9 de maio de 2021

João Rodrigues: do sorriso de um dia de azul à conquista de uma amarela histórica

© Volta ao Algarve
Em 2018, João Rodrigues subiu ao pódio da Volta ao Algarve no final da primeira etapa, em Lagos, para vestir a camisola azul da montanha. Então, o ciclista da W52-FC Porto havia integrado a fuga e garantiu um momento que então marcava a sua carreira. O sorriso não enganava o quanto estava orgulhoso por estar ali, ainda mais a correr na sua região. Numa conversa realizada mais tarde com o algarvio, Rodrigues admitiu o quanto aqueles minutos haviam sido especiais, mesmo que no dia seguinte tenha perdido a camisola. Foi só o início...

Naquela altura, João Rodrigues estava a crescer dentro da equipa. Estava a ser preparado para outros voos. Trabalhava o contra-relógio e aprimorava as suas capacidades na montanha. Era um gregário, mas na W52-FC Porto já era visto como um potencial vencedor. Em 2019, o jovem ciclista que havia dado as primeiras pedaladas no Tavira, afirmou-se definitivamente na equipa nortenha.

Começou por vencer a Volta ao Alentejo. Mas uma vez, custava-lhe acreditar no que havia alcançado, enquanto celebrava em Évora. A sua primeira vitória havia chegado precisamente no contra-relógio que tanto andava a trabalhar e garantiu depois a geral. Não esquecer que estamos a falar de uma corrida que também é de categoria internacional.

Nesse mesmo ano, João Rodrigues acabou a ser o líder na Volta a Portugal. Numa das edições mais disputadas em tempos recentes, mais uma vez foi no contra-relógio, na última etapa, que selou a vitória. Antes subiu a Torre para vencer. Para as equipas lusas, a Volta é o topo. Mas afinal, Rodrigues ainda não o tinha atingido quando há uma prova que é a de escalão mais alto que se realiza no nosso país. A Volta ao Algarve é ProSeries (segunda categoria, apenas abaixo das competições World Tour).

W52-FC Porto ao ataque no Malhão
© Volta ao Algarve
Em 2020, Rodrigues foi de extrema importância na vitória de Amaro Antunes na Volta, mas foi este domingo, 9 de Maio de 2021, que João Rodrigues escreveu uma história que atravessou fronteiras. Numa Volta ao Algarve dominada pelas grandes equipas em tempos recentes, com nomes como Remco Evenepoel, Tadej Pogacar, Primoz Roglic, Geraint Thomas, Alberto Contador a ganhar... vencer esta corrida tem sido uma miragem para quem está numa equipa portuguesa.

Se há um ano a Volta ao Algarve foi um dos últimos momentos de normalidade que se viveu, em 2021 nem conseguiu realizar-se no seu habitual calendário de Fevereiro. O pelotão foi diferente, mas nem por isso sem ciclistas de alto nível e/ou jovens talentos à procura de afirmação. A Ineos Grenadiers teve Ethan Hayter perto de alcançar a sua primeira grande conquista, a Deceuninck-QuickStep quis repetir a dose de Evenepoel com Kasper Asgreen, simplesmente o vencedor da Volta a Flandres.

A W52-FC Porto, que até tem sido das equipas portuguesas aquela que mais se mostra no Algarve - Amaro Antunes venceu no Malhão em 2017 -, apareceu com vontade de disputar a geral. João Rodrigues surgiu em excelente forma. Em Portugal ainda pouco se competiu, mas na equipa dirigida por Nuno Ribeiro preparou-se a participação com ambição a Algarvia. Rodrigues foi batido na Fóia por Hayter que depois viria a cair no contra-relógio de Lagoa. Ainda assim, ganhou 12 segundos ao português. Desta vez, o esforço individual não foi fonte do sucesso para Rodrigues, mas tudo ficou em aberto para a etapa do Malhão.

Asgreen, a 21 segundos, assumia que ia tentar a vitória. A W52-FC Porto sabia que estava perante uma oportunidade única de vencer uma corrida que é tão apreciada por equipas World Tour.

Hayter, debilitado pelas mazelas da queda, foi protegido pela Ineos Grenadiers até que a dois quilómetros da meta o britânico cedeu, quando a equipa portuguesa já havia acelerado e Rodrigues atacava. Asgreen até tinha sido quem tinha aberto as hostilidades a 15 quilómetros do fim. A Deceuninck-QuickStep colocou na fuga o sprinter Sam Bennett e o seu lançador Michael Morkov. Foram úteis a Asgreen, contudo, foi a táctica da W52-FC Porto, uma equipa Continental (terceiro escalão) que deu frutos.

© Volta ao Algarve
A equipa controlou as formações adversárias e só se mexeu com o Malhão à vista. Excelente o trabalho que João Rodrigues terminou exemplarmente. Foi novamente segundo na etapa, mas deixou Hayter a nove segundos e Asgreen a 28. Élie Gesbert (Arkéa Samsic) venceu a etapa, mas a principal festa foi portuguesa. Há 15 anos que tal não acontecia. Desde 2006 que um ciclista luso não vencia. Então foi João Cabreira o vencedor, com Hugo Sabido a triunfar no ano anterior. Depois sucederam-se nomes de corredores que estão entre os melhores do mundo.

Rodrigues acreditou até ao fim e claro que é ainda mais especial ser um algarvio vencer a "sua" corrida. Entre as competições internacionais com história que se realizam em Portugal, só lhe fica a faltar o Troféu Joaquim Agostinho. Aos 26 anos construiu já um currículo invejável.

© Volta ao Algarve
Mas há mais sucesso em português

Ficou um pouco ofuscado pela vitória de João Rodrigues, mas houve outro português a celebrar. Luís Fernandes saiu do top dez após um fraco contra-relógio, mas foi para a fuga do dia e somou os pontos suficientes na montanha para garantir a camisola azul. Também ele teve direito a estar no pódio final, numa conquista importante para a Rádio Popular-Boavista, equipa que este ano quis igualmente mostrar-se mais na Volta ao Algarve.

Rafael Reis (Efapel) foi segundo no contra-relógio, Iúri Leitão (Tavfer-Measindot-Mortágua) foi quinto no sprint de Portimão... os portugueses souberam tirar partido de uma Volta ao Algarve com condições excepcionais para terem uma projecção internacional que, por cá, só a Algarvia lhes dá.

Foi uma Volta ao Algarve que trouxe uma emoção diferente perante a forma de João Rodrigues. A oportunidade estava lá e o algarvio não a desperdiçou!

De referir que Sam Bennett venceu a classificação dos pontos (camisola verde), enquanto o americano Sean Quinn (Hagens Berman Axeon) juntou a camisola branca da juventude, à vitória na semana anterior na Clássica da Arrábida. A W52-FC Porto venceu por equipas.

O ciclismo nacional volta à estrada já no próximo fim-de-semana com o Grande Prémio O Jogo (sábado e domingo), enquanto por Itália as atenções centram-se em João Almeida (Deceuninck-QuickStep) e ainda em Rúben Guerreiro (EF Education-Nippo) e Nelson Oliveira (Movistar), o trio de portugueses no Giro.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

»»Asgreen recordista. Hayter caiu mas continua de amarelo. João Rodrigues mantém sonho vivo««

»»Sam Bennett é o rei dos sprints na Volta ao Algarve««

Sem comentários:

Enviar um comentário