Porquê? É esta pergunta que não sai da cabeça de Luís Mendonça. Por que razão um homem, possivelmente com mais de 65 anos, tentou atirá-lo ao chão enquanto treinava e acabou por o agredir. Com o ciclista estavam mais três corredores e um outro também foi alvo desta violência que Luís Mendonça não consegue perceber. O resultado é dramático para os seus objectivos de 2017: tem o braço partido e a Volta a Portugal está em risco. Mas além das consequências físicas ficam ainda as psicológicas. Luís Mendonça ficou em choque e tenta agora reagir a uma situação que o deixou muito desanimado. Foi um ano dedicado a estar na Volta a Portugal em grande nível e agora tudo pode ter ido por água abaixo por uma atitude que Luís Mendonça continua a questionar: "Porquê?"
Tudo aconteceu na quarta-feira, mas só no dia seguinte o ciclista do Louletano-Hospital de Loulé conseguiu falar publicamente. "Ninguém imagina o que eu chorei. Pouco dormi desde o que aconteceu. Chorei muito", desabafou. Acabou por partilhar no Facebook o que lhe aconteceu e as reacções não se fizeram esperar. Não sendo por esta razão que queria ter atenção mediática, Luís Mendonça espera que ao contar o que viveu possa fazer alguma diferença na difícil relação que continua a existir entre condutores e ciclistas. "A ver se as pessoas ganham consciência. O que aconteceu foi uma coisa bárbara... de uma atrocidade incrível."
Luís Mendonça contou ao Volta ao Ciclismo os momentos que diz terem sido de terror. "Nós não fizemos absolutamente nada ao senhor. Íamos numa estrada sem trânsito, na nossa berma que era larga e as faixas estavam desimpedidas. Havia boa visibilidade e não havia ninguém. Uma pacatez absoluta às 15:15. Nem hora de ponta era... Vínhamos na berma, dois a dois, não estávamos sequer na estrada. Ele veio para cima de nós. Saiu da faixa de rodagem, veio para a berma, quase que virava o carro. Veio com tudo. Super agressivo. Não chegou a tocar-nos. Se calhar se fossem pessoas que andam uma ou duas vezes por semana teriam ido ao chão. Íamos rápido, 45/50 km/hora, pois era um pouco a descer. Escapámos por um triz", começou por descrever.
O ciclista de 31 anos referiu que por vezes há um "pré-aviso" para uma atitude mais agressiva, ou seja, uma buzinadela, uma troca de palavras, mas disse que não foi o caso: "Nós reclamámos [após ter tentado abalroar o grupo] e ele começou a fazer gestos obscenos, a travar e nós ficámos assustados." O condutor acabou por seguir caminho e Luís Mendonça lamentou então não ter tirado a matrícula para fazer uma queixa. "Nunca fiz nenhuma, mas daquela pessoa faria." Ao aperceber-se que o carro tinha virado numa estrada à direita, o grupo fez o mesmo e encontrou de novo o homem em causa. "Fui abordá-lo porque queria saber a razão de uma atitude tão louca. Queria saber o que tínhamos feito."
Naquele momento chegou a pensar se teriam dito algum palavrão ou feito algo entre o grupo que o homem pudesse ter pensado que era para ele. Ao falar com o autor da tentativa de atropelamento, Luís Mendonça não obteve respostas, apenas violência. "Começou a disparatar e nós vimos que era uma perda de tempo estar ali a discutir. Eu disse para sairmos dali. Ele estava perto de casa dele e saiu com uma espécie de barrote, nem sei bem o que era, e começou a agredir. Atingiu primeiro o Hugo Nunes, do Miranda-Mortágua, só que eu não reparei senão teria tido uma postura mais defensiva quando se virou para mim. Eu pensei que ia ameaçar-me, não agredir. Fingiu uma vez vez que ia dar e depois deu mesmo. Ao proteger-me com o braço esquerdo... ele partiu-me o braço", recordou.
Luís Mendonça destacou como o quarteto evitou sempre partir para a violência: "Só queríamos perceber de onde vinha toda aquela brutalidade." Hugo Nunes foi atingido na zona dorsal, mas depois de uma ida ao hospital soube que não tinha nada fracturado. Menos feliz foi Luís Mendonça. Perante as agressões, os ciclistas chamaram a GNR e o corredor do Louletano-Hospital de Loulé garantiu que vai para a frente com um processo contra o homem em causa.
A pequena esperança de estar na Volta a Portugal
Em 2016 Luís Mendonça teve uma oportunidade de ouro de se estrear na Volta a Portugal ao ser convidado pela equipa brasileira Funvic para competir na corrida portuguesa e noutras até ao final do ano. Foi um sonho. Apesar de ser um ritmo diferente ao que estava habituado, o ciclista chegou mesmo a conseguir acabar no top dez na luta ao sprint.
