4 de janeiro de 2021

A vez de António Carvalho numa Efapel renovada

© João Fonseca Photographer
Nos últimos anos, a Efapel primou por manter uma espinha dorsal, fazendo poucas contratações, ainda que algumas a mexer com a liderança, como foi o caso de Sérgio Paulinho, ou o regresso de Joni Brandão. Porém, este ciclista saiu novamente e não foi o único. Foi uma autêntica revolução o que se assistiu para 2021, só ficando dois ciclistas, que haviam chegado no ano passado. O que é que isto significa? Chegou a vez de António Carvalho ter a oportunidade por que tanto ambicionava.

Já no ano passado se tinha assistido a duas saídas de ciclistas que foram importantes na Efapel, casos de Henrique Casimiro e Bruno Silva. Em 2021 é o quebrar total com o passado, vendo sair, por exemplo, Rafael Silva que tinha sete anos de casa! Sérgio Paulinho também rumou a outras paragens, tendo adiado a sua retirada por um ano. Vai para a LA Alumínios-LA Sport, enquanto Rafael ruma ao Feirense*.

Começa, por assim dizer, uma nova era na formação de Rúben Pereira, que não terá ficado nada satisfeito por ver como a Efapel falhar na Volta a Portugal. Porém, foi também nessa corrida que António Carvalho demonstrou que talvez mereça mais do que papel de gregário.

Ganhou uma etapa e não fosse o ter de ajudar um Joni Brandão que não esteve ao nível esperado, principalmente na Senhora da Graça, e talvez Carvalho tivesse feito mais na geral (foi sexto classificado, a 1:52 do vencedor, Amaro Antunes). Pelo menos, ficou essa dúvida. E se Carvalho tivesse tido autorização para fazer a sua corrida?

Em 2021 o ciclista vai poder responder a essa questão. Já na W52-FC Porto dava conta de como um dia queria ser ele o líder. Contudo, foi tendo oportunidades noutras corridas, tendo conquistado vitórias, a verdade é que Carvalho não conseguiu ser a escolha número um na corrida que mais queria.

Mudou-se para a Efapel com esse objectivo, mas era expectável que seria difícil ultrapassar Brandão na hierarquia. Para 2021 não há dúvidas. A Efapel já anunciou que o seu líder é António Carvalho. Aos 31 anos chegou o momento ambicionado.

É um ciclista lutador e quando define um objectivo, estando motivado, é um corredor para estar na luta por triunfos. Apesar de na W52-FC Porto praticamente todos terem as suas oportunidades, Carvalho há muito que começou a querer mais. Começou a querer o lugar que agora ocupa na Efapel.

E vai ter de mostrar serviço numa equipa que tem sido a que mais vezes tem feito frente à rival azul e branca, mas que na Volta a Portugal acaba por perder. Mas que ajuda terá Carvalho?

A outra permanência é Luís Mendonça. Outro ciclista que não vira a cara a um desafio e que será líder em determinadas provas. É isso que quer, contudo, não tem qualquer problema em vestir a camisola de gregário quando a isso é chamado. No entanto, não é ciclista para a alta montanha.

Onde encaixará Frederico Figueiredo?

A Efapel foi buscar Frederico Figueiredo, que quando finalmente foi líder indiscutível na equipa de Tavira, venceu pela primeira vez como atleta de elite (etapa e geral no Troféu Joaquim Agostinho) e foi terceiro na Volta a Portugal, sendo o único a obrigar Amaro Antunes a ter bastante atenção. Isto numa perspectiva de uma equipa rival, já que Amaro teve no companheiro Gustavo Veloso quem mais o ameaçou.

Não deixa de ser estranho vê Figueiredo regressar a uma posição de segundo plano. É uma excelente contratação na perspectiva de estar ao lado de António Carvalho, mas depois da Volta a Portugal que realizou, esperava-se que regressasse em 2021 com ambição renovada para tentar subir mais uns patamares. É certo que terá as suas oportunidades, mas, como já foi dito, a Efapel deixou bem claro quem é o líder para esta época.

Na Volta, Figueiredo poderá assim ser o braço-direito de António Carvalho, numa Efapel que foi ainda buscar Rafael Reis. Tem sido uma carreira de altos e baixos para este atleta, que aos 28 anos recebe um voto de confiança importante de uma das equipas mais fortes em Portugal. Este contra-relogista por excelência sabe que também chegou a um momento decisivo na sua carreira.

Muita juventude e alguma experiência

As restantes contratações ficam marcadas pela juventude e a aposta na experiência de um ciclista que passou pelo World Tour. A Efapel garantiu Fábio Costa (campeão nacional de sub-23, 21 anos), André Domingues (19) e Fábio Fernandes, este último oriundo das escolas da equipa. Somou várias vitórias como júnior, sendo inclusivamente bicampeão nacional de contra-relógio. Dará os primeiros passos como sub-23... na elite.

Alexander Evtushenko (27 anos) é um russo com currículo em pista, mas que na estrada ainda não atingiu um nível muito elevado. Passou pela Lokosphinx e Gazprom-RusVelo, duas equipas que têm, de quando em vez lançado alguns russos, no ciclismo. Na época passada competiu por uma formação turca, a Spor Toto Cycling Team.

Não é um total desconhecido em Portugal, pois já participou em algumas corridas nacionais e a sua contratação passa por colocá-lo como um dos homens de trabalho. Ainda assim, fica sempre a curiosidade para ver o que este russo poderá fazer, já que as apostas recentes em ciclistas deste país por equipas portuguesas, nem sempre têm sido ganhas, excepção feita a Alexander Grigorev (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel).

O mesmo papel de trabalho deverá ser entregue ao uruguaio Mauricio Moreira (25), enquanto de Javier Moreno (36) espera-se que seja a voz da experiência. Alguém com capacidade de leitura de corrida e que possa ajudar nas decisões em momentos mais críticos.

Estamos a falar de um ciclista que esteve cinco anos na Movistar e um na então Bahrain-Merida, ou seja, com muita experiência ao mais alto nível. Esteve em sete Vueltas, dois Giros e um Tour. Também conquistou vitórias em provas como a Volta às Astúrias, Aragão e Castela e Leão, ainda que todas por equipas do segundo escalão.

Em 2020, depois de duas temporadas na Delko Marseille Provence, Moreno optou pelo BTT, regressando agora à estrada em Portugal. E nem é inédito a Efapel contratar ciclistas com este tipo de experiência. Além de Sérgio Paulinho, em 2018 David Arroyo regressou ao pelotão nacional depois de algumas épocas na alta roda mundial. E sem esquecer que em 2020 Tiago Machado também representou esta formação, ainda que, num ano com tão poucas corridas, não deixou a sua marca.

Com tantas novas caras, é difícil perspectivar o que esperar da Efapel para esta época, que, como tem sido o objectivo, precisa de ter um grupo muito forte para medir forças com a W52-FC Porto.

Equipa Efapel para 2021

Permanências: António Carvalho e Luís Mendonça.

Reforços: Alexander Evtushenko (Spor Toto Cycling Team), André Domingues (Kelly-Simoldes-UDO), Fábio Costa (Kelly-Simoldes-UDO), Fábio Fernandes (escola Efapel), Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), Javier Moreno (competiu em 2020 em BTT), Mauricio Moreira (Vigo-Rías Baixas), Rafael Reis (Feirense).

* Correcção: Rafael Silva não vai para a LA Alumínios-LA Sport, mas sim para o Feirense.

»»Joni Brandão na W52-FC Porto é o passo certo?««

»»O calendário que mais se quer que se concretize««

Sem comentários:

Enviar um comentário