5 de março de 2020

"Fiquei com uma ideia do que é a realidade do ciclismo"

Da Venezuela para Espanha e agora em Portugal com os olhos postos no topo do mundo. Leangel Linarez vive um momento importante na sua carreira. Aos 22 anos não esconde o quanto está agradecido a Pedro Silva e à Miranda-Mortágua pela possibilidade de estar numa equipa Continental e de já ter estado a competir ao lado de alguns dos grandes ciclistas da actualidade. A Volta ao Algarve foi uma oportunidade de ganhar ritmo e experiência para um ciclista que, na Prova de Abertura Região de Aveiro, viveu um daqueles momentos caricatos, que de vez em quando acontecem nas corridas: festejou uma vitória que afinal não era sua. Mas que não restem dúvidas. Não ficou desiludido, apenas ainda mais motivado para ter um 2020 de sucesso.

"Pensei que tinha ganho... Foi uma confusão com a fuga. Eram quatro ou eram cinco... Mas terminei com boas sensações e deu-me tranquilidade para o resto da época." E é neste último aspecto que se concentra. Ao Volta ao Ciclismo contou que começou a preparar a nova temporada um pouco mais tarde do que os companheiros, devido a questões pessoais. Ser segundo em Vagos foi, por isso, motivador. Na Volta ao Algarve sabia que não teria possibilidade de medir forças com as referências do sprint mundial presentes, mas saboreou todos os instantes daquelas cinco etapas. Afinal, é àquele nível que quer chegar.

"Foi muito bonito estar ao lado de ciclistas que via na televisão. Agradeço à equipa a oportunidade de estar no Algarve e a confiança que teve em mim. Foi uma Volta importante para ganhar experiência para o futuro. Foi uma boa preparação. Era uma Volta difícil para estar na luta, mas sabia que era uma oportunidade para ganhar ritmo para encarar os próximos objectivos. Fiquei com uma ideia do que é a realidade do ciclismo", explicou.

Linarez foi contratado pela equipa dirigida por Pedro Silva em Julho de 2019. Então, já tinha deixado a sua marca em Portugal, ao vencer a segunda etapa do Grande Prémio Jornal de Notícias, ao serviço da formação espanhola Kuota-Construcciones Paulino. Na época passada, conquistou seis vitórias. "Quero repetir [o triunfo no JN]! Creio que essa vitória deu-me mais confiança e acho que vai ser importante para o que vou fazer este ano. Espero que seja uma época produtiva."

"Quero correr uma grande volta. A minha preferida, como acontece com quase todos, é o Tour, mas ficaria muito feliz se fosse uma Volta a Espanha"

Com o sprint como ponto forte, não surpreende que Linarez tenha um discurso que inclua muito a ambição de vencer e a Volta a Portugal está, naturalmente, no topo das prioridades. Contudo, ainda faltam uns meses, pelo que agora está concentrado em apresentar-se forte na Volta ao Alentejo, de 18 a 22 de Março. "Não conheço, mas já me falaram muito dela. Tem muitas etapas ao sprint e quero estar lá bem", afirmou. Porém, antes, estará em acção este domingo, na Clássica da Primavera, na Póvoa de Varzim.

Quando fala da equipa, refere-se a ela como "uma grande família", um sentimento importante para quem tem a sua longe, num país que vive tempos conturbados. "Não foi fácil vir para a Europa e deixar a família, ainda mais com a situação política no país. Mas quem não arrisca, não petisca. As coisas estão a correr bem aqui. Quero ficar aqui na Europa", salientou. No entanto, não esconde que há sempre alguma preocupação presente no seu estado de espírito. "Estou em permanente contacto com eles. Não lhes falta o pão de cada dia e isso é o mais importante. Nesse aspecto estou um pouco tranquilo", contou. Acrescentou que o que o preocupa mais são os cuidados de saúde, que tem feito muitos venezuelanos dirigirem-se à Colômbia, por exemplo, para conseguirem ter acesso a alguns medicamentos. Mas realçou que tudo está bem com a sua família.

Quanto ao desporto, Linarez recordou como em tempos os ciclistas venezuelanos conseguiam fazer carreira no próprio país. Actualmente procuram viajar para a Europa. As suas primeiras pedaladas foram em 2008, quando um primo o levou à Escola de Ciclismo José Balaustre, nome de um antigo corredor venezuelano. Linarez evoluiu na sua terra natal, Barina, e em 2013 começou a ser chamado à selecção, tendo ainda apostado na pista. Em 2017, Jesús Rodríguez Magro chamou Linarez para a EC Cartucho-Magro, equipa de Madrid, mas que fechou portas pouco depois. Contudo, as suas exibições - quatro vitórias e vários top dez - valeram-lhe a continuidade em Espanha na Kuota-Construcciones Paulino.

Se a Colômbia tem sido a referência no que a ciclistas daquela zona do globo a triunfarem ao mais alto nível diz respeito, sem esquecer o Equador que Richard Carapaz também já colocou no mapa, Linarez acredita que num futuro próximo também se comece a olhar mais para os talentos venezuelanos. "Espero que um dia aconteça com a Venezuela o que está a acontecer com a Colômbia", disse, realçando como a Caja Rural - equipa espanhola do segundo escalão mundial - contratou um seu compatriota, também sprinter: Orluis Aular, de 23 anos.

Linarez não se cansa de dizer a necessidade de trabalhar muito para que possa continuar a viver o seu sonho e concretizar o que mais deseja: "Quero correr uma grande volta. A minha preferida, como acontece com quase todos, é o Tour, mas ficaria muito feliz se fosse uma Volta a Espanha."


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