A menos de dois meses da 100ª edição da Volta a Itália, o Tirreno-Adriático já deixou algumas indicações sobre os candidatos que se vão apresentar num Giro que contará com o melhor pelotão dos últimos anos. Em muitos dos casos, os ciclistas acabaram o Tirreno-Adriatico a pensar que ainda há tempo para melhorar. É verdade, contudo, há algum trabalho a realizar para quem quiser fazer frente a Nairo Quintana. O colombiano já está numa boa forma e nem era preciso o próprio dizer que não está a 100%, pois na etapa do Terminillo, Quintana fez o que quis da concorrência e claramente não precisou de colocar toda a sua força na estrada.
O contra-relógio continua a ser a dor de cabeça do colombiano, mas num Giro muito montanhoso, haverá várias etapas para Quintana garantir que poderá ficar com a camisola rosa pela segunda vez na carreira. Mesmo que o líder da Movistar diga que a Volta a França é o principal objectivo em 2017, o seu espírito de vencedor está em alta e certamente que o ciclista pensa em tornar-se no primeiro a fazer a dobradinha Giro/Tour desde Marco Pantani em 1998. E tem todas as condições para o fazer. Quintana conquistou o seu segundo Tirreno-Adriatico, tendo vencido a etapa rainha, depois de já ter ganho a Volta à Comunidade Valenciana. Deve agora fazer uma pausa da competição e dedicar-se ao estágio em altitude. Para já só está programado fazer a Volta às Astúrias, no final de Abril, antes do Giro.
Sobre Quintana não é preciso dizer muito mais: esteve ao seu nível, sem ter ainda atingido o seu melhor nível. Já dos que querem ser os adversários do colombiano e contrariar o seu favoritismo, há um pouco mais para dizer. Começando pelos italianos. Naturalmente que sendo uma edição especial do Giro, mais do que nunca os tiffosi querem ver um dos seus corredores ganhar. Mas terão ficado um pouco preocupados. Vincenzo Nibali e Fabio Aru falharam completamente. O ciclista da Astana foi mesmo uma tremenda desilusão. Está fora de forma e nem acabou o Tirreno-Adriatico. Quanto a Nibali, a Bahrain-Merida ainda tentou mostrar que está unida em redor do seu líder, mas além de não convencer, Nibali também ainda tem muito (mesmo muito) a melhorar se quiser tentar conquistar o seu terceiro Giro. Ficou a mais de seis minutos de Quintana e não foram os dois quilos a mais que diz ter os principais responsáveis pelo desaire. Sendo a Volta a Itália o principal objectivo tanto de Nibali, como da equipa do Médio Oriente, as próximas semanas serão de um intenso trabalho.
O melhor italiano acabou por ser Domenico Pozzovivo. Foi décimo, mas o ciclista da AG2R dificilmente poderá aspirar a mais do que um top 10, ainda que deverá um dos animadores de algumas etapas. Já Tejay van Garderen se calhar nem ao top 10 irá aspirar. O norte-americano perdeu o seu lugar de líder na Volta a França para Richie Porte, mas também não parece estar à altura desse estatuto para o Giro. A BMC poderá muito bem estar a dar uma última oportunidade a Van Garderen. Foi visto como o substituto de Cadel Evans quando o australiano se retirou, mas não consegue confirmar o talento que demonstrou ainda muito jovem. Tem apenas 28 anos, soma dois quintos lugares no Tour e ia a caminho do pódio - tudo indicava isso, pelo menos - quando abandonou em 2015 por motivos de doença. O americano está em final de contrato e a BMC começa a concentrar-se em Rohan Dennis. O campeão australiano de contra-relógio avisou que queria começar a melhorar as suas capacidades de trepador. Foi segundo o Tirreno-Adriatico, venceu a última etapa na sua especialidade e também vai ao Giro...
Um dos principais adversários de Quintana poderá muito bem ser Geraint Thomas. O homem da Sky esteve muito bem e se não tivesse sido o contra-relógio por equipas desastroso e teria sido um adversário mais interessante. A forma do britânico é muito interessante e o trabalho que fez com Chris Froome na África do Sul está a dar os seus frutos. No entanto, é difícil imaginar Thomas fazer frente a Quintana na alta montanha. Ainda assim, atenção a Thomas. Está muito motivado para agarrar esta oportunidade de ouro de liderar a Sky numa grande volta. E apesar da liderança ser supostamente partilhada com Mikel Landa, o espanhol acabou a mais de 12 minutos. Lá está, tem tempo para melhorar, mas poderá perder espaço na equipa que tanto apostou nele financeiramente quando o contratou em 2016.
Bauke Mollema (Trek-Segafredo) é uma incógnita. Começou bem o ano ao conquistar a Volta a San Juan, mas com o apertar da concorrência, o holandês já percebeu que terá de fazer algum trabalho se realmente quer ser um candidato no Giro. Mollema é por vezes algo inconstante, sendo capaz de grandes exibições e depois de ter quebras que arruínam voos mais altos. A ver vamos como evolui até 6 de Maio.
