(Fotografia: Facebook Team Sky) |
As suspeitas da utilização da TUE como forma de os ciclistas ingerirem substâncias que de outra forma seriam ilegais, surgiram no ano passado após uma revelação de um grupo de piratas informáticos. Chris Froome foi um dos nomes mencionados, mas o britânico rapidamente justificou porque tinha recorrido a esta excepção. O mesmo aconteceu com Fabian Cancellara (então na Trek-Segafredo), que também mostrou porque recorreu à TUE. Porém, o mesmo não aconteceu com Bradley Wiggins. O britânico, com título de Sir, nunca explicou, nem quis referir-se ao assunto. Ainda menos sobre o pacote que lhe foi enviado durante o Critérium du Dauphiné. Vários ciclistas contribuíram para o aumento de suspeitas, pois foram declarando publicamente que era um caso muito mal explicado.
Wiggins, que entretanto já estava dedicado à pista e na estrada corria pela sua própria equipa, resolveu terminar a carreira, apesar de até ter ponderado em prosseguir mais um ano. No entanto, evitou e continua a evitar falar do assunto, enquanto os responsáveis da Sky enfrentam um ataque cerrado já com repercussões políticas. As respostas do homem forte da Sky, Dave Brailsford, não têm ajudado em nada em esclarecer as dúvidas e a sua posição está cada vez mais fragilizada.
Na mais recente audiência, o Ministério Público quis saber sobre a documentação da medicação dada aos ciclistas. Porém, nem a Sky, nem a British Cycling (corresponde à federação de ciclismo) têm arquivos sobre o que administraram aos atletas, não havendo forma de comprovar que o tal pacote mistério tinha Fluimucil, como a British Cycling alegou. Fluimucil é um medicamento que permite limpar as vias respiratórias.
Todas estas dúvidas afectam a Sky. Os seus ciclistas vão ver-se sobre uma intensa suspeita. Chris Froome rapidamente tentou demarcar-se. Não só justificou o seu recurso à TUE, como pediu que fosse feita uma investigação aprofundada sobre este recurso e em que circunstâncias os atletas estão a recorrer à excepção. Froome tem andando longe da competição, contabilizando apenas seis dias em 2017, todos cumpridos na Austrália. Está previsto regressar na Volta à Catalunha (de 20 a 26 de Março) e muito se antecipa o que poderá dizer e como irá estar psicologicamente para enfrentar as corridas.
Chris Froome tem 31 anos e tem feito tudo para se afirmar como um ciclista "limpo", com vitórias que são fruto do seu intenso e minucioso trabalho de preparação, juntamente com uma equipa unida em seu redor. O britânico viveu uns momentos muito difíceis em 2015 e até se falava que poderia não regressar ao Tour em 2016 se a hostilidade do público continuasse. Froome é muito dedicado aos seus objectivos, pelo que este tipo de distracção é algo que abomina e certamente que não estará disponível para estragar a carreira devido a uma possível conduta desapropriada por parte da equipa.
Outra questão que vai surgindo, ainda que algo em surdina, é que futuro terá a Sky. Estará a equipa em risco? A paciência para casos do doping há muito que esgotou entre os patrocinadores. Com o maior orçamento do World Tour, há muito em jogo, entre dinheiro e prestígio. Esclarecer as suspeitas seria de todo o interesse, mas a cada audiência parecem surgir mais questões do que propriamente esclarecer as que já existem.
Nenhum ciclista da Sky acusou positivo nos oito anos de história da equipa britânica que rapidamente se tornou na mais poderosa do pelotão e que depois de cumprir o objectivo de conquistar (já por quatro vezes) o Tour, tem começado a apostar também nas clássicas e no Giro e Vuelta. Porém, com ciclistas importantes em final de contrato e com o crescente clima de suspeição, 2017 poderá revelar-se um ano determinante para o futuro da formação britânica que foi responsável por mudanças profundas na forma de encarar o ciclismo profissional.
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