6 de março de 2020

Dias atípicos

Primeiro monumento do ano foi cancelado
© Milano-Sanremo
Têm sido dias atípicos no ciclismo (e não só, claro) e muito por causa do coronavírus. Parecia tão longe na China e agora tornou-se uma realidade tão próxima, tendo a palavra entrado definitivamente no nosso léxico, mesmo quando se fala de ciclismo. O cancelamento das duas últimas etapas da Volta aos Emirados Árabes Unidos e consequente quarentena para todos os que nela participavam, foi apenas o início de de uma situação que está sem fim à vista e que já está a afectar o calendário. Por esta altura estar-se-ia a preparar para assistir a umas horas de ciclismo a ver a espectacular Strade Bianche este sábado e a pensar que o primeiro monumento estava a chegar. Agora as corridas italianas foram canceladas e começam a aumentar as dúvidas sobre outras noutros países.

Para já, UCI e os organizadores das principais provas agendadas para os próximos dias, RCS Sport e ASO, vão agindo segundo as indicações das autoridades dos seus países, enquanto as equipas vão tomando as rédeas das difíceis decisões de competir ou não. Em Itália, onde a situação é mais grave no continente europeu, foram proibidos os eventos desportivos, ou de outro tipo, ao ar-livre. Com os números de casos positivos a aumentar de dia para dia, não é certo que a proibição dure apenas até 3 de Abril, com as autoridades a irem analisando a situação à medida que se vai desenvolvendo.

Caiu assim primeiro a Strade Bianche (para homens e mulheres), com a RCS Sport a ter a esperança de a poder reagendar, tal como o Tirreno-Adriatico (marcado inicialmente de 11 a 17 de Março) e o monumento Milano-Sanremo (dia 21), cujo cancelamento foi esta sexta-feira confirmado. Já em França, o Paris-Nice vai prosseguir como programado - já a Maratona de Paris foi cancelada -, arrancando no domingo. No entanto, há equipas que não querem competir, com algumas decisões até terem sido anunciadas antes do cancelamento da Strade Bianche, por exemplo.

A EF Pro Cycling foi das primeiras a pedir dispensa das provas italianas à UCI, quando a situação do coronavírus começou a agravar-se, mas estará no Paris-Nice. De recordar que as equipas World Tour estão obrigadas a competir em todas as corridas acima mencionadas, podendo ser multadas se não o fizerem com uma justificação aceite ou pela UCI ou pelos organizadores. Dada a propagação rápida do Covid-19 e as proibições decretadas pelo governo italiano, a justificação não deverá ser um problema.

Houve quem fosse mais radical. A Mitchelton-Scott, Ineos, Movistar, CCC, UAE Team Emirates, Astana e Jumbo-Visma não estarão no Paris-Nice. Só deverão regressar a 23 de Março, na Volta a Catalunha. A ASO tenta preencher as vagas no Paris-Nice. Para começar autorizou que as equipas tenham oito ciclistas em vez de sete e convidou a belga Circus-Wanty Gobert e a francesa B&B Hotels-Vital Concept. A organização vai tentar minimizar o contacto entre ciclistas e jornalistas e também com o público.

Equipas, organizadores e outros responsáveis da modalidade tentam lidar com uma situação atípica. Em causa está muito mais do que a saúde dos ciclistas ou membros do staff. Está em causa a saúde pública. Por agora resta esperar para ver como a situação evolui. Para a RCS Sport, a preocupação passa por tentar conseguir reagendar as corridas, num calendário World Tour muito complicado, não esquecendo que o cancelamento estendeu-se a provas de outros escalões. E há que não esquecer que em Maio a primeira grande volta é em Itália, o que, naturalmente, também preocupa Mauro Vegni, o director da RCS Sport.

De referir que a UAE Team Emirates, Cofidis e Groupama-FDJ continuam de quarentena nos Emirados Árabes Unidos, que foi prolongada até dia 14.

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