Bob Jungels, 24 anos e tanto talento para desenvolver. O luxemburguês ainda está à procura da sua melhor forma. Tentou, mas não conseguiu aparecer no Tirreno-Adriatco como queria, ainda que tenha vencido a classificação da juventude. Jungels esteve brilhante no Giro de 2016, liderando a corrida e terminando no sexto lugar. O ciclista quer ocupar o lugar deixado vago no Luxemburgo pela retirada dos irmãos Schleck. Não se espera dele uma vitória, mas é possível que volte a apontar a um top dez.
Não conseguiu lutar pelo Tour como queria em 2016. Este ano resolveu apostar no Giro e Thibaut Pinot vai com tudo para a corrida italiana. O francês está claramente a melhorar a cada semana que passa, mas será que conseguirá estar ao nível de Quintana? Tal como Thomas apresenta-se para já como um dos principais adversários do colombiano, mas ao contrário do britânico, Pinot tem mais argumentos para tentar acompanhar Quintana na alta montanha e o facto de fazer mais do que apenas se defender no contra-relógio (é um surpreende campeão francês) como é o caso de Quintana, estará a dar ideias ao francês de lutar pela vitória no Giro.
Tom Dumoulin vai gerar grande curiosidade no Giro. É desta que comprova o que mostrou na Vuelta de 2015 quando só na última etapa de montanha claudicou? 2016 não foi o ano da confirmação como o holandês pretendia, mas 2017 parece estar a ser bem diferente. O ciclista demonstra que está cada vez melhor a subir, principalmente quando são subidas em que pode impor um ritmo constante. Estranhamente não esteve bem no contra-relógio, mas a Sunweb estará a começar a ambicionar a pelo menos ver o seu líder no pódio do Giro. Dumoulin é mais um daqueles ciclistas capaz do melhor e no dia seguinte do pior. Mas cada vez mais apresenta o seu melhor dia após dia.
Resta falar de Rigoberto Uran. O colombiano e a Cannondale-Drapac não estarão nada satisfeitos. Uran - que em 2013 e 2014 foi segundo no Giro - começa a ver as oportunidades de vencer uma grande volta a esgotarem-se (se é que já não se esgotaram). O ciclista não consegue reencontrar-se com a forma que apresentou primeiro na Sky e depois na estrutura da Quick-Step, onde formação foi líder indiscutível depois de ter sido um fantástico gregário na formação britânica. A relação com a Cannondale-Drapac não tem sido fácil, com a equipa a não conseguir oferecer o apoio necessário para o colombiano aspirar vencer um Giro ou uma Vuelta (o Tour é impensável para Uran e para a Cannondale). As exibições de Uran também vão revelando alguma falta de motivação. Há tempo para melhorar, mas a questão é: o ciclista acredita que poderá ser um verdadeiro candidato? Quanto à Cannondale-Drapac, chegou a meio de Março e não tem sequer uma vitória.
Apesar de vários ciclistas ainda terem muito a aprimorar, se realmente houver melhorias na forma de alguns dos possíveis candidatos, Quintana poderá apresentar-se como provável vencedor, mas ainda assim, esta Volta a Itália promete dar espectáculo.
Constipação prejudica Rui Costa, Nelson Oliveira cada vez mais um fiel escudeiro de Nairo Quintana
Quanto aos portugueses no Tirreno-Adriatico, Rui Costa (UAE Team Emirates) chegou como o vencedor da Volta a Abu Dhabi, pelo que se esperava com ansiedade para ver o que poderia fazer, ainda mais quando está a preparar a sua estreia no Giro. Porém, uma constipação trocou as voltas ao ciclista português que, naturalmente, sentiu algumas dificuldades. Mesmo constipado, terminou no top 20 (18º a 3:28 de Quintana) pelo que se mantém as perspectivas que se poderá ter um Rui Costa ao seu melhor nível na Volta a Itália. O campeão do mundo de 2013 irá agora começar a pensar nas clássicas das Ardenas.
Nelson Olveira voltou a cumprir o seu papel de apoio a Nairo Quintana, pelo que o 74º lugar a mais de 37 minutos do vencedor é algo absolutamente normal. Foi pena não ter conseguido fazer um contra-relógio ao seu nível, cumprindo o percurso com mais 1:01 minuto que Rohan Dennis. Oliveira pouco vai descansar, pois está escalado para a Volta à Catalunha, que começa na segunda-feira, antes de seguir para os monumentos Volta a Flandres e Paris-Roubaix. Ainda não está definido em que grande volta irá estar, mas depois do que vez em 2016 no Tour ao lado de Quintana - foi dos poucos ciclistas da Movistar que cumpriu o que lhe era destinado - e do que fez neste Tirreno-Adriatico, não é de colocar de parte que faça o Giro.
Momento Peter Sagan
O bicampeão do mundo venceu duas etapas, mas no contra-relógio final, o eslovaco apenas pretendia cumprir os 10,5 quilómetros sem incidentes. Mas mesmo quando não quer ser a estrela do dia, parece estar destinado a ser uma das figuras. Desta feita, Sagan foi surpreendido por uma senhora que atravessava a passadeira com o seu cão. O ciclista da Bora-Hansgrohe reparou já tarde no insólito e optou por sair da estrada para evitar o choque ou uma queda.
Sagan não ganhou para o susto e apesar de ter sido um momento perigoso, o eslovaco acabou por dizer que até teve piada. Uma reacção à Sagan!
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