Katusha-Alpecin.

Além de Martin e Greipel, Nils Politt (um homem mais de clássicas) acaba por ser a grande referência, numa equipa que vai precisar de contratar muito mais e com qualidade se de facto quer levar Froome a vitórias no Tour. É nesta corrida que o ciclista está agora concentrado, pois quer não só entrar no grupo de recordistas com cinco conquistas, como quer o sexto triunfo para ser o mais ganhador de sempre na corrida mais histórica do ciclismo.

Richie Porte, actualmente na Trek-Segafredo, até já foi um nome apontado. Se se confirmasse a contratação, seria o regresso de uma dupla que foi temível. Porte foi um fiel escudeiro de Froome. Mas será que o australiano quer deixar o estatuto de líder? Aos 35 anos, também o está a perder para a nova geração, há que referir esse pormenor.

Mas para já é só um rumor. Froome também deverá ter feito as suas exigências. Poderá querer levar com ele algumas pessoas de confiança, tanto ciclistas, como membros do staff. É algo habitual nas grandes figuras. O plantel actual pode ter ciclistas de qualidade, mas não a necessária para fazer frente a uma Ineos ou Jumbo-Visma.

Esta notícia vem criar uma enorme expectativa não só para 2021, mas já para o próximo Tour. Froome é um ciclista de saída, Bernal tem lugar cativo na Ineos... Muito se vai falar desta dupla. São mais adversários, do que companheiros.

Quanto à Israel Start-Up Nation - que conta com um português na equipa, o massagista Pedro Claudino - está a viver um sonho. "O Chris é o melhor ciclista da sua geração e vai liderar a nossa equipa na Volta a França e [outras] grandes voltas. Esperemos fazer história juntos, enquanto o Chris persegue mais vitórias no Tour e nas grandes voltas, conquistas que farão do Chris um sério caso de ser considerado o melhor ciclista de sempre", afirmou Sylvan Adams, um dos donos da equipa.

É o adeus à Sky/Ineos com quem conquistou quatro Tours (mais sete etapas), duas Vueltas (mais cinco) e um Giro (com aquela famosa etapa de 80 quilómetros de fuga pela montanha até Bardonecchia e rumo à camisola rosa). E só para falar das grandes voltas.

Aconteça o que acontecer, Froome já está na história como um dos melhores de sempre. Mas já sabe... um grande campeão quer sempre mais, principalmente enquanto sente que pode alcançar vitórias!

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