O início de 2016 está a comprovar o que desde 2014 tem sido penoso de ver: Rui Costa é um líder solitário. Este ano está ainda mais abandonado na Lampre. Sem Nelson Oliveira, o seu fiel escudeiro nos últimos dois anos, Rui Costa parece estar praticamente por sua conta, o que torna o seu grande objectivo desde que saiu da Movistar cada vez mais difícil. O campeão do mundo de 2013 (sim, a Lampre contratou um campeão do mundo, mas demora a dar-lhe a equipa que merece) continua focado em concretizar o sonho de um top dez na sua prova de eleição: a Volta a França. Como o vai fazer? Na Lampre será preciso um super Rui.
Desde que chegou à Lampre que o Tour não correu bem ao ciclista português. Duas infelicidades, mas ainda assim deu para perceber o quanto Rui Costa ficava isolado no momento em que Nelson Oliveira acabava o seu trabalho. E o Nelson merece todo o mérito pela lealdade que mostrava ao líder e, por isso mesmo, merece ainda mais que lhe tenha sido proporcionada a oportunidade de evoluir as suas capacidades natas, que o podem levar as grandes vitórias, além de, naturalmente, apoiar o seu líder. Curiosamente foi para a Movistar, precisamente a equipa onde Rui Costa se tornou num dos homens mais respeitados do pelotão internacional.
Na equipa espanhola Rui Costa evoluiu até se tornar num dos melhores a nível táctico. Os seus ataques em momentos perfeitos valeram-lhe os grandes triunfos na Volta a França e também nos Mundiais (neste caso também ajudou a forte ponta final frente a Rodríguez). Era óbvio que o português iria querer mais do que simplesmente trabalhar para Valverde ou Quintana. As vitórias de etapas ou em algumas provas de um dia não eram suficientes para um ciclista ambicioso como o Rui Costa.
A escolha da Lampre foi uma surpresa e de imediato levantou muitas dúvidas. Damiano Cunego, Filippo Pozzato e um jovem promissor Diego Ulissi eram três das figuras da equipa. Mas estariam eles dispostos a sacrificar o seu lugar de destaque? No final de Janeiro de 2014 chegou Chris Horner, que ostentava uma histórica vitória na Volta a Espanha. Mas o norte-americano nunca foi um dos braços direitos que Rui Costa precisava. Deu-lhe uma ajuda numa etapa do Tour e pouco mais. Longe de ser o apoio esperado pelo veterano.
Apesar de nem tudo estar a correr bem na Lampre, o português renovou até 2016. Porém, as primeiras impressões do Paris-Nice - que está a decorrer - tornam as perspectivas para este ano assustadoras. O Rui Costa é visto demasiadas vezes no pelotão sem nenhum companheiro por perto. Na primeira etapa quase perdeu tempo devido a um corte forçado pela Sky, que aproveitou o vento lateral para "partir" o pelotão. No seu blog, o ciclista português - o actual campeão nacional - explicou o que aconteceu: "Quando o tempo começou a melhorar, resolvemos tirar algum excesso de roupa, descaindo no pelotão até aos carros, a cerca de 50km para a meta. Nesse momento a Sky resolveu acelerar o ritmo com o objectivo de quebrar o grupo e ficarmos para trás."
E a pergunta é: porquê que o líder da equipa descaiu no pelotão para tirar roupa, ainda mais a 50 quilómetros do final e com a questão do vento a ter em conta? Um Contador, um Thomas, um Porte, um Dumoulin, não recuaram certamente quando quiseram tirar o excesso de roupa. Alguém das suas equipas fez esse trabalho.
O que parece ser um pequeno pormenor, deixa claro que os problemas da Lampre continuam. Rui Costa está demasiado desprotegido. O que se esperar do português em 2016? Com a sua inteligência táctica, Rui Costa é sempre um ciclista temido, ainda mais porque mesmo sem ter alguém da equipa a protegê-lo, consegue ter bons posicionamentos, pelo que é sempre candidato a vencer em algumas provas. Mas sem um bom apoio da equipa ficará sempre a sensação que o português fica aquém daquilo que é capaz.
Amstel Gold Race, Flèche Wallonne, Liège-Bastogne-Liège são as clássicas que se seguem depois do Paris-Nice e todas elas são provas nas quais Rui Costa é um nome a ter em conta. E claro, mesmo algo desamparado de pelo menos um fiel escudeiro, o quarto lugar no Paris-Nice de 2015 é algo que certamente quer melhorar. Depois do susto da primeira etapa, que venham as montanhas.
Mas em 2016 haverá outra grande questão a responder, além da dúvida se Rui Costa conseguirá lutar por o top ten no Tour. O contrato com a Lampre acaba este ano. Vai renovar ou estará na altura de mudar, podendo eventualmente ter de sacrificar o posto de líder? A época ainda está a começar, mas uma coisa é certa: equipas do World Tour estarão atentas ao português, um ciclista que é sinónimo de trabalho, dedicação e resultados.
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