Alberto Contador e Alejandro Valverde, dois corredores que marcam a história
do ciclismo espanhol e não só (Fotografia: Facebook Volta à Catalunha) |
Como vai ser o ciclismo depois de Valverde e Contador abandonarem? A modalidade não será a mesma... Perguntas e afirmações sobre o futuro do ciclismo quando dois dos seus principais animadores da actualidade se retirarem vão sendo cada vez mais frequentes. Muitas vezes até em tom de preocupação. Valverde tem 36 anos, Contador 34. O primeiro continua numa senda fenomenal de vitórias, o segundo tem andado a exibir-se a bom nível, mas tem assistido a outros ganharem. No entanto, mantém-se como um dos melhores ciclistas de três semanas e 100% concentrado na Volta a França. São dois homens que além de garantirem bons resultados às respectivas equipas - Movistar e Trek-Segafredo - dão espectáculo. E é este último pormenor que já provoca um sentimento de saudosismo antecipado, sempre que se pensa que os dois espanhóis não ficarão por muito mais tempo em competição.
Alejandro Valverde ainda não falou em "reforma". Renovou contrato até 2019 e este ano já são nove vitórias conquistadas, contabilizando etapas e classificações gerais, montanha e pontos. Já Contador adiou a retirada anunciada para 2016, tem contrato até 2018, mas até pode abandonar caso conquiste a muito (mesmo muito) desejada terceira Volta a França. Quando nos deparamos com ciclistas do nível dos dois espanhóis é natural começar a sofrer por antecipação quando os anos vão passando e se aproxima um inevitável adeus. Ao saudosismo antecipado junta-se a discussão de quem poderá seguir o legado deixado por dois ciclistas tão especiais. Tão únicos. A resposta é nenhum. Tal como ninguém seguiu o legado de Miguel Indurain ou Oscar Freire, para nomear apenas dois. Simplesmente porque ciclistas como estes são mesmo únicos. Constroem o próprio legado, também ele único.
Mas descanse quem gosta do ciclismo espectáculo que Valverde e Contador oferecem. Ficando por Espanha, há sucessores com grande potencial. A Volta à Catalunha, ganha por Valverde, com Contador a somar mais um segundo lugar este ano, confirmou que Marc Soler (23 anos) não é apenas um ciclista com potencial, é mesmo um homem a ter em conta para num futuro próximo começar também ele a destacar-se nas corridas de três semanas (e não só). Rubén Fernández (26), também ele da Movistar, está apenas à espera de ter mais algum espaço que para já vai faltando com a presença de Valverde e de Quintana. David de la Cruz (27) afirmou-se na Volta a Espanha de 2016 e a Quick-Step Floors sabe que tem um homem para lutar por bons resultados nas grandes voltas e se lhe deram alguma liberdade, tem aquelas características que os fãs tanto gostam, mas que os directores desportivos às vezes desesperam: gosta de dar espectáculo, gosta de pedalar ao ataque, nem sempre com os resultados desejáveis.
Há ainda Carlos Verona. A Orica-Scott sabia muito bem que valia a pena o investimento em tirar o espanhol à Quick-Step Floors ainda durante 2016. É um ciclista com 24 anos e de enorme potencial, mas talvez ainda se tenha de esperar dois/três anos para começar a vê-lo a lutar constantemente por grandes vitórias. A sua qualidade era admirada por Patrick Lefevere, que ao saber que Verona ia assinar pela equipa australiana, disse-lhe que podia abandonar imediatamente a formação onde estava desde 2013. O director da Quick-Step Floors ficou irritado por ter ajudado a evoluir um ciclista que tanto promete para depois vê-lo optar por sair no final do contrato, em vez de renovar.
Espanha tem ainda mais nomes, não enfrentando uma suposta crise talentos, como às vezes fazem querer crer. A questão é que o ciclismo mudou desde que Contador e Valverde começaram a mostrar-se. Naquela altura era habitual considerar-se que os ciclistas atingiam o seu pico ainda antes dos 30 anos, pelo que os resultados apareciam muito mais cedo nas carreiras. Hoje em dia, Contador e Valverde são dois dos vários exemplos que os ciclistas conseguem perfeitamente manter-se a grande nível até cada vez mais tarde. Com os mais velhos a dar garantias às equipas, os mais novos acabam por demorar mais a afirmar-se, mas também têm mais tempo para evoluir e ganhar experiência, antes de sentirem toda a pressão do mais alto nível do ciclismo.
A retirada de Valverde e Contador é inevitável. Mas talvez antes de se sofrer de um saudosismo antecipado, o melhor é aproveitar todos os grandes momentos que os dois continuam e vão continuar a proporcionar. Quando abandonarem a competição é esperar pela nova geração e principalmente esperar que a tendência de um ciclismo mais calculista - tendência implementada definitivamente pela Sky - não se torne a regra, mas apenas uma excepção que não estrague o ciclismo praticado mais com o talento e qualidade individual e menos com as tecnologias e directores desportivos que se deixem influenciar por uma análise excessiva do que uma máquina diz, em vez do que um ciclista sente. A tecnologia é excelente, mas a imprevisibilidade do ciclismo é uma das suas essências. Portanto, deixem os jovens talentos levar-se um pouco pelo coração e, claro, com muita cabeça!
Aqui ficam as classificações da Volta à Catalunha, que foi vencida pela segunda vez por Alejandro Valverde, que ganhou ainda três etapas. Destaque para Nelson Oliveira que subiu ao pódio para celebrar a vitória na geral por equipas da Movistar. O português foi 84º, a mais de uma hora do vencedor. O melhor ciclista luso foi Ricardo Vilela (Manzana Postobón), tendo terminado na 26ª posição a 26:16 minutos de Valverde. Seguiu-se o campeão nacional José Mendes (Bora-Hansgrohe), 80º a uma hora. Já os homens da Katusha, Tiago Machado abandonou na terceira etapa e José Gonçalves chegou fora do tempo limite na quinta e foi excluído da corrida.
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