Apostou tarde no ciclismo, depois de uma passagem pelo mundo da moda, tendo também trabalhado num bar. Conseguiu um contrato com uma equipa de elite portuguesa em 2017 e Luís Mendonça estava determinado em agradecer a oportunidade com bons resultados, se possível uma vitória. Tem estado em claro crescendo de forma durante o ano e diz que estava a 200% para a Volta a Portugal. Agora poderá ficar de fora.
Fracturou o cúbito, mas não o rádio e o médico afirmou que ao partir apenas um dos ossos que a possibilidade de uma recuperação mais rápida é possível. "Em 100, eu diria que tenho 25% de estar na Volta a Portugal." Não tem o discurso mais animador, afirmando que tem de pensar na equipa e não quer ir à corrida para abandonar logo na primeira etapa por não se sentir em condições.
A sua lesão foi comparada ao do futebolista do Benfica, Salvio. Porém, como ciclista, Luís Mendonça depende muito mais do seu braço, para se apoiar no guiador, do que um jogador de futebol. "A minha condição física é do melhor. Estava tão confiante... Ia ter as minhas oportunidades e depois ajudar o Vicente [García de Mateos]. Quando avisei o director desportivo [Jorge Piedade] ele ficou muito desanimado. Ficámos os dois. Nunca na minha vida passei por momentos assim... Foram momentos de terror", salientou.
Se sentir que tem condições mínimas para pelo menos ajudar o seu líder na luta pela geral, Luís Mendonça pensa em apresentar-se no dia 4 em Lisboa. A esperança existe, mas é pequena. Ele que é autor de uma das histórias de conquista do ciclismo pela forma como chegou à elite nacional, espera acrescentar mais um episódio de superação. Agora é esperar para ver como o braço recupera.
Falta de civismo
São muitos anos a pedalar na estrada, mesmo que nem sempre como profissional. Luís Mendonça diz que a falta de civismo mantém-se, apesar do número crescente de pessoas a andar de bicicleta. "Há muita falta de paciência. Aos domingos é um 'caos' na estrada [com tantos ciclistas] e há quem não tenha civismo", realçou. No entanto, frisou também como os casos acontecem dos dois lados. "Por vezes, se fosse de carro, também pensaria em chamar a atenção ao que alguns ciclistas fazem."
Luís Mendonça lamenta a desinformação. Contou como são inúmeras as vezes que é abordado por condutores a mandar o grupo seguir em fila e não dois a dois. Considera que seria importante serem feitas campanhas de sensibilização, mas ainda mais que houvesse um aumento de policiamento na estrada. Dá o exemplo de como em Espanha polícias de bicicletas detectam quem não respeita a distância de segurança de ultrapassagem de 1,5 metros.
"Psicologicamente pode ser desgastante. Nós somos o elo mais fraco. E estamos a falar de pessoas que se for preciso excedem os limites de velocidade ou fazem coisas que não devem na estrada. Não têm moral para nos acusar assim", afirmou.
O ciclista pede respeito, por parte de todos, condutores e ciclistas, recordando como ainda há pouco tempo um jovem corredor morreu num acidente de viação enquanto treinava. Tiago Alves tinha 18 anos. "Respeitem-nos", apela, não escondendo que na sua mente há uma dúvida que o assombra: "Porquê que foi alvo de tanta violência?"
Neste link pode ver as alterações feitas ao Código da Estrada relativas à utilização de velocípedes na estrada. O documento é da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Uma das destacadas por Luís Mendonça é a regra de se andar dois a dois. É legal, excepto se estiver trânsito intenso. Ciclista, condutor, peão consulte em caso de dúvida.
O respeito na estrada tem que ser mútuo mas os ciclistas são sempre o elo mais fraco. Os ataque de ferocidade na estrada entre automobilistas são usuais.Este agressor deve ser confrontado com a justiça e ser obrigado a andar de bikla durante 6 meses e fazer tratamento da raiva. Talvez depois aprenda o que é andar na estrada em duas rodas...
ResponderEliminarOs ciclistas são o elo mais fraco? E então os animais, as crianças, os deficientes em cadeiras de rodas e os peões no geral são o quê? Hoje em dia as ciclovias têm melhores condições para circulação pedonal que os próprios passeios. E assisto a tantas faltas de respeito por parte de ciclistas como de condutores.
EliminarEsse velhaco maldito tem de apodrecer na prisão!
ResponderEliminarInfelizmente e não é o caso,visto que são ciclistas profissionais e sabem, e tem o respeito pela estrada e pelos outros, mas infelizmente (reforço uma vez mais) não é o que se vê na estrada!!! O normal é ver amadores a passear-se de bicicleta, em grupos e muitas das vezes de 3 em 3 e até de 4 em 4, ocupando completamente uma via da faixa de rodagem! Na minha opinião foi muito mal conduzido o processo que deu direitos a ciclistas e os põe numa linha de igualdade com os veículos de 4 rodas!
