16 de julho de 2017

Volta a França entra em "território desconhecido"

(Fotografia: ASO/Pauline Ballet)
O pelotão vai descansar um dia antes de entrar na fase final da Volta a França e aproveitando a frase do director da BMC, Jim Ochowicz, o Tour vai entrar em "território desconhecido". Com seis etapas por realizar, quatro ciclistas estão separados por 29 segundos, com outros dois a terem pouco mais de um minuto de desvantagem. Faltam os Alpes e falta o contra-relógio do penúltimo dia. A corrida está completamente em aberto, com os candidatos a mostrarem tanto os pontos fortes como algumas fraquezas. E claro, se não se esperava tanto equilíbrio, ainda menos se esperava que corredores como Rigoberto Uran estivessem na luta e que Nairo Quintana nem no top dez tivesse lugar.

"Estamos a caminhar para território desconhecido. É uma corrida diferente em vários aspectos. Alguns dos favoritos nem cá estão", salientou Jim Ochowicz, ao Cycling News. O director da BMC perdeu o seu líder, Richie Porte, que se contava poder estar nesta luta. Caiu há uma semana e está a recuperar das fracturas. Ochowicz já não está a lidar com a pressão da geral - procura uma vitória de etapa -, mas analisa a disputa pela camisola amarela. "Penso que muitos ciclistas não vão querer ir para o contra-relógio nesta situação. Por isso, alguns irão estar em modo de ataque já que Froome será o favorito para o contra-relógio", salientou o responsável.

Ochowicz considera mesmo que perante a indefinição será muito difícil as fugas triunfarem: "É preciso ganhar tempo quando há a oportunidade para ganhar esse tempo." O director frisou mesmo que tudo o que poderá acontecer na derradeira semana é imprevisível.

As declarações de Ochowicz são a forma perfeita para se olhar para as últimas seis etapas (cinco se considerarmos que a última é de consagração): é impossível prever o que vai acontecer! Chris Froome e a Sky já fraquejaram, mas o britânico também teve uma demonstração de força, como aconteceu este domingo quando recuperou de dois problemas com a bicicleta para não só reentrar no grupo de favoritos, como ainda para sprintar, só para mandar a mensagem que contem com ele para uma luta acesa. Fabio Aru (a 18 segundos) demonstrou estar tão bem até que uma má colocação lhe custou a liderança. Mesmo sem equipa, a Astana, o italiano será um perigo ao objectivo da quarta vitória no Tour para Froome. Romain Bardet (a 23 segundos) conta com a AG2R, claramente uma equipa forte e preparada para estar ao lado do seu líder e enfrentar a Sky olhos nos olhos. Porém, Bardet cedeu um pouco na subida final da etapa de sábado.

Rigoberto Uran (Cannondale-Drapac, a 29 segundos) é a grande surpresa. O colombiano já demonstrou que não pode ser afastado da luta só porque não tem convencido nos últimos anos ou porque companheiros para o ajudar, nem vê-los. Uran está muito bem, muito regular, a correr com grande inteligência. Este domingo, quando Froome reentrou no grupo, nunca mais lhe largou a roda. Quando o contra-relógio chegar, deste quarteto é o ciclista que poderá fazer frente ao britânico se a distância se mantiver tão curta.

E depois temos um Daniel Martin (Quick-Step Floors, a 1:12 minutos). É uma meia surpresa. Já se sabe que o irlandês tem capacidade para top dez em grandes voltas, mas tem estado a superar expectativas no Tour e hoje recuperou alguns segundos. De recordar que foi mais uma das vítimas da nona etapa, que viu Richie Porte ficar fora de acção. Martin esteve inclusivamente envolvido na queda do australiano, tendo voltado a cair mais tarde.  O pódio é um claro objectivo para o ciclista irlandês.

E Mikel Landa? Este domingo lá deu uma ajuda a Froome, admitindo que recebeu ordens da equipa para o fazer. Se foi a atitude esperada, o espanhol deixou um claro sinal que quer mesmo um bom resultado individual: mal chegou ao grupo de favoritos com o britânico, Landa imediatamente foi para a parte da frente, deixando Froome entregue a si, enquanto o britânico tentava recuperar algum fôlego. São 1:17 minuto a separá-lo do colega e líder, mas já é difícil disfarçar que Landa quer mais do que o top dez. Vamos dizer que o pódio o fará feliz...

Quanto à última semana, vamos ter atenção às etapas de quarta e quinta-feira. Primeiro teremos a esperada ascensão ao Col du Galibier, num dia que contará com duas categorias especiais, uma primeira e uma segunda e sem chegada em alto, algo que até tem ajudado ao espectáculo. Na quinta o Col d'Izoard será mesmo o local da meta e de emoção! Depois tudo deverá ficar guardado para o contra-relógio de sábado, em Marselha, já que a etapa de sexta serão três terceiras categorias em disputa. Porém, se houver a necessidade de alguns ciclistas em ganhar segundos... Lá está, esta última semana poderá ser muito atacada todos os dias.

Segunda-feira é dia de descanso e terça será mais uma etapa rápida. Duas subidas para começar, uma longa descida e atenção às pequenas rampas da parte final do percurso. Será um bom aquecimento para o que virá nos dias seguintes, mas ninguém poderá cometer erros. A partir de agora podem ser fatais.


Trek-Segafredo suspira de alívio

No ano pós-Fabian Cancellara, a Trek-Segafredo está a lutar para reencontrar-se com os grandes momentos. John Degenkolb está a anos luz do rendimento do suíço e Alberto Contador não está a ser o candidato ao Tour desejado. Bauke Mollema desiludiu no Giro e em França também não estava a ser fonte de satisfação, oferecendo uma ajuda muito pobre ao seu líder. Porém, o holandês que há um ano chegou a sonhar com o pódio, acabou por dar à Trek-Segafredo a melhor vitória de 2017: a etapa que terminou em Puy-en-Velay marcou o primeiro triunfo numa corrida do World Tour este ano para a formação americana.

Foi a primeira e em grande estilo, já que foi uma fuga solitária que parecia destinada ao fracasso. No entanto, com o quarteto perseguidor - que contava com o fantástico Warren Barguil (Sunweb) -  a desentender-se, Mollema nunca deixou de acreditar, não olhou para trás e lá foi ele até à estreia a vencer no Tour, ele que em 2013 tinha conquistado uma etapa na Vuelta.

O dia ficou ainda marcado pela imagem de um Nairo Quintana derrotado, a nem conseguir acompanhar Froome quando este tinha furado e tentava chegar-se ao grupo de favoritos. O colombiano da Movistar perdeu quase quatro minutos para o britânico e já são 6:16, está fora do top dez, onde entrou Damiano Caruso (BMC).


Résumé - Étape 15 - Tour de France 2017 por tourdefrance


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