3 de dezembro de 2020

Fabio Aru com mais uma oportunidade

© Bettiniphoto/UAE Team Emirates
Em 2015, Fabio Aru parecia ter o mundo a seus pés. Acabou a época a ganhar a Volta a Espanha, depois de duas edições a lutar pelo Giro e a terminar no pódio. Era o novo grande voltista italiano e rapidamente se o apontou para muito mais e melhor. Na segunda presença no Tour foi quinto e as suas exibições convenciam e entusiasmavam. Sem surpresa, tornou-se um ciclista apetecível e o próprio percebeu que estava na altura de exigir um ordenado ao nível do que estava a apresentar. Porém, nos últimos três anos a sua carreira entrou numa espiral descendente. As críticas de que foi alvo depois de abandonar o Tour levantou a questão: E agora Fabio Aru?

"O Aru desiludiu-nos. Ele tem problemas, incluindo psicológicos. Ele não reage às primeiras dificuldades. Ele vai-se abaixo, não tem carácter", afirmou Giuseppe Saronni, conselheiro da UAE Team Emirates, equipa que em 2018 aceitou as altas exigências de Aru, na esperança de estar a contratar um ciclista para lutar por grandes voltas. Neste último Tour, Tadej Pogacar era a aposta, mas Aru deveria ter tido um papel importante ao lado do esloveno, mesmo que não gostasse de ficar em segundo plano. Na etapa nove, abandonou e ficou claro que era o fim da linha na equipa, até porque o seu contrato estava a terminar.

O italiano, de 30 anos, nunca conseguiu explicar o que aconteceu, dizendo apenas que os dados que tinha davam-lhe confiança para ajudar Pogacar, ainda que soubesse que não estaria em condições de lutar pela geral. Recorde-se que Aru, em 2019, falhou parte da temporada depois de ser operado à artéria ilíaca, problema que tem afectado alguns ciclistas e que levou o português Nuno Bico a terminar a carreira muito cedo.

Porém, o Aru da UAE Team Emirates nunca se aproximou sequer do ciclista que se mostrou na Astana. A própria equipa acabou por rapidamente começar a apostar em Tadej Pogacar, que em apenas dois anos se tornou na grande estrela, com o italiano a já nem poder dizer que estava em segundo plano. Depois da vitória do esloveno no Tour, Aru ficou sem plano algum.

Sem resultados de nota recentes para mostrar, sem uma condição física convincente e com uma atitude em corrida que deixava denotar um ciclista desmotivado e a precisar urgentemente de algo positivo para retomar aquele que outrora foi um caminho que parecia destinado a uma meta de sucesso, Aru tornou-se num ciclista visto como um risco contratar.

Entrámos em Dezembro e o futuro de Aru continuava em dúvida. A Alpecin-Fenix chegou a ser dada como possível interessada no italiano. Significaria que o ciclista desceria ao segundo escalão, mas a formação de Mathieu van der Poel foi a melhor do ranking e vai ter entrada directa nas principais provas, sem precisar de convites.

A indefinição arrastava-se, sendo certo que as principais equipas nem sequer equacionaram contratar Aru, mesmo com este estivesse prestes a ficar sem contrato, ou seja, livre para negociar.

Em poucos anos, Aru passou de muito desejado a um ciclista que poucos acreditam. Douglas Ryder parece ser aquele que ainda espera que o italiano possa dar um pouco mais, mesmo que isso já não signifique lutar por grandes voltas. Ryder assumiu o risco que mais ninguém, ou muitos poucos, pareciam querer fazer.

O director da Qhubeka Assos, novo nome da NTT, salvou a estrutura sul-africana, mas não conseguiu salvar alguns dos ciclistas que tinha, visto ter demorado a encontrar uma solução para 2021. Ryder não esconde a importância de ter um ciclista com o currículo de Aru e acredita: "Penso que na nossa equipa única vamos vê-lo elevar-se novamente e tenho a certeza que vamos tirar o melhor um do outro."

E a equipa bem precisa que Aru ressurja. Têm sido anos sempre no fundo do ranking, com poucas vitórias, ainda que lá vai conseguindo uma ou duas de maior notoriedade, como foi a etapa conquistada por Ben O'Connor na Volta a Itália. Quando a NTT anunciou que iria apostar noutras vertentes, a falta de resultados tornou difícil a sobrevivência da equipa sul-africana.

"Nesta fase da minha carreira, a Qhubeka Assos é um lugar perfeito para mim e estou muito agradecido pela oportunidade dada para contribuir para o legado e continuar o fantástico trabalho que fez no passado", realçou Fabio Aru, referindo-se não só à estrutura desportiva, mas também ao lado solidário, com o projecto que tem levado muitas bicicletas a crianças em África.

Aru sabe bem como tem de estar agradecido. Ainda está a tempo de fazer algo mais na sua carreira e pelo menos poderá dizer que é uma equipa com uma pressão menor, mas não significa que não tenha a responsabilidade de alcançar resultados. Assinou por uma temporada e é a oportunidade que não pode desperdiçar.

Outros reforços

Sem certezas quanto ao futuro da NTT, muitos ciclistas optaram por assinar por outras equipas, casos de Edvald Boasson Hagen (Total Direct Energie), Michael Valgren (EF Pro Cycling), Louis Meintjes (Circus-Wanty-Gobert), Ben O'Connor (AG2R Citroën) e Ben King (Rally Cycling), por exemplo.

Os responsáveis da agora Qhubeka Assos, ao assegurarem o novo patrocínio - da Assos - foram ao mercado buscar ciclistas interessantes como Simon Clarke e Sean Bennett (EF Pro Cycling), Dimitri Clayes (Cofidis), Lukas Wisniowski (CCC), Kilian Frankiny (Groupama-FDJ) e Harry Tanfield (AG2R), entre os que já estavam no World Tour. As opções já não eram muitas, mas ainda assim, foram garantidos corredores com capacidade para procurarem triunfos.

Douglas Ryder tenta construir a equipa possível, mas manter Giacomo Nizzolo, Victor Campenaerts e Domenico Pozzovivo foi também uma vitória para o responsável, que vai querer uma formação à procura de alcançar mais vitórias e assim tirar a equipa do fundo da tabela e encontrar uma maior estabilidade financeira.

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