ResponderEliminarBem ou mal conduzido o processo que deu direitos aos ciclistas, colocando-os quase em pé de igualdade com os veículos de 4 rodas, o condutor de qualquer veiculo de 4 rodas só tem que respeitar os ciclista, visto que estes estão a atuar dentro das normas (referindo-me à situação descrita por si), mesmo que o condutor não concorde com estas.
EliminarSeja profissional ou amador, o ciclista, tais atos são injustificáveis.
Afinal de contas as regras são iguais para todos (pelo menos deveriam ser), seja na estrada ou noutra situação qualquer e eu próprio não concordo com muitas delas.
As melhoras rápidas para o Luis Mendonça
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ResponderEliminarIndescritível!Passei uma situação semelhante com o meu marido enquanto ciclistas amadores que somos. Andávamos dois a dois quando fomos ultrapassados a alta velocidade de uma forma tal que o carro quase roçou o meu marido que ia na parte de fora (e num local sem trânsito).Felizmente não aconteceu nada...pelo menos para nós! Mais à frente o dito carro fumegava, teve direito a extintor e tudo.Tal a velocidade que levava que se espetou literalmente em cima de um separador central...😀.Falta muito civismo entre todos, independentemente do modo como se deslocam.
ResponderEliminarO normal que se ver na estrada, è os ciclistas a andarem no meio da estrada como se a estrada fosse deles! Muitas vezes ao lado da estrada com ciclovias, como existe em Gaia, mas que os ciclistas não as usam! Por isso este caso e muitos outros não saor de admirar porque os ciclistas não têm respeito nenhum pelos automobilistas!
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EliminarNão é obrigatório ir na ciclovia é opção, aqui no Algarve também nos mandam para a cilcovia ,apitam por irmos aos pares , o desconhecimento da lei faz dos condutores pensarem que são donos da verdade e da lei, o respeito pela distancia de segurança de 1,50 também n~~ao é cumprido em Janeiro dia 25 deste ano morreu um amigo meu em Tavira , um ciclista é um pai uma mãe um amigo ou amiga que alguém pode perder por falta de civismo, civismo é o que se pede a todos
ResponderEliminarPara percebermos as atitudes temos que ouvir os 2 lados....
ResponderEliminarSou ciclista amador e automobilista e peão !!!!!!! a falta de "CIVISMO " de alguns condutores é tal, que veja-se o numero de atropelamentos em passadeiras !!!!!!! normalmente ando sempre pela beira, têm os seus riscos também !!!!!! pois tudo que é impurezas consentram-se nas bermas, mas zelo pela minha segurança !!!!!! sobre as ciclovias, nem todas as estradas as têm !!!!!!! civismo para TODOS é o que se pese.
ResponderEliminarCaros concidadãos, o problema não é fácil de resolver, a falta de ética está nos dois lados, mas o elo mais fraco é o ciclista, eu falo na primeira pessoa tenho carro, pratico cicloturismo, e fiz ciclismo Federado no SLB. Alteração da legislação, veio aumentar a indisciplina rodoviária, todos em conjunto devemos adotar melhores comportamentos cívicos na estrada, a fim de evitar o acidente, na verdade a circulação não esta fácil para os ciclistas, começando pelas ciclovias com a circulação de peões, carrinhos de Bebe etc. Assim como o comportamento indigno de alguns condutores que devem pensar que a bicicleta é um obstáculo abater, Tendo em conta que os acidentados que têm ido para o cemitério e os hospitais que eu saiba não tem sido os automobilistas. Srs. ciclistas, temos que ser prudentes evitar a competição, andar aos pares, eu sei que os passeios de cicloturismo é mais fácil evitar o acidente já é mais complicado quando estamos a treinar para a alta competição. Andar de bicicleta e saudável e faz bem à saúde, mas com comportamentos defensivos.
ResponderEliminarCaros concidadãos, o problema não é fácil de resolver, a falta de ética está nos dois lados, mas o elo mais fraco é o ciclista, eu falo na primeira pessoa tenho carro, pratico cicloturismo, e fiz ciclismo Federado no SLB. Alteração da legislação, veio aumentar a indisciplina rodoviária, todos em conjunto devemos adotar melhores comportamentos cívicos na estrada, a fim de evitar o acidente, na verdade a circulação não esta fácil para os ciclistas, começando pelas ciclovias com a circulação de peões, carrinhos de Bebe etc. Assim como o comportamento indigno de alguns condutores que devem pensar que a bicicleta é um obstáculo abater, Tendo em conta que os acidentados que têm ido para o cemitério e os hospitais que eu saiba não tem sido os automobilistas. Srs. ciclistas, temos que ser prudentes evitar a competição, andar aos pares, eu sei que os passeios de cicloturismo é mais fácil evitar o acidente já é mais complicado quando estamos a treinar para a alta competição. Andar de bicicleta e saudável e faz bem à saúde, mas com comportamentos defensivos.
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