6 de julho de 2017

A resposta de Kittel a Gaviria

(Fotografia: A.S.O./Thomas Maheux)
Fernando Gaviria despontou de vez para a elite dos sprinters com as quatro etapas ganhas na Volta a Itália. Marcel Kittel já nada tem a provar para mostrar que é um dos melhores (há quem diga o melhor) entre os sprinters puros actuais. Porém, quando se entra na elite, há que continuar a ganhar para lá se manter e no que diz respeito à Volta a França, Kittel começou por dominar, mas demorou três anos a regressar à ribalta, ou seja a ganhar mais do que uma etapa. O alemão não tem dúvidas: aprendeu com os erros e este ano está a colher os frutos dessa aprendizagem no Tour. E em boa hora o faz.

Com todos os ciclistas da Quick-Step Floors em final de contrato dada a indefinição quanto ao futuro da equipa, quando se fala na possibilidade (provável) do projecto continuar na estrada, é o nome de Gaviria que surge no topo da lista das renovações. Por altura do Giro chegou mesmo a ser noticiado que já haveria um acordo de cavalheiros entre o corredor e o director Patrick Lefevere para que continuasse na formação. E Kittel? O alemão é de facto uma máquina de vitórias quando está em forma. Porém, desde que em 2015 teve o problema de saúde que o afastou quase toda a temporada da competição, nunca mais foi aquele super Kittel que parecia que não dava hipóteses a ninguém. Quebrou contrato com a equipa da Giant para relançar a carreira na então Etixx-QuickStep. Aqui e ali foi-se vendo esboços do Kittel dominador de 2013 e 2014, mas sem a regularidade de então.

Entretanto ia aparecendo um Fernando Gaviria, um ilustre desconhecido até ao dia que bateu Mark Cavendish e Sacha Modolo no Tour de San Luis. Estávamos em 2015 e em Agosto assinou como estagiário da Etixx-QuickStep. Rapidamente se percebeu que se estava perante um talento colombiano que não era trepador. Foi ganhando experiência e as quatro etapas no Giro lançaram a questão: é possível ter Gaviria e Kittel na mesma equipa?

Marcel Kittel sabia que, mesmo não tendo nada a provar, tinha de responder. A vitória de hoje em Troyes foi a segunda neste Tour, mas tendo em conta o peso que tem vencer na Volta a França comparativamente com o Giro, Kittel respondeu da melhor forma à pressão. E agora? O sprinter alemão mantém as suas opções em aberto, ainda que não esconda que deseja ficar numa equipa que trabalha só para ele sempre que está em prova. A Katusha-Alpecin de José Azevedo é uma das hipóteses faladas, mas para já não passa de um rumor. Kittel já se reuniu com Patrick Lefevere, mas pouco foi dito sobre essa reunião.

Mas uma coisa é certa, com estas duas vitórias, Kittel mantém o seu crédito em alta aos 29 anos, mesmo frente a um Gaviria com 22. Com os dois a serem responsáveis por 17 das 37 vitórias da equipa este ano, a tentação será ficar com os dois. Haverá espaço?

Gaviria irá certamente começar a querer também ele construir o seu currículo no Tour e se continuar a vencer ao ritmo que o tem feito, será muito complicado deixá-lo em segundo plano. A idade e a capacidade de evolução poderá marcar a diferença quando a Quick-Step Floors se vir obrigada a escolher. Talvez seja possível aguentá-los mais um ou dois anos na mesma equipa (se calhar é optimismo a mais...), mas chegará o ponto em que a escolha terá de ser feita.

As diferenças do Kittel2016 para o Kittel2017

O sprinter alemão explicou o segredo do sucesso recente: a capacidade de aprender. Há um ano foi constantemente batido, principalmente por um então renascido Mark Cavendish. "Quando olho para os sprints do ano passado, várias vezes arranquei um pouco cedo e fui ultrapassado pelo Mark Cavendish. Penso que isso demonstra como temos de ter a certeza do timing certo. Não é apenas o poder puro, mas em pedalar de forma inteligente e estar na frente, na roda certa. Isso também marca a diferença entre um bom sprinter e um excelente sprinter", explicou Kittel no final da etapa.

Na sexta etapa foi mesmo isso que aconteceu. Kittel escolheu a roda certa (foi impossível para as equipas manterem os comboios) e arrancou num timing tão perfeito que Arnaud Démare pensava que ao ultrapassar André Greipel tinha a vitória na mão. Mas não, Kittel apareceu com aquela força surreal que quando está no seu máximo é praticamente impossível de se bater. Por alguma razão, os adversários dizem que a melhor forma de ganhar a Kittel e evitar que ele arranque.

Com duas vitórias de etapas, já se questiona se Kittel irá começar a pensar na camisola verde que já vestiu antes de a perder para Démare. O alemão disse que só era possível lutar pela classificação dos pontos se Sagan não estivesse no Tour. Longe de imaginar que tal viria a acontecer, ainda mais como aconteceu, Kittel afirmou que ainda assim vai continuar a perseguir vitórias de etapas, não querendo aumentar a pressão ao pensar na camisola verde. Porém, agora só 27 pontos o separa dela.

Marcel Kittel igualou André Greipel com 11 vitórias em etapas na Volta a França. O ciclista da Lotto Soudal está a ter dificuldades para marcar o ponto este ano no Tour. Kittel está a um triunfo de igualar Erik Zabel.

Mais uma maratona...

Esta Volta a França tem sido mais falada por quedas e polémicas do que pelo espectáculo que tem sido escasso. E o melhor é não ter grandes expectativas para a etapa desta sexta-feira e guardá-las para o fim-de-semana, principalmente para domingo.


Em 213,5 quilómetros haverá uma quarta categoria, como normalmente acontece para haver pontuação para a classificação da montanha. Há um sprint intermédio aos 108 quilómetros e dado que a luta pela camisola verde está acesa, será um ponto de interesse. Sim, estamos a precisar de uma etapa de montanha para animar...


Résumé - Étape 6 - Tour de France 2017 por tourdefrance


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